domingo, 22 de dezembro de 2019

Enquanto espera...



O céu desceu para que pudesse subir e comungar dos cálices cintilantes, que reluziram diretamente em seu coração. Depois, viu o mundo explodir e o horizonte se perder em chamas. Quando foi que seu sorriso apagou e sua voz deixou de ser terna? Quando a importância da sua presença se findou? 

Segurou-se no topo da torre, é bem verdade. Ao lado de cavaleiros cinzentos e damas possuídas de melancolia, entregou-se com fé para os passantes, buscando evitar o inevitável. Ainda assim, poderia recorrer aos lábios suaves que cantavam em busca do amanhecer certeiro. E esperava que o regresso fosse o resultado, semelhante as águas que banham seus passos, enquanto a lágrima verte pesada. 

A dúvida, no entanto, seria escárnio no outrora. Agora, não. Agora é lonjura, descaso, rispidez. As almas se separam e tudo é pranto seco engasgado e sufocado. Então, fecha os olhos e implora que o vento traga a princesa conquistada novamente. Suplica aos céus que a doçura de sua boca encontre a sua. Pede com toda vontade existente no mundo: Volta! 

E se isto ocorrer, a madrugada será festa e os dias serão mais ensolarados. Porque gargalha enquanto suspende a respiração. Porque seu coração estilhaçado sofre por sua ausência. Porque é tola o suficientemente para confessar o inconfessável: o ritmo de seus sonhos está alinhado com o de seus sentimentos. Sim, é de amor completo que está tentando tratar. Mas, deseja correr para encontrar uma solução para algo suave, porque são sinceras suas sentenças, assim como o abandono da outra.

Agora, é vagar pelo infinito, pelas correntes de dor, até que a tenha em seus braços mais uma vez. 



domingo, 10 de novembro de 2019

Sem sombras

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Ela estava dormindo. Sonâmbula, perambulava pela vida, sem saber o que de fato estava acontecendo. 

Acordou, de repente, e todo o mundo perdido e vazio despertou em seus olhos. Agora, a festa atropelou sua existência, junto com os sonhos, com os destinos torpes e a voz que pede para seguir. A onda violenta de paixões incendiou os seus passos e lutava para sobreviver ao afogamento do cotidiano perfurado.

Há, muito obviamente, a lacuna do infinito, deixado em lágrimas. Assim como a fumaça que havia se despedido e agora retorna para cobrar sua presença. Mas, a verdade é que não deseja mais ser a menina da varanda. Não é mais menina. Faz tempo. Procurou tanto se encontrar, para apenas perceber o quão longe queria estar.

Queria poder fugir no amanhecer. Para outros destinos. Outras fantasias. Outras partilhas. Porém, quer seguir nos rumos conquistados. Aquilo que é tão seu e absoluto. A Rainha rubra que corre enquanto o vento devasta todo o caminho de quem a cruza. Deseja possuir o que habita em sua mente somente, mas já não sabe qual é a resposta correta.

Quando se tornou dúvida? Sabe aquela que criticava? Talvez não. Contudo, se procurar lá no passado não tão longínquo é possível desvendar as peças necessárias para finalizar esta canção. Ou silenciar os versos amargurados. Mas, não é sobre melancolia, solidão ou amargor. Nunca deveria ter sido. E foi até não poder mais. Até que abriu o coração petrificado e buscou moldar cada pedaço seu para entregar para ela toda sua felicidade. 

Sabe quando negou o caos? Logo depois disse sim. Depois não e foi sim novamente. Nessa certeza, engoliu todas as suas verdades e virou outra. No despertar, realizou que sua face real já tinha resquício do outrora rasgado. Ela veio e deixou um pouco de seu fel em sua pele. Por isso, já não sabe. Por isso, quer queimar todas as sílabas e frases que passam por sua mente. Porque as recordações cravadas na aura lutam para lhe contar que não pode mais seguir. 

O retorno das sinfonias proclamam as sinceras sentenças. Não pode. Nunca poderá. No entanto, precisa escolher. E que escolha e faça o que for para se feito. Até o fim. Até o último suspiro cravado com seu nome. 


domingo, 3 de novembro de 2019

Entre o fim, o meio e o começo


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O pulmão pesa. Por que insiste em tocar a mesma canção novamente? Seus dias estão contados, assim como as cinzas dos seus olhos. Já não pode mais sentir, repete para seu coração mais uma vez, suplicando que ele a escute. Sua alma partiu para uma estação nebulosa, sem sinos, sem flores. Petrificou o sangue, que apenas jorrou para lembrar que sinfonias são dores incendiadas.

Foi, porque estava exausta. Abandonou a certeza de que daria certo. Jamais conseguiria celebrar aquele céu em tempestade. Nunca esteve destinada aquele abraço torpe, para aquele sorriso falso. Jamais lhe entregou uma gota de verdade e suas lágrimas secaram, seu corpo desfaleceu. Quase literalmente! E precisou reunir todas as forças que possuía para dizer adeus, sem olhar para trás. 

Porém, não aconteceu apenas assim. O mar invadiu seu peito e viu um horizonte distante cintilando. Numa noite inesperada, conseguiu gargalhar e vibrar como naquele outrora perdido. O que ocorreu? Repetia isto por horas, buscando compreender o que o destino queria lhe mostrar. Encontraram-se e não pôde disfarçar as emoções que chegavam, enquanto o mundo girava e a cabeça também.

Mas, o que será dela agora? Seus dias serão pó? Suas metáforas irão se esvaziar? Porque o caos veio, assim como a batalha vencida e o oceano jorrando em seus pés. Respira e traga seu veneno, que se transformou em tortura. Quem seria ela neste momento? Quem será? O amanhã é incerto e ficam as dúvidas, os clichês e um resquício de candência. Este resto que lembra para sua aura que ainda há um pouco de brasa para o recomeço.


domingo, 27 de outubro de 2019

Cantiga

Resultado de imagem para sabiá Não foi por acaso. Era destino. Sabia. Assim que fitou seu olhar reconheceu que mergulhava em mares revoltos, profundos, aprisionantes. No momento em que descobriu, respirou. Queria fugir, relutar. Mas, não seria possível. Foi de tragos infinitos que sua alma foi consumida. Afundou-se no mel, no céu estrelado e em todos os clichês que havia guardado em um baú eterno de lamúrias.

Agora, já não era mais nada. Era tudo em meio ao pranto, meio riso. E beijos e a falta de lucidez. Pois, o dia amanheceu e reconhecia, é bem verdade: os pássaros abençoaram seu caminho outra vez. Agora, é silêncio, caos, oceano, incêndio não mais amargurado. Não, não quer mais falar sobre derrotas e dores. Jamais quis, porém já não se recorda o que foi no outrora.


A sua voz ainda reverbera em seu peito. A sua respiração também. O último fitar de despedida mais ainda. A reviravolta. O corte para o novo. Ela é isso.O pulsar das horas, o fazer temer, fazer vibrar. Contudo, o talvez seja por demais doloroso para tentar. Ou, talvez já tenha pulado e seja um tanto tarde para os pensamentos da madrugada. Mas, segura as chaves amaldiçoadas. Ela aprendeu, com a outra, a deusa, a esconder o cadeado, bem trancado. Jamais irá crer outra vez. Então, que seja. Que queime de uma vez logo. E esqueça. Ou faça festa.

Já não importa a escrita ingênua, porque viu. Ele cantou e foi. Para todo sempre.

domingo, 15 de setembro de 2019

Ein anderes Datum





Hoje, amanhece o dia porque sabe. Hoje, beija porque sabe. Hoje. O hoje é tão cheio de incertezas que gargalha no infinito. Nunca existiu a possibilidade que desse certo e já sabia. Desde o primeiro suspiro de desdém. E odeia, neste exato instante, escrever. Já não conhece como. Desaprendeu e foi nas incertezas. Com certeza, foi nelas. Nas incertezas.

Seu coração foi consumido de fracassos. Agora, espera os mesmos comportamentos. Como poderia ser diferente? Foi de desgosto que seus amores foram construídos. Foram das chaves, das torres e dos pássaros. Aliás, estes sempre cantam. Esses malditos pássaros. Eles entoam seus cânticos, no júbilo ou no mais atordoante lamento. Foram neles que deitou. Cantarolavam, não foi? No último despertar da aurora. O sol nasceu, não é mesmo?


Infelizmente, talvez, mirou nos seus olhos e já sabia que não existia muro que a impedisse. Não importava mais que sua sinfonia havia naufragado. Porque ela era sereia em meio ao caos. Esse maldito caos daqueles que nasceram no décimo primeiro andar. São os olhos, não são? Seus pensamentos candentes miram no onze. Sempre foi sobre esse número, não? Como não conseguia enxergar?

Resultado de imagem para anime balançoDesde seu primeiro suspiro sua voz era choro. Somente ela chorou. Em um infinito de possibilidades. Aquela que a acompanha seria destinada a fortaleza e ela seria fraqueza. Por isso se tornou forte. Não tem mais cantiga que possa salvar seu coração de pedra. Já foi machucada e destinada a derrota, lá, na varanda. Você estragou seu coração puro de menina, repetia, enquanto ninguém se importava. Ou era o que preferia acreditar.

Porque suas farpas machucam. Se foi ferida em batalha, nada mais justo do que sair perfurando os corações desavisados. Com seu charme ébrio, ela infiltra seu veneno por toda parte, porque já foi outrora contaminada pelo devastador engano do desassossego. Ela foi possuída por trevas e desde então somente dor lhe foi entregue e dado. Não há retorno ou salvação.

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Foi livre, contaminada pelo gosto gasoso de coca-cola, pelas noites de conhaque, pelos dias de vento que batia no rosto, pelo amargor de uma viagem, pelo tom de despedida em cena, pelo amor incondicional, pela rejeição coberta em mar, pelas exigências inalcançáveis, pela dose de perdição. São degraus. Apenas mais e poderá silenciar sua dor.

Mas, nunca irá encontrar o que procura. Porque seu ciclo parou na promessa. Maldita promessa! Essa, a do suspiro. Das Versprechen ist falsch! Immer!

segunda-feira, 8 de julho de 2019

Pequeno Espasmo

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Alguns vazios jamais se calam. Porque o tempo não volta e os mares já não são mais os mesmos. O outrora é tão distante que o sol já se põe distintamente. 


Os sorrisos secaram junto com o ar de novidade. Agora, o caos é fel em sinfonia incendiada e a memória é embalo da morte da renuncia da jazida da serenidade. Os símbolos intercortados anunciam a derrota das suas certezas, bem como as chagas de sua devoção.

Foi sentada ali, naquele balanço, que conquistou o mundo em uma respiração. Foi olhando por dentro das manhãs que obteve certeza que pertencia à noite.

Aquela da varada, das cinzas, da fumaça, do regozijar de espasmos de júbilos. Depois, a melancolia agarrou seus braços e não mais soltou. Qual seria o objetivo de abrir os olhos sem a necessária verdade no presente tão remediado? Qual fragmento de suspiro ainda cabe para formar o verso impuro e solidificado? Quantas vezes irá precisar pular para que em prantos prometa seguir rumos novos?

Suas repetições são infindáveis, assim como o corte seco na garganta e o nó que se desfaz a cada olhar gélido. As substituições das palavras não reparam as melodias que traziam ritmo e compasso ao coração. Chega o momento de cessar, pois a melosidade é um tanto intransigente e as luzes irão se apagar para que possa fazer festa em seus passos sombrios, em sua solidão demasiada. Comemora! Jamais irá retornar. Nunca conseguirá alcançar. Este Tempo não é para ela. É para outra. São para os outros. Em uma sintonia diversa, em uma alegria perversa, nos céus purificados de dor. 



quarta-feira, 30 de janeiro de 2019

Schwert


Já perdeu a lucidez faz tempo. Não lembra ao certo quando foi. A progressão de sua tortura silenciosa se alastrou em meio ao caos. Por isso, foram incapazes de ouvir e resgatá-la. Ou, assim prefere acreditar. Em suas madrugadas, agora não tão mais longas, engole seco e o gosto de sangue chega aos lábios. Quando o amargor superou o seu desejo de viver? Ainda consegue lembrar-se dos dias iluminados de pó, de varanda e fumaça, de ebriedade e fantasia.

Era porque os pássaros cantavam e entoavam canções de amor. Era porque pensava que sabia por qual caminho seguir. Era porque ainda não havia descoberto como é tortuoso pisar no chão incandescente e respirar o peso das manhãs. Seus sopros se baseavam apenas em sinfonias de júbilo. Pouco em sua trajetória tinha sido de dor. Claro que avistou montes de poços profundos. Desde muito cedo  viu em outros olhares o que agora mora no seu.

Não adianta continuar escrevendo. É simples demais. É intenso demais. É risível. Foi ela mesma quem disse, não foi? A dama ensanguentada. "Você aguenta pouco. Queria mesmo era ser você". Disse, enquanto o líquido rubro escorria na pele. Ainda podia escutar seus gritos. O tempo passou, mas os urros vindos da perfuração ainda ecoam nos ouvidos dela. Então, não pode sofrer. Não lhe é permitido. 

Sabia? Foi o sorriso que lhe foi ensinado. "Balance a cabeça, acene que sim ou que não. Sorria sempre que puder". Nisso, a sanidade evaporou por seus tristes poros e já não sabe a quem pedir socorro. Já está rouca de tanto que implora por ajuda. O horizonte já parte e somente existe como se encaminhar para o final da história. Mas, não é isso o que quer. Não exatamente. Ainda deseja escutar tudo, sentir tudo. De uma vez, mesmo. Porém, de forma indolor.