sábado, 29 de outubro de 2011

Agora Sabe

   Duvidar. Relutar. Ser receoso. Num mar revolto de ser e jamais alcançar sanidade. Desejar sem ao menos saber se respira. Desiludir-se. Embriagar-se. Reconstruir o cotidiano repleto de confusões e incertezas. Vêm sorrisos, depois as chamas. Foram dias de eternidade completas. Ciclos e mais ciclos. Completos e regenerados. Sagrados. Refeitos.
    Sombras invadem o amanhecer sonoro e curioso. Despertar já é uma questão. Um questionar, na verdade. Cumprir. Dia após dia. Tarefas. Demandas sufocantes. O olhar. Sabe. Sabe e teme. Foi naquele mesmo abismo que se atirou que agora encontra a solução. Pergunta-se. Reflete. Já não pensava que seria dor, somente mar de prazeres.
    O jubilo escorre nas lembranças. Suspira e gargalha ao recordar. Descansa. Repousa e aproveita os raros instantes livres. De todas as obrigações. Reclamações. Satisfações. A boca. O vento. O mesmo lugar. O começo. O retorno. O fim. E cá está de novo em mais uma jornada. A solução. Redenção. A tempestade. Avança em pequenos passos para mais caminhos que se abrem a cada aurora. Que resplandece. Esmorece. Na neblina que jaz pacificamente na estrada da alvorada perdida. São combinações. Sensações sublimadas.
     Acalma-se. Adormece. Reconhece as sensações que permanecem. Espera. Aguarda. Surpreende-se com toda a paciência dentro de si. E deixa a luz reascender, lentamente.

domingo, 23 de outubro de 2011

Sopro

  Um grito. Um silêncio. Mais um pouco daquele gole de verdade derramada. Certezas. Impurezas. Raiva que dilacera. Transfigura-se. Decepciona. A covardia é o ato mais impuro. Talvez. Sempre em círculos. O mar. O vento. O sopro gélido das manhãs abençoadas. A face. À espreita. Envolta de pena e nada mais. Ponto. Final? Ainda. Depois. E um pouco mais.
  São as correntes. É a fala. A ação desaparece. Vê-se claramente o que é. A realidade. Os sinais de concretude. A vitalidade. Coragem. Força. Determinação. A juventude. Em muito. E também em quase nada. A correnteza traz as respostas. E as julga. Perde-se na ventania dos próprios batimentos da alma. Do doce amargar da solidão. Da falta. De um olhar que repudiasse e assumisse falhas diante do espelho. Buscou e encontrou.
  Nada faz nenhum sentido. Somente as palavras escritas enquanto respira. É o mesmo. Sinal. Chama. Paz. Retorno. Silêncio. Solidão. Angústia. Ciclo. Verdade. Regresso. Lembranças. Passado infinito. Retalhando. Desfigurado. Perdido. Recuperado. Solto. Assim como a brisa ensurdecedora em seus ouvidos.
   Canto forte. Rima fraca. Olhares cobertos de tudo que já se misturou na terra. Desmedida vontade. Insegura. Provoca a madrugada que exclama que há pelo que se viver. E há mesmo. A pele. O anoitecer. O luar. A memória. O significado permanece. A sombra se desfaz. Vê o sorriso daquela garota que gostaria de chorar quando ainda era muito menina.
    A imagem não mente. É antiga, mas não mente. A alegria não estava ali. Acabou. Já não existe possibilidade de terminar bem. Misturou sentimento com texto, enquanto olhava sua velha foto. Continuar é impossível. Restam vestígios de lucidez e a emoção bate agora em sua porta. Virou clichê. Bobagens à toa. Engole sorrisos. Mágoas. O ontem. O possível amanhã. E o chamado para atrapalhar outra vez. Não deve ser muito complicado compreender que para cada sensação transcrita é preciso foco.
     Não há mais solução. É preciso parar. Em qualquer momento os sinos tocarão e desvanecerá em cinzas. A sua luz se estingue. Vibra. Soluça. Ainda tonta dos desejos esquecidos. Quase. Levanta-se. Ergue. Degusta mais um pouco da fumaça e deixa que o vento a fortaleça.

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Um grito. Um silêncio.

  Há tanta raiva que inflama os pulmões. Uma vontade enorme de gritar. São tantas ordens, leis, sentenças. Era mais fácil inutilizar sua alma e reconstruí-la. Não existe forma de moldar-se para agradar cada pessoa que importa. Porque ainda tem os que não importam e clamam também. É desnecessário, cruel, impiedoso. A certeza de que a felicidade é impossível machuca infinitamente.
   Solidão é seu futuro. Pois se as setas apontam em direções opostas o rumo é somente desgosto. Luta. Sim. Bravamente tenta não perder os que a cercam, mas só encontra derrotas. Fatalista? Talvez. Só dúvidas pairam enquanto escreve. Tormento sem fim. E seus problemas de nada servem. São migalhas. Nada. Diante de um mundo cheio de misérias. E deixa a infelicidade tomar conta de seu coração. Por isso vem o tédio. Não sabe. A lança dilacera suas forças. A dor. O vazio. Um rumo lento e despercebido. Ainda há a nostalgia que insiste em aparecer em sua perdida mente.
   Se outrora foi belo, por que no passado não sentia tudo isto? Não aproveitou nem o antes, nem aproveita o agora. Palavras e mais palavras. E nada muda. Só os anos que passam. É a mesma vida. Outras faces.
    Corre. A menina corre desesperada. Sem rumo. Sem certezas. Só com o peito apertado e a fumaça para inebriá-la.
    Enquanto sorri, sua alma chora. Porque não há nada que a machuque mais do que o desdém. Arma letal, fatal para seu descompassado ser soturno.
    O vento vem sim. E ela deleita-se. São eles seus companheiros. E mais nada. Porque o caos a sua volta faz crescer um medo interminável. Quer não perder e é sempre deixada. Quer voar e não pode. A liberdade nunca chega. Os pedidos não são revelados. É a pura e cristalina verdade que sai de suas mãos. Agora. Neste instante. A menina quer gritar. Enquanto todos murmuram. Enquanto a vida passa. Não quer mais torres, cadeados, insistências, cobranças. Quer que desapareçam rancores. Quer implorar para ser ouvida. Mas, quando fala as palavras tolas afundam seus pensamentos.
   Suspira. Respira. Está tudo de cabeça para baixo. E sabe que sorrir e acenar é mais fácil. Porém, queria parar o tempo de vez. Recomeçar tudo. Reviver algumas coisas.
   Cada um que pede. Cada um que grita, briga e não enxerga. A sua força é disfarce. A mágoa é só de si. O vento é seu protetor. A madrugada seu consolo. A solidão é quem a persegue. A fumaça é a inimiga mais fiel, ainda assim necessária.
   Os dias passam lentos. A angústia é insensata. A vontade é esquecida. O retorno jamais alcançado. A promessa quase quebrada. A súplica não escutada. O dia que se aproxima. A maior certeza que não regressa. A paixão que se desvenda, talvez esta ainda seja um bálsamo. As faces. Rodando. Girando. Faces. Vozes que em sua frente repetem. Reptem. Repetem. Você não entende. Nunca poderá entender. Somente escuta. Engole o pranto. Continua. E assim que a última palavra sair, sorrirá. Enquanto o resto desaba, dentro de si.

Talvez, Virá

   Inspirada. Talvez. Um pouco de veneno escorre entre a fumaça soprada no novo amanhecer. Nunca fala de si. Da outra. De todos. São somente palavras jogadas ao vento para abençoar mais um dia. É quase nada. São delírios afogados num anoitecer gélido. Introspectiva aura que se esconde. Suspira. Apaga. Reconstrói. Só mais um pouco e o coração volta a disparar.
   Respira. Sossega. Deixa a alma lavar-se no translúcido mar revolto em chamas. Enlouquece. É necessário um pouco de loucura para limpar os devaneios do pensamento e das ideias futuras. Do caos desmedido. Das lágrimas que jamais virão. Da promessa que fez para si. E por ter feito não chegarão.
   Derrama as últimas gotas daquele frasco guardado. Ergue-se em direção ao futuro. Clama por uma resposta que tem certeza que nunca escutará. Não descobre. Acaba-se. Não solucionará nada. Viverá e ponto final. Não adianta querer quebrar mais uma incerteza. Todas virão. A ventania selou o pacto feito com ele. E na última lágrima derramada jurou e não nega. Jurou porque precisava. Jurou porque queria. Jurou e pronto.
    Agora enxerga a luz voltar. Seu corpo vibra e incendeia o espaço. Corre. Por sua jornada. Que se estende pela infinita alvorada do redescobrir quem foi e é. Sabe, agora, sim. Sempre soube e reprimia. Sorri. Dessa vez por vontade. Olha mais uma vez sua janela. E o dia vai começar mais uma vez...

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

What if I...

  Amarga. Sensata. Distante. Escuta de longe os clamores sentenciados. Foge. Escapa. Encontra na divina face o equilíbrio desejado. Sonha, procura, esquece. Partiu para a imensidão certa daqueles braços outrora seus. Murmura. Enlouquece. Vaga na concupiscência ardente.
 Amadurece. Traz um pouco de lucidez para si. Ácida. Gélida. Queima no calor da outra morte reconhecida. Delira. Perde-se. Encontra a solução um pouco despercebida. Amanhece. Retorna ao estado escolhido. Sem rubores. Sem promessas. Acalenta-se com o vento e recupera a madrugada em delírios.
  Reconhecido canto adormece angústias. Pedidos. Infinitos. Tensa. Trabalhos sem fim. Suspira. Outro gole de alegria e a jornada continua. Sorri. Relembra. Sente. Apagam-se torturas. Não ouve. Não enxerga. Só há neblina ao seu redor. Pensamentos, recorrentes. Verdades, seladas. Frio candente acelera a alma na bruma do desconhecido.
   Suplicante. Elevada. Na mais infinita madrugada. Surpreende-se com a sincera euforia. São os dias. É o nada. São horas. É o punhal certeiro da sorte. São as correntes quebradas. É a luz que incendeia a aura. São os momentos. É a clareza das ideias. São as canções. É a vida. São os olhos. É a fumaça. São os pássaros. É tudo que floresce na nova temporada. Do júbilo reluzente da mais nova salvação encontrada.