terça-feira, 30 de setembro de 2014

As sílabas sinceras de um adeus tardio

Tudo muda. Os ponteiros dos relógios mundiais voltam a correr velozmente. Os ciclos são interrompidos. Uma nova era se aproxima. Os dias cinzentos mesclam-se com uma dose tímida de vermelhidão. 

Os pés se arrastam em direção do novo horizonte. As horas voltam a passar. Acorda do sonho. Da fantasia de quem foi.

Todos os planos. Todas as certezas. Derrubadas. Arrancadas. Demolidas. Para um recomeço.

 Pintam-se novas auras. Novas ideias, pensamentos, vontades. Os desejos transfiguram-se. Reluzentes. Candentes. E os tolos se apressam. Tentam enxergar um pouco mais do que virá. Porém, nessa estrada, ainda jovem, tudo é turvo.

Poeira cósmica. Névoa. A ventania é o único guia. E a solidão preenche as noites. A agitação cobre os dias. Trancafiando as mágoas. O outrora. As luzes. Os cálices. As tempestades. Ainda assim, cobrindo-se de luz. De chamas intensas de júbilo. 


O rio corre. O amanhã permanece oculto. As lágrimas escorrem. O sangue congela. E o fim se apaga. E ressurge. E se apaga. Eternamente. Até o último suspiro. Até.

sexta-feira, 26 de setembro de 2014

Faces Reveladas

É frio cinzento. É poeira. É solidão. São as rusgas do passado. É o véu da sinceridade. É o céu coberto de nuvens cintilantes. É tudo que foi e já não mais é. São as promessas reveladas. Os cálices derramados. 

Sentimentos corrosivos. Noites perdidas. Abandono desleal. Máscaras que caem como a chuva deste amanhecer. 

Depois tudo é mais forte. Mais real. Mais singelo. Puro. Adocicado. Após a verdade apontada. Após sentir na alma o baque do ressentimento alheio. Após o fim de mais um ciclo.

Agora as chamas da certeza brotam no coração petrificado. E este se amolece. Devagar. Enquanto chega a primavera. Enquanto os olhares se encontram. E brilham. E cantam. E os pássaros somem. E os sinos congelam. E os clamores cessam. Já é véspera de ventania desmedida. E a aura ferve. Os mares se abrem. O incômodo se desfaz.

O silêncio perdoa. O veneno se esgota. Sorrisos. Leves. Lindos. Belos. É júbilo sem fim. É um anoitecer sem mágoas. É gargalhada longa. Findam-se as dores. Apaga as faces falsas. Renega os amores fingidos. As palavras em vão. Os abraços traiçoeiros.

Sim. Há retorno. Existe salvação. As correntezas da sorte aproximam-se. E já é hora de viver a paixão anunciada. É. Até o fim. Da existência. É. Até que o horizonte se refaça. Até que as flores caiam novamente no caminho. Até que as músicas voltem a tocar. Até que o sol se esconda. Até. 


sexta-feira, 5 de setembro de 2014

Todos

 
Memórias. E delas vêm as decisões. As reticências combinam demais com os suspiros de dor. E já é madrugada mais uma vez. A paz do silêncio prometido. O caos doentio. A cobiça. As verdades cruéis e insensatas. O florescer dos campos reluzentes.

Uma imagem. A miragem. Uma certeza. As mãos. O cálice. O que estava por vir. As letras. Escritas. Os turvos papéis sublinhados de sangue. As lágrimas escorridas na face. Um gole. Uma dança. A canção. Um pouco de fumaça. As negações. O cotidiano. 

Mais passos para o abismo infinito da solidão. Mais uma decisão para colocar o último grão da plenitude do fim. Mais e mais. E a névoa. A bruma do outrora coberto de folhas. A primavera. A morte da razão. A impureza de um sorriso. 

Salas vazias. Sinos. Ventania. Tempestade sincera. Lábios rubros. Cores e fantasias mescladas com um toque de ilusão. A perfeição de uma resposta.  As promessas. Um segredo. Um devaneio. O despertar. A insensatez. A farsa. O fardo. 

Raios. Luzes. Chuva amarga. Mergulho intenso. Paraíso inalcançável. As horas. Sepultadas. Cristalinas. Santificadas. Tolas. Rasas. Calmas. Sim. Não há como escapar. Ou evitar. O presente é vivido. Depois...depois são apenas reticências...

quarta-feira, 3 de setembro de 2014

Refúgios

Brutalidades do cotidiano. Sentenças concretas. Eternas. São muitos goles de veneno para alcançar a purificação final. São muitas voltas e retornos para terminar o ciclo. São histórias preenchidas de reticências... São memórias. Lembranças. Partidas.

Se ao menos lutasse para abrir mais um pouco os olhos. Se não pulasse dos precipícios mais altos. Se não dissesse. Se apagasse. Se o vento juntasse os caminhos perdidos. O se coberto de não. Petrificado nas injúrias da madrugada. Nos rancores tardios. Nos pedidos levianos.

Ventania. Cálida. Pura. Cristalinamente suave. Esta salva e jamais condena. Nunca julga. Depois os golpes. Cantos. Refúgios. Muitas palavras e poucas ações. Muito silêncio e nenhuma sinfonia. Os sinos congelam. A face já está mais pálida. A tormenta da dúvida soterra os arrependimentos.

Dor. Melancolia e fúria. Caos e calmaria. Tempestade e imensidão. A cura está na próxima esquina. O cálice borbulha e as mãos se abrem. As chaves se perdem por outros corpos. A língua revela as mentiras venenosas. 

O amanhecer. As devoções. As obsessões. O alvorecer. É uma canção que gruda na pele. É um horizonte adocicado. É uma névoa reluzente. É tudo que foi e já não poderia ter sido. É o aviso. É a escrita que revela. Os males que afagam. Os olhos que não se encontram e jamais verão os mesmos sorrisos. Fim. Início. Chama. Clama. Arde.

Alerta. Singela. Conta. Encanta. Desfaz laços. Recupera sensações. Reconhece as ilusões. Corre. Rápido. No meio dos devaneios. No cotidiano cinza. Relutante. Candente. Sempre.