domingo, 23 de janeiro de 2022

Ela também é vendaval


Seus olhos confusos revelavam desproteção e medo. Seus passos incertos criavam novos significados para o sofrimento. Quando escutou o pássaro cantar, sentiu sua dor ressoar na alma. Ainda que duvidando de tal conexão, traçou planos imaginários para uma salvação que jamais chegaria. 

Contudo, esta missiva não deve ser sobre a fada insensata, que possui o vício de desejar resgatar a todes. Não. É sobre a outra e todos os sonhos que chegam em sua varada. É sobre o revoar das borboletas que tardam em chegar e não deixam o coração se aquietar. 

Do outro lado do Universo, consegue sentir a sua vibração agitada. Depois, deseja emanar todo singelo afeto que possui para que consiga acolher seu pranto. Seria ficção tal pensamento? Seria ilusão este vibrar conjunto? O que realmente acontece em sua mente no exato momento no qual escreve? 

Tudo é ficcional quando o horizonte é turvo e os poços secaram. No entanto, conhece a estrada e poderia deixá-la mais iluminada, para que pudesse caminhar firme e sem temor. Todavia, já descobriu que esta missão não lhe pertence e não tenta adivinhar novamente o quão descompassado está seu coração. 

Contudo, se ao menos souber que há a remota possibilidade de que suas palavras a ela sejam entregues, sentenciará cada sílaba até que volte a respirar com tranquilidade outra vez. Porque não está sozinha. Porque a madrugada nunca estará abandonada. Porque seu sorriso precisa regressar. 

As inverdades foram apenas uma trajetória mais longa para que houvesse uma contemplação intensa do infinito. As frases tortuosas e os olhares apavorados também. Era tudo início de festa, véspera de desenlace. Agora, ainda não é o tempo correto, porém, ainda assim, sabe que já é permitido acreditar no resgate.

E pede perdão por tantos códigos. E implora que chegue até o final desta carta jogada ao vento, para que tudo chegue aos seus ouvidos. E cede a sua vez para que haja uma resposta finalmente. E lamenta por não ter chegado antes. Mas, não deixa mais que a canção rasgue o peito. Não. Porque ela terá que abrir o cadeado da sua danação primeiro. 

Em seguida, com a aura renovada, seu semblante será completamente distinto. Dona de seu destino, permitirá que o vendaval derrube qualquer descrença e, em um só gole, possuirá todo desejo trancafiado nas mentiras do outrora. Viverá cada instante recordando que lhe fora entregue o soneto de salvação, em forma de prosa, numa tarde de dezembro. 

Pois ela também é vendaval. 

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