segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Ficção da madrugada


 Silêncio. O coração congela e a alma adormece. Nos seus braços delira e sufoca-se ao mesmo tempo. Amanhece. A brisa do amanhecer refresca as sensações. Sabe exatamente o que fazer. Renega. Quando pensa em cortar as asas de uma vontade intensa algo diz para retornar. Expurga qualquer sensação ruim e parte para o novo caminho escolhido.

Uma espécie de pausa permeia o coração, esse, outrora ensanguentado, violentado pelos dias cinza que viriam. Agora quer paz, verdade, uma sinceridade pouco encontrada. Dói quando o arrependimento é maior do que a causa e já sabe que está certa. Porém, não escuta. Não pode ouvir o último sopro da cristalina verdade sombria.

Seus olhos já não vertem lágrimas. O pulsar acelerado cessa enquanto lembra-se das duras palavras que viriam. O Universo múltiplo e perverso jogou em seus passos a decisão mais difícil existente. O que a alma e corpo desejam contra o cotidiano cru, real, concreto. Basta fechar os olhos e seguir. Basta apunhalar sua própria aura. Esta que precisa de aventuras, de emoções fortes, de intensas relações, de lutas diárias, batalhas imensas desvanecidas em um sorriso de júbilo.

Ainda assim, ainda resta o cansaço dos anos que vieram. Das músicas tocadas. Das melodias escutadas com tanto vigor e sem fantasias. A escrita pulsa forte e não desmerece qualquer tentativa de regresso das canções que insistem em tocar, num ciclo eterno, variando entre alegria e tensão. Mas, na verdade, não precisa existir nada, nem ninguém, nem luz alguma que reflita um intenso olhar quase esverdeado.

Entre fugas e conquistas descobriu a concreta razão vinda da vontade de sentir tão intensamente cada momento. Por isso vieram tantos. Por isso escutou a gargalhada de escárnio vinda de longe. Vinda de tão longe que sentiu o eco em sua pele. Apostou a última moeda há muito tempo atrás, depois cansou de rodopiar em eternos jogos, nos quais existiam apenas perdedores. E perdeu rodadas infinitas de prazer e abandonou promessas sem fim.

Agora é chegada a hora de silenciar a brutal emoção que habita sua carne. Que fazia com que os olhos abrissem todos os dias. Os primeiros passos foram dados, não há retorno, muito menos salvação. Uma decisão precisa ser concreta quando se é tomada. Não há sentido em desfazê-la. Não mais deseja prantos inacabáveis, murmúrios na madrugada, cantos ébrios numa noite sem fim. Não mais.

Sim. As horas correm, a idade aumenta e todo o clichê da vida faz um pouco de sentido. Porque não há maior sensação do que a de escolha certa, de momentos corretos e de encontros perfeitos. Sem esperar, sem angústia, sem tristeza, sem desconfiança, sem deixar de crer naquilo por um segundo. E não falou de si por instante de si. Apenas desse destino que finca sua lâmina afiada na alma, todos os dias, todos os minutos, todos os segundos.

Todos gritam no seu ouvido e já sabe. Sempre soube. Desde o momento que começou a respirar. Nada é por acaso, nada acontece por acontecer e o valor disso só se é sabido quando os anos passam, quando as fidelidades são comprovadas, quando o sorriso é real, quando as palavras que jorram de qualquer boca são puras. E veio. Vem sempre. Esta. Sem ao menos esperar que possa se preparar. E ouviu aquela gargalhada soar, viu aqueles olhos brilharem, fechou a porta e despertou do eterno sonho em que vivia.



domingo, 2 de dezembro de 2012

Até que chegue a paz


  Sábia tentação que desliza aos pés da noite anunciada. Decisões escapam após o leve toque do amanhecer. As escolhas seletas devoram as sensações perdidas. O sorriso delicado reluz nas sombras de um outrora ardente desvanecido. As promessas singelas de um futuro vivenciado. A correnteza segregada pelo silêncio. A aurora fugaz traz de volta a chama antes esmorecida.

 As sinceras sentenças jogadas no horizonte. A força de um momento inesperado. A certeza de um beijo calado pela razão. Negado. Guardado. A candente sensação que insiste em não se apagar. A concupiscência translúcida e firme, sempre presente na estrada reconstruída. O cuidado para não arder na fogueira indiscreta da intensidade.

 Sentimentos sagrados expurgam as dores das emoções deixadas em outro nascer do sol. O jardim coberto de secretos desejos e vontades. A fumaça que se espalha enquanto adormece. O fino som da lança sepultada nas melancolias destruídas pelo júbilo sensato. A calmaria reconhecida após espasmos eternos de dor. Não há mais nada que segure as palavras em sua alma. As perguntas são respondidas por também querer fortemente a paz sonhada.

 O florescer de uma nova jornada começa a tomar uma forma jamais vista. As palavras se juntam e o sentido torna-se claro. Cristalino. Real. Sem ilusões ou meias palavras. Sem prantos cobertos de mazelas tolas. As vontades são supremas, a latente culpa é descartada, a memória reconstrói sentidos e há a descoberta do novo palpitar acelerado do coração ainda ensanguentado, mas que se cura a cada sorriso puro. 

 Sem mais pesares, sem lamentações, sem cobrar respostas. E o mundo nunca saberá os segredos que os mares secretos já começaram a guardar. E nos seus olhos a leve brisa do luar promete as maiores aventuras. Estas que serão vividas somente por aqueles presentes em seu caminhar. E sem esperar, o canto sábio de leveza preencherá a realidade concretizada na pulsação de sua aura e jamais se saberá em que estrada foi procurar o mais doce beijo conhecido. 

quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Caminhos


 Sente outra vez o toque da madrugada. Os sinos tocam a mesma canção. A lua brilha como nunca antes. A fumaça desvanece a cada sopro. Constante. Incessante. Vibrante. O mesmo tempo, a mesma estação, os mesmo segundos corridos. Igual. Outra. As memórias escapam. As sensações transfiguram-se e já sabe que as horas agora deslizam descompassadas.

 A ventania purifica o coração insensato. Agora jaz na neblina das dúvidas. Não sobre o sentir e sim do que fazer. Há também o novo que se dissipa entre a bruma do silêncio da mente. Um punhal candente cerca a alma de faíscas puras de questões incertas.

 Ainda que soubesse tudo, não sabia coisa alguma. Entre os espasmos dolorosos de um coração ensanguentado de tormentas, as impuras sensações adormeceram e busca a paz tão desejada. Agora sua luz esverdeada de fada volta a brilhar. E a vida intensa de trabalhos recorrentes expurga qualquer mazela fincada em sua pele.

 O amanhecer traz novas respostas. O semblante muda. A determinação preenche o peito flamejante de vontades e esquece qualquer medo do erro. De longe vê que os corvos ainda rodam, que as noites efusivas deixaram rastros, que nada se apagou. Porém, tudo isso já não importa. Depois é chegada a hora de despertar.

E ocorreu a resposta da espera. Aquela da eterna chama que não se apaga. A voz. Os olhares. As mãos que aquecem. A respiração suave. A doçura amarga. A verdade sincera. O céu torna-se límpido e claro. A tempestade se finda. Respira. Suspira. E continua e segue rumo ao que o destino trouxer. Sem detalhes da próxima esquina, do próximo passo. Apenas um longo horizonte, no qual as respostas ainda virão.

 A partida é selada. E enxerga. Percebe. Reconhece. O vazio não se instala, muito menos o desespero. Somente o doce gosto do reencontro. Esse se alastra. As horas voltam a correr, a vida continua a surpreender e a espera é a mesma e sempre será.

sábado, 24 de novembro de 2012

Escolha Certa


 É preciso que exista algum lugar para gritar forte e respirar tranquilamente outra vez. As várias escolhas feitas no caminho sufocam até a última e derradeira gota. São vários caminhos, olhares de aprovação e reprovação, aqueles mais próximos que parecem estar sempre cobrando e um pacto realizado na madrugada.

 São muitos fatos e apenas uma verdade e acabou-se o dia tempestuoso em sua alma, no qual dilacerou qualquer alegria e arrancou de si o desejo de continuar. A obstinação em não desistir rasgou os princípios sussurrados. A noite, cruel e impura, já entregou a sentença mais difícil de aceitar.

 Na nova promessa, o tempo passará arrastado, o vento soprará devagar e as melodias cessarão até que não exista mais fumaça para sufocar o peito que arde em chamas incertas. O veneno doce tragado se esvai enquanto escreve. Já nem mais lembra a razão de prosseguir com os infinitos objetivos sonhados antes. Eram metas sem fim de um sucesso turvo. 

 As lágrimas corroem o coração ensanguentado. Sem compaixão ou bondade, as palavras saíram secas daquela que lhe trouxe a vida. Agora basta um passo para que arruíne o resto de sua história. Basta mais um dia igual a este e a pulsação de seu corpo mudará para sempre.

 Não há como fugir. Deseja continuar neste mundo de responsabilidades, neste mar de afazeres que nunca termina. Respira, suspira e deseja que o amanhecer brote mais uma vez. É preciso acordar e apagar o ontem. Apagar qualquer dúvida sobre o destino que lhe aguarda. Mais fumaça, mais canções, mais trabalho. Mais, sempre mais e quase nunca o esperado. Ainda que não aguarde. Ainda que não clame aos céus por uma resposta sensata. 

 Compreende a verdade do tempo. Ele trouxe soluções inesperadas. Porém, a decisão já deixou de ser somente sua, agora pertence ao Universo. Agora incendeia os seus passos. Agora é hora de acordar outra vez de um sono profundo. E foram apenas alguns segundos, minutos, dias que acabaram ao escrever e reconhecer que a eterna espera é seu destino. E espera, espera, espera. 

 Cumprindo as regras ou não. Quebrando muros ou não. Contudo, jamais quebrando a outra promessa banhada em lágrimas. Pois, a verdade é que tudo segue, tudo continua, o mesmo sentimento, a mesma sensação. Mas é chegada a hora do tempo. E, depois os infinitos dias virão. A resposta será entregue, provará que são reais todas as suas vontades e deseja tão somente que seja recíproco o retorno, mesmo após tantas eras sem o sonhado reencontro.

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

A verdade impulsiva


Não dá mesmo para adivinhar qual o melhor caminho a seguir. As juras verdadeiras tentaram se quebrar, mas a real  escolha pulsava em algum lugar que tentava apagar. Não existiu maldade ou palavra falsa. E, sim, há um lugar secreto para dizer o que jamais ousaria repetir em voz alta sem a confirmação do destino e do tempo.

Os lugares. As pessoas. O tempo. Uma combinação fatal. Um risco. Depois, os dias passam e chega o derradeiro momento, no qual já não dá mais para tentar fugir. São muitas preces não escutadas, muitas vontades proclamadas e renegadas por alguma certeza impura.

O mau não habita em sua alma, não há razão. Ao ler cada verso de sua jornada teve a mais concreta certeza de que em seu peito morava uma sensação candente, mas que o destino mandava esperar e desejar boas novas para a felicidade de outrem.

Contudo, é difícil guardar algo que está prestes a transbordar, num mar revolto de emoções, em sonhos inesperados, naquela canção que insiste em aparecer quando menos é necessária. Por isso, se o mar vier, a ventania ajudará. Se não souber qual o melhor lugar para correr o vento guiará. Sem melancolias, sem desespero, sem rancor.

A fragilidade se reparte. Transforma-se. E tudo se transforma na mais profunda realidade. O inconsciente obriga a cumprir. Sem perceber as palavras ditas entre lágrimas são agora reais, palpáveis e fazem mais sentido do que nunca.

Sem mais esperar, sem mais medo, sem mais usar o véu da insegurança, sem meias palavras. Despida de qualquer manto protetor. Já era hora de pular. Pulou sim. E viu... em seus olhos, viu. A incredulidade. Viu. Não há caminho de volta, somente para frente se caminha. Por isso, um novo recomeço. Por isso, o retorno para depois a partida, para buscar o que ficou para trás e era tão necessário para seguir. Crer ou não já é outra história.

terça-feira, 6 de novembro de 2012

Templo


O tempo renova ciclos perdidos na eternidade sincera de um gesto. As horas correm e o horizonte não resplandece. A mágoa partida apaga-se no mar renovado de sinceras recordações. Jamais negaria os reais sentimentos guardados nas lembranças estilhaçadas das canções e a leve fumaça sufocada entre meias palavras.

Não mais corre em direção de melodias amadas. Não mais desiste de jornadas pelo leve toque de um amanhecer. Perde de vista aquele olhar. O mais belo de todos. Menina ainda. Entre o doce e amargo renascer de uma conquista esquece qualquer resquício de dor. Nem ao menos se lembra de qualquer sensação daquele outrora perdido em chamas. Translúcidas. Cristalinamente cruéis. Deixadas nas varadas do passado.

Corre. Rumo ao mais seguro dos laços. Entre fios reluzentes, chamas candentes, eterna doçura cor de esmeralda. Mergulhada em histórias colhe a infinita razão. Aos poucos, a rubra e flamejante sensação se desvanece em meio aos afazeres cotidianos. Celebra a renovação. Acabam-se as melancolias, angústias são dilaceradas. Vento. Ventania pura e libertadora. Sim. Aquela brisa transforma-se em tempestade de luzes e sabe que jamais temerá sentir o mesmo outra vez.

Mais alguns suspiros e as correntes romperão. Mais outro silêncio interrompido e os pensamentos fugirão. Mais um pouco de certeza e a serenidade virá.

sábado, 20 de outubro de 2012

Neblina


 Em sonhos, em delírios sublimes, em tempestades seletas, a ventania vem e o coração dispara. Os olhos brilham e se encontram. As escolhas são as ideais. As memórias são deixadas de lado e o presente é feito de mágica. Suspiros eternos em busca do ar. 

O despertar de um sentimento morto se finda quando a música cessa e vem o último trago do cigarro. O clarão do amanhecer não chega em sua turva visão. Nega oportunidades e esconde-se em precipícios de afazeres. Prende-se. Acorrenta-se. Retorna para a masmorra que já não parece tão escura. Jaz na imensidão das lembranças.

Sorrisos imersos na tranquilidade recorrente. Traça o melhor caminho que pode. Trava batalhas pelo o que acredita. Sela pactos. Crava a lealdade e a honra em seu ensanguentado coração. Transforma-se naquelas palavras ditas ao vento. Agora se torna o que pensava ser e não era. Lança-se na ventania da sinceridade, derrama toda a verdade, queima as mentiras cotidianas. Defende aqueles com que divide ou dividiu alguma jornada. 

A lua brilha e reconhece suas feições. Conversam outra vez. Os lugares, os mesmos lugares. Repetem-se ações, emoções, gestos. Ainda assim, existe a surpresa do reencontro, das mudanças, das horas que se passaram mergulhadas na distância. Recuperam-se os sentidos. Abandona o espaço, regressa para as cores secretas, apaga-se a dor e refaz seu canto. 

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

E se fosse...?


Subiu na direção do vento. Correu para encontrar uma resposta perdida nas chamas cruciais da razão. Soluçou em meio aos prantos deixados no passado nebuloso. Carregou incertezas relevantes até o final da jornada. Cercou-se de esperança indesejada. Pulou do precipício incendiado.

Relvas cinzentas nasciam daquela jazida. Flores morriam desvanecidas. Calor transparente, preso em vão na alma candente. Rubra face desprotegida calava o temor rejuvenescido. Tênue semblante da sorte entregue aos pulsos imersos em cortes. Fervor, tremor, súplica inesperada. Amarga cada palavra jogada aos mares da solidão não perdoada.

Plácida. Pálida. Cinzenta. Equilíbrio suprimido em tardes soturnas e desesperadas. Calma. Sorridente. Deixa a angústia latente se despedir enquanto recorda o júbilo de ser quem no outrora era. Deixa que a saudade escorra da memória, dispersa sensações, queima verdades escondidas num subconsciente translúcido.

Dedica sentenças, recorre aos julgamentos, livra-se da culpa, envolve-se na fina emoção de abandonar qualquer purificação, na tentativa de não se apegar. Rompe laços interrompidos, renega mentiras, não mais as escuta.

Caminha leve. Mais uma vez procura a ventania. Responde através das escolhas recorrentes. Um pouco mais dessa cálida pulsação e arderá até o fim. Sempre o encanto vem do fogo, das melodias nascidas em brasa. E deixa tudo queimar.

terça-feira, 2 de outubro de 2012

O outrora especial

Algo especial... há algo de especial nela, pensou. Olhou para seus olhos e quis mergulhar naquela sensação ininterrupta de felicidade. Tentou recobrar o fôlego. Só de pensar naquelas belas palavras que saiam de seus lábios o corpo delirava. A luminosidade dos versos encantava a cada instante. O coração disparava quando o beijo era selado.

A alma rebelde cansava, mas ainda não era tempo de enjoar. Os passos eram leves. A memória guardava o melhor e foi ela quem trouxe a salvação, no momento mais tortuoso e cheio de perdição. Correu para onde o vento levava, naquela direção, no pulsar frenético das horas descompassadas.

Pausa. Era o momento exato de acordar. Um sopro, sua voz se tornou inaudível. Somente a lembrança restou. Então, como uma tempestade finita, a aurora resplandeceu e viu novamente a paixão desvanecida. A rapidez de um encontro e, outra vez, a partida. Tentou acalmar o ébrio coração. Depois vieram outras distrações.

Fugiu de tormentos, deixou o pranto secar, reconstruiu o caminho pausado para viver o que tivesse de ser vivido. Seguiu, ainda que mantivesse contatos não respondidos. Até que...até que seu caminho cruzou novamente com o dela. Uma noite, uma canção e mais loucuras para serem presenciadas.

Cessou, parou, congelou. Na madrugada, após dizer não para um beijo, tudo pareceu fazer sentido. Nada mais restava naquela história. Pelo menos não como antes. Naquela exata hora, a alma gélida ficou, a pulsação frenética desapareceu. Restou apenas uma sensação estranha. Um resquício de algo irreconhecível. Não é paixão, muito menos amor. Tantos clichês para resignificar e explicar tolices de uma ação sem sentido.

Agora, a decisão parece turva, porém esta não pertence somente a ti. Olha mais uma vez, tenta recordar o que no outrora parecia reluzente. São outras emoções. Talvez. Não sela mais pactos. Não procura entender. Não quer mais nada além do sossego de ser e reconhecer quem é. E o que foi já não importa. O tempo dirá qual o melhor destino a percorrer. Cala-se. Já é hora de dormir e esquecer os dourados fios que cobrem a singela melodia, quase translúcida...e a narrativa vai se apagando...enquanto outra surge.

domingo, 30 de setembro de 2012

Outras


Fumar, beber, se entorpecer. Buscar uma saída, uma solução para uma vida menos entediante. Correr, enlouquecer, viver aventuras irracionais, somente para experimentar um pouco de caos, uma loucura momentânea. E tudo isso passa. Toda esta maresia e essa ventania. Toda a angústia que seca a aura e dilacera a mente em devaneios. Eles podem ser sim conscientes, porém insensatos, pensados, relatados, vivenciados. Positivos ou não. Relevantes ou não.

Os fatos existem e a madrugada parece eterna e a fumaça preenche o peito enfermo. São tantos caminhos, escolhas, referenciais, cobranças. Mais um pouco de desespero para descobrir o amanhã e nada dará certo. É preciso ter calma. É preciso não planejar.

As expectativas insistem em permanecer no subconsciente. Incertezas reais e um pouco de mágoa. O sabor é inigualável. É fel banhando no doce néctar de seu veneno. Depois sorri quase forçado para provar para si que pode encontrar o tão tolo júbilo. Aquele exclamado por quem um dia amou ou ama. Aquela translúcida sensação de que o melhor está por vir ou reside em sua existência.

Essas abomináveis certezas rodam cada amanhecer que tarda em chegar. Não é meramente uma ilusão. Essa é a questão. Em algo ou em algum lugar a tão desejável questão está prestes a ser resolvida. Talvez no final de algum arco-íris. Ou tudo isto é uma grande bobagem? São tantos círculos, tantos remédios, tantas escapatórias, tantas que se tornaram invisíveis.

Depois se cobre de lembranças e tenta refazer seu caminho. Retorna para o passado e, em alguns momentos, há uma esperança. Reconstruir sentimentos. Viver e reviver. E não tentar mais nada além disso. Ponto.

segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Mais um recomeço


 Seu coração flutuava. De melodia em melodia traçou um rumo. Num ritmo incessante, acelerado, viu rostos, imagens, miragens. A pulsação forte. Disparava. Sentia. Pertencia e jamais negava. Algumas lágrimas vinham. Logo depois, as novidades arrastavam suas pequenas mãos em direção de outras aventuras.

 Sem perceber foi deixando as sensações de lado. Sem perceber cristalizou sentimentos. A ventania puxou a realidade e a pôs em sua frente. Soube e compreendeu. Agora segue por outras direções. Agora esquece qualquer história vivida pela metade.

 Começa outra vez. Páginas em branco. Fumaça. Outro caos no amanhecer. Um completamente diferente. Somente um pouco de confusão em sua mente, para acertar as escolhas. Para entender quais serão os próximos passos.

 Talvez, um pouco gélida. Sem grandes ações ou demonstrações de afeto. Seu corpo cansa, a aura segue em rodopios singelos. Calma. Responde para sim. É necessário um pouco de paz. Não mais reluta. Descansa. Fecha os olhos para que venham os próximos dias. Para que sinta a primavera chegar. Respira. Esquece. Recomeça. Sim, recomeça mais uma vez.

terça-feira, 11 de setembro de 2012

Fim

 Não deveria dizer, mas também diz. Responde para que todo mal entendido se acabe. Sem perceber, sem achar, sem pensar corretamente. Falhas. Somente compreendeu após a madrugada. Aquela onde viu o amanhecer brilhar um pouco mais. 

 Sua vida estampada na vitrine. Sim. Agora deixa o último rastro. Porque é necessário explicar. Pois já descobriu o verso final para a segunda melodia. Agora retoma a primeira, para que este caos cesse. Para que não reste nenhuma dúvida. Para que os escritos impressos não sejam mal entendidos. Silêncio. Respira e pensa qual será o próximo passo.

 A verdade. Sentiu toda a trajetória. Confusa, alegre, candente, forte, engrandecedora, repleta e banhada pela maior concupiscência de todas. Doce e amargo se misturavam numa dança eterna. Giros e mais giros. Um pouco de fel e, logo depois, sorrisos intermináveis.

 O fim veio na hora certa. Sabe disso. Seu coração já estava em descompasso. Na verdade, os dois lados se perdiam em novas paixões. Não existia mais página para escrever naquela história. Talvez a juventude tola de uma tenha destruído a possível aproximação. Já não recorda o que afastou suas realidades.

 As horas passaram. O tempo. Então quis, verdadeiramente, não perder sua presença. Determinada sim, mas deveria ter enxergado os males dessa característica. Que a persegue em cada aurora, em cada gesto, em cada decisão. Os nomes vieram. Sim, a fada também sabe das marcas em flamas que foram marcadas na última página desta narrativa. Feitas, por aquela que viu o amor cedo. Chegaram.

  O pior é esse vai e vem. Esse sim é enojante, podre, contaminado. Algum corvo venenoso que leva e trás informações. Já não sabe qual companheiro de jornada trouxe tantas sentenças mal ditas. Cruel ou não, este foi o fim. Contudo, o mais importante relatar é que não deixou de viver. De sentir. De seguir o que aprendeu e acreditou com toda força de sua alma.

E não quis recomeçar. E não fingiu amizade alguma. Para ela era o melhor caminho. Ainda que fosse impossível, havia um resquício de crença no mais perfeito companheirismo possível. O mais leal e sincero. Um afeto singelo que restaria. Depois, esqueceu esse sonho e seguiu.

 Agora quer que entendam. Nenhuma palavra ruim será para a deusa. Não. Não é. Se lessem com cuidado. Se prestassem um pouco mais de atenção. Depois da mágoa de escutar tantas injúrias. Depois de uma tempestade de incertezas... Os mares se acalmaram e nada fará que volte atrás. Nada. Porque não há razão alguma para que rejeite ou tenha raiva. Não existe. Não mais. Entregou seu destino aos dias. Soube aquecer seu coração. Experimentou um pouco das confusões ébrias. 

 Restam, no final das contas, as boas recordações, os conselhos, a honesta pulsação de corpos. Somente isto. E sim, por mais que não queira entender, abençoa seus novos passos. Sorri enquanto olha para a lua, pois sabe de toda a sinceridade que mora em sua pele. Feliz. Todos nós. Então, como a outra diria, caminhemos. E agradece. E se cala. 

sábado, 8 de setembro de 2012

Muros



 Um espaço em branco. Com o coração livre corre em direção das mesmas estradas. Mergulhada no veneno da madrugada, as decisões parecem ainda mais turvas. Depois vem o amanhecer. E todas as ideias são purificadas pela razão. Não compreende. São caminhos tortuosos e já não os quer para nada.

 Ainda assim, basta provar um pouco mais daquele cálice que todas as vontades se transfiguram. Se precisasse escolher... não saberia a resposta. Contudo, nenhuma seria sim. Porque não existe necessidade em reviver nada, mas ébria não hesitaria ao dizer sim para qualquer melodia que escutasse. 

 A complexa tríade gira em sua embriagada mente. Abre os olhos. Sorri, pois a decisão não está em suas mãos. O destino brinda seu futuro com novas aventuras. E o ciclo da indecisão retornará em algum momento, porém tenta esquecer. 

 Se os olhos brilharem, se a noite permitir que sua alma repita tolices, se o desejo de dizer algo for mais forte... Nunca deixará de fazer o que a vontade mandar. Sem arrependimentos. Sem melancolia. Sem pestanejar, muito menos duvidar. E possui alguns tragos das marés insensatas. 

 Somente um pouco mais de incerteza e o caos mergulhará sua aura numa tempestade. E gosta. E sente. E deixa que a ventania leve seu corpo para o infinito prazer de flutuar em qualquer direção possível. 

domingo, 2 de setembro de 2012

Um sopro, um suspiro...


 Não importa se jorra veneno de suas veias, pois este sai doce de sua boca. Já não interessa se a aurora partiu em uma ventania inacabada. Terminaram-se as manhãs soterradas de indecisão e sede. Já não há mais escapatória para o novo percurso.

 Seus olhos brilham, enquanto a fumaça ascende. Seus lábios se inclinam para entregar a sentença final. O corpo treme. Milhões de espasmos se espalham pelo espaço. A alma translúcida conta toda a verdade escondida em sua aura.

 O peito arfante ressuscita o desejo preso na sua carne. Inebriada pela candente concupiscência que se espalha pelo ar, jamais retorna ao estado comum dos dias anteriores. As juras sussurradas alastram-se até o infinito e deixa que o destino transforme a realidade.

 Em delírios implora por mais. Sua voz é como uma lança. Uma espada em chamas fincada em seu coração. A pulsação, a sensação, emoções fluídas. Fervem. Sem mais respirar. Sem poder mais suportar, mas ainda sem relutar. Ergue-se. Voa. Clama. Injúrias. Escutam os gritos. Gritam. Cálices cobertos de energia rubra. Ardem. Mais e mais. Num giro.

 Abrem os marejados corpos. Olhares se encontram. O céu se apaga. A luz inalcançável da lua brilha e sua luminosidade jamais se finda, muito menos aquela madrugada. Sentidos recordados em puros gestos. Agora suas sílabas arrastadas ecoam em seus ouvidos. Agora a ventania escapa nas mãos de um ser sem respostas. Agora é só canto singelo sem meias palavras. Agora a escrita sangra para que saiam todos os versos inapropriados. 

 Paira sobre o paraíso. O celestial paraíso coberto de nuvens. Chega e percebe que no topo brilha a cristalina maré que corre e finda outra vez a tempestade. Perfume. Exala. O doce perfume trazido pelo florescente amanhecer. Silêncio. Calam-se. Agora somente o tempo trará o reencontro daquelas duas perdidas almas. Enquanto os sinos não tocam, enquanto a primavera não chega, enquanto tudo é somente um sopro no meio da bruma cinza.

terça-feira, 28 de agosto de 2012

Devaneios Conscientes

 O tempo gira em uma ampulheta feroz. Como se nunca fosse parar. E nunca cessa. Será sempre assim. Ciclo atrás de ciclo. E as lembranças que insistem em fisgar a mente. Sim. Pois aquela menina ainda ronda. Aquela bem parecida com a da Valsa. Seu coração em flamas deseja respirar os ares de uma liberdade que nunca veio.
 Chega sim, de leve. Contudo é como um relâmpago numa tempestade enfeitiçada. A lealdade ritmada de um beijo. A doce nuvem que dispara a pulsação da alma. A ventania que brinda por sua nova jornada. A alvorada púrpura que congela os movimentos. Os sentidos inexistentes de uma melodia infinita. E toca. E roda. E sente. E roda outra vez. Como numa roda gigante que jamais cessa.
 Sua face era pálida, seus dias cinzentos, seu medo calava o seu verdadeiro eu. Este que queria gritar. Era como uma volta sem fim de erros. Como um sopro singelo da sorte de ter o que possuía. Era a música singela. Era embriagado de luz. Era véspera de espera, nos mais revoltos mares de melancolia.
 O vento passou. Assim como a neblina. A saudade levou as horas incontáveis dos dias. Sussurros elevados em plena tarde que não adormecia. A tarefa completa de ser uma que foi para sempre. Grudada em sua pele. Eterna na memória. No balanço sentava e a viagem era completa. Agora, escárnio. E tudo que foi já era para ter sido. Quando a lágrima não veio, soube a razão da sua existência. Quando tentou regressar, já não era mais possível.
 Quando os pássaros cantam, cantam mais uma vez aquela música que somente no amanhecer viria. Aquela que era somente encanto. Poemas em prosa, jamais decifrados. Calor e calma dominam os dias. Os cálices passam transbordando loucura. E sempre soube a batida de sua aura. E nunca esquece o sorriso gritado. Talvez uma gargalhada. Uma porção delas. E sol brilhava em sua face rosada. 
 O céu exclamou que o destino estava traçado. Assim, então, seguiu seu caminho com outros versos. Ao ler, outra vez as dúvidas afastaram qualquer lucidez, substituída pela embriaguez. Depois viu a solução almejada. E somente assim, então, pôde respirar tranquilamente. Agora escuta a mesma versão, do paraíso encontrado no que resta de certeza em si. Pois nunca encontrará a resposta do enigma, de tão belo texto ou somente de um pretexto. E seu perfil passa entre as flores. Cegas. Intactas. Singelas. Puras. Rubras. Castas. Intocáveis. Inigualáveis. Insignificantes. Repressoras. Solitárias. Calmas. Inebriadas. Suspeitas.
 Todas. Uma. Somente. Candente. Sorridente. Complacente com os próprios delitos. Nem tão graves assim. Talvez. Ou não. Ou tudo. E nada. No espaço das letras. Na margem de um rio. No soar de um sino. Na madrugada infinita. Na simples sinfonia. No caos eterno das dúvidas. Porém, não escapa das gargalhadas de sua vida. Repleta de alegrias, de sons que jamais escapam. E das visões dos melhores encontros. De participar dos mais belos momentos. Apenas escreve sobre algo visto. E assim termina mais rima para sua melodia. Acaba, assim, mais um ciclo vivenciado.

domingo, 26 de agosto de 2012

Noite, dia, noite


 E seu perfume espalhava-se pela madrugada. Silêncio. A surpresa de um encontro doce. Novamente uma aventura. Aquela que congela ali. Entre retornos e desencontros. 

 O melhor beijo selado em sua alma ocorreu em outra vida. Aquele com gosto de coca-cola e fuga. Inesquecível. Depois, nenhum momento se comparou com aquele. Nunca mais.

  O tempo passa e a lua brilha outra vez. Somente neste novo amanhecer encontra. Uma nova sensação. A emoção de correr pelo mundo e deixar que as peles se toquem. Um horizonte resplandecente. Sua aura queimava o corpo. A vontade apagava qualquer certeza. Ali, correndo e correndo. Subindo e descendo. Com o coração em ritmo louco e a mente em descompasso. 

  Aconteceu outra vez. O momento. O perfeito beijo ocorreu. Outra vez viveu algo inexplicável. E o mundo se estilhaçava ao redor. E o caos de outra noite deixava incertezas, mas nada importava. Não tanto como sentir e viver cada parte desta história. Que se acaba. Sim. Não há ilusões ou falsas promessas. É o ideal para a sua natureza.

 Todos os raios de sol brilhavam em sua face. Translúcida. Verdadeira. Sem pudores ou meias palavras. A perfeição em pequenos gestos. Os olhos mareados de sinceridade. Sim. Suas lágrimas desciam e todas as palavras saíam cálidas. Saíam, porque confiava. E todos os mares jorravam por sua causa. Era tudo e nada. Era aquilo e nada mais. E, por isso, já não consegue querer reviver outra narração. 

  É impossível regressar para qualquer outro canto. Agora é hora de seguir rumo ao júbilo. A alegria de saber que a melhor escolha foi feita. Entre os caminhos que passavam as gargalhadas podiam ser ouvidas. 

E outra noite chegou. O momento de despertar. A realidade tocando seu ombro. Pedindo para que acordasse daquele transe. Acordou. Porém segue com um enorme sorriso no rosto. E sabe: é preciso caminhar. Até um novo dia. Até que escute uma nova melodia. Até que os pássaros entoem uma canção mais bela. Até.

quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Para mudar o rumo da prosa



 Surpresa sim. Ao escrever em seu mundo virtual entende que quase nunca escreve sobre as alegrias de sua estrada. Talvez sua inspiração esteja nos problemas ou em trazer o passado de volta. Porém, não foi ela quem pediu o retorno dos dourados fios reluzentes.
 A verdade é que precisa dizer. Com as palavras consegue tirar qualquer dor, ressentimento ou melancolia de dentro de si. Já o júbilo permanece no coração, de um jeito ou de outro. Agora, não mais lamenta. Talvez tenha passado a impressão errada. Não precisa regressar a nenhuma história mal vivida. Muito menos atrapalhar os passos de ninguém. Quer ser livre para voar.
 E voa. Sente o vento bater na face. Candente menina que cumpre sua promessa de viver, de se entregar e de nunca desistir de alcançar seus objetivos. Determinada. Sempre. O tempo passa um pouco mais e já compreende melhor os ensinamentos passados.
  Nestes dias, nestes meses, neste ano, tudo que encontrou foi um mundo repleto de aventuras. Seus trabalhos, seus amigos, suas escolhas. Tudo caminhou em uma direção nova. A emoção de descobrir quem se é. Verdadeiramente.
  E os últimos tempos têm sido de farras. Logo passam. Pois já voltou um pouco aos livros. São caminhos. Decisões. E a sensação de que segue o melhor rumo possível. Sem dores, prantos, angústias. Nem mesmo a solidão consegue tomá-la. Antes, sozinha, com as lágrimas no colo. Hoje, seu sorriso é largo e apenas neste espaço conflitos são relatados. 
 Foi para entender somente até qual lugar foi e chegou. E deixa o tempo passar. Deixa as cores preencherem os seus dias. Afasta-se de possibilidades irreais. Possibilidades, logo mais de uma. Tola. Gargalha. E o luar, seu cúmplice, a acolhe em seus braços. As músicas se renovam. As outras três melodias são guardadas e segue. Sempre. Caminha. Em direção as grandes doses de emoção. Até o último gole. Sorve a inspiração. Até o último gole. Para que enfim possa dizer que foi, é e será muito feliz.

Mercy


 Seriam apenas palavras? Seriam. Talvez não. Talvez acreditasse em cada palavra. Em cada missiva. Em cada poesia. A outra olhava em seus olhos todo o tempo. Depois veio uma noite cheia de delitos e confusões. Jovens, pensou. Jovens. Todos ébrios. Todos tão cheios de motivos. Um coração que disparava cada vez que via aqueles passos já conhecidos em um outrora distante. Em uma canção escutada num amanhecer tardio.
 Todos, príncipes e princesas. Todos. Ao abrir os olhos lembrava cada vez mais daquela madrugada. Agora seu corpo tremia ao pensar no ocorrido. Sorte de quem esqueceu. Sorte mesmo. Para os que lembram restam apenas dúvidas. Do que foi dito, do que foi feito. Alguns culpados, alguns certos e outros se questionam na sua escrita qual foi mesmo o caminho que seguiu.
 Não precisava ser assim. Não se trata de um jogo, não se trata de desarmonia, muito menos de um sonho transformado em pesadelo. 
 Foi assim. Exatamente assim. Um ciclo. Um quarteto confuso. Uma sinfonia de delitos. Um segredo. Uma verdade. Várias verdades. Condensadas. Misturadas em veneno. E um exagero sem fim. De promessas. De juras. De ações. De desnecessárias canções. 
 Emudece esta melodia. Deixa que seu erro consuma seus dias. Deixará porque sempre foi assim. Aquela que espera o tempo passar e curar as mazelas da vida. Mas, não queria que fosse assim. Não mesmo. Era para ser festa e júbilo. Era. Então, um nobre cavaleiro joga-se na calçada. Então, palavras são jogadas ao vento. E insiste. Insiste em si delatar. 
 Depois amanheceu e lembrou-se de outra narrativa. Sim. A única que poderia salvá-la de qualquer conflito. Foi ali, naquele exato momento, que soube o óbvio. Não há porque se derramar por escritas e frases belas. Não mesmo. Existe aquela que provou seu valor com sua sincera face. Ainda que a denúncia tenha sido feita horas depois. Perde um pouco da confiança, mas não abala a afeição.
 Mergulha, então. Num poço de danações. Se ao menos fosse ficção, tudo acabaria bem no final das contas. Porém, não é. Nem nunca será. E em que lugar está a resposta? Em que lugar existe a flor verdadeira? Não neste lamaçal que afoga sua estrada. 
 Suspira. Procura respirar. Encontra a melhor solução. Espera o tempo curar. Somente este traz todas as respostas possíveis. E não será uma noite que condenará sua alma. O pranto não veio. Aliás, nem precisava chegar. Ele já secou quando o coração gelou. E não há mais nada que possa fazer a não ser viver. Mais suspiros e lembra que há sim uma saída no fim deste imenso túnel. Agarra a solução e deixa que ardam enquanto sorri. E sim, deixa as portas abertas para quem quiser voltar.
 Está falando de todos. Estes que foram embora um dia. Que foram embora ontem também. Podem voltar quando quiserem.

 E essa é somente uma parte da história...

terça-feira, 21 de agosto de 2012

Felicidade


 Há um paraíso onde a escrita se deita sobre um coração candente. Há sim um lugar para visitar. Depois de fugir de um horizonte flamejante. Depois de conquistar a liberdade. De uma emoção. De sensações. De sentimentos. 

 E existiu uma missiva jamais entregue. Os corvos sagrados a devorariam com gargalhadas cruéis. Sim. Sabe. De tudo. E um pouco mais. Um pouco mais de versos sublimes. E a narrativa continua. Não se quebra. É como uma mágica jogada em sua ventania. Mergulhada num caldeirão de palavras. Sim. E não. A vontade era gritar a verdade.

 Não. A verdade era olhar nos olhos e dizer tudo de uma vez. A madrugada sela pactos eternos. E não adianta mais dizer que os sinos não tocaram assim. Não. E se enche de não para dizer um último sim. Talvez em outra vida. Quando forem gatos. Quando se encontrarem no momento certo. 

 Porque era. Foi. E não mais. Sim, nunca mais será. Em seu coração, em algum lugar, todas as respostas brilham. Cristalinas sorriem. Porque os olhos não querem enxergar. Mas alma sempre entende. Todas as tempestades foram reais. Ainda reclama, pois não consegue esconder a verdade. Essa é sua. E façam. E usem. E voltem para nunca mais. Para o nunca que jamais virá. 

 Somente o príncipe, a fumaça e o vento compreendem. É mais fácil. Jogar a culpa na ventania. Sua pele já foi condenada a lamentar. Sorri tolamente. Agora eliminou qualquer certeza. Agora vive como aprendeu. Agora sabe seguir e trilhar novas etapas. Agora sabe viver sem aflições corriqueiras. Não atende um pedido qualquer. Senti-se livre. Para voar.

 Honra. Vontade. Desejo. Concupiscência. Todas. Juntas. Num mar revolto sem ilusões. É. É verdade. Se as unir explodirão de júbilo. Sua máscara já caiu faz tempo. Sua língua já secou todo o veneno de amargura que restava em seu sangue. As voltas celestiais do mundo devolvem a relutância em ver o óbvio. Cresceu. A menina da janela rompeu todas as grandes e flutuou. Invadiu. Pintou. Tomou. E quase alcançou. Uma chave trancafiada em algum lugar. Nunca encontrou.

 Foi o melhor e o pior. Trouxe sim. Por que não? E em uma semana precisou confrontar todas as melodias que escutou. Sim. As canções tocaram outra vez. E não acreditou. Em seu diário digital escreveu sobre cada história. As narrativas divinas. Alguns fracassos. Ainda assim, alegrias. É. Porque viu e soube.

 Pensou? Não pensou. Nem tão pouco premeditou reencontros. Mas o destino traz de volta. Lancinante. Translúcido. E jogou outra vez para fora. As palavras. Disse quase tudo para todas as músicas. Guardou apenas uma. 

 Em seu coração e  na alma sente. Sente que segue pela estrada certa. O rumo da prosa se desvia. É. Sempre assim. Na verdade, queria uma única resposta. Se a tivesse teria dito. Todas as metáforas perderiam o sentido. E a missiva guardada precisa ser queimada. É um laço que decora o pescoço. Perto para ser apertado. É um nó na garganta. 

 E se ao menos enfrentasse. Se ao menos olhasse. Aberta. Sempre. Para todo sempre. E se realmente quiser perguntar, pergunte. Venha. E diga. Venha. E pergunte. Venha e fale tudo. De uma vez só. E a lança se partirá. Se a outra dos fios reluzentes fosse menos arredia. Se aquela do olhar quase esmeralda a calasse com um beijo. Se a fada não errasse tanto num outrora perdido. Se o gosto da falsa princesa fosse sentido. Se ao menos fosse. Se tudo existe. 

 E nada. Será. Nunca. Pois tudo que o destino lhe oferece não se coloca para o outro lado. O de fora. Sim, o de dentro. Esse que fica próximo e habita sua realidade. E não era nada disso que precisava dizer. Talvez. Não mais entende a razão de se denunciar. Mas é preciso expurgar em algum lugar. As confusões. E como seu amigo leãozinho diria. Cada dia uma lamentação ou feliz constatação sobre um novo amor. 

 A verdade é essa. E a felicidade está nisto. Sim, está. Sim, é. E sempre será. A fada que emana luz. Cumpre promessas. Sela pactos. Recita poemas para amores. Entrega flores. Escreve missivas. Canta. Corre num dia de chuva e engarrafado, somente para conversar e olhar nos olhos. Que diz tudo o que pensa. Ainda que depois riam. Dela. Ainda que todos a empurrem para um precipício sem volta. Pode apenas dizer que já pôde entender. Depois de ler. E só assim defender. Tudo aquilo que um dia chamou de seu. Por isso a letra persegue tanto. Porque pertence ou pertenceu. 

 Sem fim. Reluzente ou não. Às vezes doce ou infinitamente enobrecida de luz. Sua cálida lua branca, sua flor. Suas doçuras. Os momentos. E agora quer quebrar os encantos para trilhar rumos maiores. Passos.  Mais passos. E crescerá ainda mais.

sábado, 18 de agosto de 2012

Requer esquecimento

 A estrada era tortuosa e incerta. Numa noite fria apareceu o inesperado. Sentiu outra vez o adocicado perfume da luz que já se apagou em seu coração. Tentou regressar, mas não. As chamas do passado ficam somente guardadas. Mergulhada em uma aurora de fantasmas afasta qualquer outro pensamento.
 O novo sempre vem. Galopa então em direção ao futuro. Com um sorriso no rosto.
  O coração disparava. Era muito para ser vivido em poucos segundos. O tempo passa. As horas correm. Deseja. Envolve-se. Corre. E o destino sela marcas inapagáveis. O doce sabor de um néctar provado. O beijo escondido.
 A madrugada trouxe aventuras antes inexploradas. Ainda que não aprove o rumo destes versos, deixou que a vida acalentasse suas expectativas. Já as esqueceu. Afinal, sem esperar, uma luz dourada reluziu na escuridão ébria e cinzenta.
 Não importa o fim desta história. Somente o reencontro. O amanhecer sublime. Sempre esperou por este amanhecer. Flor sim. Que não se desmancha. Contudo, se desapega de certas narrativas irrelevantes. Seus passos iluminados deixaram rastros de júbilo e a imensidão de sensações. Recordações. Fecha-se mais um ciclo. A hora em que o outrora adormece. Os pássaros se calam. E lembra-se da cor infinita de seus olhos.
 Sempre restam as memórias. Essas são preciosas sim. Sabe bem o caminho que escolheu viver. Sabe muito bem de seus erros e pecados. Enxerga um novo horizonte repleto de falhas e acertos. 
 Um caminho duplo. Sem mágoas, porém. Uma jornada limpa. Cristalina. Rubra de intensidade. Vermelha é a sua cor. O vento é o seu dono. Apenas. Isto. Sem hedonismos. Sem flamas candentes que se desvanecem. Com um beijo. E tantos outros em seu coração. Que pulsa. Firme. Forte. Sem lanças ou golpes. Sem chagas ou desilusões. Uma aura coberta pela fumaça. Um sopro. A ventania. Os espasmos sinceros de uma pele cálida. Um gesto. As manhãs cobertas de esperança. Os raios de sol que queimam a face pálida. Um suspiro. Respira.
 O que foi já acabou e não era mais para ser. O presente faz o corpo estremecer. Pela mesma razão. A mesma que sempre guiou sua natureza. Objeto. Desesperado desejo. Arde e não é aquilo que vejo. Missivas. Paixão. Tola. Queima o papel rasgado em sua mente. Imagina. Reluta. Esquece. É preciso sim esquecer um sorriso que arrebata assim um gélido ser. Difícil sim. Porém acredita na nova história que se inicia agora. E que venha o tempo. Banhar a imensidão desses mares. Corroer as seletas angústias deixadas de lado. Corre menina que a vida é um só.

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Tolices...



 Quando o mundo parar, sua voz será ouvida. Quando sua angústia secar, os seus últimos suspiros serão escutados. Fadada. Ao eterno destino da indecisão. Do desatino. Da confusão de sentimentos. Quando corre é para encontrar emoções puras. Porém, elas se misturam e a razão escapa.

 Queria mesmo era mergulhar em veneno etílico. Corroer corpo e mente. Até que a agitação da vida cotidiana consuma seus pensamentos. Quando voltará? Quando sentirá sua alma ferver com um único olhar? As perguntas. Eternas. E rabisca um pouco mais seus rascunhos. Procurando uma exata cura para uma melancolia. Infinita. Porque não sabe escolher. O que dizer. 


 Seus próximos passos direcionam seus pés para o precipício. Nunca pulou. Chegou bem perto de pular. Seu ritmado coração borbulha de vontades. Se pudesse diria tudo. Que engasga. Se pudesse faria tudo. Corromperia qualquer indecisão. E queimaria o vento com sua lança enlouquecida. Talvez a sanidade não seja benção sua. Talvez.


 Quando os pássaros cantam o gosto retorna. Quando os anjos sussurram suas melodias, a doçura invade a alma e se cura. Ao mesmo tempo, alimenta sua sina. Porque é. Sim. Uma sina eterna e lamuriosa. De jamais estar satisfeita. Seu mapa a condenou a seguir sem bússolas. O tédio. Um silêncio. Um olhar e tudo muda. Uma palavra pode reluzir. Um beijo. Um toque. Um gesto. Tudo pode mudar em alguns segundos. Sem firmeza. Sem propósitos. Sem saber o rumo. Isso. Quer mergulhar no incerto. Por isso escolheu os piores momentos para andar por trilhas perigosas.


 O destino brinca com sua realidade. Impalpável. Implacável. Intragável. Cruel. Afinal, preferia não encontrar nada. Muito pior é voar por céus já habitados. Ou tentar caçar uma criatura que nunca fica em seu lugar. Sempre viaja para um próximo lugar. Por isso tão bela. 


 Suspiros invadidos de tortura. Porque olhará para outros lábios deliciosos. Porque selará mais juras. Porque a próxima esquina possui uma tentação ainda pior. Ainda mais impossível. E o motivo. O infeliz motivo de ser quem é. Seu pecado nasceu consigo. E somente lamenta a falta de normalidade na sua respiração. Infeliz ou não. Seu sorriso vem. A praga de amar. É só mais uma. Pois quem vive está destinado a sofrer. Está destinado a sorrir. E cumprir sim todas as marcas impostas pelo tempo. 


 Deus infeliz este tempo. Que manda apenas esperar. Mil abismos. Ou uma fase. Que passa. E a inspiração vem unicamente delas. Dos profanos prantos que transbordam da pele. Soletra mais uma vez nomes. Esquece. Portas precisam ser fechadas. Contudo, a confusão de sua mente impede o trancamento de histórias finalizadas. Pôr um fim. Um ponto. Final. Restante. Rubro ou cinzento. Doce ou amargo. Não interessa. Já chegou a hora de parar de acreditar.


 Chegou uma nova alvorada. Repete para torná-la real. Chegou sim. É chegado o momento de se rasgar por dentro e criar uma nova face.

domingo, 12 de agosto de 2012

Lies over the ocean

 Quer se calar. Sim, de verdade. Deseja emudecer a alma e jamais soluçar outra vez. Não revela tudo isto apenas pelo dia que se instala ou pelo assunto que insiste em voltar. Não, são por tantas razões. Porém, já não quer mais pensar e sim apagar. Esquecer. Precisa lutar contra a vontade sufocante de gritar e soluçar até não mais aguentar.

 Necessita deixar tudo passar, pois o amanhecer quebra a dor, para que então possa voltar a chorar por amores impossíveis ou subir nos palcos para fingir ser outra. É tudo tão óbvio em sua escrita. Enquanto deixa morrer qualquer arrependimento, se cala e confessa perante ao vento. A água banha seu caminho. Assim como a luz de qualquer raio que lampeje em seu coração errôneo. Pérfido. Petrificado de lamúrias. Ainda quer emergir para a vida. Ainda quer cantar, sussurrar e correr. Encontrar-se. Mas a saudade puxa forte quando a ventania sopra. Toda a vermelhidão de sua aura rubra dispara pelo ar. Este que é puro, cristalino e docemente respirado.

 Depois a espada finca a razão e suas memórias cobram, puxam e incendeiam. Se ao menos pudesse mudar. Transformar o seu caminho, suas escolhas condenadas no passado. E o ombro de uma nova amiga traz a esperança de se redimir, não mais se culpar. Porque o sofrimento somente veio, pois deixou que as correntes da torre se quebrassem muito tarde.

 Agora queria que a lágrima viesse e inundasse sua existência. Agora queria arder até que a dor não mais a consumisse. Agora. Porque o passado já foi. E quem se foi nunca volta. E a deusa disse isto muito antes, tentou fazê-la entender e não esquece. Porque o que fazemos com os segundos contarão sim no final. E deixa contaminar-se com a festa que ele desejaria que fizesse. Porque o dia que vive agora é o de sua inesquecível canção. 

Vai sim seguir seus passos. Vai sim tentar alcançá-lo de alguma forma. Vai sussurrar a música que embalava seu sono. E jamais se perdoará por deixar a flores sufocarem sua face. E depois? Vai embora. O sofrimento. Já não suporta mais as quartas singelas. Precisa do seu vermelho de volta. Precisa perdi perdão. Precisa que o branco das suas roupas não se cubra de sangue. Quer curar sua cabeça em chamas.

 Voltar. Regressar. Soprar. Para todos os cantos gritar. Exclamar bem alto que seu abandono e suas palavras não ditas tornaram-se culpa. Sim. Condenada. Pois não há nada mais a fazer. Só lamentos, culpa e a danação de ser quem é. De carregar em seu sangue as palavras. 

E que venha a canção. Pois vai chorar. Pois vai chorar até que do seu lado esteja. Ainda que demore. Ainda que machuque. Ainda que a estrada seja longa. Ainda que já não esteja mais em seu trono reluzente de vontades. Ainda que a voz daqueles outros seres, um dia tão próximos, nunca mais seja ouvida. Somente quer realizar o que pediu. Quer cumprir. E tudo se torna vazio quando não mais se respira. Gélido. Oco. Coberto de flores que sufocavam sua respiração. Enquanto a terra cobria sua cama de madeira. Enquanto jazia embaixo da terra que pediu para não ficar.

quarta-feira, 8 de agosto de 2012

Cherry


 Perdida em delitos e repetições. Para além das canções vive em outros horizontes. Onde a escrita tem fim. Onde os pássaros sempre cantam e a infinita descoberta do mundo encanta em mínimos detalhes. Suga todo o conhecimento. Passa por sua face e imagina. Seleciona. Cresce.
 Pelo caminho selou fortes amizades. Regressou ao passado. Sentiu. Dores, perdas, alegrias, alívio. Entre as narrações vividas encontra a doce fumaça. Fiel escudeira com que divide as madrugadas. Com quem viaja por lembranças. E sua melodia também é fina. Pura e doce. Ou amarga e feroz. Perpassa por emoções translúcidas.
 Sim. Menina. Da valsa. Das casas. Dos mundos habitados. Do irreal. Do surreal. Das paisagens infinitas. Hedonista. Obstinada. E acima de tudo, adoradora da ventania. Que elimina mágoas. Eleva sua alma. Santifica seus passos.
 Talvez contar histórias seja mais fácil. Porém encarar o verdadeiro amanhecer de novas imaginações dificulta a escrita. E gasta toda sua força para explicar o inexplicável. Sua singela vontade aumenta num instante e tudo muda. E já viveu em paraísos inacabados de pranto e de sorrisos. Sua força vem da pele. Da mente.
 Aprendeu sim. Pois ensinaram que não havia outra estrada. Contudo, com uma grande ajuda, escapou. As grades se partiram em mil. O coração palpitava. Entre risos e soluços. Entre um maremoto de preocupações e resoluções. 
 Depois o encontro perfeito e ideal. De um amor jovial. Correu riscos. Gritou. Errou. Perigosas escolhas. Outras nem tanto. Assim deixou passar qualquer ilusão. E a fronte arde ao sentir qualquer arrependimento. Porque não há nada melhor do que aceitar uma escolha. E seguir.
 E seguiu. E viveu. E mudou. Não há como negar. Ainda que menina. Não mais na janela. Sem varanda. Sem correntes. Sem meias palavras. Sem rimas. E o último verso abençoado de sua música veio doce. No momento são dois pontos. Desequilibrados. Opostos. A quebra. O caos. Para a salvação. Então, o tempo passa e encontra a doçura. Essa, por mais incrível que pareça, mudou qualquer perspectiva conhecida.
 Sim. Agora. Pode seguir para novos abismos ou para o topo da mais bela montanha. Porque sim. Não mais enxerga por um prisma unicamente. Existem doces finais. Existem novas aventuras. E a sede é para isso. Para as aventuras que correm em seus profundos olhos que queimam de vontade. De desejos. Onde a concupiscência flameja no corpo e na aura. E que venham. Novos. Novas lembranças. Novas narrativas. Pois sua cor é real. Pois sua chama é sentida e espalha-se. Por todo o oceano. Entre todas as neblinas. Na bruma que escorre por seu ventre. Porque é fogo que não se apaga. Porque é sim intensa. Candente. Assim como os fios rubros que imprimiu em si para que combinasse com o resto de sua alma. Sim. Será. Sempre. Cálida lua branca.

terça-feira, 7 de agosto de 2012

Quase e sempre...


 Por fim a narração chega perto do precipício. Empurrada. Cada vez mais embalada por canções reluzentes. Ainda que sublimada, não alcançada ou mesmo que tenha se apagado na noite mais escura de todas. Relata, pois foi uma. Única. 
 Sua melodia foi pura. Singela. Meiga. Sim. Foi seu olhar que fez o coração disparar e sua voz alongar qualquer sensação. Gritou para o vento que seguia em errôneos caminhos. Mas seguiu. Porque sua doçura sem fim salvou o que era apenas amargura em sua pele. 
 A racionalidade de uma verdade. De uma palavra. De escritas que poderiam ser eternamente suas. Despertou sentenças que jamais vieram antes. Doces. Foram completamente doces. Cobriu de rosas o caminho para que passasse. Inebriou-se do sorriso angelical. Mergulhou em fantasia.
 Respirou. Olhou outra vez. Apenas um laço restou. O da sincera amizade que ali fincou a espada. Ainda mais forte do que qualquer disparo da alma. E não mentiu. Os lados a puxavam. Não sabia em que direção seguir. Quase esmeralda. E só de pensar... emudece. 
 Trilhar um puro caminhar. Sem tempestades. Sem meias verdades. Sem sacrificar qualquer júbilo que possa vir. Sim. Sua velocidade em cortar as emoções. Surpresa. Soube guardar as sensações no poço mais fundo. Pois era só ilusão. Porque amanheceu e sentiu a brisa salgada lhe contar que aquilo era apenas sonho. Um dia. Uma noite. Uma fuga. Talvez.
 Fim. Para uma parte. Eterna. Para o outro lado. E assim entende. E assim percebe. Sempre foi clara. Cristalinamente. 
 Por isso, acredita. Por isso, não sente dor. Por isso, deixa que vá. Uma memória. Ou melhor, várias. Que se escondem no passado. E o futuro virá. Foi o melhor. Foi a maior canção. Unicamente por ser. Por dizer. E não doer. Não por ela ser preenchida dos maiores ritmos. Mas, por brilhar dentro das trevas da quase madrugada. Quase. Quase lá. E um dia chegará.

Rubra dor



Sim. Relata mais uma. História. Porém, somente narra as que importam. Porque sabe a verdade. Não pode se escapar de um sorriso que brilha entre tantos outros. E uma metáfora pode ser ainda mais forte que uma canção. Pois esta música jamais tocou. Foi um mero devaneio.

  Foi por mera ilusão que quis entregar-se a um tolo sentimento. Olhou e viu em sua força uma conexão. Talvez jamais explicável. E não existe questão a ser respondida. Apenas conclusões e relações interrompidas. E esta narrativa poderia ser para outra melodia, porém prendeu-se a esta que não permitia espaço ou aproximação.

 Ainda que um abismo separasse um mundo de emoções. Ainda que difícil. Conseguiu. E aquela força se quebrou. Um encanto chegou. E só. Foi até o momento em que poderia aguentar. O mundo já sabia. Talvez até os rubros seres que pulsavam em sua alma sabiam. E correu infinitamente para não gritar para o mundo que ali a espada cravou a mais doce e venenosa paixão.

 Jamais alcançável. Até amarga. E cumpriram todas as marcas exigidas. E choraram da mesma mágoa de estar presente quando todos os outros seres desapareciam na neblina. E o valor de qualquer sentimento é mais real do que qualquer batida que seu coração insensato trouxesse.

 Respira. E o último veneno se acaba. Mais ainda tem mais. Estar sempre por vir. E teme o retorno. Por isso, aproveita enquanto pode suspirar por outros fios, outros caminhos. E aponta para um novo rumo. Outras direções. Pois ainda está longe. Muito longe. Ainda. Tão distante.

Não seja aquilo...

 Certo. Suas escolhas não foram as melhores. Não neste sentido. Não adianta. Os seus companheiros de jornada insistem em caçoar e criar novas rimas para velhas canções. E não mais se importa. Pois, se decidiu ir para o rumo errôneo, bizarro ou talvez insuficiente, como muitos gostam de afirmar, foi tão somente por escolha.

 Cansa de repetir. Porém, de alguma forma precisa relatar um pouco mais. No seu papel digital. Em seu mundo desigual. Ou perfeitamente surreal. Porque enquanto riem, viveu belas histórias. E ri de algumas também.

 Não tem problema algum em seus longos passos, mas chora. Não sabe ao certo porque ainda procura o último verso de sua narração. De suas juvenis aventuras. 

 A maior questão para a menina é solucionar onde errou. Por isso regressa lentamente ao passado. Em cada um deles. Detalhadamente revisita o outrora escapado. A anterior viagem trouxe respostas. Contudo esta, que agora relembra, parece turva, sem detalhes e sem espaços maiores para falhas.

  Os fios reluziram e viu o sorriso mais belo encontrado. Sua fronte era quase translúcida. Seu perfume quase de fada. Uniram-se em palavras. Em escritas sussurradas. Em promessas sublimes. E foi sua porque pediu e assim a chamava.

 Aguardavam o encontro. Este selaria uma vontade ainda maior que a da descoberta. E se olharam. Seu coração parou por instantes. Emudeceu. Mas, a outra de luz inigualável alertou. Elas sempre alertam. Preferiu ignorar o julgamento próprio da outra que se chamava de monstro.

 O tempo passou. Desvaneceu na velocidade em que apareceu. E regressou. Sim. Estranhamente reviu a sepultura ardente de seu sorriso. E as respirações palpitavam no mesmo ritmo. Era uma canção zonza que saltitava no luar. Ainda assim continuou. Este louco ciclo de respostas mal recebidas. De conclusões não bem entendidas.

 Na verdade ainda não compreende. O que ocorreu. Em ambos os lados existem razões irreconhecíveis, jamais encontradas de fato. É confuso. É tortuoso. A reposta escorre na sua mente. Exagerou. Talvez. Ou não. Ou sua pele confusa fez o mar de trevas se espalhar e nem percebeu. 

 Infinitamente enobrecida de luz, recorda. A luz se apaga e a vida segue. A voz se cala e o mundo desaparece. Foi meramente um sonho, repete. Repete até que não mais possa. Aquela que um dia foi flor. E sim, desabrochou. E foi até um clichê, mas gostou. E não. Não acredita no que os companheiros gritam em seus ouvidos. Ignora. É. Mais uma vez ignora. Emudece. Sim, outra vez emudece. Porém, agora para o novo futuro que virá. Cheio de novas luzes. Repleto de novas dimensões. Outros hábitos, outras canções. Porque esta é somente uma e repete-se. Eternamente. Enquanto sua lua se despede.

segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Depois do primeiro


 Não se engane tola menina. As palavras foram ditas e este amanhecer já se apagou num passado muito distante. Porém precisava revisitar. E o medo que a próxima palavra engane. E o medo de encarar a realidade que está estampada em sua frente. O mundo mudou e sua vida também. E conseguiu realizar a façanha de arrastá-la novamente.
 Foi duramente difícil o crescimento. Quase forçado. Entender metáforas. E antes não compreendia. Agora a sede de abandonar qualquer outra narração seca suas palavras. Ou não. Aumenta a escrita que parece não ter fim. Pois não consegue dizer tudo. Porque não encerrou completamente a história. Porque suas verdades são espalhadas para o mundo. E o príncipe canta. Ele insiste que sua ferida se abra e quebre qualquer melodia honesta.
 E seus olhos brilhavam na noite mais escura de todas. Foram trevas que invadiram seu coração. Mas a verdade. A verdade mais cruel de todas. Não sofre. Em momento algum sofreu nesta nova caminhada. Porque viveu. E viveu muito. Rodeada de flores. Sorrisos. Alegrou-se com as novas descobertas. Com as novas sensações. Com o perceber de uma nova alvorada. E saber que pode ser tão intensa e amar. Amar tanto. E foram intensas, breves, longas jornadas. Algumas relutantes em sarar, outras não. 
 Vibra ao saber que as memórias ensinaram. E agora sabe mais. Ainda que saiba tão pouco. Porque aprende em cada amanhecer que as palavras precisam ser ditas. E se fez em algum momento um erro mortal que perdoe seus tolos sentimentos. Suas tolas razões. E fala para todas. Para todas as canções. Ainda que sejam músicas melancólicas ou com finais infelizes. Todas são canções. E não se arrepende de qualquer beijo dado. De qualquer pacto selado. De qualquer chama que pulsa candente. Pois é sim hedonista, obstinada, fiel, sentimental, impulsiva. Sempre dirá tudo. Então, quando olhar outra vez para qualquer olhar imenso que precise será sempre verdadeira. E dirá tudo. Nunca poderá desmanchar o véu que criou. Os céus que alcançou. Os abismos que se jogou. 
 Sorri. Levemente sorri. E tranca o outrora perdido em brutas flamas. E repete que ali não há mais nada. Secou. Abrandou. Apagou. Guardou e escutou os últimos sinos que tocaram e não foram por ti. Não foram. Juro que não. Foram pelos fios dourados. Foram para a falsa princesa. Foram para aquela de cor rubra e, por fim, para os olhos quase esmeralda.
 Tranca. Acorrenta-se. E vai, livre, viver e respirar o ar mais puro de todos. O da sua fiel fumaça que sopra novos tempos. Por que o hoje? O hoje é novo e o novo sempre virá.