terça-feira, 26 de abril de 2022

Widersprüchlich


Nas cartas? Nada de muito novo, nitidamente. O que haveria de ser dito que já não saiba, não é mesmo? Talvez, apenas o fato de que ambas vêm deixando o sentimento se esvair e tudo virar uma memória longínqua. Todavia, a esperança do reencontro sela um caminho tenso e complexo, do qual está tão exausta, que até prefere que este futuro seja enganoso e não ocorra. 

De que adianta insistir, se a cada palavra da bruxa cintilante as mesmas sentenças são proferidas? A fada, acostumada a agir corajosa e intensamente, se vê de mãos atadas e precisando esperar que a sua amada se mova. Do outro lado, ações contraditórias, olhares que entregam, medo de se mover, pavor de abrir esta porta, fuga eterna permanecem. Assim, a conclusão dos tempos que virão é a mesma de meses atrás. 

Enquanto uma necessita se segurar, a outra precisa quebrar as amarras que a aprisionam. Ou, talvez, tudo ficará para um encontro futuro, quando forem outras. E quem garante que os caminhos irão se cruzar novamente? Se nesta existência tudo é labor triplicado, o renascimento pode ser ainda mais árduo. No final das contas, com o coração rasgado e enlameado, a fada roga pela conclusão deste sentimento. 

Se não tem forças, vontade ou fibra o suficientemente para enxergar quem se é, do que adianta consumir o tempo que fora entregue em suas mãos? A única salvação de tudo na vida inteira é a verdade, é desfrutar cada segundo como se fosse o último. Contudo, talvez seja tola demais ao achar que tem algum significado em sua jornada. Ainda assim, respira fundo e pensa que o engano é maior do que ela, é maior do que tudo. 

Porque mesmo que não fosse sua, poderia encarar o destino de sua nascença, fosse com outra ou com ninguém. O único elemento que importaria dentro de toda esta confusão que corrói seus pensamentos é a liberdade de se entender, de compreender cada emoção que flui pelo corpo, de gritar para o mundo que já não importa mais nada, além da felicidade de ser completa. 

Mas, não é tempo de resgatar ninguém, nunca foi. Nenhuma canção existe para ser salva. A fada está, assim, condenada a ver toda a farsa atroz e seguir seu rumo, por outras bandas, por outro raiar de sol. Pois não é ela quem dita o entendimento interno de cada pessoa da humanidade, não é mesmo? E porque sabe que a borboleta é feliz lá de seu jeito, em seu castelo comandado pelo imperador, pelo (astrologicamente) dono do veneno. 

Então, que encontre júbilo no cotidiano que selecionou, porém que tenha conhecimento que quando pisarem no mesmo solo, se pisarem no mesmo solo, não fará absolutamente nada. Os seus olhos estarão cobertos, tentará enganar a todes, como se jamais tivesse sido seu objeto de desejo, como se fosse ninguém dentro de sua alma, como se não habitasse cada pensamento seu antes de dormir e como se seus sonhos não fossem preenchidos por sua presença. 

E se neste ou em qualquer outro tempo que está por vir, se conhecerem outra vez, não moverá somente um passo em sua direção. Esta é uma jura eterna, que pode valer por uma hora, por uma vida inteira ou para todo sempre. Somente o futuro dirá. 

domingo, 24 de abril de 2022

Quando a roda girar



No agora, carrega consigo uma espécie de náusea e um coração acelerado. Estes são os sintomas mais pungentes de sua saudade tola e implacável. Enquanto isso, sente-se rondada por sua presença e energia que são quase palpáveis, ainda que vindas de longe. Como explicar de onde retira todas estas ideias que parecem grandes devaneios? 

É por isso que silencia as palavras e guarda para si a sua interpretação dos fatos. Ao mesmo tempo, uma antiga canção retorna sob outra face e caçoa das confissões feitas em um final de tarde de outubro. De certo, nunca deveria ter proferido aquelas sentenças no outrora. Não para ela que é somente escárnio e julgamento infindáveis. 

Na verdade, deveria ter trancafiado esta história no fundo do poço mais profundo e a escondido. Nem ao menos seus companheiros de jornada ou a própria borboleta deveriam saber sobre esta fábula insólita infernal. Pois o que restou foram estes apertos no peito, uma vontade infinita de derramar todas as lágrimas que habitam seus olhos e uma certeza de que jamais contemplará sua face outra vez. 

Então, por que os sonhos não se encerram de uma vez ou estas emoções transbordantes não cessam jamais? Gostaria de compreender de onde veio esta impressão de reconhecimento e de transparência das emoções. É como se pudesse ler as suas expressões completamente e captar o que jaz dentro da sua alma. Ela sente a outra, ainda que pisando em terras tão distintas. Ela recorda de algo que não sabe exatamente o que é. 

As cartas e todos os elementos místicos consultados lhe entregaram respostas, é bem verdade. Todavia, é custoso para ela acreditar em tamanho absurdo. Contudo, qual seria a explicação então? Estaria perdendo a razão pouco a pouco? Seria uma fantasia tão intensa que imagina saber sobre sua amada, a fim de apaziguar a tristeza e a mágoa vindas daquele último e derradeiro encontro?

Não sabe. Nunca soube o motivo de sua existência ser tão impactante para ela. Jamais possuiu a capacidade de decodificar os efeitos de um enamoramento estúpido, não correspondido, que devastou sua capacidade de olhar para outras cantigas e se entregar para as novas aventuras ofertadas. Enquanto escreve, inclusive, suas mãos gelam e a mente divaga para o dia que a teve em seus braços pela primeira vez, em um singelo abraço passageiro.

A sua voz ecoou em seus ouvidos. Ela dizia “seja bem-vinda” e seus olhos fecharam, pois tentava capturar cada segundo daquele momento. Em seguida, sentada ao seu lado, buscava computar que estava realmente ali, ouvindo suas frases despretensiosas e desfrutando de sua alegria contagiante tão de perto. É sempre surpreendente o efeito de uma paixão avassaladora. Não se vive algo assim sempre. Algumas vezes, não se vive algo assim nunca. 

Por esta razão, é bem provável que o vício de sentir tão fortemente todos os acontecimentos do planeta, devido a uma paixão tão lancinante, seja o motivo de não conseguir seguir em frente. Ou, a frustração de jamais ter provado do seu beijo ou de ter escutado as verdades escondidas tenham lhe causado um impacto irreversível. No entanto, há tanto ocorrendo em sua vida neste instante que até ri de sua escrita agonizante. 

O maior sonho de todos os tempos está prestes a ocorrer e senta em um domingo ensolarado para tratar das incertezas e possibilidades sobre o seu amor, sobre Schmetterling. Sobre ela que é dona de seu coração estilhaçado, mas que foge ensandecidamente do que habita o passado, o presente e o futuro.

 “Terá que ficar para outra vida mesmo”, disse o mago certeiro e a fada suspirava, recusando a acreditar naquela frase. “Ela fugirá tanto que é preciso que você se afaste e não faça nada”, explicou a bruxa cintilante. E foi isso que ela fez. Ainda que com uma derradeira ação desmedida, seguiu rumo ao encontro dos poços translúcidos, da busca pela trajetória tão sonhada, para a sua realidade de fato. 

Mas, decide deixar, mesmo assim, mais um de seus recados esperançosos: ainda é tempo de deixar florescer todas as respostas sinceras em seu coração. Assim, se ela encontrar a saída de sua toca enterrada sob o véu do comum e aceitável, estará do outro lado, de braços abertos, para que seja a sua vez de dizer “bem-vinda”, juntamente com o horizonte coberto de pássaros cantantes e luzes do dia ensolarado. Em seu tempo, em seu espaço, na existência que lhe for possível e provável. Até lá, então. 

sábado, 16 de abril de 2022

Os incontáveis segundos até o recomeço



Nenhuma luz se equipara a sua. Nenhuma face é tão resplandecente. Mas, precisa se convencer recorrentemente que irá apagá-la de sua lembrança e de seu coração. É atordoante pensar o quão é apaixonada por ela e como os meses distante não afetaram este sentimento estúpido. 

É bem verdade que tentou esquecê-la. Partindo em direção de possíveis novas canções, foi feliz nestes encontros. Em alguns deles, até chegou a cogitar que não se importaria mais com a borboleta inebriante. Todavia, o que constatou foi o contrário. Percebeu o quanto esta emoção é tão intensa que segue com as palpitações ao recordar de sua voz ou de sua face. 

Se ao menos seus olhos não fossem tão profundos e encantadores, poderia dizer que estava liberta desta paixão. Se ao menos seus lábios não fossem de aparência tão macia, fugiria correndo rumo ao novo horizonte. Contudo, somente pelo fato dela existir e possuir tamanhas qualidades fica ali, presa, pensando em como seria estar em seus braços de uma vez. 

No entanto, ainda existe esperança para a fada e ela conta os dias para que esteja tomada de tanta lonjura, que toda a fábula insólita pareça uma memória desvanecida. Os seus leais escudeiros juram que quando estiver conquistando a trajetória tão sonhada, nem ao menos lembrará da borboleta, do dia nublado, das folhas das árvores que batiam com o vento e do café que descia amargo. 

Não. A partir do outono, seguirá por caminhos tão desconhecidos e nunca antes explorados, que todas as tonturas, a falta de apetite e a ansiedade pelo encontro remoto serão, tranquilamente, uma passageira recordação risível. E aqueles que estão ao seu redor juram que encontrará tantos novos amores, que a aquela que a despreza tanto será finalmente esquecida. 

 Mas, no agora, no qual pertence ainda a sua torre colorida, sente-se consumida por sua ausência e pela impossibilidade de experienciar momentos ao seu lado. Desta maneira, sabe que alcançou o topo do abismo profundo, pois nem ao menos ousaria em desejar seus beijos ou um afeto romântico. No presente, apenas queria poder estar perto dela de algum jeito. 

Em seguida, recorda que as terras somente irão se distanciar mais e mais. Pelo menos, por enquanto. Aí, ela sorri de tristeza e respira fundo para que consiga finalizar esta escrita confusa. De certo, não possui a sua leitura fiel há tempos, porém deixa registrado o seu lamento, para que no futuro lembre o quão doloroso foi, mas que chegou ao seu final, enfim chegou. 

Porque somente poderia ser distinto este encerramento se revelasse as verdades que ficam guardadas e trancafiadas no fundo da sua alma. Seria necessário ter a coragem - ou, ao menos, interesse - em fazê-los emergirem. É bem provável que este não seja o caso. Mas, se ela consome as suas frases desajustadas, saberá quando o rumo da prosa se transformar. Esta é a única certeza que tem. 

quinta-feira, 14 de abril de 2022

O risco de dormir


Até que um oceano as separe, irá se debruçar em pensamentos repetidos sobre tudo que viveu naquele passado não tão distante. Há uma questão principal aqui: o fato de que quando fecha os olhos para dormir, a imagem de seu semblante vem sempre. É imediato e sempre surpreendente. Depois, chegam os sonhos e sua presença invade o subconsciente, que navega pelos céus dos seus olhos. 

Estes sonhos são tão intensos e profundos, que é possível resgatar a lembrança de seu cheiro e a sensação de seu abraço. Todavia, não existe em sua mente ou em seu coração nenhuma perspectiva de regresso ou de salvação para esta fábula insólita. Há apenas uma vaga impressão de que seus caminhos um dia poderão se reencontrar.

Contudo, ressignificados, com outros sentimentos e intenções. Haverá de existir um horizonte possível, provável, reconstruído. No entanto, ainda que este fato ocorra (ou não), até o presente momento, mantém este amor profundo guardado, trancafiando nas profundezas de sua alma.

De certo, colherá a cura em algum momento. Seja quando estiver ainda mais distante geograficamente de sua amada, quando os anos virarem um a um ou nunca. É perigoso demais apostar os caminhos que o coração irá seguir. Somente sabe que, enquanto a paixão existir, a esconderá completamente. 

De fato, a narrativa é um tanto triste, porém somente a primeira parte dela, porque o amanhã é mistério e somente o tempo entrega qualquer resposta. Boa ou ruim. Então, nesta madrugada, segue para encontrar o sono apenas com um receio: o de sonhar tão intensamente com a borboleta que fique acordando a cada hora, assustada e confusa. 

Mas, quem sabe um dia tudo isso passará ou será compreendido?

quarta-feira, 13 de abril de 2022

Um novo ano


A noite vira madrugada e o tempo segue seu curso. Respira fundo e tenta encontrar palavras que gostaria de ter para dizer. No entanto, elas escapam da sua mente e quase desiste de continuar procurando por elas. Talvez, pudesse começar falando sobre como todo céu brilha mais intensamente com o anúncio de seu dia.

Ou não. De certo, frases melosas sobre a magnitude de sua existência e de como o Universo resplandece fortemente pelo fato dela habitá-lo seriam tolas agora. Não deseja ser óbvia ou deixar nítida as suas intenções. Os rodeios fazem parte da tentativa de mascarar o que realmente quer escrever em seu diário de confissões.

Para tal, precisa começar de alguma forma. A menos explícita possível… Talvez, pudesse listar todo o júbilo que espera que tenha ou todas aquelas frases clichês que dizem em eventos desta procedência. Contudo, precisa disfarçar e encontrar saídas para proferir tudo que necessita sem se entregar. 

Assim, segue em sua ineficaz tentativa de dizer o quanto seus olhos iluminam os espaços, como a sua voz ecoa nos recintos, como o seu conhecimento atravessa barreiras inesperadas e profundas, como a sua respiração é encantadora ou, até, como poderia ouví-la falar sobre qualquer assunto por horas. 

Isto porque a sua energia vibrante se espalha e deixa qualquer um que preste atenção inebriado. Alguns, inclusive, chegam a sentir palpitações no coração com o menor sinal de encontro com seus olhos. Estes olhos atentos, e dispersos ao mesmo tempo, que devoram, analisam e comentam em silêncio. 

Ainda, poderia recordar como seu caos organizado faz dela um ser de tamanha complexidade, que tudo sobre ela é múltiplo, diverso e cheio de sentidos tão amplamente plurais, que seria preciso uma eternidade para descobrir tudo sobre ela. Todavia, neste mesmo caminho, seria possível falar o quão fácil é enxergar as suas emoções transbordantes. 

Neste misto de camadas infinitas, de combinações astrológicas perigosas e com um charme singular - destes quase impossíveis de se achar -, ela, que é rainha de todo poder de sedução e encantamento presentes no mundo, dá mais uma volta em torno do sol e fica ainda mais soberana, dona de si e de suas conquistas. 

De longe, com o seu telescópio metafórico, contempla a luminosidade que vem dela e atravessa quilômetros em instantes. Por este motivo, carrega uma certeza - que pode até ser tola - de que há muito por vir nesta trajetória por ela vivida. Virão, assim, mais descobertas, celebrações, imponência, candência e luz.

Pois ela também é vendaval, destes que carregam tudo consigo, com as flores rubras, com todos os jardins. Depois, lembra que era tudo segredo e que estava tentando não deixar tão estampado o que é de fato este texto confuso. Pelo menos, esta missiva, que se junta a tantas outras, chega em seu desfecho agora. 

terça-feira, 12 de abril de 2022

Passos da jornada



Em cada dia de sua jornada estará marcada por este amor não correspondido, que se dissolve em bruma e areia, em cada anoitecer e amanhecer. Todavia, não importa o quão translúcido se torne ou o quão longínquo pareça, um pedaço dele permanecerá marcado como brasa em seu coração despudorado. 

Talvez, em outras terras, sem os mares salgados, que por alguma razão lembram seus olhos tempestuosos, poderá pensar com mais serenidade e menos passionalidade. Os dias pareciam cinzentos e sem esperança e agora tem um horizonte surpreendente para alcançar. Algo que viverá sozinha, talvez. 

No entanto, precisava deixar um registro - de certo o derradeiro ou quase isso - desta paixão injustificada e insensata, porém que trouxe respostas para sua própria trajetória. É estranho pensar como um sentimento pode revirar a vida de alguém e ressignificar experiências. 

Mas, é isso. Não quer tecer comentários infinitos sobre os afagos perdidos ou sobre a emoção não conquistada. Não deseja se prolongar tratando sobre a tarde de dezembro, na qual o resquício de estilhaços do coração foram com o vento e seu corpo quase perdeu as forças. Não, não. 

Esta missiva torta é para falar sobre saudade, sobre novos rumos e sobre o desejo de que seu rosto não se apague de sua recordação. Esta carta flutuante também vem para contar que sabe que não é tão insólita assim a fábula, mas também sabe que esta história não deixa de ser uma fábula. 

Mas, tudo isto já não importa. Seus destinos se afastaram e é preciso encarar a verdade dos fatos, não é mesmo? Contudo, quando os solos forem idênticos novamente, espera que possa olhar para sua face e decorar cada fisionomia de novo. Se o destino assim permitir, a borboleta pode ter certeza que será um dos dias mais felizes de sua vida. 

O seu rosto é como um sol que semeia a vida pelo mundo inteiro, com tanto impacto e plenitude que somente por existir tal rosto, o Universo é mais completo. E é por isso que a alegria se espalha enquanto escreve. Por mais insensato que seja este sentimento, ele também é especial. Sentir-se pleno porque a sua amada habita o planeta e é feliz, mesmo que de longe, sem correspondência ou sem sentido algum, é bonito, de alguma maneira. 

Então, que todos os seus passos continuem firmes e que persista emitindo essa luz incessante e infinita, enquanto for possível, enquanto houver vida para ser vivida, nas horas que se alastram enquanto a outra escreve, enquanto a madrugada é a mesma para as duas. 

Até o dia que não for mais. 

quinta-feira, 7 de abril de 2022

O sonho mais belo de todos


Quanto tempo o coração resiste ao sofrimento por amor? Quantas luas têm de passar até que os sonhos não invadam a mente e o dia seja afogado por eles? Quando tudo irá sumir da memória e sua ausência não será sentida? Quantas horas terão de correr até que seu nome e sua face sejam apenas uma recordação longínqua e insignificante?

Mas, houve um sonho, esta noite. Curioso que lá ela estava com a mesma energia que apresenta sempre. Havia nela um ar resplandecente, uma energia vibrante e um sorriso de fazer qualquer melancolia desmanchar. De braços abertos, ofertava proteção e acolhida. Ao seu redor, estavam algumas figuras imponentes que assustam a outra no cotidiano. 

Todavia, a borboleta não se abalava. Ainda com a fada em seus braços, ria e revelava todo o conhecimento profundo que mora em seus pensamentos. A sua presença ali parecia ideal, parecia se encaixar perfeitamente em todo o contexto no qual reside a menina apaixonada por ela. Era, de fato, um sonho, uma miragem, uma fantasia cunhada na perfeição.

Contudo, estes eram apenas detalhes. O mais importante era a sensação de estar em seus braços. Mas, ao abrir os olhos e constatar qual era a realidade, lamentou. Ainda assim, guardou durante toda a manhã aquela sensação consigo. Era um abraço acolhedor, espontâneo, alegre. A vibração da borboleta era contagiante e se alastrava pela alma, mesmo após o despertar.

É, existe a consciência de que é tudo uma fábula insólita e cada vez mais distante. No entanto, somente de tê-la conhecido e ter a graça de possuir sonhos como estes, já valera a pena. Até porque fitar aquele sorriso é um presente inigualável. Aquele sorriso que cria uma covinha em seu rosto e que garante uma luz muito própria em seus olhos. 

E escreve para que nunca esqueça destes tempos infinitos de paixão absurda por uma miragem. Mas, também, para que conserve a emoção presente naquele sonho toda vez que ler esta confissão, pois ainda não há nada que tenha vivido igual a este amor estranho. Além disso, muito menos teve a chance de conhecer alguém com tamanha magnitude em outros cantos.

É por ela que o corpo estremeceu, o mundo rodou, as mãos tremeram. É por ela que a aura acendeu e os sinos tocaram como nunca. E é por causa da existência dela que os sonhos voltaram a existir. Marcada somente por pesadelos há mais de dez anos, regressou aos mares dos sonhos e há uma gratidão eterna apenas por isso, pelo menos. 

Agora, chega de falar, por enquanto. Chega de confessar por hoje, por hora.