sábado, 19 de novembro de 2016

W


Talvez estivesse certa. Talvez fosse o mais correto. Talvez não seja nada disso. Ou tudo é madrugada e eternidade. Ou está sempre na beira do próximo desejo. Ou teme em encontrar um perigo real ou cristalino. Se ao menos soubesse o momento de parar. Se o seu sorriso não fosse tão resplandecente. Se os pássaros parassem de cantar. Se o destino não fosse tão verdadeiramente cruel.

Mas talvez, mesmo, seja hora de parar. De escrever. De lamuriar. De contar os segundos para o próximo beijo apaixonado. E por que haveria de ser assim? Por que precisa tanto pular cega dentro de abismos tão profundos? Poderia ser apenas festas ou aproximações passageiras. Poderia tomar um pouco menos intensidade. Deixar-se encantar de menos. Olhar mais corriqueiramente para esses olhares que roubam tantos suspiros.

Porém não consegue. É difícil demais evitar as palpitações de um coração fraco e bobo. Este que adora rimar tolamente. Esse que se desmancha num leve toque numa noite suave. Este que faz os olhos derramarem pranto e a risada correr solta. Sim. E não consegue esquecer qualquer canção. Quando a música toca pela primeira vez ela fica guardada. Por um bom tempo ou para toda eternidade. Se está imprensa na escrita, se há espaço para fincar bandeira, se escutar um sim ou se os sinos soaram.

Estão tocando agora. Os sinos. Junto com eles a aura se ilumina. Sem cuidado, sem temores, sem certezas, sem futuro, sem planos, sem amarguras. Apenas recolhendo os cacos de uma aura ensanguentada. Apenas guardando para si as memórias doces. Apenas revivendo cada segundo vivido em suas lembranças. Porque o céu se iluminou. Porque os dias não mais se arrastaram. Porque foi desejo que consumia cada pedaço seu. Porque gosta mais do sim. Porque prefere pular do que negar. Não há mistérios. Não há falsas tentativas. Existe e já não sabe mais como entoar a mesma sonata imprudente.

Já não sabe mais se calar. Afinal, já faz muito tempo que se entregou para as verdades. Em um instante qualquer desaba e relata cada milímetro dos seus pensamentos. Como num rabisco de confissão, como numa história adormecida, como um dia almejou. São das vozes sussurradas que gosta, das mãos soltas, do vento correndo pela face. Respirar livremente. Solta de correntes. Sem se esconder em nenhuma torre. Ainda que saiba os prejuízos que podem causar as próximas palavras desmedidas. Porque não adianta se esconder. Porque o rumo do destino é incerto. Porque um dia virá o último suspiro. E nele estará gravado seu nome. Para eternidade. Para o último momento de vida.

sexta-feira, 18 de novembro de 2016



  Encontrou. Foi assim. Sem ao menos esperar. Foi de repente. Foi um turbilhão de emoções. Foi tão doloroso que já decorou cada olhar. Cada silêncio eterno. Cada exigência proferida. Cada mágoa exclamada. Mas não foi somente fel. Foi paraíso. Foi entendimento. Foram canções. Foram momentos únicos. Foram gostos intensos. Foi um rosto único.

Sem dúvidas. Sem arrependimentos. Sem olhar para trás. Sem titubear. Porque sabe as razões, os motivos, as sensações, o futuro. Encontrou todas as respostas no silêncio. Ainda assim, existiam dúvidas eternas. Problemas. Dores. Clamores. Se fosse um pouco mais simples. Se não houvesse dúvida, se não fosse pó. Se não fosse essa dor lancinante em cada escolha.

Porque poderia ter dito sim eternamente. Ainda que fosse depois do não. Ainda que fosse depois da despedida. Porém não foi assim. Disse adeus. Disse. Não foi? Disse e já não sabia os próximos passos. Ainda que precisasse das suas palavras. Ainda que emudecida. Ainda que sentisse saudade apenas em recordar. Ainda que doesse tanto. Ainda que seus passos tenham movido tão rapidamente. Ainda.

E do pó procurou buscar soluções. E do pó se reergueu. E da fantasia despertou. E não existiam mais bondes, mais corridas, mais dias ensolarados, mais conquistas enlouquecidas. Não existia mais nada, apenas barulho. Não conseguiria. Não sem contar os segundos antes do próximo sim. Antes de saber da paixão. Antes de ter negado qualquer movimento que possa machucar. 

Porque ninguém tem esse sorriso, porque ninguém desafia assim, porque ninguém consegue correr assim, porque ninguém lê sua alma dessa forma. Porque é apenas ventania. Porque o futuro é desesperado. Porque cada sim é fantasia, porque não sabe as respostas desta dança final. Pois o futuro é turvo e já não entende mais nada.

quinta-feira, 17 de novembro de 2016

Seco

Cobriu seus passos de melancolia. Emudeceu diante dos sinos. Incendiou os mares prometidos. Antes que pudesse respirar, a luz reascendeu. Entre o outrora e o presente, deixou-se soterrar por sentimentos. Deixou que uma fagulha de esperança reinasse outra vez em seu coração tolo. Esse que se inspira com um leve sorriso ou um olhar genuíno de paixão. Esse que sabe a hora de recomeçar uma história, mas que não conhece os limites para as emoções.


Estas tão fortes e intensas. Estas que devastam e salvam. Estas que são sinos, silêncio, luz, esmeralda ou oceano, porém que não podem mais florescer. Não escuta mais os pássaros. Talvez passou tempo demais dormindo. Talvez eles já estão desfalecidos nos pés dos antigos amores. Ou talvez seja mesmo uma pilha de palavras sem sentido, de bobagens engasgadas.

E por que disse? E por que fugiu, então? Por que decidiu tão fortemente deixar os sinos soarem tão repentinamente? Se estava segura em uma nova varanda não há sentido para escapar. Contudo não sabe. Não entende. É incompreensível demais. É tão turvo que desfaz a memória. É tão nebuloso que se perde nas bifurcações. É tão difícil que a garganta seca, os olhos se fecham e já não consegue escutar som algum.


Se de solidão e palavras foi feita. Se seus dias são de madrugada e fumaça. Se prefere o abandono. Se já conhece todos os próximos passos. Se não consegue enxergar solução. Realmente não há escapatória. Não há salvação. Existe apenas a repetição do ciclo, da escrita, dos gestos, das sensações. Existe apenas uma vontade enorme de passar por aquele caminho novamente. Existem apenas segredos sinceros, as horas que passam, a distância construída, a confissão revelada e o medo do próximo despertar.


quarta-feira, 16 de novembro de 2016

Estilhaçado


É para se confessar que escreve? Com a mente em um turbilhão - ou vários deles - amontoa certezas e dúvidas nas sentenças derramadas. Expurga pensamentos tardios. Rompe a madrugada. Quebra laços. Sela pactos. Deixa que as horas escorram junto com a fumaça. Deixa que o não dito se apague. Pula de abismos infinitos. Grita os sussurros pecaminosos. Silencia os pensamentos tortuosos. É difícil demais, pensa. É doloroso demais. É indecisão, paixão, tortura. É tudo de vez e nada mais.

Se ao menos soubesse como resgatar seu coração. Se ao menos conseguisse se calar. Se ao menos fosse outra. Se ao menos não deixasse que as luzes da varanda se apagassem. Ou tudo é rima em vão? Ou tudo é noite eterna? Ou são apenas clichês amontoados em um coração gélido que finge brincar de candente? 

Mais um pulo. Mais uma vida contaminada. Mais um sorriso quebrado. Mais vilania inevitável. Mais dor. Mais sentimentos atordoados. Mais e mais. Por não saber as próximas palavras. Por não saber evitar certos conflitos. Por desejar o perigo. Por temer a solidão. Porque os dias podem ser mais cálidos com uma doce companhia. Porque se permite deitar na ilusão dos dias apaixonados.

E o que são eles senão um amontoado de lembranças efêmeras de júbilo? O que são eles senão fugazes e passageiros?  É muita escrita e pouca ação. É muito caos permanente. São sinos, mares, florescer e silêncio. É anúncio de partida já anunciada. Ou ainda há muito por vir. Ou ainda é apenas o começo. Ou ainda pode causar mais dessas sensações. Essas que dilaceram a alma. Desfalecem o coração. Desmancham prazeres, lembranças e certezas. Queimam o fulgor. Aprisionam o paraíso. 

É isso, não é? Talvez seja exatamente isso. Foi criada em meio a palavra. Nasceu e vive disso. Ou não é certeiro que emudece apenas diante das palavras sinceras? Ou não emudece na hora mais exata? Na hora da fuga. Na hora do medo. Na hora da verdade. No momento no qual é preciso encarar a vida e se desfazer da fantasia, se deixa levar pela madrugada, por qualquer migalha de distração.

Ébria. Procurando as sentenças corretas de sua confusão. Rabiscando suas confissões. Anotando a escrita mais óbvia e sincera. Porque é difícil demais resgatar o passado, porque se acorrentou demais por simples proteção, porque jamais saberá o sentido de seus sentimentos, porque diz tudo de uma vez antes que possa segurar os instantes de dúvida.

E não há mais pranto. Apenas secura. E não há mais céu iluminado. Apenas um horizonte turvo e nebuloso. Porque merece a sua sorte. Ou a falta dela. Porque não consegue mais. Porque já é árduo demais. Porque precisa de inspiração. Porque não sabe o que diz. Ainda assim, diz. Porque viu aquele rosto resplandecer. Porque sabia, já era hora. Porque sabia que precisava. Porque sabia que as frases se apagariam no instante do encontro final.


terça-feira, 15 de novembro de 2016

O soar dos sinos

É véspera de júbilo. É o vento que volta a seguir seu curso. É o sabor mais cobiçado e alcançado. É sorrir para o amanhecer na certeza dos sonhos cobertos de flores. Os sinos tocaram. Não foi? Soaram forte. Como nunca antes. E o coração palpitou intensamente. Outra vez, mais uma. Somente mais uma eterna vez, que se repte junto com a certeza que arde incessantemente. Junto com os mares que cobrem seu rosto. Junto ao vestido, ao giz e a mais doce ilusão.



Regras criadas se perderam. Quebraram-se. Se queimaram. Todas. Exultante. Mais uma vez consegue ergue-se para o futuro. Mais uma vez as dúvidas se apagam, os céus se acedem, o destino se recria. Mais uma vez é dor embalada em alegria. Mais uma vez os olhos se encontram. A alma se contamina de festa. É a fumaça que cobre a escrita. O gosto inconfundível. O tempo que cessa e a música que faz sentido novamente.

Renasce e o ciclo se refaz. Renasce e rasga as lamúrias. Renasce e mergulha nas certezas. Reascende a chama. Entrega-se ao novo sentido da madrugada. Aceita. Permanece. Reconhece seu vício. Admite de uma vez por todas que é o veneno que gosta de beber. E de uma vez só. Sem derramar uma única gota. Minuto após minuto suspira, lembra, gargalha. Volta a ser candente. Volta a fazer promessas. 

E deixa que os sinos toquem, ainda que de longe. E deixa que os pedaços estilhaçados de um coração de cristal se refaçam. Talvez nunca acorde. Talvez permaneça nesse estado para sempre. Talvez. E sempre há o próximo passo. E sempre o próximo suspiro. Ou o último. Aquele banhado pelo seu nome, preenchido pela eternidade. Aquele que despeja a derradeira sentença. Aquele que tem o único poder de finalizar o que o tempo e o destino não foram capazes de fazer.


domingo, 13 de novembro de 2016

Fragmento

And in one day they were tear apart. And then one day they were counting the days. And then she was new once again. It was time. Time to rhyme once more. Silence. It’s time to die again. To see the mountain shining. The Wind blowing the grey days. The sun is not coming. The cold whisper above the face. The nightmares of one unic truth. Her days are specif to suffer. Her days are doomed. Her days are only new when there is a new love.

It's hard. Always.

sábado, 12 de novembro de 2016

Kaiadas



 É um fim de festa em uma tarde cinzenta. É ver o dia amanhecer como quem se apunhala eternamente. É um amargurar-se descontente. É um ser de outrora correndo leve em tom magenta. É uma noite que corrói. Aquilo que quase foi dito. Os sopros do silêncio maldito e a madrugada que insiste em lembrar o esquecido. É um tormento que por si só destrói.

Se ao menos pudesse tocar em seu rosto enrubescido. Se ao menos pudesse alcançar seu pedestal. Se ao menos pudesse selar um último ou primeiro beijo com um punhal. Contudo, sem fel, apenas um horizonte quase perdido. Assim, coberta de luzes e lamentação, teme o mal da tentação. Entre o caos e a melancolia, se amedronta noite e dia. Se deixa apodrecer na solidão. E num lamentar de sofreguidão, finaliza seus pedidos. 

É a velha rima sem rimar. É a antiga canção disfarçada de outra. É a dor de um sorriso para outrem. É acorrentar-se na imensidão de uma incerteza. Acabar-se. Delirando no deleite de seu olhar, sentencia o esperar de mais um pôr-do-sol em sua lembrança. Dilacera e deixa dilacerar. Perfura e deixa a razão abandonar. Sentencia seu caminho. Cumpre o pacto com os ciclos do destino. Encharca-se de veneno. Música, imagem, dor pura e lamento. Uma eterna memória feita em sofrimento. Um despertar para uma nova alvorada.

Um apoquentar sem relatar. Apenas mágoa das escolhas perdidas. Apenas passos tortuosos para o mesmo inevitável abismo. Depois vem a quebra e o recomeço, sem mais procurar encaixar, cambaleia até o renunciar de seu arrivismo, tonta ao recordar das partidas.  Depois, segue perdida em tropeços, gélida, desfalecendo ao buscar o último suspiro apaixonado.