segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

Sobre o silêncio e o vento

 A cena. Como num filme corria em direção do último horizonte, a última fagulha de esperança. Depois a conclusão certeira e o desengano. Não importava mais o que fez, já havia se apagado a chama do passado, presente e o possível futuro. Em seus olhos enxergou o mar da decepção. Já não existe jornada para seguir. Ainda assim junta todo o brilho esverdeado que lhe resta e canta a última frase daquela canção que um dia foi sua.

Talvez tudo esteja errado ou certo demais. Talvez as flamas do bosque cintilante tenham cegado a compaixão do silêncio. Talvez. Mergulha-se de incertezas para que renasça. Afinal, outro ciclo se inicia. Já não tem mais torre alguma que desabe para todo o sentimento aprisionado em seu coração. Também jamais conseguirá banhar-se de frieza.

 Se a ventania vier abrirá os braços e se entregará ao completo. Se todas as cálidas sensações cessarem buscará em si a emoção necessária. Sim, pois se nessas sentenças precisou arder agora segue mesmo com dúvidas inabaláveis. Entregou todo o conteúdo presente em seu cálice, proclamou aos deuses, zumbis, sacerdotes e fadas quais eram seus desejos, cumpriu pactos, travou batalhas, mas ainda sim viu o pranto verter do silêncio.

 Agora os fatos são turvos e o outrora se desfaz perante suas vistas. E podem sim ser somente palavras jogadas ao vento e que venham os julgamentos, pois estes são certeiros. Entre um suspiro e outro, mais outra batalha cinzenta, para que venha o sorriso farto e o júbilo intocável. E se o silêncio quiser chegar e ficar para sempre será apenas prazer o resto do caminho. Porém agora resta esperar o tempo e o destino e as suas próximas ações. Sim. Os passos seguintes da fada de cor verde. Sim. A verdade é muito óbvia basta abrir os olhos e compreender todas as equações e seus resultados.

 A força lhe foi dada no primeiro respiro, quando foi entregue ao poder do vento. Alimenta-se dele e volta para a realidade. Alimenta-se das palavras e segue. Não há veneno que possa macular aquilo que mais acredita. Não há fogo, muito menos água agora. Existe a ventania e esta nada pode alcançar, apenas quando enamorada está e tudo já se transforma em clichê e tolice.

 E coberta da maior tolice de todas, batalha firmemente para encontrar o silêncio outra vez. E ele virá. Assim espera.



sábado, 21 de dezembro de 2013

Marcas


Os gritos dos sinos, os desesperados gritos dos sinos. As madrugadas incendiadas. Verte-se em euforia pela chegada da alvorada. Sim. O encanto permanece ainda que petrificado.

 Entre uma e outra sinfonia desperta para vida mais uma vez. Se ao menos soubessem que clamores são precipícios. Se ao menos conseguisse um pouco de coerência.

 Permanecerá acorrentada nas eternas dúvidas, nas incertezas vivas, cálidas, que corroem a pele e determinam os passos. Depois é somente anoitecer banhado em solidão. Se o silêncio deseja partir não tentará prendê-lo. Se as mágoas são maiores. Se a festa já acabou. Encontrará um pouco de chama nos estrondos do amanhecer.

 São dois caminhos. Ambos tortuosos. Ambos incorretos. As ideias são excludentes e nesse mar candente deixa que a ventania arrebente qualquer aprisionamento. Fortalece a alma e toma goles largos de frieza. Agora sim será aquilo que vibra em sua sentença cruel. Agora. A partir do próximo suspiro. E lutará até o fim. Nunca existiu retorno e não terá salvação. Quando abriu a varanda para que a água adocicada entrasse já não se pertencia.

 Deixa os caminhos se entrelaçarem. Compactua com o destino. Já não sela mais pactos. Cala as juras. Incendeia o tempo. Conecta-se com a amargura. Para nunca mais sentir. Para nunca mais escutar julgamentos mal concebidos. Para não mais precisar provar nada, se entrega ao rumo que lhe deram e cumpre suas marcas cotidianas. Sim. A reles cumpridora de marcas. Sim, esta que não olha nos olhos e adoece de solidão. Sim. Aquela que jamais dirá as tais suaves palavras outra vez.

terça-feira, 3 de dezembro de 2013

Despertando

 E o céu desvaneceu com a alegria trazida pelo seu encanto. E o mundo agora era festa com a energia daquele sorriso. Em seus sonhos mais loucos delirava com uma fantasia que se tornou realidade com sua chegada. 

Depois se emaranhou com a impureza dos dias que viriam, depois esqueceu que era exatamente aquilo que desejava com tanta força.

Os olhos marejados, em flamas, partiram a alma e reconstruíram a jornada quase estilhaçada pelo cansaço do caminho. Com os pedidos atendidos era preciso que a fada concedesse um pouco da sua luz esverdeada. 

Enfim compreendeu o clamor sussurrado nos ouvidos. Para que as luzes resplandecessem teria que trilhar a trajetória completa, sem atalho, sem lamúrias, sem medo do risco do próximo passo.

Pulou de tantos abismos que já possuía receio de jogar-se no próximo. Agora de mãos dadas com o infinito poderia ir sem pestanejar. Sim. Não há razão para segurar-se. São dois caminhos que seguem juntos. É uma única corrente que pulsa na mesma vibração...

Os olhares se encontram e relembra o que é o júbilo. Outra vez o sente percorrer a aura. Gargalha, tola. As lágrimas cobrem a face. Enlaça a sorte. Não deixa que parta. Conversa com a lua e despede-se aos poucos da fumaça. Sim. Agora uma nova página se abre. Sim. Agora o horizonte não mais se esconde. Até o último suspiro. Até os últimos dias de sua vida.


terça-feira, 19 de novembro de 2013

Colorful

 É o abismo aprisionado em chamas. É um pouco de chagas para obter o próximo sorriso. É um pouco de festa para que as trevas cheguem. Sem fim. Sem limites. Sem rumo ou horizonte. Um ponto final coberto de reticências, um mar que afaga os cabelos alheios e o brilho reluzente da lança fina mergulhada nas correntes novamente possuídas.

São tolices da nova alvorada e impropérios que desfazem a jornada. Muitos caminhos imersos em pranto seco, em descaso com a solidão. A inimiga das horas agora não se faz mais presente. Os sátiros corroem a madrugada. A fumaça se finda e o vento não bate em sua face.

Silêncio e um pouco mais de relutância em seguir por esta estrada outra vez. A lua já desapareceu nas brumas daquele faiscante olhar. Suspiros gélidos acalentam a noite eterna. Quente somente nas incertezas de ser quem é.

Números e mais números. Dias acumulados. E a prisão é o maior prêmio já conquistado. A varada já não lhe pertence e agora não mais no sentido figurado. Arrebentou mais uma corda presa aos pulsos e jogada na ventania secreta.

Os mares petrificam-se para que passe. Regressa ao passado muito distante. Volta para a torre, refaz promessas, celebra o outrora cálido e intocável. A aura arde e luta para não cair do precipício. Sim, está quase lá. Não há mais solução a não ser aceitar as decisões descompassadas do tempo cruel. E são muitas bobagens para um pouco de amanhecer que já não tarda em chegar.

Sem equilíbrio, passo ante passo, espiando pela fresta da alma incendiada, recobra os sentidos, recupera a visão e mergulha outra vez na deliciosa ilusão repleta da mais amarga fantasia disfarçada de doçura.

quarta-feira, 9 de outubro de 2013

O som

Então veio o som depois do sim. Veio o som da princesa inesperada. Veio a escuridão no meio da festa. Vieram as injúrias inacabadas. As inverdades petrificadas. Os sonhos desvanecidos. Por fim, vieram mais devaneios conscientes presos em sua despudorada mente coberta pelas chamas do seu vendaval candente de certezas. 

Um dia foi e já não mais é. Um dia quis o que agora não mais quer. Enfim veio a chama necessária para recriar mundos ainda não habitados. Há apenas uma vontade. A da escrita tola que mora em seus delírios recorrentes. 

Então veio a lágrima cobrir a face já preenchida pela chuva que caia no rosto gélido e um coração sangrento que lutava contra a correnteza. O vento volta cheio de impunidade. Sim. Até a ventania vem cobrar a sua parte. Pois escolheu a verdade e queimou-se com a mentira.

O silêncio se acaba e transforma-se em grito de fim de tarde. O reluzir da espada brilha em seus olhos transfigurados. As horas dilaceram os pedidos e a fumaça preenche novamente sua alma. O tempo e a solidão fazem as pazes. As angústias cobrem o peito alimentado pelos revoltos mares afogados no pranto da madrugada incendiada.

Não deseja mais correr em direção do abismo e sim evitá-lo. Junta todas as forças entregues pela ventania. Apaga os espasmos de rancor e dúvida. Sepulta abismos. Deleta o abandono. Sofre e deseja o melhor. 

Sorri junto com os suspiros apaixonados, estes agora ainda mais inflamados. As palavras e as sentenças. Os segredos mais sagrados. A face rubra sutilmente transformada em pecado. O fim do começo para que haja espaço para o recomeço. 

As melodias destruídas uma a uma, num rodopio alucinante, rasgam qualquer corrente ainda presente, porém despercebida. É o caos. É a mágoa. É um pouco de dor para que venham as gargalhadas. É a dúvida se a inspiração falhará. É tudo aquilo trancafiado por uma chave que desconhece o código para que finalmente possa habitar seu mundo dos sonhos outra vez. É a respiração que volta a ser como sempre foi.

Pois é no poço da solidão que a magia se faz presente. Pois já estava na hora de retornar para a realidade que arde e queima a face. Pois tudo que um dia começou alguma hora acaba ou muda ou já não pertence aos novos dias que virão. Afinal, o horizonte precisa ser alcançado, juntamente com o júbilo de ter o silêncio presente eternamente. Até que venham as lágrimas recorrentes. 

Mais suspiros e um pouco de festa. Mais suspiros e um pouco das palavras que tanto esperou ler. Mais e mais, até descobrir qual o melhor caminho para a sua estrada.

O conhecimento. A paixão. Os compromissos. Um pouco de tudo e mais festas. E as horas petrificadas que se escorrem e se perdem no infinito contar dos minutos. 

São os segundos finais que valem a pena. São as declarações repletas de sinceridade. São os engasgos expostos. São os olhos que juram junto com os segredos sagrados. É um pouco de tudo e de nada. É a correnteza que afoga sem pressa. São as mãos entrelaçadas. Sim. Por mais que digam não. São as juras e pactos que sustentam aquilo que disse e sempre dirá.

E que arda de uma vez só. E que venham todas as consequências. E que saiba que tudo ainda é o som depois do sim.


Correnteza



Um sentimento discreto, concreto, este que devora os medos, incendeia os pecados. Todos aqueles que pertence somente a si. Depois vem a certeza de ser quem é. E que se apaguem as frases incompletas, os soluços provocados pelos prantos de cada fim de noite. Aqueles que ainda ecoam nas madrugadas certeiras.

As chamas de um passado cruel, candente e infiel. Os medos recorrentes. As chagas flamejantes. O pulsar das horas cantantes. O resto de festa petrificado. Agora são mil flechas, mil chamas, mil cálices transbordantes. Agora é a Valsa morta. Agora chega o dia de chorar pelos os mortos neste fim de mês inacabado.

Dele veio tudo.  Até aquele pouco de sorriso coberto de lembranças. E tudo se mistura na sua visão turva e imatura. E repete, pois não há dúvidas sobre isto. Em sua alma apenas habita apenas a certeza de ser quem é e as verdades proferidas pelos olhos apaixonados.

Rodopios e mais rodopios. Clamores. Ardores. Concupiscência. A fumaça cobre seu peito enfermo. A luz do dia não chega. O horizonte se apaga. O cinza cobre a aura. Pula do abismo, pois já estava na hora. Sim. Existe um infinito poço de desilusões que insiste em penetrar sua pele juvenil.

E a fada finca bandeira eterna e proclama as condições de seu contrato. A varanda sempre será sua, ainda que a lua já não mais lhe conte qual o caminho certo a seguir. Encontra o sorriso profundamente iluminado daquela princesa que um dia abriu a porta da torre mais alta, na qual se encontra a chave do seu tesouro mais valioso.

E neste infinito repetir das horas se cala para mais um pouco de festa. Para um pouco mais de abismo nefasto. Para encarar seu destino. Para tragar todos os goles imperfeitos. Para ser o que deveria e nunca mais jurar. Nunca mais se enganar. Ou para fugir das correntezas e se entregar ao vento de uma vez por todas.

É chegado o momento exato da derradeira decisão. Aquela que fará seu destino brilhar ou se apagar de uma vez. Ou ainda é cedo para afirmar qualquer coisa. Já não sabe se nasceu realmente para aquilo. Talvez o servo da desilusão estivesse mais correto do que qualquer outro servo. E justamente eles são os que atravessam suas espadas em seu coração já muito cansado de sangrar.

Agora sabe. Há apenas o silêncio. Agora sabe, sua jornada está preenchida dos companheiros mais fieis. Basta somente escolher qual o melhor passo, qual o melhor abismo. E continua morando na sinceridade. Porém, é necessário explicar que a sua verdade tropeça nos medos. Ainda assim deseja abolir as dúvidas. Afinal o tempo se escorre nas valas apodrecidas e mundanas do mundo.

A tola escrita permanece. O velho sino toca, mas não adianta mais. A chave se dissolve. A torre cresce e fica cada dia mais alta. Contudo, a chave está ali, nas mãos daquele silêncio iluminado. Então que o raio de sol continue a brilhar, pois sempre caminhará em direção dele.

terça-feira, 8 de outubro de 2013

A fada e sua luz

 O vento silenciou e fincou ausência eternamente. Até a fumaça a abandonou em lentos passos enquanto conquistava a vida. A solidão desabrochou e partiu junto com a ventania. 

 Os reflexos antigos refletidos nos retratos de outrora relembram as doçuras e amarguras de ser quem escolheu ser. Agora respira fundo para conseguir encontrar-se outra vez.

 Enquanto flutua, entre os mundos reais e os inventados, reluta para não correr mais uma vez para a torre mais alta. Se esconder seria mais fácil, porém nunca optou por algo assim em sua jornada. 

 Então, sufocada e sem ar, cambaleante, sua luz de fada deixou de reluzir quando tropeçou no abismo de uma inverdade mal explicada. 

 Depois sofre e dança. Depois canta e desaba. Depois chora e gargalha. Até o último suspiro quando dirá seu nome pela última vez.

 Num desatino, num descompasso, numa fuga insensata, naquela lágrima de fúria e dor que escorre após ser acorrentada naquelas amarras novamente. 

 Afunda em todos os mares revoltos, roga ao destino um pouco de piedade, tenta alcançar escolhas, mas o mundo está embaçado e tudo parece impossível neste instante. 

 Sôfrega, ainda com o coração esmagado e em chamas sangrentas, caminha em direção do nada. 

 Ou talvez caminhe em direção dos dias que virão, da tão esperada primavera, das cantigas acolhedoras, do príncipe loiro e suas melodias insanas, das tardes de calmaria, da nova história que se refaz enquanto escrever suas tolas palavras.


segunda-feira, 9 de setembro de 2013

Anoitecendo

 Enfim veio o momento em que a luz existente em sua pele de fada voltou a reluzir. Como nunca antes ocorrera, seu sangue pulsava fervente. Agora nada era como no outrora adormecido.

 O veneno se esvai e o encanto permanece. Cobre-se de doçura e abandona o fel. Aquele néctar feito de sacarina já não mais habita a alma candente. Entre um suspiro e outro, mergulha na certeza da escolha.

 Já não mais importa o sussurro malicioso dos falsos companheiros. As lamúrias se queimam, a liberdade de ser quem é alcança o ponto ideal e flutua pelos céus imaginários. Delira. Entrega-se. Devora o tempo que escorre. Deixa que os olhares se encontrem. Segura as horas desvanecidas.

 São os beijos ardentes que a seguram na ponta do abismo. É a porta aberta para o horizonte inenarrável que dilacera a tristeza. É a voz da sereia inefável que ilumina os passos. É a saudade que faz o mundo girar. E já passou do tempo da menina despertar e ver que era sonho. Porém, não é. 

 A realidade deliciosa invade cada partícula da aura. A ventania enlaça o júbilo cristalinamente doce. E o vento cresce no tolo coração e um vendaval engrandece a sensação. 

 Dentro dos segundos eternos, esquece as pequenas mazelas e segue adiante. O presente corre veloz. As músicas ecoam. Os sinos tocam na lembrança deste anoitecer que já virou passado. 

 Os fios, quase em tom de ouro, permanecem na memória. A madrugada abre espaço para a escrita, enquanto os suspiros preenchem o silêncio. Sorri, tolamente sorri e adormece até que venha o amanhã.

quarta-feira, 14 de agosto de 2013

Suspensão

 Seguiu. Em direção do vento. Cambaleava. O ar impuro preenchia os pulmões. Silêncio. Trancada na torre mais alta pulou em direção do novo horizonte. Fumaça. Devaneios. Surpresas. Cálices que transbordavam impunimente. Dúvidas secretas, chamas insensíveis de segredos aprisionados. Não há lógica ou razão. As madrugadas escorrem e seus versos tornam-se profanos. Sinceros. Reais.

 Um grito de dor lancinante e mais um punhal finca-se nas costas. Neblina. Paixão. Suspiros e gemidos do anoitecer transformam-se em júbilo despudorado. A escuridão se alastra, o cinza tenta alcançar seus passos. Uma miragem, uma paisagem, a imagem que insiste em trazer sussurros inescrupulosos, maldosos, invisíveis, cobertos de escárnios.

 Arde na concupiscência, deixa que o desejo apague as incertezas, redescobre os sentidos verdadeiros. Deixa a doçura penetrar a alma e o cristalino veneno escorre dos olhos. O ódio motiva. O amanhecer ainda é fiel. As mágoas se desfazem e soterram-se no oceano revolto de sua aura. Entrega-se de uma vez só. Sedenta pelo novo caminho que surge em sua frente, destrói muros de súplicas, enlaça a sorte, abandona a morte passageira de sonhos translúcidos.

 Queima a escrita, derruba a varanda na qual a mente se prendia, foge das inverdades, denuncia as falsidades, rasga as sentenças pré-estabelecidas, corrói o resquício de pranto, permanece na sobriedade dos dias, nas metáforas concretas, nas palavras indiscretas, em tudo que pode ser e jamais foi no outrora distante.

 Sela pacto com a justiça, aceita as promessas do destino, incendeia o tempo, renega a melancolia. Candente, rubra e preenchida de força jamais sentida. Fecham-se as cicatrizes, deleta os infelizes corvos que tentam derrubar o impossível. Espera e segue rumo ao pedestal certeiro das horas desvanecidas. Perde-se para nunca mais, naquela bruma sangrenta e revolta, entre as flamas e os lírios, entre o início e o fim, entre o agora e o eterno. Na intensidade das flores, nos acertos sem pudores, em tudo que for festa em demasia.


domingo, 11 de agosto de 2013

Pacto

Com as palavras ainda turvas em sua mente procura escrever aquilo que é indescritível. Os olhos marejam, o coração ensanguentado dispara e luta para não perder a vontade de olhar para aquilo que outrora foi o paraíso. 

É uma lança que finca lugar eternamente em sua alma, são as decepções recorrentes com as melodias insistentes, com a nova canção que passou a tocar naquele mesmo ritmo. 

Ainda assim, a fênix existe e dessas cinzas um dia ressurgirá. Enquanto a fada cambaleante tenta encontrar respostas para as dúvidas infinitas, a deusa gargalha em seus pensamentos, a ventania desvanece e acorrenta o júbilo, a confiabilidade é arrancada do peito e se vê caindo no abismo da incerteza.

As cores precisam voltar. Lembra-se da rosa, das músicas, das aventuras, de tudo que fez os olhares se encontrarem. Agora precisa apagar da memória todos os pesadelos recentes, a imagem degradante, nojenta, decepcionante, da sujeira ébria da princesa silenciosa, dos gritos de ódio, dos escárnios alheios, das tentativas tolas e concretas de perder a vida.

Cega, em profundo desatino, viu a decomposição de uma sensação, a reconfiguração de uma emoção e o recomeço da sua jornada. Depois, quando avistou o profundo arrependimento, veio o perdão. Sua alma de menina não nasceu para o pecado, para o veneno que um dia foi injetado nas veias e agora expelido.

Já não sabe se é ingenuidade ou crença, porém segue rumo as novas direções, ao novo voto de confiança, a um pacto que jamais pode ser quebrado outra vez.

Sem melancolia, relutância ou angústia busca novos sentidos para os mesmos significados, esquece um pouco os devaneios, prende-se a concupiscência, abandona o caos e deixa que o destino e o tempo se encarreguem do resto.


domingo, 4 de agosto de 2013

Acordar

 Suscetível. Ao toque, as palavras, ao silêncio. Ébria, destruiu a torre mais alta que já tinha alcançado. Se ao menos não destilasse veneno impuro e sórdido vindo da carência e angústia de ser quem é. Tonta, segue em direção da perdição. Seu caminho é solitário, seu destino é dor que dilacera a alma. O coração, já muito calejado, insiste em bater e machucar a aura. Jamais encontrará um sorriso que não quebre. Nunca existirá uma alegria que não desmanche, que não transforme em pranto.

 O hoje é interminável, é eterno. Nos seus olhos viu o que antes não apareceu. Agora a salvação parte rumo ao passado, em direção oposta ao vento. A náusea é sua única companhia. Sempre soube. A solidão a persegue. É um ciclo que não se findará. Até seu último suspiro lembrará-se das máculas, da vontade de ser o que não é destruindo os passos certeiros, de um tudo que no fim vira vazio. 

 A escrita torta traz as lembranças à tona. Se ao menos pudesse mostrar a verdade, fazer enxergar o quão cristalina é a sua sinceridade. E já sabe. Perdeu. Findou-se mais um ciclo de derrota e a dor se instala para todo sempre. E o encontro se parte, reparte e finca sua espada cruel. 

 E viu os mares revoltos escorrerem na sua face. E viu o mundo girar. E soube. A felicidade não a pertence. Aceita o destino. E finalmente sela o pacto consigo. Aquele que um dia pareceu tolo. Outra vez se faz presente. Sozinha permanece. Respira. Suspira. Mais lágrimas, menos júbilo. E todos partem. 

Sim, até o último gole. Pertence. Acredita. Luta. Reluta. Corre. E repete: acorda do sonho, menina. Não há varanda, não há salvação. Desperta de uma vez. Acorde. Já não é mais fada, não reluz. Sem brilho será até seus últimos dias.

sábado, 3 de agosto de 2013

Alvorada

 Num passado não muito distante, a menina esperava uma solução que parecia jamais vir. Em seus sonhos todos os sentimentos deveriam ser únicos, fortemente entrelaçados, recíprocos.

 Mudou o rumo das certezas para provar um pouco das madrugadas insensatas. Um grito sufocava a alma. Buscava ser o que não era e nunca seria. Pois não há resposta em beijos perdidos, em urgências falsas, em encontros desperdiçados.

 Seguiu pelo caminho vazio dos lábios que se encontram sem motivo algum. Até que um dia encontrou o sorriso certo, o cessar das dúvidas, o júbilo candente. Nas horas escorriam faíscas tempestuosas de emoções inenarráveis.

 Relutou, escondeu, tentou fugir. Seu coração torturado sangrava pranto de um outrora nebuloso. E escolheu a princesa para não sentir. Em seu confuso pensamento não passou a ideia de seguir adiante, apenas queria saciar uma vontade de mudar, de esquecer melodias enfraquecidas.

 Não há como negar. Escreverá até compreender como aquilo que um dia pareceu impossível tornou-se concreto, real, forte. As emoções que tinham secado, junto com as lágrimas, galopearam seu peito sem que ao menos pudesse esperar, pensar, raciocinar.

 Agora tudo faz sentido outra vez. Não precisa ser outra, se reinventar sem motivo. E pulou do abismo mais alto, de olhos abertos, sem pestanejar. 

 Apagou os zunidos sussurrados dos zumbis, esqueceu as regras recitadas pelos próximos, desmanchou as dúvidas e continuou a caminhar.

 A história passa em sua memória e já sabe, tem toda certeza. Sem saber, a salvou do precipício das sentenças mal acabadas, do cinza que cobria sua pele, dos goles ébrios de saudade, dos fins de tarde cobertos de brumas, do caos. Trouxe de volta a sua ventania.

 E já é hora de acordar, mas neste sonho permanece, deixando que o destino se encarregue do resto.


quarta-feira, 24 de julho de 2013

Quando a fada encontrou o silêncio

O anoitecer chegava enquanto seu coração disparava. Disfarçadamente fitava aquele rosto conhecido. Quando os olhos se encontravam a respiração tornava-se ofegante. Como numa dança descompassada a mente girava e a frase estava engasgada em sua garganta. Respirou, suspirou, pensou dez vezes. Disse o que precisava e o silêncio invadiu a madrugada.

Depois vieram as aventuras. Mais e mais. A chuva abençoava os passos cambaleantes. A lua respondia que sim, ainda que as dúvidas existissem. Ébria, buscava compreender a princesa silenciosa. Jamais vira antes olhos que ardessem tanto e fossem tão preenchidos de faíscas pulsantes. Naquela aura candente mergulhou. Esqueceu as falhas do destino, as incertezas, as palavras não ditas. Todas as suas ideologias agora faziam sentido. Aquelas sobre a verdade, a intensidade, a vontade como ser supremo.

Mais um trago de sua violenta paixão. Mais uma lança fincada em seu peito. Mais um pouco de loucura e o dia amanheceria. Sim. E na sua voz pôde ouvir o som da despedida cruel, eterna, certeira. Então veio o pranto, a tensão, a mais terrível sensação e o cessar da melodia insana.

Correu em direção do desejo e esperou pelo melhor. Até que seus fios reluziram novamente. No fim da noite. Quando menos esperava. As palavras estavam ali escritas. O mundo girou e tudo mudou mais uma vez. Finalmente o ciclo angustiante se fechou. O outrora pareceu morrer junto com o som de sua voz. Pois há silêncio sim, porém coberto de ações e sentenças perfeitas.

Agora o cinza escorreu de sua vida. Agora a ventania encontrou-se. O pranto secou, as marcas do passado se apagaram e tudo é recomeço, de um novo ciclo, de doses generosas de concupiscência, de delírios infinitos, dos novos horizontes que surgem a cada pôr-do-sol e nascer do dia.

Deita em seu olhar que devora todos os segundos, esquece as regras sussurradas, deixa o vento, o tempo e o destino incendiarem os caminhos que se cruzaram e aumenta volume da doce sinfonia descoberta.


segunda-feira, 15 de julho de 2013

O despertar

  Silêncio. Já é chegada a hora de emudecer mais uma vez os gritos de paixão que ardem em seu peito candente. Sim. Não há gesto ou palavra suficiente.  Sim, trancafiou o drama ardente que perseguia seus passos. Isso para encontrar mais doçura e menos desilusões. Isso para não repetir sentenças errôneas do passado. Isso para que o vento chegasse e passasse, sem destruir os cálices sagrados e escolhidos tão puramente.

 Contudo, seu destino está marcado em brasa. Não há caminho ou solução concreta, correta. Em algum momento seus sonhos se desfazem, a neblina domina as horas, o cinza se torna fiel e o pranto inacabado sela pacto com a sua existência.

Por isso, o som se finda e a perfeita melodia é arrancada do seu presente. A despedida incerta causa ainda mais dor e enferma luta para não se entregar de vez aos devaneios, para não recomeçar a viver o infeliz ciclo que já a aprisionou num outrora recorrente. Aquele que acorrentou a mente e a fez pular de todos os precipícios.

 E todas as frases foram proclamadas. Não foi por falta de aviso, mas justamente o pedido contrário acabou por trazer de volta o desatino, a desmedida. Um vendaval, daqueles que apenas seus filhos podem reger, se aproxima fortemente. Enxerga os mares revoltos, os céus que desabam, a calmaria que se acaba, após a insistência em acordar aquele monstro trancafiado na torre mais alta.

 Ainda que seja tão clichê, apenas a princesa silenciosa possuía a chave e, na sua bela insistência em devorar a vida, abriu a pior porta que poderia. Porém, o horizonte surgirá. Os dias passarão. O tempo escorrerá. As dúvidas secarão e, assim, todas as respostas virão. Independentemente de qualquer descoberta
há apenas uma conclusão certeira. Seguirão. Todos. Caminharão em qualquer direção, mas irão caminhar. Respira, suspira e desperta outra vez para recomeçar.