quarta-feira, 26 de janeiro de 2022

Se as borboletas falassem


Feita de sol e energia vibrante, seus dias já não eram mais os mesmos. Feita de verdades guardadas e disfarçadas por tempestades, viu-se descoberta e sem fuga. Segurando o coração aprisionado, correu em direção da sua torre segura. 

Subiu em seu pedestal reluzente e continuou com seu sorriso falso. Utilizando sua suposta força, guardou para si cada fragilidade enclausurada. No hoje, sustenta a sua vida em corda bamba, enquanto recorda da página rabiscada, jogada fora.

Em seus sonhos, avistou um desejo profundo, que não sabia como explicar. Ao abrir os olhos, suspirou e seguiu seu cotidiano como se tudo fosse como antes. Todavia, a cada mentira proferida, sentia-se afogada em seu próprio veneno. 

No entanto, agora, rasga da lembrança qualquer memória de seus olhares. Em seguida, pragueja o seu nome e condena o encanto que sente por ela. Difama também as incertezas postas pela outra em sua mente, que um dia fora preenchida de tantas convicções. 

Segurando os impulsos, dá prosseguimento para as suas outras vontades. Há de haver outros desejos que não sejam o de procurá-la enfim e despejar todas as frases trancafiadas em sua gaiola particular. É preciso sinalizar, a cada despertar, que seus batimentos não podem ritmar com os dela, jamais. 

É preciso continuar. É preciso apagar toda a emoção deste encontro tão inesperado. É preciso diluir toda a raiva pela turbulência criada em sua vida. É preciso arrancá-la da pele e não regressar para este sentimento, que confundiu a sua existência. 

terça-feira, 25 de janeiro de 2022

Quando as belas palavras se acabaram



Há esta pequena chama que insiste em não apagar. O devaneio vai se desmanchando a cada despertar, mas tenta segurar ele com todas as forças que moram em seu corpo. Não há equivalência de entrega, não há som audível, não há um semblante de afeto. Não há nada para se segurar. 

Ao mesmo tempo, carrega consigo um pavor em desistir desta canção. Existe algo que habita em seu coração - e sofre com esta explicação tola, mas é a única que tem -, que parece se abrir em mil pedaços quando pensa em deixa para trás esta história insólita. O que há aqui que a prende tanto?

Quais são as armadilhas que a mente está criando para que não queira abandonar esta ficção tola e boba, que invade o seu diário com esta intensidade irritante? Se o seu sorriso agora é turvo na lembrança, que deixe ir de uma vez esta memória. Se já não sabe como reagiria em sua presença e não se abala com este pensamento, que desfrute desta liberdade que fora tão almejada no outrora. 

O problema em seguir é mais forte que o sentimento em si. A sua incapacidade em encarar suas emoções de frente e saber que jamais irá encontrá-la novamente é insana. Nunca mais poderá ter o deleite de sua companhia. Nunca mais saberá como é tê-la mirando para a sua face. Nunca mais escutará a sua voz, que faz a razão estremecer e todas as flores se abrirem para escutá-la. Não. 

E, ainda pior, nunca conseguirá alcançar o que deseja. A borboleta cintilante, em toda a sua magnitude, em seu castelo dourado, com seu parceiro de jornada, não desceria para o poço profundo, apenas para ver como ele está decorado. Não existe nela a vontade de pular para o seu horizonte ou de saber como é a sua companhia. 

Nunca houve, nunca haverá possibilidade alguma para elas duas. E não é de derrota que está falando, mas sobre a realidade palpável, sem meias palavras ou ilusões proferidas em jogos de cartas. Por mais que um milhão de pessoas se reunissem para lhe contar que o destino lhe reserva uma paixão desmedida, cheia de frutos e criatividade, ao seu lado, na alvorada mais bela de todas, ainda assim, não acreditaria outra vez. 

Porque nunca existiu correspondência, porque fora tão somente uma fantasia despudorada, em meio ao caos que a cercava e uma solidão estranha vinda do fim dos tempos da humanidade. No entanto, mesmo que toda a fábula contada pelo Universo fosse verdadeira, a outra não teria dentro de si a coragem necessária para romper a sua bolha de cristal. 

Ela, que vive em um mundo paralelo, estranho e coberto de venenos disfarçados de líquidos doces e sem fel, não sabe como viver de outra maneira que não a sua. Portanto, com ou sem desejo, com ou sem concupiscência, com ou sem amor, não há espaço para a fada estúpida em sua jornada. E toda esta sentença já está dada e não vai mudar.

Ainda assim, com todas as verdades esmagadas em sua face boba, segura esta melodia com toda força que pode. Gruda ela na alma. Finge que não a está esquecendo. Cantarola algumas partes e sofre mais pela perda deste sentimento, do que pela perda dela em si, pois nunca a teve. 

O que possuiu foram sonhos tão intensos e satisfatórios que a possibilidade da revoada virou um vício infernal. No agora, apenas deseja que a aceitação chegue, que recorde seu olhar de desprezo, que relembre toda a tragédia que foram os encontros e parta rumo ao novo. De uma vez. Logo, o mais rápido possível. 

 


domingo, 23 de janeiro de 2022

Ela também é vendaval


Seus olhos confusos revelavam desproteção e medo. Seus passos incertos criavam novos significados para o sofrimento. Quando escutou o pássaro cantar, sentiu sua dor ressoar na alma. Ainda que duvidando de tal conexão, traçou planos imaginários para uma salvação que jamais chegaria. 

Contudo, esta missiva não deve ser sobre a fada insensata, que possui o vício de desejar resgatar a todes. Não. É sobre a outra e todos os sonhos que chegam em sua varada. É sobre o revoar das borboletas que tardam em chegar e não deixam o coração se aquietar. 

Do outro lado do Universo, consegue sentir a sua vibração agitada. Depois, deseja emanar todo singelo afeto que possui para que consiga acolher seu pranto. Seria ficção tal pensamento? Seria ilusão este vibrar conjunto? O que realmente acontece em sua mente no exato momento no qual escreve? 

Tudo é ficcional quando o horizonte é turvo e os poços secaram. No entanto, conhece a estrada e poderia deixá-la mais iluminada, para que pudesse caminhar firme e sem temor. Todavia, já descobriu que esta missão não lhe pertence e não tenta adivinhar novamente o quão descompassado está seu coração. 

Contudo, se ao menos souber que há a remota possibilidade de que suas palavras a ela sejam entregues, sentenciará cada sílaba até que volte a respirar com tranquilidade outra vez. Porque não está sozinha. Porque a madrugada nunca estará abandonada. Porque seu sorriso precisa regressar. 

As inverdades foram apenas uma trajetória mais longa para que houvesse uma contemplação intensa do infinito. As frases tortuosas e os olhares apavorados também. Era tudo início de festa, véspera de desenlace. Agora, ainda não é o tempo correto, porém, ainda assim, sabe que já é permitido acreditar no resgate.

E pede perdão por tantos códigos. E implora que chegue até o final desta carta jogada ao vento, para que tudo chegue aos seus ouvidos. E cede a sua vez para que haja uma resposta finalmente. E lamenta por não ter chegado antes. Mas, não deixa mais que a canção rasgue o peito. Não. Porque ela terá que abrir o cadeado da sua danação primeiro. 

Em seguida, com a aura renovada, seu semblante será completamente distinto. Dona de seu destino, permitirá que o vendaval derrube qualquer descrença e, em um só gole, possuirá todo desejo trancafiado nas mentiras do outrora. Viverá cada instante recordando que lhe fora entregue o soneto de salvação, em forma de prosa, numa tarde de dezembro. 

Pois ela também é vendaval. 

sexta-feira, 21 de janeiro de 2022

A hora do encontro perdido


Como saber quando tudo parou e somente restou o silêncio e o vazio? Como reconhecer se ainda há sentimento corroendo cada pulsação sua ou se está vivendo somente uma nostalgia da sensação? Existe um vício inegável em estar apaixonada, em ter o coração acelerado, ser arrebatada por uma tontura, ganhar um vigor inigualável ao acordar. 

Tudo isso começa a se esvair. Toda a chama que incendiava os passos e cobria os dias, passa a se tornar pó e uma recordação longínqua. Quando fecha os olhos, consegue lembrar de seu sorriso e, por alguns segundos, tudo faz sentido novamente. Todas as palpitações, as ações desmedidas, as pupilas dilatadas, os sonhos quase delirantes recobram seus significados. 

Contudo, a pergunta que resta depois deste devaneio insensato é tão somente uma: não seria positivo o esquecimento desta canção? Se não toca por ela, melhor deixar que vire nada dentro do seu coração atordoado. No entanto, é impossível não dizer que a saudade habita cada noite sua. Os motivos podem ser incertos, este fato pode ser insano, mas não faz diferença, porque sente. 

Em todos os momentos que sua risada, seu jeito inflamado ou seus olhares sarcásticos são lembrados, possui a absoluta convicção que nunca antes havia encontrado alguém assim. Nesta junção de elementos encantadores, a conquistou, mesmo que sem querer ou sem propósitos. Contudo, após estes breves minutos saudosos, desperta para a realidade e se convence que uma hora vai passar, já está passando. 

O triste, porém, é que está passando.

segunda-feira, 17 de janeiro de 2022

Pausa no mistério



Há tanto ainda para ser dito. Ou não? Ou são apenas fiapos de frases sem sentido, que escapam dos dedos, enquanto respira? Quantos sóis terão de raiar até que sua face se apague da sua lembrança? Quantos dias ou meses torturantes ainda estão por vir?

Talvez, tudo que exista neste momento sejam perguntas. Questiona-se também se em alguma estação poderá ter a sua presença de alguma forma. É tão cruel que os destinos cessaram de se cruzar. É agonizante imaginar que jamais escutará sua voz ou olhará em seus olhos outra vez. 

O nunca é tão doloroso que aceitaria até qualquer opção possível para que o encontro se repetisse. Anda tão perdida nesta fábula insólita destruída que jurou para si que se pudesse compartilhar alguma trajetória, aceitaria. Mesmo que seus lábios não se encontrassem, mesmo que o coração dela batesse por outro, mesmo que seus olhares fossem distantes.

Depois, recorda das cartas e percebe toda a confusão que sentira nos meses melancólicos. Se ao menos soubesse, lá no passado não tão distante, que dependeria somente dela, que certas canções são mais complexas do que outras e que sentiria tanto desprezo em formato de frases, teria reformulado suas sentenças. No entanto, não mudaria as suas ações. 

“Há tanto por vir”, revela o príncipe sarcástico. Em seguida, a demora. Como saber o que esperar de um ano profícuo em possibilidades, mas tão ausente da presença dela? Como descobrir sem consultar oráculo algum o que existe na próxima esquina? O que pulsa em sua alma, ainda que tão guardado e trancado?

Neste desatino, atordoada, deixa que o silêncio da noite confirme que ainda sente o mesmo de sempre. Inconformada pela falta de cura instantânea, se aconchega na ideia de que no outrora fora ainda pior e que, no hoje, caminha com um peso menor. Protegida em sua torre colorida, sabe que o Tempo alivia os desmazelos dos corações partidos. 

É lento o processo, sim. Mas, a paz tem de vir. Neste descontento, aguarda uma resposta sensata do Universo. Nesta aflição, busca encontrar uma solução menos intensa para que consiga achar uma estrada em comum. Depois, percebe a tolice de seus pensamentos. 

Engole o pranto que deseja chegar, convoca o mistério que preferiu vestir, luta para apagar qualquer ideia estúpida da mente e segue sua rotina como se nada houvesse acontecido. 

segunda-feira, 10 de janeiro de 2022

Paz Súbita



Seus olhos profundos desaguavam desespero. A sua voz imponente saia gélida e sem nenhuma tempestade. Para onde foram os caminhos certeiros traçados pelo destino? Quais os passos necessários para desfazer esta canção mal acabada? Quando o sol brilha na face, a boca empalidece e o coração desacelera. Como em todas as estações, regressa para o ponto inicial e, entre suspiros e lamúrias, recorda que é preciso atenção para ver o orvalho com nitidez.

Depois, é madrugada novamente e, com ela, chegam os sonhos que perseguem sua mente cansada. Contudo, não é de sensações ruins que deseja falar nesta escrita que se transforma quase em missiva. É para tratar de lembranças que começou a digitar em seu diário de confissões tolas, não foi? Foi para ter certeza de que o horizonte resplandeceu e todas as emoções foram sinceras. Foi para retornar para o ponto de partida e possuir a convicção de que nada será igual após o derradeiro encontro.

O que será, então? O não saber também pode ser prazeroso. O que não tolera mais é o desmazelo, a dúvida, as sentenças trancafiadas em um coração enclausurado de medos e conflitos. Ainda assim, como lhe confirmou seu leal escudeiro, aguarda, sem pressa, todas as respostas seletas. É na armadilha do silenciar das horas que se deita e profere preces singelas, em busca de uma paz inalcançável. Porque ela é feita de intensidade desmedida. Assim, já entregou todas as armaduras e parou de esconder de si que prefere vendaval do que calmaria.

No entanto, perde-se na descrição de si e esquece o objetivo central de tudo. Era para contar mais sobre esta fábula insólita, para falar dos detalhes do seu rosto e da tessitura da sua voz. Era para se desmanchar em elogios eternos sobre seu sorriso sarcástico, que lhe causava palpitações. Era para procurar elencar todos os motivos de seu enamoramento para, talvez, ficar um pouco tonta de paixão outra vez. Era para ser uma jura escondida e sem propósito de que, mesmo que tudo se apague e seus caminhos jamais se encontrem de novo, sempre irá ter certeza de que os pássaros cantaram e os sinos ressoaram e foi por ela e não por outra.

Este segredo, não tão bem guardado assim, fica como um registro de uma época. Este fora, no final das contas, um tempo insensato, mas fiel e leal. Todavia, ainda não compreende a razão para tal afeto. É impossível descobrir no presente o que exatamente ocorreu nos últimos tempos. São risíveis os seus pensamentos quando tenta decifrar a chave deste enigma. Não foram as cartas, não foi o solo distante, não foram as impossibilidades, não foi cada gota de magnitude presente nela, não foi a companhia durante a trajetória, não foi a causa, não foi a luta.

Ou será que, no fundo, foram todos estes elementos misturados em uma bela danação de início de setembro? Jamais saberá e sussurra baixinho que não se importa mais com o resultado desta equação ou com a solução tão almejada. Estranhamente, a emoção do exato momento é um júbilo inigualável, daqueles que somente as pessoas intensas conhecem, vindo da certeza absoluta de que não importa o tamanho do desafio, o medo, as horas que insistem em passar, o não, o sim, o inacabado. Há, tão somente, a vontade, o objetivo candente que espera do outro lado do abismo. 

Decide, assim, continuar pulando? Seria a melhor saída? Não, não seria. Contudo, é a jornada que conhece: a de flâmulas e céus incendiados, a do vento que bate no rosto em um bairro estrangeiro, enquanto fuma um cigarro, com o coração partido. É para isso que vive mesmo, para tragar o mundo inteiro de uma só vez e expurgá-lo, em seguida. Sem sossego, existe uma paz reformulada. Até o fim.

quarta-feira, 5 de janeiro de 2022

Encarando


Correu o mais rápido que podia para alcançar o horizonte desejado. Queimou todas as fantasias para conseguir se livrar dos pensamentos repetitivos. Depois, olhou em sua face e proclamou as verdades flamejantes. Conquistou seus desejos através de junções de palavras nebulosas. 

Agora, ri consigo de toda a jornada percorrida. A certeza das respostas queimam a pele, juntamente com as dúvidas. Não precisa que os pássaros cantem outra vez. Os próximos passos não são mais dela, nem os poços profundos estão mais abertos. 

Pois foi na alvorada de transformação que elevou suas potencialidades e jurou para si que não há música alguma que possa tocar e atordoar seu coração novamente. Isto porque, nesta trilha inaugurada, o que faz sentido é apenas o dito, o realizado e não o proclamado em sonhos ou cartas. Afinal, o que há de útil em saber do destino e das pessoas se tudo foge de seu controle a cada respiro? 

Assim, as decisões se tornam mais sólidas e precisas. Assim, o sorriso regressa ao rosto e a serenidade ao coração. Somente sabe o que vê. Somente escuta o que é proferido. E nesta ausência de contradição, vê um futuro resplandecente, cheios de cores e sensações frutíferas. Vê o sim, depois do sim. E celebra esta conquista tão demorada!