terça-feira, 31 de outubro de 2023

Segredo revelado

Quando a montanha tocar o mar novamente, todos os laços selarão o destino abençoado. Em uma manhã já tão esperada, contará os segredos profundos que ela já conhece. Depois, seguirá em paz para suas terras, sabendo que não foi ninguém além dela mesma. Porque é aí que reside a sua paz, na convicção de saber quem é e que segue sempre seu caminho mais verdadeiro.

Por qual razão então duvida que chegará esse dia, no qual as estrelas encontrarão o sol e brindarão juntos o horizonte concreto? Por que é tão difícil assumir a imperatriz que mora em seu peito flamejante e coloca a fada na varada para assumir suas ações? Não, não pode mais. Seu canto é puro e suas preces benditas.

Se o girassol não circular ao seu entorno, saberá, ao menos, que toda canção se desfaz em véspera de sonatas renovadas. Somente haverá transformação quando sair do casulo e revelar para ela a sua verdadeira face, o que está guardado em sua alma, apavorada pela rejeição. A flor não é a borboleta. Cada cantiga tem um tom distinto e ela já sabe disso. Pois que ganhe sua chance de dizer não, que tome as rédeas diretas de suas ações.

Certamente o encontro selará a despedida deste sentimento romântico tolo, que apenas a fez devanear por um tempo. Todavia, a ilusão irá se desfazer e poderá, finalmente, se entregar para uma nova música, sem o peso do amor pela outra em seus ombros. Que venha, assim, o novo dia, a nova prece, os novos caminhos.

sexta-feira, 15 de setembro de 2023

Recapitulando o impossível e inabitábel



Você se lembra? Você se lembra quando a menina jurou convicta que jamais amaria mulher alguma novamente, pois havia encontrado o amor de sua vida e era para todo sempre? Nunca mais existirá uma paixão desmedida que provoque devaneios conscientes como aqueles da alvorada singela, coberta de bruma, ventania e festa, de desdém, descaso e zombaria. Era confuso, não era? Ela menina, você mulher, em sinfonia plena da descoberta. Segurava firme em suas mãos, enquanto a direcionava para o abismo secreto de uma paixão impossível.

Em seguida, percebeu que tudo era mentira e amou outras com toda a intensidade que habita seu coração. Todavia, jamais foi igual, jamais foi a mesma. Consolando seu peito em chagas e chamas, procurou enlaces sórdidos, figuras translúcidas, que desvaneciam ao luar, tal qual o gole de seu entorpecente. Era uma bela dose de conhaque com mel e limão. Como relatar um futuro tortuoso, quando tudo que deseja é criar um vínculo amoroso verdadeiro?

Todavia, agora já tem certeza de que o amor não foi feito para ela. Ele é para as outras, aquelas que amam os príncipes das inverdades, os donos dos privilégios cinzentos, daqueles que elas podem esfregar pelas ruas, em ritmo de festa e tempestade. A menina da varanda está destinada a morrer sozinha, sem que ao menos tenha sentido a reverberação de uma emoção correspondida, mas sem caos e vendaval. Quando foi que começou a virar uma coleção? 

Lembra que veio a princesa flamejante, seguida dos olhos cor de esmeralda. Depois, a menina do silêncio, que ficou no passado, para que a doçura florida pudesse adentrar sua jornada. Foi aí que a perversa amada, fingida de fada, trouxe somente a danação. Enquanto isso, todos os reencontros com a deusa rubra se repetiam, até que chegaram as outras canções e tudo se apagou de sua mente. Entre sereias, borboletas, girassóis, ninfas e rainhas, misturou todos os sentimentos em um só. São todas elas agora uma massa amorfa em seu coração petrificado e estilhaçado.

Quase como em um transe, tenta recordar do começo de tudo, da fuga, naquela noite de Martini e cigarro, quando a deusa lhe salvou da condenação. Quando passou a ser Imperatriz, todo o universo se transformou em pó e uma frieza retumbante tomou conta de sua aura cansada. As janelas estão todas trancadas, os muros altos, as portas lacradas, para todo sempre. Escondida, pode ter a certeza de que jamais irá verter uma lágrima sequer por uma mulher, por mais bela e sensata que esta seja.

No final da tarde, sempre lembra de seu girassol, agora seco e pálido, sozinho, em meio aos dias escassos de seus sorrisos de alegria. Há o vento, a água e o medo, e um riacho imenso de tristeza, por nunca saber como lidar com suas sensações apaixonadas, quando deveria, na realidade, entregar ao Tempo todas as dores que lhe perfuram a alma, como em um tiroteio intenso, numa madrugada.

Mas...Agora finaliza sua missiva torta e mal escrita, para que volte ao seu trabalho, para que finja que não a ama mais. Para que crave um punhal seleto nas memórias de um outrora perdido. Para que perdoe o mal que lhe foi feito, para que encare a rainha da garoa e lhe diga em alto bom som que já não é mais fantoche das indecisas, que não há amam de verdade. É o fim desta fada esverdeada, que clama por atenção. Ela, agora, é mulher com as rédeas. É o ano do carro, é o ano do abandono daquela prisão.

Pois fiquem então com seus carcereiros, pois ela seguiu rumo ao novo dia, que já raia lá fora, com o som dos pássaros e dos cães. Adeus, sonatas falsas incendiadas. Adeus, desonra insensata. Adeus, melancolia pela solidão. 

sábado, 19 de agosto de 2023

Recalculando a rota


Seus olhos profundos deslizam sob o corpo colado no seu. A madrugada seleta, guarda segredos e confissões somente delas. Cobertas de chances, promessas, certezas e desejo que cresce a cada amanhecer, sussurram juras concretas, que jamais irão desvanecer. Depois, chega o silêncio, a distância, a tortura, a realidade congênita que finca bandeira em seus passos e esvazia os sonhos do reencontro.

Agora, desmancha os nós deste regresso, emaranhados nos fios dos teus toques certeiros, que afogaram seu rumo, colocando-a em sua vida, sem que fosse possível caminhar em qualquer outra direção. Agora, reluta para prosseguir, para que o final não chegue e possam recomeçar esse horizonte finito, de um encontro já prometido na programação. Agora, ela já não é mais sua e aguarda a resposta do vento, que clama por ela, na madrugada do seu resplandecer.

Suspira cantando, aquela prece, bem baixinho, pedindo aos céus que a sua presença não seja mais lembrança. Clama aos orixás, ao universo, ao fogo sem chagas, que venha a primavera, que veja sua face em sua frente, para que seja, outra vez, imperatriz e não fada. Em seguida, recorda de toda a sua confusão libriana e desiste de persistir. Respeita a jornada e prefere silenciar um amor que não veio para ficar e sim ensinar alguma sonata qualquer; que ainda não compreendeu. 

No entanto, ela sabe de que nada adiantam as elucubrações, pois as sagradas respostas sinceras se encontram nas escolhas da princesa do castelo da cidade de cinzas. Mas, ela não é poeira e nem garoa. Ela é um poema, sem nenhum sistema, porém que encanta, porque rima com o luar. Por isso, sorri enquanto escreve, nesta data que lhe é tão cara, quando os ponteiros do relógio se ajustaram e ela veio abrilhantar o mundo com sua ternura, compaixão e afeto. 

Que ela seja, assim, tudo que é e veio para ser. Contudo, que antes retorne para seus braços e lhe faça um carinho, que espera não ser um daqueles de despedida. Por fim, recita baixinho o teu nome e aguarda pelo teu retorno.

terça-feira, 11 de julho de 2023

O reset da paixão



Mergulhou em seus olhos profundos, sem saber ao certo qual seria a direção final. Pulou do abismo, um tanto trêmula, porém completamente hipnotizada. Viu seus fios reluzirem, em um dia solar, mas frio, e o seu coração acelerou com aquela visão. Nunca antes encontrou uma canção tão leve e pura. Nunca antes vivenciou este sentimento complexo, que lhe arrebata cada vez mais,  progressivamente e profundamente, a cada nascer do sol. 

Apesar dos conflitos internos, das impossibilidades e da realidade dos fatos, há todo um romance que se desenha em seu destino. Mesmo sem acreditar no amor, agora revisita esta experiência, sem lutar contra ela. Somente deseja navegar por seus braços e sentir sua pele novamente. Somente sonha com o reencontro e o toque dos lábios abençoados. Contemplá-la é como esperar o pôr do sol, é uma crescente reluzente, uma euforia eterna, que não se desfaz.

Com as mãos entrelaçadas nas dela, nada mais importa: todo o horizonte se faz presente, toda música é de celebração, todos os sentidos se conectam, todas as mágoas são deletadas. A aura se torna festa, quando inspira a sua respiração, quando os corpos se encontram, quando o beijo é selado. Porque a princesa das cores é luz que não se apaga, luz eficiente, incessante e inflamável. Ela é um perigo constante, que se faz necessário para que venham os sorrisos. Como poderia imaginar, não é mesmo?

No primeiro encontro, no primeiro olhar trocado, jamais cogitaria a proporção que esta emoção tomaria e o quanto de desejo se espalharia por sua alma, ao fitá-la. Ao menor sinal de sua presença, algo floresce em seu peito, que ferve e borbulha ensandecido, esperando que o contato seja logo estabelecido. Quando está ao seu lado, todos os poemas, prosas, cantigas, palavras românticas fazem sentido outra vez. Quando está do seu lado, pode falar de qualquer assunto, por horas. Nada é entediante, monótono, cinzento. 

Todavia, relembra que existem os desafios, os internos e externos. Procura respirar para que o salto para o abismo não seja um tombo fatal. Contudo, por enquanto, respira e se entrega, recordando de seu sorriso, de seu jeito tão complexo de ser e de habitar o mundo.



quarta-feira, 5 de abril de 2023

Uma chuva, um delírio...



Quantos dias terão que passar até que todo esse sentimento se esvaia? Quantos céus precisarão desabar até que possa encontrá-la mais uma vez? Por que sua face insiste em permanecer em seus sonhos e seu olhar é a sua maior saudade? Por que só possui perguntas vastas e infinitas, quando tudo que deseja é uma paz interior para seguir adiante? Ela conheceu novas terras, não foi? Depois, correu para os braços de sua nova canção e foi feliz naquela derradeira semana cheia de sorrisos, concupiscência e alegria.

Então, como escapar desta sede pelo reencontro com aquela que talvez jamais reveja? Como apagar algo tão inócuo de seu coração, quando a chuva já prometeu que seu destino agora é outro? É, não é? Nunca será sua ou recobrará a sua confiança. Já perdeu e não sabe mais como resetar esse ponto final infernal, que condena cada manhã e anoitecer seu. 

Isto tudo porque a imperatriz, cercada de lírios, clama por um girassol adormecido e distante. Não há alvorada que seja tão doce e feliz, quanto aquela na qual sentiu o seu perfume. A razão é insólita, infiel, desgostosa, triste, verdadeiramente triste. Porque é impossível resgatar o start certeiro, quando tudo era apenas júbilo flamejante. Já não é mais a mesma, tampouco ela, com suas carruagens e cânticos proféticos. 

Não deseja também voltar para as cartas e questionar o Universo o motivo de sua partida. Sem regresso, solução ou consolo, o que ela decidiu foi seguir seus passos e realizar seus sonhos outros, sem aquela que é dona de um amor que é tão indesejado. Porque os sinos badalam e recorda da praça florida, porém está sozinha no agora incendiado. Clama pelo retorno do castelo e dos lagos, mas seus rumos seguem em outra direção. 

Cadê a paz tão almejada, que viu reluzir naquele dia outonal de setembro? Ela foi embora, junto com a dona de seu coração e foi se despedaçando com o caos da revolta pelo retorno. Mas, agora tudo é diferente, não é? Agora, ela conhece o ritmo sensato das direções da vida. Ela renega o que lhe fere e sobe no topo da montanha das conquistas, porque guiou o seu foco para a liberdade. 

Ainda assim, há o vazio deixado por ela, por sua presença, sua voz melódica, os seus pensamentos afiados, a sua delicadeza feroz, a sua existência adocicada e amarga. Tudo em um só corpo, tudo em uma única sonata. Todavia, cansa de escrever e decide encerrar esta missiva torta, jogada ao vento e ao Tempo, nos confins de sua torre colorida. 

Quem sabe a vida volta a ser cores e consiga, em algum momento, ganhar espaço em sua rotina outra vez? Ou quem sabe ela esquece de uma vez aquela felicidade que a condenou a ser incompleta, depois de experimentá-la. Há muito para ser vivido e a Imperatriz está somente começando. Que aguarde então...

quinta-feira, 9 de março de 2023

O sabor



Já era madrugada, quando os sinos tocaram e a lua resplandeceu diante do seu sorriso. Dentro de um encontro tão surpreendente, preenchido de sinfonias melódicas, ela confirmou que o seu desejo não era por acaso. Como em um sonho profético, vislumbrava seu olhar e o corpo respondia imediatamente. Era impossível parar de contemplar a sua face. A sua fisionomia era pura concentração e o mundo se apagava enquanto as suas peles se encontravam. 

No entanto, não quer revelar seus desejos de maneira tão óbvia. Não, a imperatriz gostaria de discorrer sobre esta canção com palavras tão complexas quanto a sua personalidade. É por isso que reflete sobre a sua existência, tomando seus pensamentos como um gole de bebida fervente, que precisa ser aproveitado com cuidado e atenção. Porque ela dona de uma doçura irremediável, mas de uma força interna, que transborda em suas feições.

Ainda há o sabor inesquecível, que a colocou em outro patamar, porque é inigualável a qualquer cálice experimentado. Então, suspirou e torceu para que aquele instante jamais terminasse. Então, mergulhou e deixou-se afogar completamente, em um gosto que ficará gravado em sua lembrança. Por esta razão que se sente saindo de um sonho, com a mente que divaga entre uma memória e outra, com um coração que pulsa na mesma dinâmica daquele encontro. 

E nada foi premeditado. Por acaso, quando já pensava que não poderia trafegar pelos campos das emoções cristalinas, recíprocas e sinceras, achou nela sensações profundas, que mesclam tranquilidade, lascívia, concupiscência, cumplicidade e amizade. Todavia, deixa nítido que não está aumentando a relevância desta paixão, que pode ser muito bem fugaz e passageira, como disseram as cartas mágicas. 

Mas, a imperatriz não se importa mais. Ela não quer saber do amanhã. Ela quer segurar um pouco mais a recordação do sabor incomparável da princesa das cores, dela que é dona de camadas intensas de complexidades, que vão sendo reveladas, lentamente, como em um filme do Zulawski. É, ela também é uma canção. Por isso, no hoje, resta apenas esperar pelo próximo anoitecer, pelo próximo encontro. Por que não, não é mesmo?

segunda-feira, 6 de março de 2023

Sabendo conduzir



Ela é um tanto feita de sal, de brumas e brisas cinzas, da cidade de pedra e asfalto na qual habita. Ela é feita de uma doçura inesgotável, mas de um olhar sedento, que clama pela escuta de suas vontades. Ela é como uma tarde iluminada e preenchida de clássicos hollywoodianos, mas também é anoitecer feroz, em busca de aventuras sem fim.

Em um encontro despretensioso, avistou uma possibilidade longínqua, mas silenciou o desejo. Queria se proteger de qualquer dano, após tantas quedas irreparáveis. Todavia, a imperatriz não quer mais falar das derrotas, das lamúrias, dos descasos, dos desencontros. Ela quer fazer uma ode celestial, coberta de sinfonias e encantos para a princesa das cores. 

No entanto, sua maior vontade era que pudesse descrevê-la sem melosidades ou frases tolas. Mas, já sabe que irá falhar nesta missão, visto que já se derrete completamente a qualquer sinal de recordação de seu sorriso. Também existe o fato de que esta canção foi uma que sempre desejou escutar e que ressoasse por todo canto. Então, naquela madrugada surpreendente conquistou uma de suas maiores vontades.

Então, depois de tudo, o que dizer senão uma junção de palavras amontoadas e confusas? É impossível relatar tamanho júbilo e contentamento em seu diário de confissões. Mas, ela não pode se entregar por completo, porque esta história tem pontos, que não são de continuação. Eles podem se transformar em reticências, porém apenas de quando em quando. Talvez, por isso mesmo que seja tão libertador esse encontro.

Ele é o que é e nada mais. É um sopro do destino, um vendaval que cessa para que a onda venha, uma badalada de sino, para que se recorde como era sorrir, em meio aos rios de concupiscência, que banhavam a face, juntamente com o cálice transbordante, com o melhor gosto já provado. É para ser desta maneira, uma melodia inefável, com gotas de horizonte.

Este pode ser um vislumbre do tanto que ainda há para ser vivido nesta vida que quase abandonou. Mas, o que resta dela então? A memória. Resta a memória de um sorriso, de um olhar cúmplice, de tons aveludados de uma voz suave, mas firme, de toda a entrega veloz, que é em si uma novidade para a imperatriz. Ela estava ali, não foi? 

Toda a jornada reluziu juntamente com o desejo que pulsava na pele. O depois já não importava quando o amanhecer foi alegre e compartilhado. E agora? Agora o ritmo de seu coração é outro. Agora, a plenitude domina os dias, as sílabas, as esquinas soteropolitanas, os oceanos translúcidos de suas terras, o sangue que ferve a cada lembrança intensa de sua vivacidade, imponência e presença que seduz. Já era para ser e foi. Então, que continue neste caminho, sabendo conduzir…

sábado, 25 de fevereiro de 2023

Abençoada e sábia



As flores sumiram, caíram todas e, pétala por pétala, levaram seu amor para longe. Como dizia seu pai: “não importa que o rádio renitente ruja”, pois não é mais véspera de encontro e, agora, todos os céus lampejam pela revelação anunciada de sua ausência. Com o seu sorriso cravado na memória, reza baixinho, clamando por uma resposta qualquer do Universo.

Depois, deixa que a celebração fervorosa da vida limpe a tristeza colossal, preenchendo-a com um novo significado para o outono que há de chegar. E é assim que seu rosto desvanece da lembrança, progressivamente, em um canto febril, em uma madrugada de pesadelos lancinantes, em beijos casuais em meio a chuva, em cada gole gelado de cerveja. 

Todavia, o sentimento persiste, assim como a vontade de esquecer seu nome, sua voz, sua gargalhada, seus abraços, seus olhos de lince e todas as suas palavras banhadas em doçura e fel, naquela complexidade que somente ela sabe entregar. Então, por isso que foi preciso deixar tudo para trás. Afinal, sua importância é menor para ela. Então, por isso que respirou fundo, para ver novos horizontes.

Foi feliz outra vez! E traz a constatação em uma exclamação, porque jamais pensou que o seria novamente. É, “são tal hora e tal minuto”, sem nada oficial, nem mesmo a paz que é tão exata. Sem tic tac, sem sinos, sem rios que desaguam em desespero, sem os sons que anunciavam a sua chegada, sem eles, sem poesia. Mas, caminhando, com toda fé de que a revoada ressignificada dos pássaros virá e, aí, tudo será prosa eterna, em meio aos lagos da sua alma.

domingo, 5 de fevereiro de 2023

Revirando a sorte

 


O som se põe, as flores rosadas desaparecem, mas os sinos não tocam. A estação está prestes a mudar, os pássaros vêm e vão, mas os sinos não tocam. Os olhares se encontram, os risos se espalham, a poeira toma conta das cartas e dos cartões, mas os sinos não tocam.

Quando hão de tocar? Se seus lábios rubros despejam palavras doces e a madrugada entrega sonhos preenchidos de sua companhia, por que não deixas que os fios vermelhos, que lhe cobrem a face, derramem em suas mãos, para que o beijo seja então selado? 

Quando calor, frio, mares e tempestades irão se encontrar novamente, para que todos os horizontes ganhem sentido outra vez? Seria possível eliminar as perguntas e encarar de vez, em um só trago, que seus destinos se cruzaram e agora serão habitadas por uma saudade infinita? Na verdade, talvez, esteja enebriada por sua imagem e tenha perdido os sentidos, enquanto escreve.

Mas, é que lembrou das árvores cinzas, que despejavam beleza, ao escutar a sua voz cantarolando alguma canção tola. É que fitou seu olhar ansioso, ouviu a sua fala afiada e sentiu a pupila dilatar. Ela é sua, ainda que em um mundo paralelo, coberto de folhas deixadas pelo outono e pelo vento frio - daqueles que fazem o passo acelerar.

Ela é sua, dentro do seu coração apaixonado, que não consegue ver graça em nenhuma outra mulher que não ela. Ela é sua, na madrugada febril, às 4 da manhã, quando a pulsação acelera e já não sente mais medo de amar. Ela é sua, até que desperte de seu devaneio de imperatriz teimosa. 

Depois, reconhece que ela floreia por outros campos, entrega-se para outras terras, abraça o cavaleiro sonso, presa nos trilhos que a enclausuram. Foi a sua amada que construiu seu próprio cárcere, feito de metal, neve, faíscas e pavor. Foi a sua amada que não lhe disse uma palavra de despedida. 

Foi a sua amada, que nunca foi sua na realidade, que cravou um punhal certeiro na alegria, que um dia ela mesmo desenhou em seus caminhos. Por isso, nunca mais terão suas longas caminhas, as confissões e os olhares cúmplices trocados. Nunca mais confiança, segredos e conexões intensas. Nunca mais gargalhadas que preenchem jardins e lábios que umedecem ao mínimo sinal de reciprocidade. 

Nunca mais. Agora, resta tão somente o aguardo para o próximo sinal do relógio. Já é hora de se despedirem de novo, para que venha um outro ciclo extenso, para uma alma dividida em duas. 


quinta-feira, 2 de fevereiro de 2023

A borboleta e a temperança



Entre histórias encerradas, lampejos de recomeços e jornadas ressignificadas, eis que chega a recordação de uma paixão. Ela veio devido ao seu costumeiro jogo de cartas, é bem verdade, mas é curioso observar como ela se faz presente em seus caminhos, de quando em quando. 

Na verdade, ela não foi sua e nunca será, mas há uma aura nela que, mesmo de longe, agrada a imperatriz de alguma maneira. Existe todo o fervor de sua personalidade transbordante, que atrai a sua atenção e inebria a sua visão. Somente a memória do seu olhar é capaz de entregar emoções intensas e físicas em seu corpo.

Foi o reencontro com ela que a abalou tanto naquela noite, não foi? Sim, não pode negar que existe algo na borboleta que a atinge sem aviso, sem propósito, sem sentido. Mesmo após ter encerrado qualquer possibilidade de sentimento por esta canção, ela fez parte de um ciclo que compõe uma situação maior, que se encerrou em uma manhã ensolarada de janeiro.

A imperatriz decidiu trocar de pele e somente desejar o que há de verdadeiro, o que é dela realmente, o que pode tocar, amar e querer sem culpa, rejeições ou tolices juvenis. Todavia, o destino é piadista e fez o oráculo lançar seu nome na roda, assim, como quem lê uma lista de compras rotineiras. 

Talvez, todos os místicos do país tenham se equivocado e nada que já fora proferido sobre a borboleta seja concreto. Talvez, as cartas estejam enganadas, talvez tudo isto seja um imenso devaneio confuso e cheio de ilusões fantasiosas. É por isso mesmo que não mergulha, não retorna, não tenta mais. 

Contudo, essa breve passagem por seu nome aqueceu o seu coração, dando-lhe um afago momentâneo e um sorriso de canto de boca. Ah, a borboleta intensa ainda existe! Ela está lá, em sua torre perto do bonde, com seu rei conquistado, com sua rotina inescapável. Do outro lado, silêncio, serenidade, calmaria e até um tanto de gratidão. 

E é nessa atmosfera de tranquilidade que finaliza esse texto atemporal. Caso um dia a borboleta apaixonante leia suas palavras jogadas ao vento, ela gostaria que soubesse que agora entende suas decisões. Além disso, a admira por sua paciência e generosidade.

E, se por um acaso, o oráculo estiver condizendo com a realidade, a borboleta sempre poderá conversar com a imperatriz. As portas estarão sempre abertas, mesmo que seja, de repente, talvez, para conselhos, confissões e, quem sabe, uma amizade. Ou…mais? Somente o Tempo sabe essa resposta. 

domingo, 29 de janeiro de 2023

Mudando a justiça de lugar


Nas águas infinitas das lamúrias, resta um pouco de calma. Nos dias ensolarados, cheios de júbilo e frescor, encontra respostas para as suas aflições. Existem sim os arrependimentos, mas eles não podem mais guiar os seus passos. Despede-se do tormento, pelo erro imperdoável e segue para uma espécie de novo contentamento.

Há também a gratidão pelos melhores momentos de sua vida. Foram naquelas tardes que entendeu o que move o seu coração. A partir destas pistas, refaz toda a sua caminhada, que agora é banhada de outras inspirações, desejos e percepções. Muitas vezes, o erro é necessário para que haja uma renovação da aura e dos propósitos.

Nunca mais será como antes e perdeu a sua companhia. Todavia, a culpa e o medo já escorreram de sua mente. No hoje, somente consegue sentir esperança e uma vontade gigante de acreditar no mundo, nas pessoas e nas suas decisões. Porque o lago espera por ela, para que possa sorrir e ter a certeza de que esta conquista foi merecida e é, enfim, somente sua.

Existe também a confiança de que tudo que deixou para trás já não faz mesmo sentindo. São novas terras para novos pés, são outros horizontes, que já não necessitam de canções, de sinos, flores rúbeas ou pássaros insistentes. No amanhecer, nem escuta mais o barulho da alvorada, clamando por alguma ação movida pelo desejo.

Todavia, não se proíbe de errar e é por esta razão mesmo que acerta. Está confiante, porém continua atenta. As gargalhadas da sua nova companhia confirmam que cada temporada precisa ter início e fim. Foi quando se entregou para a sua real imagem que conquistou a proximidade de alguém aparentemente tão inalcançável, não foi? 

Ainda assim, precisa de um pausa para respirar fundo. Porque foi um ano preenchido de muitas informações. Risadas, lágrimas, flores, desistências, surpresas, oceanos cruzados, lagos, patos e cisnes, gritos, novas parcerias, troca de pele, cafés, abraços ao luar, jantares, ópera, árvores abraçadas, conquistas, reencontros, um adeus certeiro, renascimento e aceitação.

E em cada mês uma nova reviravolta. O ponto final para o começo de uma nova história chegou há pouco, por isso que as energias se confundem. Tem luto, choro, sorriso, alívio e um peso inigualável saindo das costas. Pertence a si mesma outra vez. Seus passos são seus e jamais irá deixar que eles sejam controlados por músicas apaixonantes. Afinal, o amor não é uma lista, não é mesmo? 

Além do mais, em um rio de possíveis constrangimentos e cuidados, resta permanecer em paz, deixando a noite chegar e, com ela, todas as renovações se farão presentes. Finalmente chegou o dia de proclamar a libertação das cantigas. Tudo recomeça. Afinal, este é um ano para não deixar a justiça ficar invertida, não é mesmo? 

quinta-feira, 26 de janeiro de 2023

01262023 - A troca

O céu resplandeceu. Era de luz que ela precisava. Com as árvores sedentas pelo próximo alvorecer, cravou sua luta constante para manter a sanidade. Depois, vieram os pássaros cantantes. Em sua janela, eles pediam que ela aguardasse o próximo pulo sem sofreguidão. Ainda insistindo em se manter naquela alvorada, viu sua vida ganhar tons cinzas ao se deparar com as suas derradeiras palavras.

Talvez, tenha sido realmente ingênua, como apontou a sua fiel guardiã. Tudo era esperado, porém jamais calculado. Como reinventar sua existência quando erros constantes insistem em se repetir? Quem era aquela mulher coberta de flores? Acabou assim todo o resgate que lhe parecia tão intenso? Foi ilusão então, não foi? Ou tudo é loucura em véspera de caos anunciado.

Não, não teme mais a solidão ou o abandono. Não, não pode mais se denominar fada, pois elas não existem e precisa ser mais do que uma fantasia. Se buscava tão fielmente uma imperatriz cintilante, coberta de fios dourados, distante e em um pedestal, agora, ela mesma se faz dona do seu destino e ocupa esta posição. Porque, no dia anterior, no dia daquele que fora embora repentinamente, jurou para o vento que jamais se entregaria aos devaneios conscientes de novo.

Eles somente estarão presentes em seu diário, que também precisa ser ressignificado. Em uma semana turbulenta, todas as contas chegaram e resolveu, assim, resetar toda a sua história. Ela será outra, mas sem perder quem realmente é. Ela será sua própria divindade, sua própria metáfora, sua própria canção. Porque precisa, porque é urgente, mas também porque foi expulsa de seu paraíso de cristal e já não consegue mais sofrer por ele.

Todo dia é dia de recomeçar. Por isso, se segura em seu lema, canta baixinho para as águas, deixa escorrer a cachoeira em sua face e recobra os sentidos. Aquele sonho foi somente uma pausa. A batalha recomeça, as conquistas se renovam e as vontades também. Fica então registrado, nesta carta decisiva, o adeus para seu amor do passado. 

Assim, se despede daquela memória, daquela praça, daquela primavera e de sua amada, que já foi impossível por tantas e tantas vezes, que só lhe restou declarar tamanha desistência. Todavia, o encontro não foi em vão. Ele ocorreu para que pudesse recordar como o tempo escorre, os sonhos se esvaem, mas ela fica, continua, segue e se reencontra. Acaba hoje a temporada da fada, que venha então a Imperatriz.

sexta-feira, 20 de janeiro de 2023

Lembrando de viver


E se o mundo acabasse? O seu mundo, na verdade. Quando assim fosse, veria os campos floridos das terras que lhe fizeram tão feliz. Relembraria, ao certo, daquele rosto sorridente, que a fez acreditar, por um breve período, que a vida poderia ser incrível. Quando voltou a ter medo do fim? Entregue aos prantos, queria parar de existir. Mas, finalmente, vislumbrou a necessidade de permanecer e agora teme uma provável enfermidade.

Qualquer sinal de pânico e revisita o seu diário de confissões. Havia sido uma semana feliz, não foi? Entre beijos salgados e flertes inesperados, conseguiu se divertir e olhar para o sol com júbilo e esperança. Todavia, a sua vida é feita de altos e baixos, de tormentas mescladas com explosões de felicidade. Chegou a hora de encarar algo que tentou por tanto tempo escapar. 

Ela espera, no entanto, que esteja enganada e ainda exista muita vida para ser vivida, muitos beijos para provar, músicas para escutar e novos chão para descobrir. Porque é no desespero por estar bem e saudável que ganhou a certeza de que quer continuar a seguir. Mas, e se não tiver tanto tempo assim? Irá seguir o quanto puder, sendo sincera, honesta, falando tudo que deseja. Ela é dona das palavras verdadeiras e já não lhe interessa mais nada pela metade. 

Por isso, até consegue sorrir enquanto escreve. De tudo que ocorreu em sua jornada nos últimos anos, a melhor coisa foi descobrir que há uma força colossal em seu coração. Também gostou de ter sido desejada. Cada uma que passou por sua trajetória e lhe entregou um olhar ou gesto de concupiscência renovou a sua energia vital. É disso que ela se alimenta, não é verdade?

Sobre o amor pelo girassol, prefere não dizer mais nada. Ela está lá, com seu cavaleiro cheio de qualidades e conquistas. O que fazer sobre isso, não é mesmo? Segue então. Já já o dia anoitece e amanhece outra vez. Porque são as horas antes e depois da festa que se repetem, num ciclo eterno, que irão durar até o seu último suspiro. 

segunda-feira, 16 de janeiro de 2023

A imagem que corrói o coração


Tudo poderia ser diferente. O oceano poderia não banhar seus pés ou desaguar nos dela. O horizonte iria resplandecer e ao seu lado tudo seria poesia, risos e sons dos pássaros. Por mais que deseje continuar seguindo rumo ao caminho que tanto desejou, olha para trás e sente o coração se despedaçando, descompassado. Ao abrir os olhos, encontra uma imagem que nunca gostaria de ter visto. 

Ainda a ama? Mas, como pode? Procura encontrar consolos diários para o vendaval que habita sua alma. Ganhou beijos salgados, em meio ao caos do oceano, que batia forte em seu corpo. Foi um dia bom, não foi? Mas, depois veio a alvorada e todos os sonhos se tornaram pó. 

Porque há ali uma conexão inabalável, um amor verdadeiro e não um fantasioso, criado em tardes longínquas, de devaneios banhados em café. É por isso que continua seguindo em frente e aceitando o que lhe é ofertado com tanto gosto e intensidade. E a fada é tão corajosa, que já vivenciou muitas aventuras neste começo de ano.

Então, por que esse nó terrível se fez em sua garganta, depois de uma celebração tão preenchida de emoções? Por que se incomodar com a direção que o girassol toma, se ela nunca foi sua ou se tudo foi tão somente uma ilusão? É neste jardim, cheio de combinações celestiais e perfeitas, que ela está e mora. É com ele que seu destino se conectou. Todo o resto é poeira e farelo de dor, até mesmo a recordação de um passado, que ela nem tem mais certeza de que existiu. 

Ela sabe que os sinos tocaram e a despedida foi necessária. Depois, chegou a certeza de que jamais estará ao seu lado outra vez, nunca escutará a junção de palavras que gostaria e mesmo que tudo fosse diferente, a narrativa não seria outra. Tudo seria igual, com um silêncio sepulcral e já passou da hora de acordar, de sacudir esta aura de cantiga delirante e vislumbrar o verdadeiro amor que a cerca em sua terras. 

As terras que são suas e de mais ninguém. Os beijos que são seus e que alegram tardes despretensiosas são os que fazem sentido, são os tangíveis. Foi isso que as cartas falaram, não foi? O mago veio lhe visitar para contar que havia júbilo na realidade de sua vida e apenas mazelas em seu mundo paralelo e de fantasias. 

A fada carrega um poder consigo: o de iluminar o destino dos que passam por ela. Mas, para finalizar a sua missiva, ela respira fundo e deixa que toda essa energia de amor não correspondido vá embora da sua vida. Aos poucos, tudo voltará a fazer sentido. Outras canções estão chegando, ela sabe disso. Pois que venham então. Para o girassol, um adeus melancólico e um desejo de que ela seja feliz…

quarta-feira, 4 de janeiro de 2023

01042023 News for those who reads the fairy




The heartbeat was running fast. It was close to midnight. Not her midnight, but the midnight from the one that owns her heart and doesn’t want it. Everybody that she sent messages to on New Years Eve are the ones she intends to keep in her life for the next year. Why did she do that with her? After a couple minutes she started to think if she regreted the message and the answer was no. Later, the sun was rising and she felt like a heavy weight was out of her body. When her friends are around her, it seems like everything will be fine and that she has so much love that nothing else matters more than that.

Why can’t she remember her fears anymore? It is like this love and the passion for the castle city stopped to hunt her and it became more of a strength. She got to know so much about herself on those days that she should have understood that before. Her love for the sunflower also doesn't hunt her anymore. Except for the nightmares once in a while. But even when she wakes up with these bad dreams and with the echo of her voice in her memorie, it is like she learned how to deal with this feeling so much that all the pain vanish and transformed itself into other thing.


For now, she doesn't know what this Gefühl is and how her year will be. Nothing is tangible right now. She only has clues. But, in the past she also didn’t know so much. For sure, she will find out what the new journey is about. And she will figure out the place that the sunflower will occupy in her life from now on. Will she have a space in that crowded life again? For the fairy it is simpler. If the sunflower wants to keep her as a friend or something like that, she will accept. Because now it is like those sunny happy days are just a far away memory. 


The cards confirmed that she must go on and follow other paths, because the sunflower will not tell her the things she needs to hear. So, why should she wait? The mystic priest warned her that she will not choose and that she should forget about the sunflower for once. But the fairy doesn’t give up on people easily. She likes those that enters her life and changes it for better, even if it is for a short amount of time. So, she will let a space for the sunflower, as long as she feels like it can be a good idea. 


For the other parts of the fairy’s life, she will just try to live each day, thinking about every step and not planning on how she will get to the place she wants to be in the future. Because it doesn’t matter where she will be, but with who she will be and how her heart is. So, from now own, she will focus less on the results and more on the journey. It is a big cliche, but it is the truth. Hopefully, the new year will bring joy and peace to her heart and, finally, the freedom from this love, that is not reciprocal.