sexta-feira, 4 de junho de 2021

Por todas as flores que roguei que não fossem para você

 


Todos os dias anoitecem e seu nome é sussurrado como um tormento. Todas as cores são pintadas nesta parede de fantasia e a lembrança de seu beijo se confirma. 

Não há como permanecer quando todos os pactos foram selados e o pertencimento parece mais importante. Não existe rastro, sombras ou pó que possam resgatar o impossível. 

Jamais imaginou que teria pulado sabendo já, tão anteriormente, que as rimas eram impossíveis de serem formadas. Jamais, em sã consciência, teria abandonado tudo que desejou para dizer sim e olhar na sua face novamente. 

Os dias se alastravam e já sabia que, quando avistasse a jovem desprotegida, tentaria colocar ela em um vinil de prata. O seu desejo de cuidar seria tão forte quanto o de possuir. Assim, já não sabia como finalizar uma canção tão sutil que apagava o horizonte da sorte. 

Agora, tão somente, deseja respirar e já saber. Caminhar e não mais titubear. Olhar para a morte, que é a quebra dos pactos insensatos, e se desvencilhar de vez de todos os infortúnios. 

Ela sabe que o pulo é maior que isso. É mais intenso do que qualquer sabiá, é mais profundo do que o espelho, é mais honesto do que a dama prometida. É mais, que tudo, que todos, é caos despudorado na hora da sorte. É sacrilégio bem perto da injúria que é este corte. 

Quando disse sim, foi para que se banhasse de esperança e novos caminhos. Quando estes rumos se fizeram tortuosos, já não soube mais como finalizar esta sonata repetente. Pois são cruéis os dias, por isso se prende à noite. Foi nela que se deitou e rogou pela escolha certa. 

Foi tudo premeditado, não foi? Pois, então, que se cale. Que possa jogar no infinito todo sorriso maléfico que não seja pra ficar. Que queime a certeza de pertencer sem jamais habitar. Que seja primavera em pleno inverno. Que habite cada quarto de flamas incompreensíveis. 

Um dia, ela chegará. Em seu vestido candente, irá sussurrar que tudo era tolice e a véspera de pranto cessou. Esta falará que agora sim, que todos os dias serão de luz derradeira e no final de cada sentença besteiras proclamadas para o vento irão de alastrar. Assim como um dia jurou em fazer. 

Porque é de fim que sabe cantar e não dos começos.