domingo, 30 de maio de 2021

Passarinho

 Era primavera. Ébria e confusa, custava a entender quais eram os próximos passos para sua jornada. Então, decidiu partir para a aventura mais insana que já viveu. Entre abraços e sorrisos, acabou por se encontrar ao lado de uma paixão inesperada. 

Demorou para perceber o que estava para acontecer, até que seus olhares se encontraram e a festa se fez em seu coração. Depois, não conseguiu mais escapar daquele sentimento. 

Como se desfazer de uma sensação tão forte e rubra? Como recontar os dias, agora, em seu castelo de solidão? 

É bem verdade que tentou trancafiar essa história no baú mais profundo e enterrá-lo para todo sempre. No entanto, o guardou dentro do coração e ele insiste em emergir, quando os sinos tocam e a noite não cessa. 




Cada instante daquela madrugada de celebração persegue seus dias e as fantasias sobre o que poderia ter sido continuam a ressoar na mente e na pele. 

Se não há mais retorno ou solução, por que seguir com os pensamentos nesta canção abandonada? Se não existem mais chances, por que não esquece de uma vez qualquer recordação do seu beijo? 

Não existe resposta aqui, somente a espera e o tempo. Somente o aguardo das novidades do destino. Ou, tão somente, a resignação e a compreensão de que as respostas já existem e ela apenas precisa respirar fundo e soltar de vez qualquer migalha de esperança de um horizonte resplandescente. Contudo, há muito por vir. 

Ainda que a noite fria e cheia de embriaguez reste somente na memória, ela existiu. Aquele momento será sempre eterno e o manterá cravado na alma até o derradeiro suspiro. Por fim, pode voltar para a sua negação costumeira, fingindo que o sol já se pôs e agora é a hora da alvorada cintilante. 


quinta-feira, 13 de maio de 2021

Solar do júbilo

 



O sol não habita nela. Não, ela é o próprio sol, que ilumina o seu coração, que quer gritar a todo instante que a paixão se faz presente. Agora, embebida de outro tipo de sentimento - um menos ganancioso, é bem verdade -, deixa florescer todas as emoções necessárias para se construir um sorriso.

Quando foi a última vez que sentiu um pertencimento tão absoluto em uma melodia tão harmoniosa, porém sem caos? Talvez, nunca houve tal momento em que o encontro se enlaçou com o destino e se fez presente na hora certeira. Talvez, seus pensamentos estejam afetados pelo sentimento progressivo que se encaminha em direção do infinito. 

O que sabe, no presente momento, é que as pupilas dilatam e o pulso acelera, numa mínima lembrança de sua presença. Depois, respira fundo e tenta recordar do seu beijo. Este que mescla ternura e voracidade. Este que encanta e afaga. Este que se faz múltiplo e liberta a aura em formato de prosa. 

Cada canção ressoa de uma maneira. Esta, a de hoje, tão florida, parece várias em uma só. Por isso que vibra tão profundamente. Seus passos cruzaram com os seus e todo o resto se desfez em água cristalina. Esta que banha o corpo em véspera de desespero.

É porque a sua existência já faz a sua mais encantadora. É porque seus lábios são doces e inebriantes. É porque suas mãos tocam as suas e reconhece toda a complexidade de dividir o ar com ela. Ao seu lado, todas as fadas dançam e permitem a sua entrada. Todos os sinos ressoam. Todas as criaturas celestiais abrem os portões de sua morada e proclamam a permanência do júbilo eterno. Ao menos, enquanto está ali, na partilha dos minutos corridos. 

Mas, não deseja terminar esta escrita singela. Poderia escrever para todo sempre. Poderia cantar e contar para cada parte do Universo que a ama e todos os significados que esta sentença possui. Contudo, por hoje, suspira e se alegra em saber que o amanhã virá e o Tempo será justo, selando o reencontro tão esperado.

sábado, 8 de maio de 2021

Ela, que é feita de vendaval




O vento soprou em seus ouvidos mais uma vez. De mãos dadas com o infinito, obteve as respostas para as suas perguntas. Depois, se derreteu em lágrimas, mescladas com sorrisos. O pânico abala, mas também recarrega as energias. Em seguida, recorda do seu sorriso e a existência se justifica. 

Quando é a primeira vez que se descobre a paixão por alguém? Quando a madrugada e o tempo não são o suficiente para despejar todo o afeto que mora dentro do peito? As horas são finitas e a sua partida soa injustificável. Mas, pela necessidade da ida é que tão mais saborosa a presença. Entre dilúvios, melôs e pedidos, a realidade é a mais cristalina e doce de todas. 

Se o pedido da permanência foi concretizado, foi para que pudesse pertencer um pouco e caminhar, lado a lado, de qualquer maneira que fosse entregue. E quando vislumbra seus olhares tão profundos e verdadeiros, tudo se esvai e é somente júbilo e coração acelerado. Quando os seus braços se abrem, todos os oceanos jorram nos pés e os rios cantam em festa. E é por nós, para nós, que os pássaros entoam canções e o vento diz que sim. 

A ventania que habita sua pele roga pelo reencontro e confere a permissão necessária. Ainda, há o toque da brisa. Este que também disse sim, numa manhã um tanto sombria. Cada frase proclamada é apenas de confirmação. “Vá. Seja feliz. Não olhe para trás. É no hoje que se faz festejo e poesia”.

E foi. E fez. Somente.