terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Jazida da Sinceridade

   Num tempo em que tudo estava perdido. Nada encantava. Perdia-me em melancolia. Contudo, havia quem me salvar. Foi ali, no lugar em que estava destinada a pertencer. Tudo começou, como eu já sabia, ali. No início, tudo era tão novo e reconfortante. Não existia melhor local para estar. Não queria sair.
    Sabia, no entanto, que estava num não lugar. Nada era meu. Lutava para seguir outro caminho. Desistir. Porém, o pior aconteceria. Uma paixão lancinante tomou conta da minha alma. A partir de então, meu propósito de me afastar daquele jardim ficou para trás. A vontade de estar do seu lado consumia meus dias e noites. Qualquer segundo que pudesse estar contigo me fazia largar tudo e todos.
    Acontece que eu não era a única a habitar aquela existência. Os outros. Olhavam-me com rancor. Com repúdio. No início não notava. Mas, neste instante, tudo é cristalinamente claro. Eu, que sempre estive ao redor de pessoas amáveis. Doçura e gentileza iluminavam as tardes. Porém, só continuo a escutar o quanto preciso ir. O quanto preciso abandonar instantes meus. Que na realidade não eram.
     Significo, sim. Quero sim. Acabem-se todos. Destruam-se em ódio. Em relutância. Em palavras sussurradas uns aos outros. Queimem-se. Ardam no mais profundo poço da ilusão de que me esqueço de cada murmúrio. Cada semblante. Cada dizer.

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Imersa em Palavras

   Com a mesma insônia de sempre fui salva pelas palavras que tanto amo. O engraçado é que elas sempre estiveram em meu vocabulário. Sempre as amei. Impressiona-me como alguém pode ter escrito o que, para mim, é a união perfeita de frases.
    O silêncio da madrugada. A fumaça escondida. E aquela personagem. Tão magnética. Tão cheia de emoções.  Angústias. Devaneios. Então, penso como todos aqueles que escrevem tem muito em comum. A ansiedade. As preocupações. As conexões feitas em cada linha. É sufocante.  Ás vezes torturante, porém necessário.
    Talvez, iludo-me vendo alguma semelhança. Talvez seja o que gostaria de ser. Ou quisesse viver tanto uma jornada assim. Contudo, o mais importante são as palavras. Cada uma. Uma atrás da outra. Formando infinitas frases. Dilacerando-me em cada sentença.
    Não sei ao certo, se autor e criação tem muito em comum. Existem situações em que nos afastamos completamente do nosso mundo para trazer uma história. Mas, há um estilo. Próprio. Que inflama a minha pele. Que contamina cada parte do meu corpo. Sou possuída pela concupiscência vinda das sentenças. Enxergo cada gesto. Revivo um passado não muito distante.
    Ao imaginar aquela janela. Aquela máquina. O beijo mais ardente de todos. E depois, aquele que eu sentiria. Que mudaria toda a minha existência. É um misto de sensações. No que leio. No que vivi. A cada página virada, as sensações transcorrem. Tudo se encaixa perfeitamente. E já sei de cor. A memória arrasta-me para o infinito prazer das recordações.
     Silêncio. Só escuto a minha respiração. Os olhos consomem cada linha. Sem ar. O coração dispara. Arquejante, lanço-me a mais pura conquista. Regresso a varanda e deixo a noite consumar o eterno fato desejado.

sábado, 19 de fevereiro de 2011

Luar



   A lua queima a pele intensamente. Os dias passam e só lembro-me dos sorrisos. Sua voz que me inebria. Seus olhos que brilham tanto. É tudo tão claro e simples quando estou do seu lado. O mundo se cala. Tudo gira. A brisa sopra suavemente.
   É tão efêmero, mas tão doce. Tão intenso. Quero que nada mais coexista. São os suspiros e os momentos partilhados que importam. O resto é singelo. Puramente esquecido. São tão sinceras as palavras. Tão honesta. Nunca fui tanto. E, apesar de estar me repetindo não me sinto desconfortável.
   Preciso dizer outra vez. A escrita transforma tudo. Quando os sentimentos são expelidos. Quando a lucidez é mais fraca e tão forte. Pulsante. Sem retorno. Agora, o amanhecer cinza se aproxima. Sei que voltará, porém a partida é incômoda. Seria mais fácil fugir contigo. Não mais voltar. Ser uma. Inteira. Como sou quando, completa, sinto teu beijo.
   Talvez seja boba. Afinal, acreditar que o amor conquista tudo é um clichê. É até ingênuo. Pois, é o que sou então. Entrego-me sem medo ao próximo precipício. A mais nova sensação de te ter do meu lado. É tudo tão para ti. Sem revoltas. Sem delongas. É e sempre será.
    Não mais apago o que é tão claro. Não mais me engano. Sem ilusões. Sem decepções. É fato. É cristalinamente concreto. É o possuir mais eterno de todos. É clamar, sem dor. É uma súplica sem perdão. Sem desculpa. O não. O sim. O dito e não dito. São olhares. Significados. Um pacto silencioso que fiz para mim. E que só à ti direi. Para sempre. Pertencer. Até o último respirar. Até que a vista se apague e não mais exista.

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Através do Sol

   Insônia. Vejo minhas forças transcorrerem em irresponsabilidades. É verdade que eu tento. Mas, não é o suficiente. Acometida pelos maus hábitos deixo o destino cuidar de mim. Porém, a insensatez é clara aos meus olhos. Ainda que tenha demorado. Chegou. A sobriedade da mente.
   Ao escrever penso em tantas coisas. Interligadas ou não. Sempre divago. No fim, quero dizer tanto e termino não conseguindo dizer tudo. Poderia falar do amor que sinto. Das novas expectativas. Da lembrança de um dom esquecido. Dos dias em que fui feliz ou não. 
   Como sempre, todas as recordações aparecem na varanda. Com o brilho das estrelas. Inebriada pela proibida fumaça. Por tantas regras quebradas. Por tantos dias ensolarados. Por músicas que embalam momentos inesquecíveis.
   São muitos. Assuntos. Temas. Porém, não importa sobre o que escrevo. O importante é que as palavras venham. E saiam. E se apaguem dentro de mim. Até que retornem. Perseguem-me. Eu sei. Elas correm soltas. Suplicam. Rogam por uma chance. Então, outra vez, regressam. Cumprem sua missão.
   Contudo, não para mim. Nunca será satisfatório. São tantas histórias. Minhas ou não. Deslizam. Translúcida é a certeza de que é uma necessidade. Talvez exagerada. De proclamar paixões. Denunciar derrotas. Permanecer num caminho. Correto ou não.
    Assim, aproximando-me para mais um nascer do sol. Quase o avistando. Com canções meticulosamente escolhidas. Sussurro. Cada verso. Desenho cada amanhecer. Com a vontade de desenvolver melhor as ideais. Tão soltas. Ainda que puras. Selecionando melhor cada opção. Agradando ou não.

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Breve Retorno

   Incrível como uma música pode levar o pensamento tão longe. Em um passado, não muito distante. Onde havia muitas esperanças. Cantava. E olhava para aquele sorriso. Tão efêmero. Mas, parecia tão eterno. Cada instante. Doce nome que ecoa na memória.
   Apesar de tanto tempo, ainda consigo respirar aquela sensação. O impossível. Instigava. Queria contar. Ser mais sincera. Se ao menos eu soubesse o que acontecia comigo. Porém, o melhor está em descobri o quanto uma fase pode marcar. Como cada etapa é fundamental para o crescimento.
   Queria alcançar seus sonhos. Entender melhor cada história. Mostrar o que sabia fazer. Orgulhar alguém que, no fim, desapareceu. Normal. Afinal, o ciclo da vida é assim. Contudo, o que mais gostaria é que tivesse a noção do quanto foi necessária a sua presença para uma parte de mim. O quanto fui feliz naquele período. Como me deu forças para não desistir.
    Na torre do castelo mais alto em que habitava nada me abalava. Nada me protegia ou me segurava. Mas, nos dias em que ali permanecia, os problemas eram deixados de lado. A liberdade era palpável. Pela primeira vez. E, ainda hoje, volto minhas recordações para tudo isso. Revivo. E, para sempre reviverei.

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Sozinha




   Olhando para tantas luzes. Tantas vidas. Pergunto-me o significado de existências. O porquê dos dias passarem. Das horas. O que é necessário. Quantas ilusões e derrotas acontecem. No mesmo instante, vitórias e alegrias. O quanto ocorre. O sol brilha diferente para cada um. As verdades são outras. As ideologias são diversas.
    O vento sopra. As estrelas estão ali. Cada minuto. Agora. Nascem. Morrem. Suspiros. Eternos. Ciclos intermináveis. Vício. Pensamentos. Soltos. Dilacerados. Repartidos compulsivamente. Cada palavra escrita. Soletrada. Novos significados. Repetições. Angústias. Soterradas em lamentos. Rancores tardios. Sem precisão.
    O templo da alma permanece encerrado. Até que não haja mais repressão. Arrependimentos. Não é de amor que falo. Mas, sim de uma fraternidade quebrada. Talvez. Não para sempre. Espero que não. Contudo, a esperança se esvai. O desdém incomoda. Fere.
    Após diversas batalhas vencidas. Após uma vida. Volto aos mesmos pensamentos. Em um mundo em que nada mais reage. Somente a bruma do anoitecer. O sono. Vence. Escuto. Tento não responder. Então, sem forças entrego-me a calma insólita. Abandono uma luta já perdida. E, pela primeira vez, espero.
      Espero, porque não há nada mais para se fazer. Pois, fui eu quem minou as chances. Quem se esqueceu de uma amizade tão natural. Espontânea. Divertida. Sem dor. Sem maiores esforços. Sem cansaço. Terminada está. Ou não.

sábado, 12 de fevereiro de 2011

Na varanda



   Meu pessimismo me incomoda. Ao enxergar tudo mais claro vejo que existem dramas desnecessários. Qualquer frustação me magoa. Saber aproveitar cada simples coisa que a vida traz não é fácil. Às vezes nos concentramos tanto nas derrotas que não sentimos o gosto eterno de uma doce vitória. Preciso disso. Deste sentimento. Por isso, conecto-me, neste instante, nos pequenos momentos de alegria que  posso ter.
   Com o fulgor ainda fresco. Recordo o sabor da conquista. De cada parte. As sensações são revividas ao cerrar os olhos. Ao escutar aquelas músicas. Ao caminhar naquela rua. Deitada na varada respiro buscando a luminosidade da lua. Candente toque enrubesce a face desprotegida.
    A escuridão se alastra na noite sentenciada. O silêncio invade este lugar. A mente não mais divaga. Sou levada ao exato momento que queria recordar. Todos os prantos são esquecidos. Deixados para trás. Agora, há em mim uma cálida emoção. Uma vibração incessante. Um contentar alarmante. Sem ar. Sem respiração que se aproxime. Consumida pela energia inquietante. Apaga-se tudo. Apagam-se todos. Recobro o que mais importa.
     Cambaleante vou em direção da aquisição renovada. Na mais bela e ardente pulsação caminho em direção do Olimpo. Sim. Vem a memória. As luzes apagam-se. A visão falha. O mundo desaparece. Então, penso em ti.

Insegurança

   Na varanda o silêncio percorre a madrugada cinzenta. Eu que busquei tantas mudanças, nelas me perdi. Já não sei quem sou. Mais uma vez, está certa. Mas, não uso máscaras. Ao contrário. Preciso tanto ser verdadeira que termino confundindo a mim e outros.
   Está tudo ali. A fumaça. A angústia. A solidão. Porém, transfiguram-se em ilusão. Negam o que necessito. Soterram-me de alegrias, para que depois, solitária, desvaneça-me em melancolia. Fato. Não sei a melhor maneira de viver. De sentir alguma coisa. De ter emoções puras. Contudo, avanço. Sigo. Ainda não é o bastante. Mas, quero seguir.
  Continuo carecendo de ajuda. De guia. Porém, sei que quando descobri serei completa. Finalmente respirarei. Sem mágoas. Rancores. Tempestades. Sem torturas e manhãs tristes. Com todos os sonhos possíveis e nada para impedi-los. Cantando para o luar. Deixando o sangue ferver. Pulsar. 
   Ao fechar os olhos, recordo cada crescimento.  Dolorosos. Lentos. Passado que clama pela verdade. Não sei ao certo qual é. Agora, preciso escutar aquela voz. Sim, ainda penso nisso. Como aquela voz me inebria. Porém, não quero só isso. Quero ser inteira. Eterna. Em todos os passos.
     Há uma fórmula. As palavras sufocadas. Desejo. Sem ar. Confusa. Silencio mais um dia. O sol despe-me do furor. E as lágrimas sempre vêm. De uma maneira ou de outra.

Reencontro

   Nesta noite, as lembranças pulsam vivas na memória. Cada sorriso e gesto. Cada semblante. Tão genuinamente verdadeiro. Cada dia sinto mais. Consigo mostrar mais quem sou realmente. As músicas me fazem enxergar uma jornada. Incrível como um sentimento pode crescer e mudar tanto.
   A insegurança ainda existe. Mas, é uma sensação completamente diferente do início. Luto a cada amanhecer para não desapontar e entristecer. Para não pensar em meus defeitos. Tantos. Todos os minutos rondando minha mente.
   A inspiração falha. Por um tempo não sei o que escrever. Preciso parar, pensar. Respiro. Olho ao redor buscando alguma resposta. Não sei ao certo o que procuro. Felicidade já tenho. Não me falta. Ainda assim, as emoções não fluem completamente. Estou perdida em mim mesma. Talvez eu precise me conhecer melhor.
   A maior questão é que os problemas não estão nas pessoas que me cercam. E sim em mim. O mais importante de tudo isso é que sentir algo de verdade é complicado. É tortuoso. Quase nunca acontece. Porém, agora posso afirmar perfeitamente que fui alcançada.
     Desta vez, falo do meu pedestal. Quase ninguém nota. Contudo, não é uma missão simples alcançá-lo. Não se for real. É preciso percorrer um longo caminho. Testar-me. Até que, no final, possa dividir comigo os dias. As noites. Cada minuto. Cada suspiro.

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Quarta



  Ali, após nascer, naquele instante, fui consagrada ao vento. Após isso, a ligação foi feita. Tão forte. Incalculável. Eu deveria saber. Após sua morte, esses dias não seriam fáceis. Mas, não imaginava que a dor iria ser tão grande. Precisava ouvir seus conselhos e ensinamentos. Escutar cantigas. Ver o luar incidindo sobre o mar.
   A saudade é cruel. Não é qualquer uma. É a mais inalcançável de todas. É a impossível. Nunca mais terei. A doçura dos abraços, a voz me ninando, as ideias tão fascinantes. Dilacero-me. Consumida. Sem respirar. Sem vacilar.
    O abandono tão repentino. Tão sofrido. Que não passa. Nunca. Permanece. Como uma doença. Incurável. Inconsolável. Eternamente triste. Então, quando o sol raiar, em todas as quartas-feiras existentes, vou sentir o vento. A música soprará em meus ouvidos que o tempo continua a me arrastar. As palavras. Tão ditas. Jamais deixadas de lado. Segui-las. Talvez, até inconscientemente. Vivo. Quero que cada minuto valha a pena. Como ele fez. E quero fazer.    
       O mais incrível é que momentos do passado surgem. Lembranças  outrora renegadas. Voltam. As lágrimas não cessam. Retornam. Queria que as horas parassem. Que o mundo desaparecesse. E ele regressasse. Para todos. E o caos, o vazio, os tormentos sucumbissem. Até que o último suspiro viesse. E aí sim, eu estivesse preparada.         

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Vitória!



  Escolhas. Falar sobre elas já é um clichê. Mas, abandonar um caminho para seguir outro completamente diferente é algo que não se pode deixar de falar. O engraçado é que o destino gosta de testar. Porém, a questão não está aí.
  Ao seguir esta nova estrada sinto uma vibração que corre em meu corpo. Que pulsa. Avassaladora. Pela primeira vez, não há dúvidas de que pertenço aquele lugar. Aquelas histórias. Que viverei. Intensamente. Que sonhei em presenciar. Conhecer um mundo tão incrível.
  Claro que existem os impecílios. Conflitos. Desgostos. Contudo, em todo lugar acontece. Não importam as lágrimas e desgastes futuros. O importante é o presente. As emoções. As palavras. Ditas. Fazê-los acreditar. Entregar-se de corpo e alma ao que se ama.
   O vento, as árvores, os pássaros. Todos eles respondem o que quero ouvir. Ali, no dia mais ensolarado de todos. Sou quem sou e não à toa. Outrora que se apague. Agora, é saborear. A vitória. Um dia esquecida. Rejeitada. E por pouco não abandonada.
     As falhas já não me interessam. O suficiente é reconhecer que o tempo foi necessário. Ele sempre é. Agora, retomar é o que preciso. Com calma. E, no fim, sorrir. Para um novo horizonte celebrado.

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Tarde

   O caos nem sempre é uma boa notícia. Claro que sei que ele pode aparecer para depois purificar as insanidades. Mas, não há dúvidas de que em mim ele não cessa. Ao redor, sempre o vivenciei. Porém, agora é diferente. Uma onda de temor cerca meu coração. Dilacera as alegrias. Domina qualquer sorriso.
   Perdição. Súplica. Mágoa. Confusa. A insônia esquecida retorna. Sufoca. Preciso ouvir sua voz. Que diga que tudo ficará bem. Queria ser madura. Ainda preciso que tomem conta de mim. Não sei ao certo o melhor caminho. Tormento. Prato. Dor. Morte.
     Destino. Ele me puxa para um mar de revolta.  O medo repudia a jazida recobrada. O ar some. A transparente neblina torna-se turva. Inebria o sentido do ser. Do passado. Dos gritos e lágrimas. Vazias. Sem sentido algum.
       O silêncio tardio encobre o horror. Interrompe melodias. Sacrifica a doçura conquistada. Sem retorno. Sem remediações. Silêncio. As horas passam. As reais sombras agarram-se ao pudor. Cravam sementes de ódio. Recuperam a imensidão abalada. Cantiga de perda sussurrada. Madrugada incerta de uma tortura que virá.

sábado, 5 de fevereiro de 2011

Breve Escárnio


  Mais uma vez. Não há como não ser depressiva. Há um mundo lá fora que dilacera sorrisos. Claro que existem os momentos doces e alegres. Eles realmente estão em algum lugar. Mas, mesmo a minha querida amiga não gostando, todos os dias uma nova decepção aparece.
  Escrever sobre a dor flui. Não sei ao certo que palavras usar ao falar de felicidade. O pior que é sempre assim. Estou ali, estagnada em afirmações. Então, surge aquela pessoa que aparece para me tirar do conforto. Que me faz lembrar que posso seguir. Ir além.
   Não é tão fácil como pensa. Há um mar de angústias, há o ódio, a solidão. O temor. Porém, vivo intensamente. A risada ecoa. Os dias são lindos e ensolarados. Sim. Tudo isso acontece. Contudo, como se inspirar? Ainda não sei. Descobrir é uma nova meta. Uma nova razão para continuar. Persistir.
    Repetindo. Continuo. Talvez. Mas, há em mim a certeza. E também negações. Até lá, tudo será igual. Inclusive o final desta sentença. De cada letra. Será mais uma vez. Outra vez, uma história já contada, da mesma forma. Então, cara amiga, firme caminharei. Com versos mais jubilosos para ti.

Eternidade


   Cansada de tantos julgamentos, silencio o tédio. Acalmo-me diante das inseguranças. Abandono ilusões. Acredito nas imperfeições. Mas, já não tenho problemas com isso. Barulho ao redor. A madrugada escuta cada passo. Delirante de amor prossigo em situações exageradas. 
   Cálice sufocante do grito lancinante. Candente paixão inflama a noite acorrentada. Porém, já não como outrora. Arde um outro tipo de chama. Ali. Estendida sobre o pedestal mais iluminado de todos, entro em êxtase. Suplico pela alvorada recobrada. Pela manhã alucinada.
   Depois, há o retorno da realidade. Que puxa. Que queima. Porém, não de forma prazerosa. Dilacera cada olhar encantado. Os dias. O tempo. Arrastados. Sepultam as jazidas renovadas. Relembram horizontes alcançados. Agora, tão banais. Tão esquecidos.
    As horas. Passam. Lentamente. Sobre cada neblina. Cada sombra. Cada minuto de relutância. De encanto. De sublimação. Resta a espera. Não daquela pessoa. Essa não é mais tão dolorosa. Agora, aguardo o regresso de quem fui. Das vontades. Das razões. Tão certas. Tão inevitáveis. E, no final, a lua, pálida, encobre a verdadeira face, escondida sobre uma doçura inexistente.

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Canção

   Calma. Sobre o luar candente suplico pela paciência. Vazia. Imatura. Cada gesto é julgado e analisado. Dor. Dilacerada em delírios. Sacramentada em devaneios. Acorrentada. Coberta de incertezas. Cobranças sopradas no ouvido. Queimam. Devastam a tranquilidade. O sabor perde-se em desgostos.
   Gritos abafados. Canções repudiadas. Beijos sepultados. Naquela noite entorpecida encontrei o que procurava. Porém, não há mágoa. Mas, as palavras ecoam. Transfiguram o sentimento recorrente. Verte o cálice elementar da conquista. Expulsa a fraternidade. Afasta a amizade. Exigências. Repetidas. Cristalina sombra. Que se alastra até a última sentença. Que amaldiçoa cada anoitecer.
   Quebram-se encantos. Dilaceram máscaras. Enlaça o rancor. Repudia a mentira. Não há uma pessoa. Existe um mar de pedidos. Clamando para serem atendidos. Assim, alguém termina contrariado. Afinal, alguns vão de encontro com outros.
     Confusa. Triste. Talvez. Caminhando em direção da perdição, sorrio. Com a face iluminada pela escuridão. Com a aura rejuvenescida. Soturna. Sensível. Cálida sensação afaga o peito. Supri qualquer questão. Ardo. E, no fim, deixo tudo tomar conta de mim. E esqueço qualquer julgamento. Qualquer tormento é deixado para trás. Vivo. Respiro. Continuo.

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Segredo

   Silêncio. A madrugada da sorte dorme. A alvorada cintilante da memória recobra sentimentos vazios. Soturna lembrança do ser desvanecido. Da esperança amargurada. Da conquista vazia. Agora, ao olhar para futuro vejo cobranças. Sentenças e pedidos infinitos. Todos clamam por algo. Amor, crescimento, compreensão, inteligência, disciplina. Tanto.
   Sem dizer palavra alguma reflito em busca de respostas. Como atender aos pedidos. Como saber lidar com cada passo novo. Com cada descoberta. Como não se inebriar, se encantar. O mundo está aí, cheio de alegrias. Fantasias. Canções e sorrisos. Mas, as vozes permanecem. Nas sombras. Puxando a alma para o poço mais sangrento de todos. Para a escuridão. Que se alastra em cada suspiro recuperado.
    A amargura tem uma razão. A falsa imaturidade também. São pequenas luzes que sossegam o espírito. É a esperança de sentir que faço parte. Afinal, num passado não muito distante fui repudiada pelo contrário. Assim, a dúvida resta. Mortifica as manhãs. Não saber ao certo como se comportar. O que dizer. Talvez o problema esteja no medo da solidão. Por isso, o ajuste precisa ser feito. Não posso mais fugir. Não há como ser o que todos necessitam. Falharei com alguém.
     Agora, na gélida imensidão dos olhares, recuso a abandonar a aura da minha sinceridade. Porém, vou esconder-me sobre a face inócua. Sobre a infinita certeza de uma ingenuidade irreal. Calada. Dizendo apenas o necessário para ocultar o verdadeiro rosto, sepultado no medo de ser deixada.