domingo, 30 de janeiro de 2011

Separação


   Novamente me encontro no terreno sufocante de incertezas. Quero está ali, todo instante. Quero gritar para o mundo o que sinto e por quem sinto tudo isso. Quero e preciso de verdade. De respostas. De uma aproximação que não chega. Ainda enxergo o pedestal. Ainda sou arrastada para longe. Ainda perco-me sem saber ao certo que lugar ficar.
   Não quero que acabe. Cansei da distância. É ela que me assusta. Que corrompe os dias. Que dilacera sorrisos. Necessito encontrar soluções. Amadurecê-las. O tempo é infinito. Passa lentamente. Tortura-me. Loucamente, clamo por sua atenção. Outra vez, destruo a doçura, a alegria. Enterro qualquer trégua.
    Agora, com o sol queimando a face. Com o vento gélido da alma efervescente. O silêncio crava sua sentença. Erros recorrentes cansam. Estragam o prazer futuro. Porém, não consigo esconder. Quero cuidar, ouvir, salvar. Não posso. Quem sou eu para isso?  Cada um ocupa seu espaço. Mas, veja, eu não sei que espaço ocupo.
     Ainda sim, cambaleante, escrevo. Não paro. Reflito. Até encontrar o que busco. Até que me diga quem sou. O que somos.

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Clamar



   Ao ver a claridade entrar. A doce canção ecoa. Porém, a melancolia aparece. Triste. Amar alguém. Ver esse alguém sofrendo e nada que possa ser feito. Somente esperar. O destino. A cura. Enquanto isso, padece de uma dor. Sofre. Sofro.
   Vejo, no entanto, o quão egoísta sou. Penso em mim. Que sinto. Que choro. Contudo, quem é consumida pela enfermidade não sou eu. Talvez devesse parar de escrever. Parar. Afastar-me. Buscar uma solução. Então, retornar.
   Aquele mundo que conhecia não parecia tão difícil. Mas, a realidade é mais complicada do que as histórias das telas. Muito mais. Qualquer ato é definitivo. É crucial. E é, verdadeiramente, sentido. As emoções fluem. Até que fecho os olhos. Ao ver a vela lentamente queimando, suspiro. 
    Mais uma vez, na varanda, com o sol iluminando a face. Clamo. Em silêncio. Pela melhora. Por uma aura resplandecente. Por sorrisos. Por momentos. Pela felicidade. Nem que não seja a minha. Porém, a daquela pessoa. Nada mais importa. Eu não existo. A minha alma esvai-se a cada dor que sente.
     Distante, eu sei. Não há segundo que minha mente não divague por este assunto. Contudo, firme, prossigo. Pedindo para uma salvação. Por mais um amanhecer.





quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Máscaras



  Escondida em mil faces. Perdida entre gestos. Após algumas palavras amigas passo a pensar no que foi dito. Saber quem realmente sou. O que realmente faço. Nunca percebi isso. Porém, neste instante despedaço-me. Dispo-me de ilusões e fantasias.
  Não compreendo. É tão sufocante. Refletir e nada encontrar. Sinto. Tenho certeza disso. Enxergo claramente. Contudo, não consigo respirar sem relembrar de cada sentença afirmada. Em cada neblina tortuosa, desde o instante que meu caminho se cruzou com o daquela querida amiga, padeci de dúvidas. Questões. Necessidades. Descobertas. Abandono. Separação. Retorno. E, no fim, mais um suspiro. Agora, sincero. No entanto, sem a crença escutada.
   Quando as verdades são ditas cravam no peito marcas. E ali, naquela noite tão despretensiosa, escutei. Finalmente ouvi. Desabo. Outra vez. Só que de outra forma. A resposta não vem. Faces. Tantas. Que me perdi. Repito a frase. Até me apropriar dela.
    Confusa. Sem ar. Recupero-me. Clamo por um horizonte renovado. Por uma paixão. Por um arrebatamento. Algo que me puxe desse abismo de angústias. De dias sombrios. Sem alegria. Sem sorrisos. Ao escrever descubro o que quero. Rogo por isso. Mas, permaneço calada. Até que, um dia, eu encontre a verdadeira máscara. Aquela que pertence a cada um. Aquela real. Aquela que me pertence, verdadeiramente. 

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Data

  Ao abrir os olhos, procurei pensar em outras coisas. Mergulhada numa manhã chuvosa, impregnada de lembranças. Porém, é impossível negar os fatos. Assim, quanto mais corria, mais o assunto chegava em minha direção. Queria chorar. Gritar e me esconder. Precisava ouvir aquela canção. Ser ninada mais uma vez. Ter meu sono embalado por tantas músicas, suavemente cantadas. 
  Com o vento, com o mar, com o sol. Todos juntos trazem memórias. Recordações eternas. Mas, o pior é o arrependimento. Dos erros. Das brigas. Das injustiças. Se ao menos não tivesse sido tão cega. Tão firme em inúteis propósitos. Contudo, não há sentido em remoer o passado. Terei que sofrer cada segundo. Silenciosamente.
  Não há volta. Tudo está perdido. Só ficaram as lembranças. Risadas que ecoam na mente. Assovios. Gestos. Abraços. Cantigas. E o mar. Que na sua profunda imensidão me faz sentir a presença dele. Sim, o mar. Que tantas vezes dormi escutando seu barulho. Naquela casa. Naquela época. Onde o sol brilhava. Onde tudo era infinito. Eterno.
   Assim, finjo. Enquanto me recupero. Se for possível me recuperar. Atormentada em prantos titubeantes, olho para o céu. Cambaleante. Incessante. Deixando o vento me abençoar.

Recomeço

   Um novo início se aproxima. Cada dia recupero-me da dor e passo a perceber novas conquistas. Ainda não celebradas. Tão frescas. Tão doces. Enxergo claramente, sorrisos, alegrias, verdadeiros momentos. Simples. Sem ardor ou sensações extasiantes. Porém, necessários. Eternos.
   Invisível amanhecer. Correnteza de sobriedade. De expurgação. De liberdade. Ainda sem descobrir. Ainda sem verdades. Sem precisões. Sem um futuro estabelecido. Paro. Espero. Retorno ao dia-a-dia do passado. Das manhãs ensolaradas. Das histórias mais fantásticas. Das risadas que virão.
   Ainda que a expectativa pulse na alma. A concentração clama pela minha atenção. Estarei ali. Só. Buscando convencer todos. Acreditando em cada palavra dita. Em cada gesto. Em cada ação. Verdades. Não sei ao certo quando decidi este caminho. Contudo, essa lembrança não interessa tanto quando o tempo está passando. Quando a noite mostra que aquela hora chega.
   A música tocará. Os delírios surgirão. As frases serão ditas. E, no fim, a sentença será dada. E o destino poderá ser selado. Ou não. É o que sempre desejei. Contar. Gritar. Exclamar. Tantas intenções. Tantas possibilidades.
    O que resta é continuar. Seguir. Acreditar. No que se é dito. No que se é trabalhado. No final, ecoarão breves saudações. Será um frêmito, mesmo que passageiro. Depois, observarei. Com a esperança de crescer. Com a vontade de ser forte. Sem desistir. Nunca.

sábado, 22 de janeiro de 2011

Sóbria

   Esquecida. No meio de tantas pessoas. Tantas situações. Não há como algo resistir. Não se for frágil. Em mim, não restam dúvidas ou incertezas. Há um mar de respostas que pairam sobre meu olhar. A angústia se transfigura. Sorri macabramente. Cerca-me.
  Desvanecida em prantos recorrentes, possuo todo tipo de ilusão. Saúdo cada manhã. Recupero-me de cada entardecer. As lágrimas firmemente vertidas amedrontam a paz outrora adquirida. Esvaem-se com a bruma da solidão.
   Palavras repetidas. Escrever todas. Ainda que não sejam novas. Aparecem. Sopram em meus ouvidos a verdade. O cansaço abate qualquer expectativa. Porém, sei que a saudade está presente. A lentidão das horas não prova o contrário.
   Tonta. Rodeada de neblinas. Suspiros. Vozes que não silenciam. Sozinha, novamente. Como sempre. Precisando que apareça. De alguma forma. Qualquer uma. Triste. A infelicidade pode ser tortuosa. Ela se mascara com risos e com um pôr-do-sol. Disfarça-se de alegria. Acreditando. Sofrendo sem sentir. Caminhei. Em direção dela.
    O que resta, então, senão esperar? Sempre disse que poderia. Que seria capaz. E sou. Assim, sigo. Vendo o tempo passar. Deixando que ele passe.

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Incômodo

   A incerteza de que a melhora virá inflama a alma desvanecida. Querer ser é um caminho. A paciência clama por atenção. Pedir. Cobrar. É cruel. É venenoso. Se há um mal em tudo, ele precisa ser eliminado. A cada aurora relembro de erros. De palavras desnecessárias. Busco apoio em alguém que não podia me ajudar. O egoísmo dilacera a compreensão.
  Ouvir aquela voz outra vez. Sentir a presença mais uma vez. Um vício. É impossível se estabelecer uma tranquilidade quando, ao redor, tudo se despedaça. Não houve uma vez se quer que eu não dissesse o que pensava. O que almejava. Porém, ao falar tanto perdi sensações, emoções, que poderiam ser doces e calmas.
  Talvez a questão esteja em procurar tanto A verdade está na minha frente. Posso senti-la. Mas, não consigo tocá-la. É tão próximo. Contudo, ao mesmo tempo distante. Melancolia. Dor. Rondam. Sempre. Eternas ou não. Estão ali. Torturando cada minuto de solidão.
  Não somente a solidão física. E sim do espírito. Que mesmo cercada de um mundo de pessoas, o vazio continua ali. Porém, sei que tenho a escolha de seguir o caminho mais fácil. Mais puro. Sem lágrimas. Sem tristeza.
  Esta mudança se completará. Mesmo que ocorra lentamente. Arrastada. Acontecerá. E, assim, seguirei meus dias. Esperando. Vivendo. Enquanto tudo gira. Enquanto a música toca. E não cessa.

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Intermezzo

   Há em mim uma sede. Sede de conhecer melhor o futuro, as palavras, me conhecer. Infinito. Doloroso. Porém, necessário. Cada amanhecer me cobre de novas sensações. Descobertas. Músicas. A tortuosa emoção de dúvida sopra nos ouvidos incertezas. Normal. Talvez. Ao luar enxergo melhor. Mesmo sufocada de preces não ditas. De pensamentos velados.
  Sombras. Anoitecer sincero do espectro da mágoa. Dizer. Sentir. Querer tanto. Muito. Questões jamais resolvidas. Contudo, já tão insignificantes. Ao redor, a bruma do silêncio. Do emudecer de uma voz que tortuosamente luta para se libertar. Gritar. Expelir de si todo mal e angústia.
   Desconhecer soluções. Procurar respostas. Gélida amargura que domina.  Finca a suspeita. Separa. Verte-se em lágrimas. Que não se aproximam. Abandonadas. Abnegadas. Sorte aprisionada. Jazida secreta do apoquentar das horas. Inquietude. Semblante suave que esconde melancolia. Soluços de agonia.
    Tempestuosa madrugada. Sempre. Inebriada. Entorpecida. Vazia. Marcada. Manchada. Ilusório êxito. Deslumbramento. Alegrias. Que trazem esperanças. Lenta recuperação. Porém, que ocorre. De uma forma ou de outra.

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Salvação



   Incrível como a felicidade brota com um olhar. Com um gesto. Agora, abandono todas as angústias, deixo a solidão para trás. A saudade era tão imensa que queria chorar incontrolavelmente, cair de joelhos. Mas, nada disso importa neste momento. Tudo é abandonado ao vento quando posso ter ao meu lado quem preciso ter.
   Não há como negar. Fui arrastada para um caminho que não tem volta. Que não quero que tenha. Sinto. Finalmente, posso dizer que sinto. De verdade. Sem farsas. Mentiras. Jogos desnecessários. Pulsa em mim toda a alegria do mundo. 
   A lua, deliciosamente cheia, conversa comigo. Ilumina a minha face. Traz esperanças. E naquele olhar, encontro o que preciso. A dor da partida é insuportável. Porém, só adoça ainda mais o retorno. Está ali é o que necessito. Os dias arrastam-se. As horas são infinitas. Contudo, ao conquistar o reencontro tudo se harmoniza.
   No final, enxergo claramente o quanto o acaso é meu cúmplice. Inegável. Lamento ter repudiado dele. Já não me interessa pensar no passado. Recordar é profundamente importante. Mas, não vital. O que espero, neste instante, são tardes, ensolaradas. Completas. E a eternidade deste amor cristalinamente doce.

domingo, 16 de janeiro de 2011

Súplica

   Dor. Que não se acaba. Queria parar de escrever. Não consigo. As palavras vêm. Não vão embora. Jamais. Frio que gela a alma inconsciente. As estrelas, unidas, sussurram sua melodia. O céu desaba. Taciturna. Desesperada. Almejo uma segurança que não existe.
   Esgotada. Sem esperança. Sacrifício. Estações que não passam. O punhal destroça a candente alegria um dia realizada. Agonia traumatizada. Semblante cálido impuro. Não há lamento finito. Sofrimento sem explicação abriga terríveis sensações.
   Se a luz invadisse. Se ao menos pudesse enxergar melhor. Ver o que o acaso ainda pode me dar. Talvez seja ingrata. Recebi tanto. Tenho tanto. Porém, quando a tarde termina, o aperto volta. Sem ar. Consumida pela fumaça. Nem ela ajuda mais. Jamais saberei se esta fase passará. Tento lutar. Sem forças, desisto. Entrego-me ao prazer de padecer desta sensação.
    Deveres. Estão presentes para serem cumpridos. Envolta há tantas pessoas clamando para serem escutadas. Esquecê-las seria o maior bem para mim. Contudo, não sou capaz de afastá-las. Repito em vão tudo que digo. Afinal, o que faço ao não ser repetir as palavras?
   Juntas significam tanto. Separadas, não fluem. Sorrisos espalhados. Lembranças dissolvidas. Mas, nunca singelas. É tão forte. É tão bonito quando se ama alguém. Porém, longe, renegada outra vez ao isolamento, assumo meu posto novamente.
   Saber que uma pessoa não pode ser responsável pela salvação é inútil. Sei que não é justo, contudo o resto é insuficiente. É vazio. É oco. Não há a chama que quero.
    Assim, espero. Só. Como sempre soube que seria. Ansiosa para que a lua brilhe. Que escute aquela risada. Que veja aqueles pequenos e belos olhos. Que a aurora seja grata e brilhe mais uma vez.

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Entorpecida


   Outra vez. Deixo o egoísmo me dominar. Deixo a saudade me dilacerar. A angústia pulsa. Queima. O ar não chega. Culpa. Tudo é tão vazio quando se está só. Nada é suficiente. Sei que o mundo suplica a salvação. Que não chega. Enquanto isso, vivo.
    Quero viver. Intensamente. Quero que os pássaros cantem. Que a lua venha. Tudo gira. Perco-me em devaneios. A neblina é a mais forte. Soterrada de emoções, calo-me. Quero gritar. Implorar pela presença. Quero consolar-me em algo que não aparece. Quero sentir. Não consigo. Saudade. Tudo em vão. Nada faz mais sentindo a não ser os sentimentos.
     Na névoa da noite, nada é mais claro. Todos partiram. Permaneço. Sozinha. Buscando algo que me alegre. Música que não cessa. Quero. Tanto. Tudo poderia ser diferente. Mais fácil. Mas, reclamar é impossível. Preciso que tudo silencie. Que nada seja breve.
    Inevitavelmente, preciso recorrer a que não quero. Suspiros. Afagos. Tudo não é tão necessário quanto aquela voz. Que, agora, sofre. Os dias passam. A madrugada incendeia o cálice, que transborda. Aflita, escrevo. Procuro.
    Inebriada de lembranças, marcada de sensações, contento-me em relembrar. O abraço mais regozijante de todos não é esquecido. Necessito de algo que me faça sorrir. Eu não sorrio. Não é fácil para mim. O que me consola são as palavras. O amor nunca se esvai. Esquecer. Não é o que acontecerá.
     Incertezas aparecem. Chama candente não se dilui. O tempo. O odeio. Amargo. Solitário. Irrecusável dúvida do que o futuro trará. Agora, no silêncio das estrelas, soluço em prantos que nunca virão. A face rubra, pálida fica. E a salvação perde-se em algum lugar.

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Vazio



   Sombras. Rondam. Cravam em mim seu punhal dilacerante. Não há salvação. Tento purificar-me. É impossível. Ao lembrar os dias em que sorri. Que a chuva abençoava minha alma. Que o canto era doce e puro. Não há mais momentos assim. Não adianta eu me enganar. Estarei sempre só.
    O pior. Entender o que sinto. É tão confuso. A madrugada incendeia o amanhecer. Procuro o luar. Que foge na neblina da noite. Ainda sim. Clamo por ele. Tento escutar aquela voz que ilumina. Que inflama. Que acalma qualquer dor.
     Fingir. Antes era fácil. Doce e tranquilizador, porém agora não há mais significado em quem eu era. O que fui já se apagou. A fumaça libertadora consome. Sussurros de pranto tomam conta. A aura, outrora translúcida, pesa. Finca sobre o cálice da alegria a mais torturante certeza de que a solidão virá. Permanecerá. Nunca abandonará.
    O medo. A necessidade. A escuridão que se alastra. As marcas que o passado deixa. As lágrimas pulsam. A tristeza vem. Não só por um motivo. Talvez dois. Infinitos. Melancolia. Que não se finda. Gritos que cantam. Suspiros.
    Lento entardecer. Soluços de amargura. Cálida sensação. Saudade lancinante. Agora, nem sei mais do que sinto falta. Contudo, a presença é o que necessitava. Alguém que me recordasse que os pássaros cantam. Que o vento sopra emoções. Que vida é boa para se viver. Que as horas são só um detalhe.
      Assim, caminho. Enferma de felicidades. Silenciando verdades. Sozinha. Calo-me. A quietude talvez seja a saída. Alastrando-se até que ninguém mais me enxergue.

domingo, 9 de janeiro de 2011

Soturna

 
   Dor que dilacera. Saudade que consome. Cada parte da alma. Segrega-se. O anoitecer condena as esperanças. Sentencia a madrugada. Eternamente solitária. Amarga. Abandono todos para me exilar. De qualquer coisa que não seja aquela presença. Preciso ouvir aquela voz. Sentir aquele olhar me fitando.
   Queria que não fosse tão difícil. Que as palavras viessem. De outra forma. Mas, elas vêm. Porém, para me consumir ainda mais. Para me lembrar de cada risada. De cada gesto e gosto. Ainda que eu tente fugir. É impossível.
    Não sei se o destino quer me ajudar ou punir. Afinal, ele sempre me salvou. O tempo sorri. Quero gritar. Chorar. Sucumbir. Ainda que saiba que todo esse sentimento começou antes. A angústia rondava todos os dias. Contudo, ao viver tanto, tão intensamente, esquecia o aperto no peito. As emoções sombrias.
    A salvação tem que ser feita por mim. Mas, o sangue ferve. O corpo pulsa. Inebriada por tantos anseios. Apago qualquer tipo de clamor. O que quero, no entanto, é que a lua brilhe. Que o vento sopre boas venturas. Que o amanhecer retorne e conquiste seu caminho novamente.
      Preciso que o pranto seque. Que a saudade não me incendeie outra vez. Necessito da lucidez. Da maturidade. Calma. Tranquilidade. Respiro em busca de um ar que não vem. Suspiro. Leio. Releio. Escrevo. Então, recordo que o que mais importa é que fique bem. Que a enfermidade vá embora. E, assim, sigo nos meus dias cinzas. Sem poder ajudar. Sem poder amparar. Sozinha. Sem remediação, me calo. Vou ver mais um pôr-do-sol. Com os olhos tristes, porém esperançosos.

Descoberta

   Sempre fui egoísta. Pensava nos meus sentimentos. Que eles eram muito importantes. Mas, agora, ao ver o amanhecer. Ao respirar o ar mais puro de todos. Ao lembrar daquela voz. Daqueles olhos. Tudo que quero é que se cure. Que fique bem. E não por mim.
   Envolvida mais uma vez pela fumaça. Pela recordação daquele lugar. Daquele primeiro beijo. Foi ali. Tudo estava tão adormecido. E, naquele instante, o luar sorriu para mim. O destino me puxou. Mostrou que estava errada. Completamente, errada.
   Claramente, vejo o futuro. Que brilha. Arrasta-me para felicidade, ainda que a espera ocorra. Porém, o que mais importa é que fique bem. As preocupações alarmam-me. A angústia queima-me. A solidão aproxima-se. Contudo, sou quem a chamo. Clamo por ela, pois só preciso daquela presença. Todas as outras são enfadonhas.
     A música me acalma. O canto sempre me embala. Os dias passam. A tristeza é tão banal neste momento. E, assim, espero. Sem ansiedade. Sem lágrimas. Mas, com o coração apertado. Com a esperança que tudo se acerte e que a alegria regresse.

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Sentença

   Sumir. Desvanecer. Consumir todos os olhares. Incendiar todas as sensações. Quietude abalada. Incerta certeza se a paz virá. Se o espírito apaziguará. Não existe um alguém neste caso. Existem as minhas dúvidas. Que sempre ocorrerão. Rondarão. E a solidão quer possuir-me. Conquistar cada parte do meu ser. Tento fugir. Mas, não há como uma pessoa ajudar. É pedir de mais. Focar tudo em um indivíduo.
    Se soubesse, ao menos, o que o futuro me aguarda. A angústia dos dias sufoca qualquer prazer. Em tudo. Em todos. Sem voz. Sem ar. Tudo falta. A sublime alegria se esvai. Sempre foi assim. O determinismo é falho, porém quando um fato é recorrente, ele se torna real.
     As palavras escritas perdem-se. Queimam-se, assim como o luar inflama a face. Traz o rubor. O rumo tortuoso da vida traz infelicidades e alguns momentos bons. Contudo, ainda não encontrei o que preciso. O amor está ali. As amizades estão todas presentes. Agora, a alma, esta não está ali. Não como deveria estar.
     Talvez o problema esteja na aflição. De que tudo aconteça de uma vez só. De que todos apareçam quando menos espero. Que as surpresas iluminem todos os dias. A vida não é assim. Ainda não pode ser assim. Pois, a decisão não está em mim, nem em ninguém. Mas, ainda não sei onde está.
     O tempo. Dizem que cura tudo, que acode sempre. Onde ele está é impossível responder. A confusão instala-se. Divago em devaneios. Mais uma vez, corro para a varanda. Vagueio pela rua. Abandono quem me quer. Procuro quem não me quer.
     Ao regressar para o passado, enxergo como mudei. Como as coisas já não me assustam. Como posso encarar o que for necessário. Então, a dor vem novamente. Vem e não parte. Até eu escutar aquela voz. Porém, gostaria de entender porque só aquela voz importa. Existem tantas outras.
      A hora escorre. O barulho some. É o silêncio que domina o espaço. Em todos os lugares é ele que aparece. O vazio. Sem som. Emudece o canto. Recupera a melancolia. Apaga todos os rastros de memória. Jaz a tranquilidade um dia adquirida.

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Desatino

   Silêncio. Mais uma vez o amanhecer ilumina e traz a salvação. Palavras deliradas ao vento queimam a alma em prantos. Tudo tão dito, tão verdadeiro. Pulsavam. Porém, a incerteza acorrenta estes laços. Ouvir e saber tanto. Não há quem conheça mais.
    Confusa, repensei em tudo que disse. Penso se aquela ilusão realmente existe. Pois se tudo conflui. Se o sentimento jorra. Se a voz purifica. Se as sensações são tão grandes e dominadores. Há algo maior que todo o fingimento. E falo do fingir para si mesmo. Porque dói acreditar em algo. Porque negar é mais fácil que aceitar.
    As sombras, a morte. Unidas, marcam a sentença. O medo de sentir. A dor da perda. A renuncia. Vertem-se em emoções. Cravam e segregam decisões selecionadas. Criar verdades e purificá-las. Amparar-me de redomas.
    Novamente, olhando para os doces olhos, perdi-me. Já não sei se a ilusão existe. Se iludida também estou. Talvez esquecer seja necessário. Queimar todas as regras e soluções. Viver. Saborear os momentos. A morte, no fim, virá. Sim, para todos. Contudo, ser quem sou não é em vão. Respirar e deixar que a felicidade venha. Que possua-me até o último gole.
     E, assim, apagando qualquer dúvida, ser. Existir. Não perder nada. Glorificar o eterno jubilo. 

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Tédio

   Sufocada por obrigações. Deveres. Afazeres. O tédio se instala. Talvez queira viver intensamente o tempo inteiro. Inebriar-me de sensações. Ouvindo aquela música. Não a nova. Aquela antiga que toca o fundo da minha alma. Suspiro. Tento ocupar a mente. Esquecer os problemas e sorrir. Sorrir e lembrar os bons momentos vividos tão recentemente.
   Na neblina dessa paixão tão fulminante, esqueci-me mim, dos outros. Agora, não há momento que não queira escutar aquela voz e apagar todas as outras. Se é da idade ou não, já não importa. O sentimento já não é efêmero. É um vício, como já disseram. Sei que curar-me não é mais uma opção. Nem penso mais nisso. Deixo, agora, que venha. O que vier. A emoção que quiser sentir. Possuir o que preciso.
   Exatamente como na canção. Relembro. Sinto. Vibro. Sigo. Caminho. Pois é o tempo quem mostra que a obrigações estão ali. Que as amarras, os impedimentos existem sim. Porém, não importa. Queimarei todas. Renunciarei. Chega de pranto, dúvida, temores.
   Os dias passam. A solidão, esquecida, ronda. Retorno ao passado. Com os olhos cerrados. Tudo é tão mais claro. Cristalino. Contudo, a pergunta insiste em voltar. Afinal, essa não pode ser a única salvação. Mas, não quero, não necessito de outra.
     As palavras não secam. Nunca. Jorram da aura rejuvenescida pelo beijo. Por mais um amanhecer. As lágrimas, essas desaparecem. Esvaem-se a cada luar. Novamente, a estafa domina. Afasto-me do êxtase e vou ao encontro das sombras. Esperando, pelo menos, a misericórdia derradeira.

Candente Anoitecer

    Ensolarada manhã queima a face translúcida. Ainda extasiada, procuro o ar desvanecido. Livre sensação. Não mais imposta ou acorrentada. Certezas fielmente afirmadas. Escolhas precisas iluminam o futuro. Elevam  a aura. Inflamam as emoções.
    Agora, ao recordar mais uma vez daqueles olhos, o amanhecer é renovado. Doce sentimento alcançado. Sorrisos transcorrem, fluem, espalham-se. O corpo vibra. A alma candente crava lembranças do gosto mais delicioso de todos.
   Entoando outra vez a mesma canção, os pássaros silenciam a música cotidiana. O mundo para. Ao redor, tudo gira. As pupilas dilatam. Esqueço tudo. Todos. Não há nada que importe. Só o momento. Só viver tudo aquilo. Tão intensamente.
      Infinito contentamento. Frescor estabelecido. Sussurros ecoados. Cálidos gestos confirmam as verdades de outrora. Então, vem a chuva. E, assim, conecto-me com o céu. 

domingo, 2 de janeiro de 2011

Furor


   Doce pecado que escorre entre olhares perdidos. Silêncio. A noite toma conta e os pássaros adormecem. O ano muda. As estações passam e, no final, o sentimento é o único que resta. Translúcida sensação amanhece a alvorada desconhecida. Memórias. Semblante cálido inaugurado. Morte sincera das vontades.
   Pulsante capricho amarga a renúncia anunciada. Leves soluções alcançadas. Olhar que extermina as incertezas. Fulmina adorações. Sentencia o destino. Enlaça as lembranças. Colhe a misericórdia estendida. Palavras. Todas em vão. Calam-se. Crava no peito o rancor estendido.
   Melancolia. Fulgor. Destruição. Vertem-se sentimentos da alma condenada. A tortuosa celebração da tristeza acorrentada. Flutuo em emoções. Danço em furor reconhecido. Testemunha singela da sorte acolhe-me. Aproxima-me do acaso. Inebria minhas madrugadas cinzentas. Sim, também tenho dias cinzentos.
    Neles, a manhã não chega. As cores não vibram. A música não toca. O mar se incendeia. Ali, esperando para estar envolta de flores retorno ao pedido incessante. A voz emudece. A escuridão alastra-se. A aura clama   pelo sorriso que não vem.
      Pensamentos segregados transformam a dor em fantasia. E numa tarde sombria, o temor afasta-se novamente.