domingo, 28 de março de 2021

Shhhh...


        Anime Turismo: Fãs de Suzumiya Haruhi salvam o relógio da Estação de  Nishinomiya! » Anime Xis         

     

Antes de conseguir prosseguir, é preciso expurgar todo o sentimento que transborda e aperta o peito. Entre promessas sem sentido e memórias silenciadas, tenta encontrar uma resposta mais alegre e menos melancólica para seus dias. Depois de insistir em tentar apagar de vez qualquer recordação de sua pele, lembra de sua voz e seu sorriso. Então, reconhece que falhou demasiadamente, para, depois, decidir encarar de frente, que já é dor e não mais festa e fantasia. Se um dia disse sim foi porque confiou nas boas novas trazidas pelo vento. Se pulou do abismo certeiro, foi por convicção de que estava acertando. Contudo, não é tão fácil assim, não é mesmo?

Em tempos de impossibilidades e desafetos, tudo cresceu. Seus passos eram consumidos pela dúvida, seu silêncio provocava mágoas e desespero. Cada vez mais a distância aumentava, junto com as lágrimas secas, presas na garganta. Os sonhos eram invadidos. As noites sem fim, condenavam a sua mente solitária. Caso fosse em uma situação distinta, abriria as portas, mergulharia na água salgada e as sensações se reduziriam. Mas, não foi assim. Não é assim que é. A sua realidade a esgota e todo o passado reluzente afagava a sua alma cansada. Sem paraíso, resta somente o amargor.

O seu desejo agora é abandonar esta escrita, recomeçar, procurar explicar melhor o que deseja dizer. Contudo, ao mesmo tempo, que ir até o fim, descobrir o que guarda o seu peito em chamas, a sua aura partida, o seu inconsciente que grita quando decide contar sobre seus devaneios. Talvez, jamais entregue todas as cartas rascunhadas na madrugada. Talvez, nunca mais conte para o mundo sobre suas emoções. Pelo menos, não para ela. As suas sentenças são pesadas demais. Não há como escutá-las mais uma vez sem desistir de continuar a trajetória. Caso termine este texto sem nexo, confirmará que apenas o vazio se mantém firme, junto com as ondas que molham a face. 

Não há mais salvação, repete para cada canção. Se o começo é diferente, o final já é reconhecido. Sempre é igual a hora de desistir. Só precisava de um sim, mas este jamais chegou. Por isso, roga pelo encontro da saída mais rápida e certeira. Implora para que a movimentação da espiritualidade seja um tantinho mais rápida. Aguarda a alvorada dos pássaros ou o novo ressoar dos sinos. Até para músicas desconhecidas se abriria, se estas tocassem no tom correto. Só não quer mais esta que insiste em continuar tocando. Não deseja mais pisar na mesma estrada. Roga por qualquer transformação no Universo, qualquer melodia descompromissada. Aguarda contando os segundos. Já passou da hora de compreender que o silêncio também é resposta, que nunca houve ilusão mais devastadora, que já foi e não pode ser mais.

sexta-feira, 26 de março de 2021

Sorriso que condena


 Foi em direção das respostas certeiras. Depois, avistou o seu sorriso. Aí, suas forças se reduziram. Agora, coloca em palavras todo sentimento que habita a sua pele e já havia sido reconhecido desde o princípio. Como verbalizar algo tão inaudível, que apenas as respirações são capazes de traduzir? Em sua existência, viu um mar de certezas e respostas. Em seu sorriso, fincou bandeira e já sabia. Nunca duvidou dos seus sentimentos. Quando vislumbrou a sua presença, já reconhecia. Lá, no encontro prematuro. Ali, já possuía todas as respostas deste fragmentado presente. Enxergou os seus olhos e temeu. Procurou fugir, mas foi inevitável.

A cada amanhecer, as respostas eram cobertas por um aperto no peito que não cessava. Entre dúvidas e questionamentos, colocava-se diante do precipício mais singelo de todos. Enquanto desvendava as soluções para os enigmas daqueles sentimentos inevitáveis, procurava ter a certeza de suas ações. Quando foi o último suspiro destinado a ti? Procurava derrubar fantasias e memórias impossíveis de destruir. Entre uma lembrança e outra, tentava se agarrar aos fatos. Contudo, em seu tolo coração sentia que somente uma pausa era realizada. Gostaria de acreditar - com todas as forças que ainda habitam sua alma - que a canção era sonata, que jamais seria uma marcha fúnebre.

Neste descompasso - um tanto zonza e incapaz de coletar as sentenças necessárias -, cobriu-se de espinhos e negou, com toda a convicção que ainda lhe restou, que acabou e já para sempre. Jurou para todos que sentimento algum iria cobrir a tua face. Prometeu para o vento que é possível negar até o infinito. Contudo, entre os seus, rasga o peito de saudade. Invade as realidades, quebra com as lógicas, nega e pragueja os próximos passos. É sua e é inteira. É caos e tempestade. É canção que não acaba mais. E já não importa os escárnios proferidos entre os seus. Não interessa se do outro lado existe tão apenas pérfidos comentários. Já queimou todas as eternas trocas de desgosto. Não é por isso que se guia. Ela se pauta por suas missivas incompletas, por seus ruídos de dor, por seu gargalhar sem sentido, por sua certeza de que todas as metáforas farão sentido, enquanto consome as letras pregadas nesta confição.

E ela jura que será diferente, que será outra. E ela implora por um pouco mais de tempo, por um pouco mais de perdão. Depois, suspira e roga para todos os cantos do Universo que o seu respiro tenha sido real. Não pode ser, não é mesmo? Mas, é tão somente uma palavra. O resto é passo firme incendiado, é pranto seco em véspera de confirmação, é beijo negado diante da danação. É enorme, não é mesmo? Então, que queime até a fagulha derradeira. 

sexta-feira, 5 de março de 2021

Missiva incompleta


 

A noite chega e com ela o seu silêncio perpétuo permanece. As chagas do outrora permanecem atrapalhando os seus passos em direção do sossego. Seu nome está cravado como um punhal em sua pele. Seus dias cinzentos chegam sem renovação. O desespero confunde os pensamentos e já não sabe mais quem é. A madrugada seria a resposta. Contudo, finge não enxergar o óbvio. Em sua perda, desequilibra a caminhada para que saiba como é possível retornar. No entanto, não existe jornada de regresso. A partida anunciada foi revelada insistentemente.

Agora, espera que o tempo deixe de consumir seu coração estilhaçado. Sussurra para o vento sobre a saudade e o amargor que restou no final da canção. A música cessa quando os abraços são interrompidos. A chegada jamais acontecerá. Foi por isso que o primeiro adeus fora proclamado. Não foi? Se os olhos não se encontram e os dias se repetem, como quebrar as barreiras da solidão disfarçada? É com toda a calma que habita em sua alma, que roga para que o afastamento seja estabelecido. Ainda assim, a outra tenta, inutilmente, desabar os muros construídos. Ainda que seja com as unhas cobertas de sangue, insiste em rasgar a muralha levantada.

Os espasmos de dor são recorrentes. Procura apagar da memória o sorriso que antes provocava alegria. No presente, o escárnio é quase palpável. Se soubesse como voltar para o início, o faria. Se pudesse jamais ter tentado tocar o júbilo, não teria se queimado e tudo seria mais leve. Mas, não foi isso que ocorreu. Desejou intensamente devorar cada segundo ao seu lado. As vontades dominaram os pensamentos e, outra vez, falhou em manter a dignidade. Por que algumas músicas são tão avassaladoras? Não sabe a solução deste enigma tortuoso.

O que tem certeza é que apenas o Universo escuta seus clamores. O resto é pranto seco guardado no peito despedaçado. Se um dia foi sua, foi por querer, profundamente, pertencer. Não há como cobrar uma outra realidade que não esta. Se incendiou completamente a estrada de volta é porque sabe o tamanho do pulo, bem como o vendaval que mora ali dentro. A fuga é certeira, mas a ausência é mortificante. Se ao menos a visse em algum momento, poderia ter a certeza que foi tudo fantasia. Deve ser, só pode ser. Não quer mais lamentar pelas decisões e sentimentos incontroláveis. Ou pela memória apagada. Ou, ainda, pelo caos convocado por seus atos. 

Quer ir embora. Implora pela liberdade. Quer selar o pacto consigo e não o quebrar jamais. Prefere correr para outros jardins, para um outro sorriso que não o dela. Mas, já está preenchida de confusão. A mente apaga quando a exaustão é alcançada. Assim, finaliza esta missiva quase secreta. Assim, entrega as palavras mal escritas para o mundo. Assim, fecha os olhos para que seja logo amanhã e sinta um pouco menos a sua falta.

quinta-feira, 4 de março de 2021

Quando a madrugada grita

 Quando a madrugada grita em seu silêncio. Quando os sinos não podem soar e a alvorada dos pássaros é interrompida. Quando o sorriso se apaga e resta somente desgosto. É ali, no derradeiro momento da perda do júbilo, que se deita em prantos eternos. Jamais poderia imaginar que escreveria cada palavra engasgada em seu diário de lamentações, com um aperto infinito, com desespero e sofreguidão. O seu destino estava colado junto ao seu. A noite era coberta por promessas impossíveis, por um resgate que jamais viria.

Não é bem isso, é? Em sua torre, nunca virá a salvação que tanta almeja. Pois não há resposta alguma em mares que desaguam nos pés, para depois secarem. É dentro de si que moram as soluções, as preces sussurradas, a certeza de que pertenceu. Em abismos inescapáveis, procura uma sentença menos dolorosa. Tenta retirar a lama que finca os pés no chão e a torna imóvel. Se ao menos soubesse cada frase proferida no passado, talvez, a paz fosse instalada.




Contudo, gira em círculos, seja em suas frases ou em sua caminhada. Novamente, está sem saída, sem retorno. Ao recordar do início, se dá conta de que o fim não seria outro. Não haveria como transformar as ações recorrentes do outrora. Pulou demais. Exigiu demasiadamente. Ultrapassou todas as barreiras que foram negadas, apenas para escutar mais um não a cada amanhecer. Seus olhos querem fechar, mas eles não cessam. Estão abertos, em movimento, e não deseja mais pensar no impossível.

Através de cada janela, vislumbra o mesmo céu, o mesmo sol. No entanto, as distâncias não diminuem. Não há escolha alguma que não a tão sonhada fuga desta sensação, deste sentimento inesgotável, da intensidade errônea que insiste em perseguir. Se o horizonte não resplandece como o esperado, tudo se incendeia e é somente caos. Se são negadas vontades, os pactos desabam e o tempo sufoca. É difícil de aceitar. É árduo prosseguir. Mas, é nesta emoção de derrota inabalável que comete juras inesquecíveis. E neste oceano de devaneios, mal toca na razão. Abandonou a sanidade, esta nunca foi sua. Assim como cada música que insistiu em escutar.