sexta-feira, 25 de julho de 2014

Enquanto voam os pássaros

 Cala a madrugada incessante. Sossega a dúvida inevitável. Trava batalhas contra o inconsciente. Releva espasmos de dor. Corre em direção do vento. Almeja sonhos antigos. Sepulta desejos. Deixa a música embalar os sonhos. Os sinos tocam. 

 O horizonte se ilumina. A calma condena. Os rompantes também. Abre os olhos para mundo. Soluciona enigmas translúcidos. Premedita paixões. Esbraveja para o mundo que ali está. 

 Guarda o pranto. Acorrenta incertezas. Candente. Sempre. E os mares continuam revoltos. E os caminhos continuam tortuosos. E a solidão ainda é a companheira mais fiel. 

 Por mais que mude. Por mais que o destino se transforme. Os passos rasgam a alma. Os pés soterram a trilha para a correta estrada. O infinito é apenas ilusão certeira.

 Canto fino. Doce voo. Pássaros mudos. Torres altas. Chaves secretas. Jardins incendiados. Cálice fumegante. Aurora coberta de neblina. Nada é um pouco de tudo. E tudo um pouco de nada. Soletra cada verso sussurrado. Enumera as palavras presas na carne pulsante. E o sorriso se desfaz dançante. E agora a primavera é a única resposta. 

 O sol queima a face. A manhã nunca chega. O brilho das cores congela. O frio invade a aura. Recortes. Transporte raro para perfeição de um julgamento. E o Tempo devora as tempestades. Não há sentido. Nem retorno. Nem salvação alguma. Existe somente o próximo salto para o abismo mais distante que apareça.

sábado, 12 de julho de 2014

Ponto Reticente

 Os olhos devoram as palavras escritas.

A imensidão da solidão. A volta da realidade que sempre envolveu a alma. Foi apenas um intermezzo de cores e fantasias. As escolhas brotam no caminho. O sol arde na face. Os caminhos se desfazem para que a mais bela sinfonia toque. As verdades se dissipam. Os mares se cobrem de ventania.

A doçura está no ponto final. Na não continuidade da existência. As lembranças jorram do pensamento. Os cálices transbordam o mais cálido veneno. A memória. O sorriso. Um semblante. Cortado. Dilacerado. Em chamas. Candente sim, pois já não há outro título que se encaixe melhor.

Devora o outrora. Cúmplice de sua própria sina. Derruba as cortinas presas nos fios dourados de melancolia. Corre. Foge. Apaga os laços conquistados. Revive decisões, dúvidas e desapegos. Revive certezas. Apaga vontades. Destrói pedidos. Elimina culpas. Releva desenganos.

Renasce para o futuro. Esconde a torre púrpura de dor. Adormece as ilusões. Petrifica emoções. Canta juntamente com os pássaros. Deixa o vento pulsar. Expurga os estilhaços do coração determinado. Recupera sensações. Sufoca recordações. Sepulta decisões.

Cobre-se de proteções desnecessárias. Tranca sentimentos. Evita qualquer momento de júbilo desmedido. Apenas mostra um sorriso. E deixa que o Tempo lhe traga o resto.

terça-feira, 8 de julho de 2014

Enquanto marcham os zumbis...

Nostálgica. Sem sorrisos. Somente observando o destino. Seus sonhos desvaneceram juntamente com o outrora petrificado. São as dores das lembranças, das enfermidades, das lágrimas que insistem em salgar a face pálida e cristalina. Seus desejos eram claros. Foram as tempestades e a névoa da mágoa que deixaram que os caminhos se transformassem.

Agora o vento seca. As flores flutuam pela alma. O canto é mudo. As canções são apenas em um ritmo. O tempo escorre sobre o pranto. A memória é cruel. A solidão também. E nela se deita. Para o nunca mais. Para eternidade. Para perder de vez a meninice tola e os companheiros ressentidos. Para desapegar de vez e para todo sempre dos zumbis nefastos que um dia acorrentaram suas vontades.

Os mares cinzentos revelam as certezas. As cores desaparecidas entregam secretos segredos sagrados de um coração dilacerado, candente, ébrio de desilusão e desentendimentos. As palavras. A escrita. Os anos que foram e jamais irão voltar. As manhãs cobertas pelos cantos dos pássaros que insistentemente entoavam o mais belo som ouvido. As horas lentas. As noites suaves. A pureza do sim, a leveza do não.

Corre. Foge. Tenta respirar.

Sufocamento. Arrependimentos. Cálida emoção que corrói a aura em forma de espasmos. O ar se move. O céu desce. A lua silencia seu olhar e suas respostas. Sem direção nova para seguir. Apenas o que lhe for dado, imposto, selado, compactuado. E horizonte se afasta, as estrelas caem, as bifurcações no caminho aumentam, o sangue gela, o rosto apresenta lividez única e singular.

Já é tempo de guardar as mazelas dentro de si. Construir muros inalcançáveis. Recontar histórias. Sepultar verdades. Acariciar a asas do destino atroz e fugaz. Enquanto olha as faces, daqueles que um dia lhe foram caros, perversamente satisfeitas com cada derrota e melancolia acontecida.