quarta-feira, 30 de março de 2011

Oferta


   Atordoada. Esta é a palavra perfeita. Tudo se confunde quando o coração se perde. Quando o tempo escorre. As horas voam e não há como sentir. São só momentos. São dias que de nada valeriam. O tempo. Ele mesmo. Muda. Transforma. E, hoje, já se torna natural. A estranheza se dá, pois não existe um desespero. Um colapso de emoções.
   O equilíbrio tão dito foi alcançado. Por mim. Finalmente. É quase um peso não mais sentido. É um renascer. É uma volta com surpresas. Afinal, cada noite que se finda traz uma renovação. Não somos mais os mesmos de ontem. É um clichê. É mesmo. Mas, um daqueles bem reais.
   A vontade. O amor. Tão fortes. Permanecem. Não há, no entanto, uma angústia, uma aflição. Nem mesmo a tão falada obsessão. Cria-se tanto. A mente destrói. Tão perversa. Rasteira. E, no fim, a importância maior não é essa.
   Descobertas recuperam a energia. Um significado muda. O resto também. É um novo caminho. Sem mais pesar. Os lamentos já se foram. Num passado muito distante. Numa decisão que não retorna. Numa decisão perfeitamente concluída.
   Estes que ainda rondam. Estes que ainda afagam. Cercam. Ditam promessas incumpríveis. Procuram o que não devem. Propõem a tentadora oferta. Não me importam. O jubilo segue seu percurso. Acompanha a minha história. Ri, com  uma compulsão sarcástica dos que se entregam sem contar minha presença. Pois, são esses os facilmente esquecidos. Não interessa o que oferecem ou não. O que eu não ofereço. Vai. Continua. Pois, ainda que vença, irei gargalhar, enquanto a neblina envolve a tua alma na mais profunda tolice.  

segunda-feira, 28 de março de 2011

Até o próximo amanhecer

   Levou-me a o máximo do prazer. Com sua sede interminável. Com aqueles olhos que me devoravam. Perdia a consciência. Em seus braços o mundo desaparecia. As horas cessavam. Silêncio. Escutava somente os sussurros. As palavras precisas. A alma incendiava. Enlouquecia a cada toque. Seus gestos queimavam a pele. A minha. E essa sede. Nunca se esvai. E a vontade é interminável.
  Escrava do próximo beijo. Vibrava. Ensandecida. O desejo infalível. A pulsação. A lembrança do gosto inesquecível. Na noite que se findava o ar desaparecia. Sem respirar. Pensar em nada mais. Imersa em sensações incontroláveis. Chama que não se apaga. Num mar que desliza. Nos olhares que dominam. Trêmula. Sem encontrar a lucidez. Esquecia-me. Perdia-me. Era o que mais queria. Perder-me.
 Compulsivamente, precisava desfrutar de todos os instantes. Saciar o impossível. Possuir e ser possuída. Devastada de emoções. Jamais imaginadas. Deliciava-me com cada segundo. Queria mais e mais. E sentir. Sentir com toda a verdade.
   Somente assim descanso. Até que o outro dia chegue. E o amanhecer instale a purificação tão almejada. Não por mim. Mas, por outros. O problema é que o amanhecer já não me cura mais. Faz tempo. Agora, ele só me incendeia fortemente. Cresce em mim a paixão inegável. E os delírios, tão por mim falados, apoderam-se. De tudo que restou do outrora adormecido.

quarta-feira, 23 de março de 2011

So...

   Sem inspiração. As palavras secam. Imersa em responsabilidades. Mais uma vez. A diferença é que quero. Dessa vez não sou obrigada. A minha presença foi escolhida. Por mim. Por mais ninguém. Foi o que sempre desejei. Então, preciso fazer o melhor. Preciso alcançar os objetivos planejados.
   Continuarei seguindo. Claro. São metas que podem ou não ter resultados. É quase impossível lembrar quem fui no passado. São tantas tolices e erros. Cada dia mais distantes. Quase uma poeira de memória. É enfadonha a sensação de recordação. O caminho do futuro parece ser mais agradável. Mais firme. Sem reclamações. Sem frustrações bobas. Mesmo que ocorram frustrações, elas serão reais e palpáveis. Pelo motivos certos e nada mais que isso.
    Ainda tenho que lidar com uma distância. Insuportável. Saber que a maturidade é necessária. Não entrar em delírios. Ciúme. Aborrecimentos. É quase um martírio. Imaginar. Os minutos longe. Que serão partilhados com quem não queria que fosse. Se, ao menos, não estivesse lá. Seria um alívio.
    Assim, mudo. Como sempre. A minha mutação é diária. Constante. Como a de quase todos. Não sei. Talvez eu mude rápido de mais. Ou pode ser somente uma impressão. Antes, a escrita era mais leve. No momento, pesa. Não consigo parar. Como se, arrastada, cada palavra fosse dita.
      Continuo. Sigo. Espero. Novamente. Busco cumprir todas as obrigações. No fim, sou a mesma. Só que mudada.

domingo, 20 de março de 2011

Conclusão

    Fumaça que se estende. Vento que domina a pele. Esquece tudo. São só lembranças. São só palavras. O amanhã resiste. Firme. Sopro inconsciente da memória. Sugam as emoções. São derradeiras verdades. O frescor se esvai. A realidade cerca. Rodeada de cristais. De falsas intenções. De passado. 
    Amanhecer. As horas voam. O mundo se acaba. Repetindo-se. Numa constante eterna. Em vão. Em prol do mais importante. Ou não. São significações. O aprendizado, as felicidades, as tristezas. Um punhado de tantos. Dos outros. Que ficam. E retornam. E partem. Bobagens. Dizem que são sempre tolos aqueles que elegem o sentimento ao invés da razão. Nem há mais escolha. Nem quer que tenha.
    Florescem os campos. O sol se põe. Os dias passam. A angústia. O rancor. As emoções frustradas. A passageira determinação do ser desvanecido. É mais a escrita. O resta fica. E os sorrisos param. Suspiros. Neblina. Possuir é o mais almejado. E, o depois é só vontade. É só querer. E ponto. É preciso ser mais claro. É preciso não jogar. É preciso acreditar em si e não se entregar as lamentações. A vibração. A gélida calma perturbada. O dizer e não ser mais claro. 
    O entorpecer de chamas. A melancolia que não escapa. A solidão temida e esquecida. E o futuro que aguarda sorrindo ironicamente. São só sentenças. Uma após a outra. Sistematicamente. Recobrando o irreal. O fantasioso destino interrompido pelo acaso. Esse sim é real. As lágrimas foram vertidas.
      Os erros. A penitência. A fuga. Voltar. Relembrar. Sílaba por sílaba. É só ler. Conhecer de verdade. Assim, é mais fácil enxergar. Ter por completo o perfil da imagem feita. Julgamentos. O insensível semblante. O ignorar. Certezas. É tão mais fácil eliminar o indevido. A insegurança. A jornada começa. E o final será feito. A oportunidade. A retratação. São só reuniões de letras. 
       Seguir e continuar acreditando. Em si. Mais que qualquer coisa. Mudando eternamente. Veloz. Como sabe que é. Disposta a ser o que planejou ou até mais. Sentada na varanda. Não vendo a vida passar. Mas, sem dúvida alguma que reste. Com o sabor de cada vitória e cada passo conquistado.

Liberdade



   O cansaço espalha-se pelo corpo. Não existem respostas. A juventude partirá e, no fim, permanecerá? Tudo flui. A inconstância costumava acompanhar-me. Agora não mais. Tudo cessa.  Ao redor, tantas possibilidades. Nada disso importava. Os planos mais incríveis surgiam e tudo parecia bem certo. O caminho continua. Tudo sempre segue o rumo necessário.
    Acontece que você pode se perder neste caminho. Esquecer o quanto é capaz. As coisas que realmente importam. Como aproveitar cada momento. Talvez esperasse viver a aventura de outrem. Talvez quisesse os mesmos problemas que já presenciei. Não sei ao certo a melhor saída. Sei o que sempre desejei. A determinação. A vontade. 
    Cada vez mais aproxima-se. Posso quase tocar. O doce gosto da vitória veio e nem percebi. Distraída. Porém, ainda é cedo. Vejo o quanto as possibilidades crescem. O quanto tudo é só início. As descobertas precisavam ser feitas. Habitava aquela masmorra que tanto falo. Sim. Libertei-me. Verdade. Vivenciei uma etapa em meses. Abandonei toda estrada traçada. Não por mim. Mas, por aquela que guardava as chaves. Deixei para trás qualquer resquício de prisão. 
    Liberdade. Pura. Muitas vezes ilusória, contudo quando alcançada é deliciosa. Prioridades. Certo. Havia me esquecido que continuariam a me pedir isso. É comum. Para aqueles que pensam que podem fazer tudo. A resposta é não. Realmente, as prioridades têm que ser escolhidas. Não se pode ter tudo. Porém, o segredo é aprender a administrar. É ter paciência. Consigo.
     A angústia sempre retorna. Não dar atenção é o melhor. Esquecer. Seguir. Sem se perder. Sempre.

sexta-feira, 18 de março de 2011

Vontade



   A lua convidava. A noite terminava e tudo que queria era mais um beijo. Em delírios, já não pensava em mais nada. Os sentidos se perdiam. A vontade crescia. Perfeito toque que deslizava sobre a madrugada. O calor inundava os corpos. As sensações fluíam. Os olhares se cruzavam e selavam o amor construído.
   O tempo, porém, consumia as horas. Ditador. Aprisionava as sensações. Interrompia o ciclo perfeito. Mas, a conexão continuava. Incessante. Não existia mais nada. Ao redor, um mundo de gente. Interrupções. Porém, somente aquele momento importava. Ele era o necessário. O salvador. O elevador de emoções.
     A ampulheta se finda e a despedida retorna. O cálice termina. Resta sorrir e lembrar que tudo é apenas o começo. Que a espera ocorre, contudo intensifica ainda mais os belos acontecimentos. A paciência desvanece. Mas, é preciso ir embora. É preciso seguir. Com o amanhecer a realidade aparece. 
       A manhã cinzenta anuncia o tédio. Aguarda por mais uma oportunidade. Enquanto isso, escreve. E lembra cada sentimento. Sem ar. Com o coração disparando. Tentando recobrar o resto de juízo que a pertence.

terça-feira, 15 de março de 2011

Revivendo

   As palavras trazem memórias. É difícil enxergar quando tudo começa a se perder. Ainda sinto o gosto. Ainda recordo os doces momentos. A voz que ecoa. As razões mais certas. No entanto, algo se dissipou. Falta em mim a ação correta. Sempre vem a decepção. Seu olhar entristece. Perco-me em desejo. Em vontades. Esqueço-me de você. Que não existem somente meus sentimentos. Aproximar-me é um martírio. Não há como fazê-lo. O próximo erro pode acontecer.
  Relendo. Vejo o quanto a felicidade brotou. Sim. Tinha razão. Poucas vezes ocorre. O riso. Uma energia eterna de estar do seu lado. Continua presente. Mas, não aprendi a controlar impulsos. Querer tanto consumir cada pedaço de ti. Aproveitar cada beijo. Afasto-me, então. Não tem como voltar atrás. O que foi dito foi dito. O que foi feito foi feito.
   Talvez a paranoia esteja presente novamente. Já não sei. A questão maior é que vale a pena sim dizer tudo que pensa. Que os problemas, mesmo que não sejam os meus, possam ser compartilhados. É tão incerto. É um caminho tortuoso. Nunca pensei que fosse tão complicado. Para mim. Aprender. Tardei para lidar com certas situações.
    O problema pode ter sido a sede de ser guiada. Que fosse explicado. Contudo, veja, percebi que não tem manual. Que não tem regras. Atitudes perfeitas. Cada um é único. Ao meu redor, o mundo suga as forças. As atenções precisam ser voltadas para as tarefas. Mais uma vez, novas experiências surgem. Trabalhos novos. Rotinas quebradas. E, no fim, uma sensação de vazio.
    Incompleta. Com rumos destroçados. As ruínas restaram. A solidão retornou. Não adianta ter milhares ao meu redor. As emoções são as mesmas. No final do dia contam-se os poucos. Que fazem tudo ser tão leve. Aparece um esquecimento. 
      As relações. Outrora tão fluidas. Tão sensatas. Tão perfeitamente certas. Agora, são uma coleção de falhas. Sem razões. Sem sentido algum.
      A repetição. Firme. A fumaça chega. Na varanda tudo é silêncio. A música cessou. Veio o primeiro dia. Vieram as alegrias. A conquista proclamada. Finalmente recebida. Depois, o regresso do mesmo estado. Mediano. Mediana sou eu. É verdade. A maior de todas. Tudo pela metade.
      Sorrio. Olho-me no espelho. Reconheço. As verdades transbordam. Sentença por sentença. Suspiros. Vento que aprisiona lágrimas. De uma dor não concretizada. O passado inflama. Isso era o melhor. Nele está a solução.
       Não há como reclamar. Destruí. Turvas ideias.  Som que amedronta. União que se quebra lentamente. Avisto o punhal da sorte. Calo-me. Preciso conseguir calar-me. É só aproveitar os olhares. Ser gentil. Compreender. Porém, já compreendo. Mesmo que não acredite. Entendo. Falta completar tudo que quer. Falta. Eu sei. Deveria haver uma lista. Para ser cumprida. Não é simples assim.
          Fecho os olhos. Outra vez. Volto as obrigações. Essas me puxaram. Novamente. Tudo é normal, como sempre foi. As atividades. As conversas. As ansiedades. Vitórias e derrotas. Volto para elas. Enquanto isso, espero. Por você. Sem precipitações. Sem angústias. Aguardando o melhor. O que só você trás.

Make Believe


   Ao tentar ajudar alguém. De repente, surge uma lembrança. Daquele filme. Onde uma garota acreditava que tudo era possível. Que a realidade era uma mera consequência. Ela vivia o "make believe". Num mundo de histórias e fantasias tudo se tornava belo. Alegre. Poético.
    Existem, no entanto aqueles que não entendem sua realidade. Que a forçam a ver dias tristes. Difíceis de encarar. Porém, ela não desiste. Apesar de vacilar. De quase não mais crer em tudo que sempre afirmou. Não perde a verdadeira magia em sua mente.
    Não adianta. No planeta, há quem acorde e sorria. Quem tenha belas fantasias sobre o passado, presente e futuro. Contudo, tem os que são destrutivos, soturnos e pessimistas. Neste momento, é preciso se arrastar. Encontrar quem vale a pena. Unir-se a Becky e Sara. Quem quer que seja que for desse jeito. Não falo em não crescer. Em viver uma realidade paralela. Mas, no fim, o que conta são os sonhos. Os delírios fantasiosos.
      Pode até parecer ingênuo. Porém, acreditar é a melhor sensação de todas.

segunda-feira, 14 de março de 2011

Aprovação

   Despertar do transe. Após um dia coroado por aquilo que mais gosta de fazer. Lembranças. Surgem. Todos os dias. Tanto trabalho. Tantas aventuras. Admirações. Uma vida construída. Etapas. O mar. A brisa. Tocar na terra. Ouvir o galo cantar. Conversas reais. Concretas. 
    Tão natural. Sem deslumbramento. Foi puxada desse mundo. Jogada num abismo do esquecimento. Levada a convivência de situações antes nunca vistas. As brigas. As discussões. O desprezo. Enfrentar o desconhecido. Após isso, adequa-se. Cala-se. Perde-se. Completamente. Qual seria a razão de lutar para ter o que já lhe pertencia? Não adianta. Nunca será o mesmo. Agora, é sua guerra. Vê estrelas. O coração dispara. A questão não é ser quem já sabe que é. É provar o que pode ser.
    Potencial desperdiçado. Tudo tão insatisfatório. Na verdade, este é o motivo. Não existe possibilidade de nada alcançar as emoções passadas. As palavras. Os livros. As noites. As músicas. Um nível insuperável de sensações. Aprender muito. Não saber a próxima parada. O próximo reencontro.
     O amanhã se aproxima. Um teste infinito. A maior aprovação. O lugar está ali. Mas, os rostos retornam. Aqueles tão conhecidos. Uma fila infinita. Desnecessária. O melhor seria que estivesse presente. Fizesse suas redondilhas. Risse da cada bobagem. De esquisitices. 
        Acontece que está sozinha. O caminho é seu. Não há como ter companhia. A estrada está logo ali. Sim. Está. Ao olhar para trás ainda pode escutar as gargalhadas. As madrugas. O céu clareando. E a espera. Para a dominante certeza de que tudo estava certo. Que seria perfeitamente como deveria. E saudade de uma presença. Que traria a salvação para os dias tolos. E sem sentido.

domingo, 13 de março de 2011

Mais um para a estante



    É quase impossível não escrever. As palavras se formam com uma grande velocidade. Não se sabe exatamente o que precisava ser dito, fica difícil saber. O que ocorre é uma confusão de ideias e novos caminhos. Acordar é sempre uma renovação. Uma transformação. Não existe comparação. É sempre outra que assume.
    Os momentos passam. As dúvidas dissipam-se. Outras surgem. Um fluxo constante. Tudo é passageiro. Avista uma saída. Porém, sempre voltando. Passos para trás. O medo de machucar-se era enorme. Afinal, viu de perto os sofrimentos alheios. Resolveu acreditar. Apostar contra si mesma. No final das contas, até que funcionou. O problema, no entanto, é saber lidar com opções e situações antes nunca vivenciadas.
    Talvez seja a fase. Tudo é muito intenso. Como se fosse um precipício. Tão avassalador. Um suplício. Ou uma alegria incontrolável. É maior que qualquer outra coisa vista anteriormente. O que resta de mágoa são os olhares de reprovação. Esses passam. São, aos poucos, esquecidos. Ainda ferem. É torturante. Sempre uma pontada. O punhal é cravado. Sempre parece que o próximo erro vai ser cometido. Pequenos gestos. Sentença cruel inabalável. Afinal, porque não falar claramente? É mais simples.
     Cresce. O amor. Que não se finda. Só flui. Aumenta. Inacreditavelmente. Selar em si a certeza. Abrir os olhos e afirmar que já significa ainda mais. Tem muito mais. Em emoções. São muito mais histórias que vive. Porém, está somente ligada a uma. Talvez duas.
      Apesar de gostar de inúmeras situações. De tanto trabalho que surge. De aproveitar a jornada tão esperada. Ainda assim. É tudo pálido. Sem cor. Sem poesia. Sem doces palavras que flutuam com o entardecer. São só as horas. O tempo que não cobre as marcas. A ventania de pudores que jazem. Que destruíam auroras. Agora, santificada de prazeres. Delirando compulsivamente para o próximo toque. Sorri. Porque sabe que nada funciona do jeito que disseram. A fantasia da perfeição. Não está apta para ser a companhia ideal.
       Se ao menos entendesse o que fazer para obter resultados significativos. Ainda é tudo muito turvo. Sem forma. Na cabeça pairam caminhos e direções. É mais complicado pô-las em prática. Transpor ações. Resta a lua. A companheira perfeita. A fumaça. A varanda. Um bom livro. E a noite. Que devora a carne em devaneios.

sexta-feira, 11 de março de 2011

Libre

   O dia se estendia. A busca não parava. Imersa. Encarando um destino que conhece muito bem. A saída é clara. Depois, veio a brilhante salvação recorrente. Tudo flui. Num ritmo desenfreado. A compreensão chega ao ápice. Não resta uma sombra de dúvida.
    Existem almas conectadas. Por um destino. Em comum. Por doses completas de renovação. É outro sentimento. Sim. É. Não tem como se enganar. Mas, não tem razão para se descobrir tão rápido. As horas correm. O vento emudece. São só segundos. São só palavras. Era exatamente ali que deveria estar. 
    Acreditar em vidas entrelaçadas. Parece engraçado. É um entendimento profundo. Com exclamações e devaneios. Com a sinceridade mais pura. Julgamentos. Deixados. Sem controle. Apenas deslizando enquanto a noite chega. O pulso queima. Ainda sim, já sabe a resposta. Perder algo tão verdadeiro. Não precisa arriscar-se. 
     A tortuosa questão. O abalo de significados. Prender-se. Acorrentar-se. E querer que tudo ocorra assim. Desta forma. Sem mudanças. O desejo só pertence a ti. Ninguém mais. É tão absurdo desvendar-se. Contudo, tão vital. Repousando os laços.  Ser. Sem ter um porém. Apenas ser. Risos. Lágrimas. No fim, a alma ilumina-se. Reconhece a perfeita combinação. 
      A face, no entanto, não enrubesce. O ar não some. O calor. As sensações. Tão suas. Tão presentes. Mentir sobre o próximo passo. Para si. A derradeira chama. O real prazer. Após o precipício vem as dívidas. Salvar para quê, então?
       Afasta-se do luar. Esconde-se do vento. A melhor solução. Se a vontade não vem. Se a paixão é só aquela. Um fato considerável. Afinal, espera-se tanto para o próximo erro. Um fato não muda. Muito menos quando não se quer. 
      Continua. Nada se transformou. É só seguir. Sem relutâncias. Entregar-se a paixão dilacerante. Sem esquecer as tardes tão tranquilizantes. Da celebração. Do doce beijo escondido. De outra época. De segredos infinitos. Do agora tão equilibrado. Da separação de posições ocupadas. Da descoberta superada. Do que ficou para trás e não mais volta.
      E o que fica é o presente. A mesma paixão. Aquela mesmo. A da escada. Enquanto isso, escuta novamente a canção do tempo. Que reina. Sorri para o acaso. E deixa que ele traga o que quiser.

Suposição


   Retorne. Alimente. Siga. É assim mesmo. Falar. Deixar que venha o que vier.  É verdade. Mesmo. São dois caminhos. E o regresso ocorre sim. Sempre será. Ao redor. As margens fluem. Sim. Correm todos. Os véus. Caem. Claro que isso acontece. É o perigo que assusta e faz delirar.
   Simples. A resposta está logo ali. É só parar um pouco. A facilidade atraí. São só sopros de melancolia. É tão pequeno. Aumenta. Esconde-se. É irrecusável. É suave. É transparente. Sem dúvidas. Austera, na verdade. Ironias. Doce punhal que traz o veneno. Expelindo todo o bem. O céu em que se prendia foi guardado.  
    Sucumbiu. Na lama dos novos. Não compartilhando desse mundo. Em deslumbre. Os avisos. Uma jornada.  Sem mimos. Sem passado. Indo em direção da outra luz.  Derramando fel onde passa. No caos. Na madrugada cinzenta e poluída. Surgiu, então, a marca no pulso. Veio. Esperava. Lentamente. Veio, enfim, um malicioso sorriso.
     Olhos do mar. Ventania. Essa é a única senhora. A rainha soberana. Passam. Nada derruba. Atos. Pensamentos. Soterrados. Não adianta. É em vão. Sério. Real. Intocável, porém. Ainda sim, escondendo um desdém. Sem falhar, caminha certeira. Só. Terrivelmente. Teme. O único temor. Olhares cegos apontam a estrada. O colo ofegante arde. É puramente junção. Errada. Página por página. Privação por privação.
    Seriam logo desses a primeira gargalhada. A tempestuosa sensação. Enfraquece. É o hábito. É encantador. Sonhar o amanhã. As contas foram acertadas. Vieram. Levaram. Agora, são só dois lugares. E a imagem. Que se acaricia, até se afogar. Sílaba por sílaba. 
       Segura. Todas as forças juntas. Celebram. Até que, mais de perto possa ver. Bem próxima. A realidade fatal. A maestria. De possuir. De negar, até os dias anteriores. 

Ponto

  
   Aprendi de uma vez por todas a derradeira lição. Não custa muito guardar a empáfia. Não custa nada sorrir e parar de reclamar. Escutar aquele alguém que disse uma vez que o melhor era esquecer tudo e ser puramente verdadeiro. Essa fragilidade e pequenos toques de leveza. Disfarçar para quê? Sou dona de mim mesma. Passou-se o tempo de enfeitar-me. De disfarçar lágrimas.
    A força está em que a enxerga. Não existem competições. Há espaço para todos. De quando em quando é necessário relembrar. Cavar no mais profundo da alma o que realmente importa. Se abrir os olhos é complicado, fechá-los é mais ainda. O precipício estava ali. Já tinha sido avisada. Lancei-me porque quis. Afinal, quem escolhe o caminho somos nós. As horas escorrem e não interessa mais a dificuldade. 
     Ainda me sinto acorrentada. Por algumas regras. Por alguns impulsos. Reconhecer é o primeiro passo. Porém, é quase impossível alcançar certos patamares. Ao nascer e ter que seguir certo destino. É só cruzar a próxima rua que vão clamar por isso. É aí que vive o perigo. Transbordo em inseguranças. Mascarada, é claro. A arrogância vem daí. É mais simples dizer. 
     Agradeço, no entanto, por existir alguém que me salva desse precipício. Todos os dias. Num estalar de dedos, desperto. Claro. Puro. Límpido. Afora isso, vem a escrita. As cobranças. Aquela ali do lado para ser melhor. Uma beleza mediana. Uns sorrisos. No fim, a estafa é maior. A simpatia se esvai. Restam amarguras. E, é claro, a solidão.
       Desvendar. Os mistérios. Os julgamentos. As expectativas. Selam ainda mais o destino. Sopram no ouvido. Ainda que não ocorra uma ligação direta. São as mesmas frases. Ecoando. Consigo escutá-las. Novamente. Repetidamente. Recorrentes. Semblantes. Tortos. Sangrentos. Nojo. De mim. De tudo. De todas as palavras por mim utilizadas. O final. A escória. Pulsa no peito. Não é de porcelana. Não é polida. Muito menos inteligente. É um disfarce perfeito. É bem de perto e só assim que enxergam.
        A maldade corre nas veias. O pudor. Sem uma gota, derrama a última sentença. Prende-se em laços intermináveis. Atormenta memórias. Sepulta, sem misericórdia, sua própria alma. Dissimulação. Deixada. Jogos infinitos. Queimados. Pedaços espalhados. É tão bobo. Ri de si próprio é o melhor. A correção já está chegando. Punir. Com as canções mais belas.
          Restou o espaço. A sensibilidade. Decresce. Lá do alto. Da masmorra. Apodera-se do bem guardado. Outra vez sorri. Recolhe-se e espera. Até que a última carne seja renegada. Até que o beijo sagrado e simplificador acompanhe a vida. Até que, no último suspiro escute a música. E recorde que aconteceram sim os tempos de glória.

quinta-feira, 10 de março de 2011

Receio



   Nunca pensei que diria isso. Mas, cada dia, quando o início se aproxima, sinto certo receio. De não dar conta. De não ser o suficiente. Sempre soube que queria está ali. Porém, algumas pessoas me assustam. Outras incomodam. Penso com se dá importância as coisas desnecessárias. Isso que me preocupa. Pequenos detalhes do cotidiano crescem.
    Essa aflição é normal. Contudo, já vi tanto. Não o suficiente. Pergunto-me se estou disposta a suportar certas atitudes. Certos comportamentos.Conversinhas. Falsidades. É necessário estar preparada. Claro que gostaria de encarar tudo com mais calma. Naturalmente. Deixar que o destino me leve. Já fiz isso. A confiança é um dos bens mais preciosos.
     A questão, no entanto, não é só essa. Há, em mim, um desejo de expandir conhecimentos. De alcançar inúmeros objetivos. Que ainda parecem pequenos. Passo por passo. Caminho. Só não posso desviar. Deixar ser levada por correntes. Simples fatos. Inúteis.
       Fecho os olhos, outra vez. E sonho. Com o dia em que, me desvencilhando das amarras, consiga obter o que tanto almejo.

quarta-feira, 9 de março de 2011

Destino

  Nunca pedi para a vida ser fácil. Sei que ela não é. Mas, pensava que teria apoio em algum lugar. Porém, todos só vivem apontando meus defeitos. Estou cansada de ser tratada com indiferença ou julgamentos. Se eu acordo mal, cada um tem seu jeito. Contudo, eu serei expulsa de um lugar só porque não tenho a personalidade perfeita.
   Convivência. Sua angústia. Eu gosto de estar onde estou. Minha casa é meu refúgio. Tudo se abala. As lágrimas caem. Há dias tento encontrar algum sorriso amigo. Nada. Todos já pegaram suas pedras e lançaram para  ver quem me alcança primeiro. Quem vai me machucar mais. Não sou dramática. Sou sensível. Gosto de carinho. Mas, não sou compreendida. Tenho certeza que este post não vai ser bem interpretado.
    A família era para ser um bálsamo. Não tenho mais forças para disfarçar. Qualquer sinal da máscara cair sou convidada a me retirar. Quero gritar. Estou sufocada nas regras impostas por ela. E ao ouvir aquela voz, que outrora me salvava, fiquei triste por ver que até para meu amor não consegui explicar o que sinto. São dramas. Provavelmente, sou uma inútil mesmo. Sou dramática mesmo. Não sou delicada com as pessoas. Estou infeliz em minha casa. Sou possessiva. Sou tudo o que dizem.
    Repousarei, enfim. Nos mares de tantas verdades. Acredito sim. Não devo ter personalidade mesmo. Devo fazer tudo errado mesmo. Só estou repetido o que me é dito todos os dias.  Há muito tempo não escuto outra coisa. Talvez o meu destino seja o mesmo de quem me gerou. O abismo. A solidão eterna. Não faço nada certo.
     Só queria te ver, não atrapalhar seu trabalho. Eu não tenho bom humor de manhã, não odeio morar onde moro. Só preciso desabafar com alguém, não sou falsa. Não sou. Mas, é melhor me calar. Antes que as minhas palavras sejam usadas contra mim. Antes que digam que eu quis fazer algo que nem estava em meus pensamentos. Antes que meu coração pare. Que a alma sangre. Que o drama tome conta da minha existência. Na verdade, é só cotidiano. Eu preciso abrir os olhos e ver. Enxergar que nada tem a ver comigo. Que sou boba em pensar que tinha.
          Nunca acerto. O melhor é estar preparada. Para a face desapontada. Para as brigas. Para o abandono. Sei que, no fim, ninguém vai me aguentar. Ficarei só. Para sempre. Está tudo traçado. Só falta eu cometer o próximo erro. Que talvez seja esse texto.

Feliz

  Com a alma lavada. Posso afirmar. Enfim. Existem certas experiências que precisam ser vividas. Deliciosas aventuras. Desprender-se da mesma rotina. Um ciclo. O corpo, agora cansado, repousa para uma nova jornada. A alma vibra. A música ainda ecoa. Ainda que não seja o que mais gosta de fazer. Foi a liberdade que mais aproveitou.
   Viu aquela pessoa que brilhava. As luzes corriam. O mundo rodava. Um silêncio em sua mente. Tudo parou e soube, naquele instante, que a felicidade é palpável. Um sorriso iluminou sua face. Cantou e dançou. Entregou-se a mais uma coisa que repudiava. Afinal, são esses momentos que contam. São as memórias doces que restam. Que imoprtam.
     Um suspiro. Uma última palavra antes de dormir. E uma semana que recomeça. O retorno. Sempre recorrente. E um gesto inesquecível. Ali, com a amiga mais verdadeira. Com quem sempre necessitava estar. Construindo uma nova estrada. Regressando num novo rumo. Contigo. Protegendo-nos mutuamente. Até que tudo se instale. Até que tudo volte. E, assim, possa proclamar a salvação.

terça-feira, 8 de março de 2011

Real Devaneio

   Ouvindo aquela música sobre o que mais queria, continuo confusa. O que saber e fazer. Quando saber o momento de falar e se calar. Quais são as consequencias quando se entrega a sua alma. Que queima agora. Que esquece tudo para se ver em flamas. Quando a saudade é respeitada. De quem. Quais são os verdadeiros mistérios. Por que escolher alguém. Por que aquela pessoa é a que importa. Quando saber. As escolhas. A sinceridade proclamada tantas vezes.
    Existem resquícios de mágoas. Do não dito. Do silêncio. Desaparece. E em mim resta procurar. Através de seus escritos. A resposta para minhas dúvidas. Quando foi a última vez. Quem foi. Quando o coração palpitou e o coração foi entregue. Quem tem razão suficiente para aguentar o silencioso toque da madrugada.
     É sempre assim. Quando a esperança retorna o ciclo se refaz. Ainda não compreendo. Quantas vezes terei que dizer a mim que caminho seguir. O telefone toca e a certeza abala. O mal arrasta a minha vida para a derradeira correnteza de sensações.
     Ainda que fale em primeira pessoa, não falo de mim. Mas, daquela que me possui. A outra. Que assume quando menos quero. A face reparte-se. Os olhos cravam a dor. E eu sei que posso destruir a felicidade em seu peito. Os brilhantes olhares. No espelho. Confrontando a noite de sua aura. Arde no próprio acordo. Sepultada na jazida mais infame de todas. Amante. Das incertezas. Do outrora. Do que vier. 
     Enxergo. Aquele puro anjo de cabelos loiros. Sim, falo dos dois. Claro. Sempre. Os angelicais cálices do rancor. Releio e ainda não encontro o outro. São tantos. Deitados em volta daquele pedestal. Procurando o relicário onde estava guardado seu coração.
    As palavras me cegam. Crescem e saem desesperadamente. Sem controle. Não sei bem se é isso que quero dizer. Porém, preciso dizer alguma coisa. Jogar ao vento todas as frases. Todas. Porque uma tarde pode sim significar muito. Estou feliz por isso. Só quero encaixar-me. Organizar e encontrar meu lugar.
    Houve sim, uma noite. Uma escada. Um dia ensolarado. Cheio de emoções. Houve sim uma festa. Existiram sim prantos. Ciúmes. Ódio. Que punia os segundos da minha vida. Existiram sim, mães disfarçadas de gentilizas. Ou não. Medusas. Existiram sim, encantos e a estreia de uma peça qualquer. Com cálices de conhaque. Inebriada e extasiada fiquei. Existiu também aquele anjo, dos cabelos dourados, que cravava em sua carne as piores recordações. 
      Aconteceu tudo. Tão rápido. Meses. Oito. Após tanto, cercada de tanto, continuo a perguntar. Quando verei a luz que traçava? Purificar-me de necessidades. De saudade. De pedidos. Ser elevada a categoria de heroína de mim mesma. E as canções só continuam. 

Universo



   Existem momentos que tudo necessário é o silêncio. A presença. Um gesto. Ainda sim, tão cheia de possibilidades, não entendo certas situações. É preciso estar preparada para uma mudança a qualquer hora. É tão confuso. 
   É quando as cortinas se fecham que o mundo sussurra o que deseja. Quando não há máscaras ou intenções escondidas. Dissimulações e intrigas. Porém, ainda não foi o bastante. Querer dilacerar o mar de vontade. Apagar a chama sincera. Recobrar o juízo deixado em algum lugar.
   O tortuoso caminho mostra as escolhas erradas. Sacrifica amizades. Implora por uma voz desaparecida. Não existem reclamações, no entanto. Já sei o que tem que ser dito. O que é o certo. Ou não. 
   Talvez o não saber aonde a estrada irá nos levar é que tanto encanta. Sim. Penso nessa canção. Neste instante, vejo tudo rodar. Flutuam todos na minha frente. Tantos. Quantos anos vividos. Não muitos para uns. O suficiente para lembrar cada memória desvanecida.
    Agora, tenho uma onda de ideias em minha mente. O mais importante é seguir. Sem deixar que a angústia me domine outra vez e, como sempre, eu estrague tudo. Falta eu me libertar de uma amizade quebrada. De uma perda recente. De uma carência insuportável. Aceitar o lugar que ocupo. Nem sempre é fácil. 
    Crescer. Entender melhor o seu universo. Ninguém disse que seria fácil. E nem quero nada sem um pouco de dificuldade. São só dias. Deitada. Estendida na varanda. Cercada de fumaça e poesia. Há tanto para ser vivido. E isto já é viver. Acontece que já passei muito tempo fazendo isso. Páginas e páginas devoradas. Horas consumidas por histórias de outrem.
     Escrever a minha realidade é o que tento fazer. Depois, com mais um nascer do sol, releio. Quase um diário. Eternamente num ciclo. Desperto. Sorrio. Tarefas. Conversas. Livros. Filmes. Sorrio. Estudo. Ligo. Descanso. Relaxo. Esqueço. 
    O complicado era realizar o que ganhei com este ciclo. A liberdade foi trazida com ele. Rompido. Despedaçado. A sentença já pode ser soprada em meus ouvidos. Não é raiva. Dor ou consumição. São as horas que giram e não passam. São as noites infinitas. São as frases ressuscitadas. A culpada fui eu. Que me entreguei ao delírio da existência.
     O céu brilha e exclama que preciso sentir novamente. A face mostra sua verdadeira feição. Os olhos queimam por quem devem queimar. E deixo a lua brilhar dentro de mim. Deixo-me possuir pelos pecados guardados. Não disfarço mais intenções. E perco mais uma vez, a razão tão almejada.

domingo, 6 de março de 2011

Florescer



   Existem dias que, ao abrir os olhos as palavras tomam conta de mim. Se pudesse passaria o dia escrevendo. Há tanto para ser dito. O silêncio também é precioso. Mas, existem momentos que tudo que quero é gritar e ser escutada. É pedir. Sorrir e sentir a vibração do momento.
    De quando em quando sou punida. Por gestos e pessoas desnecessárias. Pergunto-me porque ainda as mantenho. Era mais fácil me afastar. Porém, existem certos laços que não podem ser quebrados. Falo de uma fraternidade. Outrora era o que me revigorava. Dava forças para seguir adiante. Agora, toda frase sua me enfraquece. Sou despedaçada em tristezas por seu veneno. Tudo incomoda. São reclamações infinitas. Perco a vontade de tudo. É aí que o silêncio poderia entrar. 
    Não sei quando tudo isso ocorreu. Talvez a luta em comum estabelecesse a parceria. Contudo, não temos mais um inimigo. Estamos sós. Num mundo que pode ser nosso. Compartilhado, no entanto. Não posso me afastar de quem gosto. Não quero mudar quem eu sou. O espelho está li, refletindo meus defeitos. Está ali, julgando cada passo em falso. É tão doloroso admitir que tudo vem se perdendo. Nunca será o mesmo.
     Não vale a pena me esforçar mais. Estou farta. Tolero. Até que explodo. E me olha sem entender. Sem saber por que estou assim. Falso. Tudo. Inclusive, é neste olhar que o julgamento chega. Tão cheio de rancor e obviedades. Como se o que eu fizesse estivesse destinado a falhar. É tão claro para este alguém que nada que eu faço é o suficiente. Jurei a mim mesma nunca mais reclamar. Não estou fazendo isto. Mas, existem momentos que tudo que é necessário é praguejar. É ser dominada por um ódio. Que, eventualmente vai passar. Vai sim.
      Presa. Por lembranças ainda tão boas. Presa por uma conexão tão grande. Presa. Sufocada. Quero que seja feliz. Somente isso. Porém, não escuta. Não me entende. Meias verdades são cruéis. Portanto, afasto-me para não destruir o que resta da nossa amizade.

Miragem

   Sempre imaginei quem seria aquela garota na varanda. Com o cabelo deslizando com o vento. Inebriada pela fumaça que tanto a pertence. Contando os minutos para se libertar da prisão que fora acometida. Aquela que só estava em sua mente. Tão cheia de pudores e palavras não ditas.
    Sem misericórdia ela abandonou o que aprendeu. Foi dominada por um outro lado. Coisas nunca imaginadas foram feitas por ela. Arrependimentos causados. Um certo nojo de si apareceu. Assumindo um novo ser dilacerou limites e entregou-se as vontades. Deixando todos os ensinamentos. Todos os dogmas recitados em sua vida.
     Agora, começo a reconhecer a garota. Enxergar um novo horizonte. Novas metas. Não há príncipes que chegarão correndo para resgatá-la. É preciso ser um pouco mais forte do que pensava. O escolhido só existe em sua imaginação. Em delírios ecoados ao mar de dúvidas. As canções afirmam que existem amores inesquecíveis. Sim, eles existem. É só abrir os olhos e acordar.
    Com a realidade batendo em sua porta, apaga todo resquício de infância. Da meninice. Que tinha. Ainda é cedo para falar. Porém, sem esquecer que deixou de lado qualquer esperança de bondade. O veneno escorre pelas veias despedaçadas. O desejo pulsa. As lágrimas secam e não há mais garota alguma que tome conta dela.
     O mundo a deflora. Possuída de prazeres jamais vistos por ela. A donzela desprotegida se despede para um futuro novo. Cheio de flamas. De novos significados. Sim. Afirma tanto para que possa ser dona de si. Para que possa ter o que quer tanto. Aquela boca. Que sussurra. Aqueles olhos que brilham. Que pedem por mais um gole do intenso gosto proibido.
     Na varanda. Outra vez. Com a fumaça. Leal. Que a destrói e salva. Com lembranças de uma noite puramente alucinante. Com os medos ainda sendo superados. Com tanto ao redor clamando para retornar. Esquece tudo. Todos. Ignora os fatos. Ainda que isso seja fugir um pouco da realidade. Há ainda um pedestal. Contudo, quem disse que ela não gosta de desafios? É para isso que está aqui. Para ser desafiada. Para ser contaminada pelo toque. Por impropérios. 
      Sufocada pela própria imagem. Sem ar. Lendo cada linha várias vezes. Voltando aos poucos para o céu. Iluminado de recordações. Suspira. E jamais regressa ao meu estado.

sexta-feira, 4 de março de 2011

Dual

   Existe algo que me intriga. O secreto desvio torna-se motivo de atenção. O desejo mais latente de todos. O amanhecer revigorante. Não há como correr. A brisa da noite empurra para bem longe as certezas. Não é um lamento que trago e sim uma constatação. É perturbadora a situação. Precisar controlar os impulsos é uma das minhas metas.
    Querer concertar é impossível. É preciso esperar. Ver até onde a estrada irá levar. Não aceito leviandades. Afastamentos físicos bruscos. Olhares distantes. De resto, leva-se do jeito que pode ser levado. Imaginando beijos. Em tantos. Tantas. É quase um pedido de revolta.
     O que ocorre, no entanto, é uma aquietação do coração. Não sinto mais um ódio dilacerante. Nem decepção. Nada frustrante. Já passou a ser comum. Normal. Não me engano. Sei cada espaço. Sei cada lugar. O momento. O tempo. Crescer e amadurecer. É uma urgência. Para que possa conseguir compreender ainda mais seu universo.
    Nunca havia avistado um nascer do dia tão belo. O lento acordar. A atmosfera para a felicidade. Que nasceu e aumenta todos os dias. Sou conquistada a cada despertar do sol. Sou lembrada da força deste sentimento. E ainda consigo enxergar alegrias em tantas outras coisas. As horas se dividem. E não mais machucam. É como se acontecesse uma organização perfeita.
     Pensamentos diluídos. E a raiva. A paixão. Recordações celebradas. E a volta. Para o resquício de egoísmo. De obsessão. De ciúme. Que se dissipa a cada beijo. A cada luar que retorna. Que salva a aura. Que purifica e perdoa as sensações menos nobres.

quinta-feira, 3 de março de 2011

Caminho



   A noite se finda. Os olhares se cruzam. O amor abala o coração desprotegido. Ao observar detalhadamente cada gesto. Cada semblante. A certeza domina os pensamentos. Já sei todas as razões. Há uma explicação. O amor existe. Para mim, isso foi a maior descoberta. 
   A vista cansada de mais um dia longo. Os afazeres que tanto perturbam. A necessidade de encontrar a paz. Que tanto busca. Aquele perfume. Os braços repousam suavemente sobre a perna. O som de uma música balbuciada. E a cristalina distração transparece na face iluminada pelas estrelas. 
   Mínimos detalhes. Antes não notados. Crescem. Expandem e conquistam ainda mais. O piscar. O sussurro. As conversas do cotidiano. O mais simples silêncio. Uma doçura. Um cuidado. Os carros passam. Os dias chegam. Toda vontade é pequena. Há uma imensidão de desejos. Não existe só a sede do próximo encontro. Não é mais só isso que impulsiona. São as menores coisas. 
     Ao acordar, nunca se sabe o que se encontrará. Mas, ter a certeza de que  se é amada é a melhor de todas. O caminhar. O estalar. O sorriso. A voz inebriante. Tudo continua a somar o sentimento. Sonhos. Todos. Regresso que encanta mais e mais. Eternamente. Num ciclo. Pulsante.
     A pele. Clama para ser tocada. Os lábios para serem beijados. E o rosto para ser acariciado. Talvez, eu finalmente tenha sido tomada pela pieguice. Não interessa. As palavras estão aqui para serem escritas. Enquanto desperto do transe, quero delirar de paixão. Inflamar as sensações. 
      Ao caminhar. Despeço-me. Para um breve adeus. Passo após passo. Com o andar tão característico. Então, vem mais um gesto. Que guardo. Que para sempre ficará na memória.

terça-feira, 1 de março de 2011

In Heaven

     Vamos lá. Mais uma postagem. Então, me pergunto o que dizer. A partir de hoje, lentamente, mudarei minhas perspectivas. Sempre me questionei o que escrever aqui. Ao analisar toda a minha trajetória, desde o começo do Devaneios Conscientes, percebi que muitas mudanças ocorreram. Mas, hoje, tomei uma decisão que mudará o rumo da minha vida.
    Existem aqueles que deixam as coisas mais doces e alegres passarem. Despercebidas. Sem notar. Às vezes, uma conversa muda tudo. Por isso, não trarei mais aqui longas reclamações sobre tristezas e lamúrias. Aos poucos tornarei a minha vida algo mais leve. Viver. Seguirei o conselho de alguém. Tão especial. Que transformou a minha realidade para melhor.
     As expectativas criadas quebram-se. Quando não há mais nada ao não ser aquele olhar. E volto, mais uma vez a falar do amor que sinto. Perceba, no entanto, que não existe aqui nenhuma conotação de melancolia. Ela vem. Sempre. Porém, recuso-me a chorar por nada. Não há porque ter tantos lamentos.
      Acredito que o interesse no que escrevo agora não seja tão necessário. Contudo, escrevo, acima de tudo para mim. Cada palavra que aparece me tira o fôlego. A rapidez em que elas aparecem. Nem tenho mais ar. Algo tão meu.
      Outra vez, caminho. Para uma nova razão. O mar que inflama a alma de dúvidas segrega todos ao redor. As chances de perder o que tanto amo  me alucina. Já sei, que não posso mais continuar me enganando. O afastamento dos outros é precisamente o que me acordou. Havia em mim todo tipo de angústia. Neste instante, tudo se torna claro. Fui eu quem perdi. Fui eu quem jorrei prantos. Gritei. Clamei para que me olhasse. Criei aventuras inexistentes. Portanto, é preciso escolher.
       A vida não é filme. Baby, eu sei. Ao passar anos vendo tantos longas em que tudo era uma devastação de sentimentos. Tão grande. Criei um drama para minha existência. Que só existe para mim. Um mundo fantasioso onde se corre para alcançar alguém. Onde a distância é mero detalhe. Onde tudo se finda quando o créditos aparecem. Não existe. É criação.
      Roteiros. Trilhas. Aqueles que tanto observei. Sei de cor cada gesto. Os olhares. As falas. A próxima sentença. O próximo gole de dor e sensação infinita. O prazer nisso tudo é inegável. Porém, a luz acendeu e vi que só eu estava na sala. Só eu habitava aquela realidade. Perco cada momento esperando que corram. Que gritem. Que exclamem. Que venha um vendaval de impecílios. De tormentos superados. Ou não. Sofrimentos. Risos. Tudo acaba hoje. Quando desperto, finalmente, do transe.
       Respirações. A aura arrastada sorve todos os fatos. Está aqui, na minha frente. Estou cercada de amor. De atenção. Queria o que está na tela. Queria algo que está somente em A Rosa Púrpura do Cairo. E eu vi, muitos viram que este fim não é nada bom. Não é mais o que quero. Viver sim. Isso é o que mais quero.
         Não falo em abandonar quem sou. Mas, eu vejo quanto a felicidade é mais palpável quando deixo o real entrar. Quando paro de esperar uma frase de efeito. Quando paro de esperar. Então, quem quer que seja que leia o que escrevo, hoje é dia da revolução da minha alma. Acabam-se discussões. Acabam-se carências. Deixo para trás aquela menina, com longos cabelos, que sentava na varanda deixando a vida passar. Já sei que se foi o tempo de delirar por personagens. Por romances criados. Agora, eu queimo o roteiro, a cena, a sequencia, o plano sequencia e enxergo o que a verdade têm para me oferecer. O mundo. E tudo só está começando.

Promessa

   Esconde. Afasta a escrita. Palavras. Lentas. Curtas. Certeiras. Está claro. De mais. Não há varandas ou fumaça. Não há pranto ou melodia. Simples. Rápido. Soletrando. Cada sentença. Secreta. Quase sagrada. Silêncio. A promessa abandona as horas. Sinuosas. Arrastadas. Sem esperança de regresso. 
    Máscaras. Tantas usadas. De quando em quando tudo gira e elas caem. Ou não. Só encantam. E, naquela hora, a lembrança transforma. Sugere mudanças. Acabam. Tudo transcorre. Nas sombras. Dores reafirmadas. Súplicas desconsideradas. Já não resta o que um dia se foi. Lucidez. Era mais fácil. Se ao menos estivesse próxima. Quase inalcançável.
    Ronda. Com uma doçura. Lábios que pronunciam o despertar de um ódio adormecido. Há uma fúria. As correntezas. A vontade. Dominadora. A tentação acaricia. Os gritos sufocados anunciam a chegada. A distância perdida. Uma explicação sem delongas. Que tanto espera sem perceber que cala a possibilidade. Insistência. Nervosa. Esquece-se qualquer acerto. Existe somente o que virá.
     A descoberta. Um clarão. Tudo no mesmo instante. Sufocada de maneiras. De gestos. De pulsações. Afinal, o que são senão instinto. Verdades. Estão para quem acredita nelas. Se ao certo se concretiza, está naquela mente. Só ali. Repousa. Firmemente. Já não penso assim. Porém, tem que viva. De realidades alternativas. De laços inquebráveis. De juramentos sufocantes. 
       O que não foi dito é mais claro. São olhares que confirmam. Acreditar. É uma opção. Ou deixar para trás. A questão está no que vem. São sentenças. Que chegam. Sem explicação. A razão é obscura. Desconhecida. Mas, é forte. Inabalável. Cada letra. Uma após a outra. Possui o que querem. Juntar-se. Para no final, já não saber o que se diz. Ao ponto inicial. A volta nunca recebida. Nas trocas infalíveis de cautelas. No vazio e na imensidão da existência relutante.

Entrega

    Preciso da fumaça que inebria a noite. Preciso de emoção. Calor que domina a pele. Que intensifica a paixão. Quero e ardo por tudo que me arrasta para o deleite do inesquecível. Sussurros. As palavras ditas intensificam qualquer sensação. Sempre soube o efeito que me causam. Então, as perco. Estremeço. Esqueço-me de mim. Por alguns instantes nada é tão real e intenso. Nada supera. Nem chega perto de alcançar.
    Outra vez, preciso tragar mais uma chance. Deliro ao sentir novamente o que outrora sentenciou a memória. As cores apagam-se. Puxada para a luz sobre o anoitecer. Sorrio. As emoções estão marcadas. Retornam. Ainda sim, continuo me surpreendendo.
    Recobro, enfim, quem fui. Sei que as mudanças sempre ocorrem. Perdi-me, também reconheço. Agora, ao achar um pouco da salvação, nem mais me escuto. Abandono tudo e todos, porém com mais cautela. Na verdade, isso nem mais importa. O que interessa é como a noite se finda. Como os pássaros entoam a canção perfeita. Afinal, sei que, no fim, é o que realmente é verdadeiro.
     Cambaleante, acordo. Ao reviver lembranças o transe é inevitável. Busco a razão. Depois, entrego-me ao luar. A vibração incontrolável. Os murmúrios. A sede pelo gosto mais delicioso. Por idas e vindas ao Olimpo. Por uma respiração ofegante. Por um mar de certezas. Que palpitam. Que inflamam a face. Que trazem a mais pura elevação de um júbilo inexplicável. De um tipo de morte. Cálida. Desvanecida. Sem fôlego. Esperando mais um sopro do prazer infinito.