terça-feira, 28 de novembro de 2017

Wind wehen

Foi na varanda, não foi? Ali que tudo começou. Todo esse caos que agora brinda com a madrugada o pacto que fez com sua pele de menina. O veneno, que dos seus olhos correm, dança pela carne amargurada. O pranto é a mais nova corrente que enxágua os passos de sua jornada. Transforma em prosa os escárnios vividos e grudados na memória. Corre em direção do amanhecer em busca de soluções inesgotáveis. 

Porém, não há resposta concreta quando o coração petrificado amolece. Ainda que pudesse acertar a dívida com o vento, não poderia jamais finalizar o débito com o passado. Esse que insiste em lembrar que a noite chega e a solidão não parte. Esse que é dor lancinante em véspera de descaso. Este infinito rubor da covardia anunciada. 

É porque dói somente de pisar naquele terreno que um dia foi sonho. É porque não consegue mais reunir forças para andar quando a memória entorpece os sentidos. É porque a ventania é escassa quando seus pés tocam aquele chão outra vez.

Maldito seja aquele espaço danoso. Aquela aura incendiada. Aqueles sorrisos impuros. Aquelas manhãs impróprias. Aquelas frases murmuradas, aquele jardim, aquele silêncio. Malditas sejam as escolhas profanas ali tomadas. Ou os goles quentes de tempestade e as marcas cálidas deixadas pelos covardes que naquele lugar moravam.

Pior ainda seria dizer que o retorno foi fiel. Pior ainda seria tentar reconstruir o impossível. Mais sincero é seguir, apagar a melancolia, recomeçar e pisar firmemente. Deixar que a música toque bem alto e não se abale. Deixar que o corpo sinta o chão chegar, sem que as verdades sejam escondidas. Dançar até que os pássaros carreguem seus restos e continuem a vibrar com a aurora perdida. Sossegar. 


segunda-feira, 6 de novembro de 2017

Sommer


Enquanto procura respostas, segue a madrugada incessante. Enquanto não possui certezas, adia os movimentos certeiros, as cantigas melancólicas, as dores eternas, os dias nebulosos e os oceanos que insiste em derramar. Evita não por querer. É bem verdade que já tentou outras vezes. É bem verdade que o ritmo latente de seus passos contaminaram um pouco sua alma cansada. 

Não eram essas as palavras corretas para estarem empilhadas. Não era essa música que gostaria tocar. Ou seria mais um infinito perdão dentro da culpa? Ou seriam seus olhos fechados para o caos que amargurou seu peito e apagou as luzes da varada? Ela ainda existe, a varada. No entanto, não há mais como retornar para aquele lugar um dia tão caro para o coração, hoje quase petrificado.

Não, não é essa a verdade. Por que mentiria se apenas jorra verdade? As questões são demasiadamente amplas e complexas para serem discutidas em uma escrita tão singela. 

É simples porque é o que pode oferecer. É escassa porque o sagrado segredo de sua existência fica guardado na torre, junto com as chaves. Talvez tenha se tornado o que temia, ou talvez seja tão somente um pouco de drama para celebrar a noite solitária. 

Nunca foi tão rápido, correto? O labor das palavras impressas, os batimentos acelerados, o céu em festa. Nunca soube corretamente como expressar o significado de emoções tão banalizadas pelo cotidiano cinzento. Parecia-lhe mais ágil e prático silenciar as vontades e pensamentos, seguir adiante e pular o momento de chegar ao horizonte, apenas se jogar em um abismo sem fim, no qual apenas os sinos tocam e os pássaros caem desfalecidos.


 Contudo, não habita mais em sua lista o desejo de cair. Agora deseja apenas uma estação. Agora todo o caos cessa. Agora, quando escuta sua voz, ela possui todas as verdades que moram no Universo. Agora quando põe os pés na terra, todos os sentidos se afloram. Agora é paz, serenidade e sossego. Agora é rima em vão, porém em sinfonia melódica. Agora é o toque celestial da ventania que lhe pertence. Agora é um sorriso meio sem jeito que reluz juntamente com o sol que lhe foi presenteado.