segunda-feira, 9 de setembro de 2013

Anoitecendo

 Enfim veio o momento em que a luz existente em sua pele de fada voltou a reluzir. Como nunca antes ocorrera, seu sangue pulsava fervente. Agora nada era como no outrora adormecido.

 O veneno se esvai e o encanto permanece. Cobre-se de doçura e abandona o fel. Aquele néctar feito de sacarina já não mais habita a alma candente. Entre um suspiro e outro, mergulha na certeza da escolha.

 Já não mais importa o sussurro malicioso dos falsos companheiros. As lamúrias se queimam, a liberdade de ser quem é alcança o ponto ideal e flutua pelos céus imaginários. Delira. Entrega-se. Devora o tempo que escorre. Deixa que os olhares se encontrem. Segura as horas desvanecidas.

 São os beijos ardentes que a seguram na ponta do abismo. É a porta aberta para o horizonte inenarrável que dilacera a tristeza. É a voz da sereia inefável que ilumina os passos. É a saudade que faz o mundo girar. E já passou do tempo da menina despertar e ver que era sonho. Porém, não é. 

 A realidade deliciosa invade cada partícula da aura. A ventania enlaça o júbilo cristalinamente doce. E o vento cresce no tolo coração e um vendaval engrandece a sensação. 

 Dentro dos segundos eternos, esquece as pequenas mazelas e segue adiante. O presente corre veloz. As músicas ecoam. Os sinos tocam na lembrança deste anoitecer que já virou passado. 

 Os fios, quase em tom de ouro, permanecem na memória. A madrugada abre espaço para a escrita, enquanto os suspiros preenchem o silêncio. Sorri, tolamente sorri e adormece até que venha o amanhã.