domingo, 25 de novembro de 2018

Laith


Resultado de imagem para leão animeNum poço sem fundo, tão tão tão sem fundo, que já não sabe mais como se reerguer. Cega, busca saídas plausíveis para a sua dor. Entrega-se, novamente, para a morte lenta, banhada em fumaça. Rasga o peito em melodia, num soluço funesto. 

É porque é despedida e não sabe fazê-la. É porque rompeu laços que não poderia jamais romper. É porque tentou ser como a sua imagem, porém isto nunca seria possível, pois o outro lado rompe mais facilmente quando esticado. E nesse descompasso estilhaçado, nega a lucidez. Nega a razão e rasteja-se por mais um gole de luz. Já faz tempo que não há escrita que salve.

Mal consegue terminar uma frase. O corpo dói e a alma escorre. O coração acelera e o sorriso não chega. Os olhos procuram, mas jamais regressa. Tropeça no alvorecer, mas suas mãos não estão mais lá. Viu partir metade de si. Foi-se embora sem pestanejar. Ficou apenas a solidão. Sentiu somente o rancor e o silêncio do lado de lá. Suplicou aos seus por forças. Pediu para o destino uma solução. E o Tempo lhe fitou certeiro, chegou o momento da conclusão dos atos, não há mais espaço para os relatos, o amanhecer derruba a madrugada infinita. 

quinta-feira, 4 de outubro de 2018

Ele



Ele. Ele dizia que era prosa e eu verso. Ele dizia que era poesia sempre e eu discordava. Ele era grito e eu ventania. Ele era coberto pelas palhas mais sagradas que este Universo já viu e eu era nada. Eu era pó e cinzas. 

Ele teria me resgatado, não é mesmo? Porque suas palavras cabiam no mundo e eu sou apenas o resto que um dia ele transformou em linhas versadas.

Ele era tudo e eu sou apenas um pouco mais do final de festa que ele nunca viu. E nunca verá. Porque este mês infindável é sobre isso. Ou não. Ou é sobre um caos que ele jamais veria. É sobre a busca que ele jamais encontraria. É sobre as canções que nunca entoariam para ele. É porque ele foi enterrado quando clamou que não.

Ela se lembra bem, não é mesmo? Com seus pés descalços fez de seus prantos fantasia. Buscou o que era impossível e ninguém traria. É inevitável. Ninguém será ele. Por mais que faça o que puder, escreverá sobre o inegável, fugirá das certezas. Ele era único e ela é somente poeira e incerteza.


Jazida


Sim. Ela era incrivelmente romântica. Sim, tudo era fantasia antes do ponto final. É porque sabia escrever em partículas, mas nunca soube dar continuidade para suas canções. Agora, para e busca entender se era de caos, silêncio, calmaria ou vendaval que precisava. Eram daquelas ondas que necessitava, não mesmo? Mas, foi em direção do mais nebuloso futuro.

É bem verdade que sonhou com um quebra-cabeças cheio de ilusões. É totalmente certeiro que desejava um enredo Austen e não Woolf ou Daldry. Foi desta tormenta que tentava fugir. Contudo, estava fadada ao erro e não à comédias românticas de Curtis. Mas, já sabe que tudo isso é besteira.

Porém, nem mais isso pertence a sua realidade. Muito menos tem a capacidade de dissertar sobre tal assunto. Agora, a menina da janela é uma reticência sem fim. Uma frase incompleta. Uma música que tem fim. Não adianta. Não existe valsa que possa salvá-la. É só perdição dentro de perdição.

É apenas uma montanha de não, depois do sim...

É apenas infinito indesejado...

É porque foi. É porque não sabe. É porque os sábios morreram ou dormiram. É para ser nunca mais. E agora jaze no mesmo palácio de outrora.Jazida




sábado, 18 de agosto de 2018

Liebling


Resultado de imagem para tarot enamoradosPartiu em direção ao infinito. Dilacerou seu peito em uma cajadada só. Teus olhos estavam distantes e o sorriso apagado. Quando foi que seus corações cessaram de bater no mesmo ritmo? Em algum momento a conexão ficou para trás, mas este elemento não foi notado. Os passos eram seguidos sem que pudessem respirar.

Agora, de longe, não há mais gargalhadas, abraços, beijos ou amores. Agora, o horizonte se apaga para que venha outra canção. Agora, os mares deixam sua revolta de lado e o azul é apenas imensidão. Os medos congelam, a madrugada é finita, a fumaça perturba. O doce som da sua voz transforma-se em silêncio e gélidas palavras.

Afinal, o que esperava? Era certeza o fim deste precipício. Nunca deveria ter pulado, para começo de conversa. Era tudo apenas miragem e já sabia disso enquanto despencava no vazio. Por isso, recolhe os pedaços de si que ainda restaram após a queda. Cada estilhaço decomposto é procurado com exatidão. O solo, depois da queda, é coberto do sangue que vem da aura e das lágrimas que escorrem em demasia.

Ah! É aquele velho não depois do sim. É o vento que volta a bater na face. São os suspiros de alívio, combinados com as chagas de dor. É o outrora candente que arde no corpo e na mente. É desatino de ser quem foi e é. 


sexta-feira, 25 de maio de 2018

Querubim


Apagou todas as sentenças para que pudesse ser nova. Ser outra. Fez isto para tentar alcançar os clamores do abismo - aparentemente - sensatos dos olhares de sereia. Sim, retornou para a escolha de renascer. Apagou a fumaça, respirou fundo e seguiu para distintos horizontes. Deixou que as máscaras grudassem em sua face mais uma vez. Lembra? Não sabe ao certo a última vez que tinha andando por esta trilha. Já era tão dona de si que a recordação de rostos criados não lhe era fácil de performar.

Porque parece que existe uma lógica de perfeição nas ações cotidianas. E parece também que esta, a menina da varada, não sabe as regras principais para ser boa neste comportamento ideal. Mais um suspiro e mais trezentas rajadas de erros. Mais uma tentativa e será falha infinitamente. 

Contudo, ela sabe o que sempre será seu. Qual o seu verdadeiro destino. 

Mesmo sabendo, decide fugir mais um pouco e ficar dentro deste abismo. Até que alguma primavera a salve.


segunda-feira, 12 de março de 2018

E se fosse poesia?


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Nos dias transformados em pó, o que resta são as amarguras cinzentas de um passado tardio e a vontade de ser o que outrora já fora apagado. Era para regressar e entoar canções que profanassem o passado. Era para ser uma jornada equilibrada e não mais banhada de fel. Era tanto que já não poderia negar o sossego de não ser mais. Era pouco, por isso lhe foram deixando em pedaços, enquanto gargalhavam no golpe final. 
A madrugada já se foi, repete. Precisa acreditar que não existe mais ventania que cure um sorriso perdido. Encontrou as sobras do que fora, sim. Encontrou o resto de gente que ali habitava. Foi porque cada um arrancou um pedaço de sua existência e nada ficou. Foi porque dilaceraram suas verdades, corromperam seu coração, silenciaram a sua alma.

Quando chegou, não tinha mais como respirar. Não tem como ressuscitar os olhos de faíscas cálidas que iluminava os céus cheios de luzes. Sim, um dia foi cor e luminosidade. Quando foi isto mesmo? Na varanda, é bem verdade, deixou os últimos suspiros de resistência. Olha pro futuro com um desgosto estampado na cara e a certeza que nada de bom lhe reserva. Com o sabor do que um dia lhe pertenceu. Com a aura estilhaçada. Foi-se.


Último Ato

Ela já está morta. Desistiu de viver quando entrou naquele jardim. Dali para frente era apenas perdição, delírio e escárnio. Depois de ingerido o veneno não encontrou antídoto que pudesse trazer de volta o júbilo e a coragem que um dia lhe pertenceram. Agora, as sinfonias são nocivas e decisivas. Elas ajudam a enterrar o que restou da menina da varanda. Todas tocam juntas, em homenagem ao seu desespero final.

Não. Não será surpresa alguma quando o último tijolo da torre ruir. Não. Não haverá madrugada, fumaça ou gole de lucidez que a façam regressar. Sua alma cansada e seu coração petrificado insistiram por muito tempo. Já não pode mais continuar. Já não enxerga mais aquele horizonte perdido. Restaram as chamas, aquelas dos zumbis arrastados. Eles venceram, não foi?

A sua carcaça ambulante está virando pó. Já pode sentir a terra cobrindo seus olhos - esta que é mais sincera do que as palavras que lhe foram ditas e prometidas, enquanto o sangue pulsava. Porém, tudo será memória, lembrança e serão palavras falsas. Tudo será discurso vazio. Tudo será mentira. Tudo será em vão. Porque desistiram. Lavaram suas mãos.