Foi na varanda, não foi? Ali que tudo começou. Todo esse caos que
agora brinda com a madrugada o pacto que fez com sua pele de menina. O veneno,
que dos seus olhos correm, dança pela carne amargurada. O pranto é a mais nova
corrente que enxágua os passos de sua jornada. Transforma em prosa os escárnios
vividos e grudados na memória. Corre em direção do amanhecer em busca de
soluções inesgotáveis.
Porém, não há resposta concreta
quando o coração petrificado amolece. Ainda que pudesse acertar a dívida com o
vento, não poderia jamais finalizar o débito com o passado. Esse que insiste em
lembrar que a noite chega e a solidão não parte. Esse que é dor lancinante em
véspera de descaso. Este infinito rubor da covardia anunciada.
É porque dói somente de pisar naquele
terreno que um dia foi sonho. É porque não consegue mais reunir forças para
andar quando a memória entorpece os sentidos. É porque a ventania é escassa
quando seus pés tocam aquele chão outra vez.
Maldito seja aquele espaço
danoso. Aquela aura incendiada. Aqueles sorrisos impuros. Aquelas manhãs
impróprias. Aquelas frases murmuradas, aquele jardim, aquele silêncio. Malditas
sejam as escolhas profanas ali tomadas. Ou os goles quentes de tempestade e as
marcas cálidas deixadas pelos covardes que naquele lugar moravam.
Pior ainda seria dizer que o
retorno foi fiel. Pior ainda seria tentar reconstruir o impossível. Mais
sincero é seguir, apagar a melancolia, recomeçar e pisar firmemente. Deixar que
a música toque bem alto e não se abale. Deixar que o corpo sinta o chão chegar,
sem que as verdades sejam escondidas. Dançar até que os pássaros carreguem seus
restos e continuem a vibrar com a aurora perdida. Sossegar.
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