domingo, 29 de maio de 2011

Enlace

A noite se misturava com a madrugada. Eu que ali estava à espera de outrem, por escolha, adentrei no círculo flamejante. O coração disparava. O ar desaparecia. Envolvi-me. Mesmo sem querer. Lutando eternamente para me distanciar. Entreguei-me.
Tentava não fixar o olhar, mas eles me chamavam. O círculo, a música, o corpo. Todos vibravam e procuravam seguir o fluxo contido em cada movimento. Já não pensava. Queria escutar cada confissão. Cada palavra. Pontadas íntimas de dor eram cravadas. Lentamente.
Então, veio a tensão. O medo. O calor gélido que dominava. Aquela figura. Sempre tão incisiva. Agora, ainda mais. Agora, sugando tudo o que podia. Travava uma guerra com olhares. A pele queimava. A consciência quase se perdia.
Um misto de amargura e interesse. Ódio e compreensão. E um estranho desejo de ter um pouco daquelas carnes. Só por um instante. Ainda que, com receio, queria somente um gole de cada um.
Sim. Quase confessei. Foi um segundo. Fui salva. Cheguei perto de ceder ao sacerdote mais imbatível. Sim. Porém, resgatada pude guardar palavras. Continuar a ouvir. Manter meu lugar. Sem sucumbir. Até o fim.
E as luzes se ascenderam. Sobrevivi. Um suspiro. Um alívio. Enfim, encantada, pela primeira vez. Enlaçada por eles. Sem negar. Abro os olhos. O amanhecer invade a aura. Ainda assim, não deixo a sensação ir embora. Nunca mais deixarei.

segunda-feira, 23 de maio de 2011

Caos

  Regras. Sempre corri delas. Há algum tempo esqueci de mim. Entreguei-me aos dias. Sucumbi as incertezas. Deixei-me levar por leis e normas. Quando se apaga quem é, nada mais fácil do que recorrer aos outros. Já não sei quem sou. Isso não mais importa. A dor da descoberta crava em mim o desespero. O sopro da fina mágoa. A solidão que resiste até o final.
  Nunca consegui realmente explicar essa angústia. Esse vazio. Então, novamente encontrei uma solução. A mais simples. A paixão temida foi o caminho. Não há dúvidas que com ela não consigo respirar. Raciocinar. Nem tenho a chance de pensar em mim. Agora, acordo lentamente. Desperto para uma nova realidade.
   Mesmo que não seja tão simples. Preciso afastar-me para enxergar. Não dela. Mas de mim. São tantas voltas. Tantas incertezas. Um processo contínuo de erros. Uma sucessão de fracassos. E o medo. Esse é o pior. O medo tornou-se constante. Medo de falhar. De não ser boa no que faço. De perder o amor quase conquistado. Da traição. Do abandono. Um mar sem fim de aflições.
   Ainda recordo a sombra do que fui. Bem distante. Transbordo de alegria. A minha alma continua aqui. Não partiu. Não há como me dividir. Pertenço-me. Portanto, basta estar comigo. E mais ninguém. Não deixo de gostar dos que me cercam. A estima por estes cresce. É notável. Porém, não posso mais enfrentar situações onde não interessa quem sou. O que fui. Para onde irei.
    Encontrar-me. Saber que sei. Não necessito que me digam. Nem me perguntem. Ergo-me para o paraíso das chamas da consequências. E novamente, repito, são só palavras jogadas ao vento. Conto para mim e mais ninguém. Suspiro. Não escuto voz alguma. Onde estará a salvação? Se aquele beijo trouxe a tempestade cálida de sensações. Se estar do seu lado é o suficiente. Por que, então, entender quem habita este corpo? Para onde minha mente me levará? Quantos passos terei que caminhar para a paixão contaminar todos? E, enfim, saborear o que vier. Ser inflamada por cada gesto. Deleitar-me com a danação do ser. Não mais do passado. O outrora que se destrua.
    Se não existissem as falhas. Se o pecado não fosse tão doce. A madrugada tão deliciosa. As recordações acorrentam o peito que não mais respira. Fatos. Entrelaçados. Resto de noite. Chamas que inundam. Prazer despudorado. Queimem. Tragam o fogo mais ardente. Sepultem dogmas. Elevem os impropérios para o último nível. Recitem versos. Sussurrem. Gritem. Deixem o eterno purificar a verdade. Só ela habitará a vida. Inóspita, por enquanto.
    E quando não puder mais. Quando as obrigações arrastarem e dilacerarem suas convicções, seus delírios, seu júbilo, renegue tudo. Imponha o que quer. Abrace o que é oferecido. Seja quem puder. As máscaras cairão. O sorriso surgirá. Cantos serão entoados. E acordará do sonho. Porque a realidade surgiu. Junto com todos os que te acordaram.

quarta-feira, 18 de maio de 2011

A Menina

   Não. Não vejo essa força que todos enxergam. Frágil. Doce. Muitas vezes com ar de melancolia e o mundo nas costas. São deveres sem fim. Pedidos. Obrigações. Falhas sem perdão. Como um guia, encaminha todos. Enquanto isso, esquece de si. Lamenta. Até chega a sofrer. Com tão poucos para socorrê-la. Com tanto envolvido. Não abandona. Jamais. Não desiste.
   Sei o que deseja. Agora entendo. Não completamente. Mas, vislumbro a resposta. Ela mesma afirma o que sonha. Quais são seus devaneios. Porém, na neblina do egoísmo a atenção é deixada de lado. Seus olhos clamam por minutos de paz. Quer viver o que for para ser vivido. Sentir e não negar o que precisa.
   Ela também vive em sua torre. Invisível. Mal pode perceber. Presa num caminho sem volta. Com pactos selados. Com amarguras inesquecíveis. E o medo de ser atingida outra vez. E o receio em seu olhar. Ainda assim, sem deixar de acreditar.
    Então, segue seu rumo. Trilha a estrada da perdição. De desejos candentes. Intensos. Sempre intensa. Com cálices e profetas que trazem o real sentido da sua existência. Entrega-se. Seus propósitos são os mais firmes. Mais concretos. E a verdade. Eterna. Leal e fiel. Sem nenhuma outra face. Despida de falsos temperamentos. Mas, armada pela desconfiança.
    Sua alma sangra por compreensão. Esconde-se. Guarda para si tormentos. Um passado. Uma súplica. A solidão intrincada em sua pele. Sozinha. Por ser tão diferente. Por ser tão despretensiosa. Por encarar os fatos como eles são.
      Sem pedir foi considerada Deusa. Posta em um pedestal. Arrastada para a jazida mais distante. Contudo, há sempre a renovação. E o acaso. Este que adora certas histórias. Agora, basta que alguém estenda as mãos, para tentar, de fato, ressuscitar a candura disfarçada com o veneno das sentenças. Para mostrar a vida. E a doçura presente ao seu redor.

terça-feira, 17 de maio de 2011

Sinos


   Aderi ao velho clichê. Gostaria que o mundo parasse. Que tudo fosse esquecido. Já não há mais pressa. Só uma ânsia. Dominada por essa eterna concupiscência que tanto falo. Quero esquecer delírios, pudores. São todos insensatos. São máscaras facilmente derrubadas. Prantos sem dor de um dia recorrente.
   Resta esperar que o mar de obrigações se acalme. O meu e o seu. Resta esperar. Sempre. Porque não há nada justo em viver. Porém, precisamos continuar respirando. Quero sentir novamente as pulsações. Sem ar, pedir por mais. Receber mais um beijo, coroado por um sorriso de cumplicidade.
  Esquecer tudo. Jogar ao vento da sorte os males que virão. Queimar regras. Incendiar varandas, só com o desejo que vibra em minha alma. Sem delongas. Quero possuir o que um dia foi dito que, de alguma forma, me pertencia. 
    As horas correm. O tempo caçoa de mim, outra vez. A serenidade buscada me faz correr em direção contrária. Evito aqueles olhos. Tento não escutar aquela voz. São só palavras. Repito. Para tentar acreditar. E sei que me pertenço. Sou minha. Só isso. Mas, a vontade é mais forte. É preciso fugir. Correr o mais rápido possível. Para a escuridão. Que se alastra. Para a imensidão. E, é claro, para a solidão.
  Essa que conhece o meu nome. Que domina meus dias. Não me deixa. Jamais. Esta dentro de mim. Não existe forma de expulsá-la. E a espera, contínua. Os segredos, guardados. Um amanhecer desvanecido. Uma saudade apaziguada. Tento. Luto e repenso. Afinal, não era exatamente o que procurava? A metade. Eternamente. O meio. Sempre. Um equilíbrio jamais alcançado. 
   Vislumbro uma saída. Eu sei, exatamente, onde esta me levaria. Puxada mais uma vez para seus domínios. Arrastada, repetidamente, para seus braços. Imóvel. Quase hipnotizada. Renegando qualquer um. Qualquer escolha que não seja a indicada. Tenho minha verdades. Contudo, nem lembro mais quem fui. Quem me tornei ainda é turvo.
   Resgataram-me do esquecimento. Agora, preciso provar quem eu sou. Lançar-me. Seguir o novo caminho. Dedicar-me ao meu propósito. Criar. Dar vida. Habitar histórias. E não só isso, preciso contar acontecimentos. Relatá-los. De diversas formas. Sem deixar de honrar cada compromisso.  Tenho que enxergar soluções. Porém, tudo ainda é tortuoso. Nebuloso. 
     De fato, terei que prosseguir. Ser firme. Sem pestanejar. Ir além do esperado. Enquanto isso deixo os pensamentos me contentarem. Recordo momentos, sensações. E, de novo, os sinos entoam a sua canção. Esta na hora, menina. Esta na hora de acordar.

domingo, 15 de maio de 2011

Nostalgia



   Espero. Sigo meu rumo. Em direção ao mais certo. Ao que desejava. Então, volto as lembranças. Sempre fui nostálgica, mas já não retornava para as memórias. Agora, escuto as canções, sinto o doce perfume, fecho os olhos e posso sentir o beijo. Antes, acreditava que o amor era uma desculpa para a inspiração. Porém, não sei mais de nada. Vivo, amo, recordo e escrevo.
   Não há como não pensar nas belas tardes. No som do vento. Nos nossos lugares. Nunca imaginei que um dia seria assim. Fui arrastada para esta sensação. Ainda descubro como agir, o que dizer. Engraçado, o mundo parece mais suave. Os dias mais leves. As vontades mais intensas. E sim, com todos os obstáculo, sem respostas, repartindo, sem desistir, pertenço a alguém. Porque quero. Porque foi uma escolha.
    E poderia parar o tempo. Esquecer tudo. Parar e só reviver cada emoção. Lembrar dos sorrisos, dos olhares, dos gestos e das infinitas madrugadas. De uma salvação que jamais viria se o destino não tivesse me presenteado. Lentamente. Relutava. Buscava uma saída, para tentar escapar do que temia. Depois, um pouco de amargura, erros, lágrimas. Causadas por mim.
     Então, lutei. Com todas as forças. Para quebrar ideais. Desconstruindo crenças. Respirando fundo para não gritar e destruir tudo mais uma vez. Sei que tudo mudou. Não sou mais a mesma. Ninguém é. Não peço mais uma troca. Tenho certeza que lugar ocupo. Contudo, não me interessa mais. Estou aqui. Mesmo sem equilibrar nada. Sem oferecer a proteção necessária. Sem ter maturidade para guardar segredos. Estou aqui. E, assim, sigo. Em mais um dia. Tola. Ainda assim, feliz.

sábado, 14 de maio de 2011

Ideal



   Engraçado como conversas podem mudar significados. Ou até mesmo relembrar sentimentos antigos. Eu sei exatamente que caminho queria seguir. Mas, o problema está no fato de que nunca encontrei aquele que me fizesse esquecer o mundo. Criei um ideal que só existe na minha cabeça. Tão tolo. Um que haveria alguém que dividiria a mesma paixão que eu. Completaria as minhas frases. Apreciaria o que mais amo.
    No fim, parece piada. Agora, tudo se foi. Minhas vontades me abandonaram. Restou uma paixão devastadora. E o destino sabe que eu não poderia ter tido mais sorte. Afinal, é uma concretização quase completa. É o que o real pode me oferecer. Acredito, então, que esse é o melhor caminho. Sigo. Persistente. Reconsiderando ideias e perspectivas. Reconfigurando cada pedaço de mim. 
     Com a personalidade fragmentada, trago novos significados. Guardo frustrações, segredos e uma verdade só minha. Talvez eu tenha nascido para a solidão. Ainda descubro se o isolamento não seria o mais correto. Porém, não consigo me desvencilhar deste sentimento. E nem quero. Digo sempre repito: quero viver intensamente. Antes que possa respirar, pensar, raciocinar. Então, entreguei-me de olhos fechados. Sem buscar nada. Depois, sem expectativas. Somente esperando o melhor. E ele vem. Não há mais dúvidas.
       Apago a miragem desvanecida. Enterro a criação perfeita. Esqueço de vez a eternidade de delírios. Paro. Encerro tudo. Respiro. Enxergo um pouco mais de maturidade. Vejo a realidade. Que sorri. Mesmo não sendo tão boa. É o que possuo. E as lágrimas já cessaram. O sangue esfriou. Revi o que me cerca. As horas virão. E consciente permanecerei.

quarta-feira, 11 de maio de 2011

Novo

   Não sei ao certo o que acontece. Neste momento, sinto uma calma dentro de mim. Até o incerto não angustia. A sensação de liberdade é maior. Os dias passam e já não sei onde foi parar todo o tormento do passado. Entender uma superação tão rápida foge do meu controle. Foram tantas consequências, erros e detalhes. Memórias que seriam difíceis de apagar.
    A concentração também traz o esquecimento. Rodeada com afazeres que tanto reclamo, já não posso focar nos problemas. Talvez seja realmente dramática. Essa é a questão. Não quero mais situações de conflito. Repouso. Fecho os olhos e lembro-me do som do vento, daquela voz, do momento mais leve e doce dos últimos tempos. Gostaria de guardar aquele instante. Depois disso, tudo flui. Passa.
    Até mesmo a saudade é saudável. Não consome minha alma. Não corro para o impensável. Tranquila. Permaneço. Então, o destino trará de volta a visão do sorriso mais belo de todos. As palavras tolas tomaram conta de mim. Eu sei. Mas, é assim que a escrita aparece no estado que estou. Ao recordar ainda fico tonta, cambaleante, porém lúcida. Sempre.
     No fim, eu admito. Finalmente. É o tempo que mostra tudo. Que desvenda mistérios inalcançáveis. Põe um ponto final no desespero. Cessa aflições. Entrega-lhe prazeres e satisfações. É só esperar. A vontade continua. Pulsa. Queima. Aguardo. Até que ele, o tempo, contribua. E o destino nos una outra vez. 

terça-feira, 10 de maio de 2011

Estafa

   Cansaço. A única palavra certa. As outras seriam a salvação. Talvez. As forças se acabam e tudo se perde. Os afazeres. Deveres que não foram impostos e sim escolhidos. Agora a estafa reina e já não sei que caminho seguir. A saudade é imensa. Porém, por tentar reduzi-la, me esqueci das tarefas marcadas. Na verdade, não me importo. A questão é que, neste momento, preciso finalizar tudo. Por em prática o planejado.
   Fecho os olhos por alguns minutos. Quase não sei mais quem sou. A cabeça dói. O corpo não relaxa. Tenso. Sempre. Esperando o próximo comando. O sono encarrega-se de criar o pior humor existente. Os dias voam. As horas se arrastam. São listas sem fim. São metas infinitas.
   Os espaços ainda não preenchidos. A semana que escorre entre atividades. Há uma necessidade de parar o mundo. Fugir. Levando o amor comigo. Para bem longe. Depois, lembro dos propósitos. Porque ocupo aquele lugar e não outro.
     Neste turbilhão permaneço. Caio numa multidão. Arrasto-me. Esperando um minuto de silêncio. Calmo. Contagiada apenas pela fumaça. Pelo som dos pássaros. Por uma madrugada que domina a consciência. Por suspiros e lembranças. No tempo em que ser não era pretexto. No tempo que memórias ocupavam a mente. Canções se alastravam livremente. O abismo de dor inconsequente, ditava a alegria assombrada pelos desejos inacabados.

sexta-feira, 6 de maio de 2011

Sem lágrimas

   Estranho. As dúvidas e inseguranças pairam no ar. Há o medo de perder. Este é imenso. Ainda existem os outros que me cercam. Os afazeres acumulados. E a vontade desvanecida. Na verdade, estou em uma posição confortável. Lucro em estar vivendo intensamente. É incrível qualquer momento em possa esquecer todos os deveres e escutar aquela voz tão imprescindível.
   Não gasto mais energia em conseguir encontrar tempo. Em pedir. Basta caminhar. Cumprir tarefas. Então, as horas passam e posso voltar e encontrar os belos olhos que tanto necessito. Simples. Muito mais que imaginava. Porém, algo ainda incomoda. O receio da próxima falha. Das próximas palavras mal usadas. Estas nunca mais terão perdão.
   Talvez não devesse escrever mais nada. Mas, esta é a única salvação que encontro. Depois, tudo dito passa. Renovo a alma. O sentido da realidade cresce. E sigo. Continuo sempre seguindo.
   Antes, imaginava histórias. Idealizava. Realmente, eu idealizava. De fato, deliro. Sei que nada disso faz sentindo. Sentença atrás de sentença. Nada mais que isso.
    Neste instante, relembro dos amigos esquecidos. Das aventuras guardadas. Do que queria ser. De mim mesma. Somente assim terei a solução concreta. Qual rumo seguir. Quem me tornarei.
     Amanhã outra fase se inicia. Uma nova jornada. Uma nova década. Emoções, momentos e realizações. Descobertas infinitas. Um amor infinito. Um mar eterno de júbilo.
    Eu já aprendi. Estou absolutamente certa disso. O melhor é sentir, viver, deixar o amanhecer iluminar a aura. Esquecer o futuro. Celebrar o que for alcançável. Sem lágrimas, dramas ou tormentos. Lançando ao vento toda a sinceridade existente. Queimando as regras. Dessa vez, as minhas. Reconectando as novas ideias. Aceitando o que oferecem de bom grado. Com uma verdadeira felicidade. Cada vez maior. Aguardado um pouco de maturidade, que virá. Sim, esta com certeza virá.

quarta-feira, 4 de maio de 2011

Quando o dia chegar

   Outra vez, revi o mundo. Reavaliei as possibilidades e atitudes. Ali estava aquela amiga. A única que compreende o verdadeiro sentido da minha existência. São nesses momentos que enxergo que não há uma única realidade. São fatos e versões. A data tão aguardada se aproxima. Analiso as mudanças e renovações.
   A vida escorre. Mal posso sentir uma emoção e tudo se transforma. Ganha novo significado. A intensidade pulsa em minha alma. Em tudo que faço. Entrego-me. Compulsivamente. Nunca estou pela metade. Porém, acontecimentos fazem aquela chama esmorecer. Até perder a voz. A razão de realizar algo.
   Enxergo um novo caminho. Estabeleço prioridades. Crio em mim expectativas. Mas, dessa vez, não espero nada de ninguém. Quero descobrir em mim o que é real. Quais são as motivações. Antes, tão cheia de vigor e exclamações. No presente, amargura e solidão são reencontradas. A luz se apaga. O foco se dilui. Já não me interessam os joguinhos. As reclamações.
   Neste momento, quem está farta sou eu. Exigências têm limites. Respiro. As palavras que um dia salvaram, expurgam um ódio inexistente. Sou quem sou. Fato. Nunca tentei modificar ninguém. Cansa ouvir reclamações. Então, vem um pedido. O vendaval se aproxima. O medo. O medo de perder. É maior. Muito maior que eu.
    Sorrio. Escuto cada sentença. Na verdade, o mais necessário é continuar. Seguir. O pior sempre pode acontecer. É aguardar para ver. Lá do pedestal que construí. Nesta nova etapa. Em que o beijo selado será veneno mortal. E não adianta mudar. Se esquivar. Porque são só palavras jogadas ao vento. E disso eu sei. Eu sei claramente.

segunda-feira, 2 de maio de 2011

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  Engraçado como os sentimentos mudam. Não acredito em erros justificáveis. Procuro, no entanto, não deixar que o tempo consuma algo necessário. Aquilo, que com demora foi construído. Sei que não são meros detalhes, mas um acordo foi selado e não há retorno. Fato. São muitos pedidos. Exigências sem fim. Todas muito bem estruturadas. Com as palavras mais certas. Com uma precisão inigualável. 
   Talvez não esteja raciocinando bem. Talvez seja paranóica. Ou é o período que não ajuda. Não sei. Nunca entendo. Quero jogo limpo. Verdades postas na mesa. Sem meios sorrisos. Sem encenação. Na vida real não quero palco. Já eliminei isso faz tempo.
   Pode ser que o incorreto seja o termo jogo. Não adianta o que dizem. Cansei de medir palavras. De fingir que não me importo. De não buscar uma solução completa. De negar quem sou. Necessito esquecer de tudo que me cerca. Por um instante. Alcançar uma maturidade. Equilibrar sentimentos. Apagar qualquer dúvida. Esquecer qualquer deslize. Nem que seja por algumas horas.
   Eu sei o que quero. Meu espírito é livre. Quero abraçar o mundo de uma vez só. Quero me sentir completa. Respirar o ar mais puro. Sem descer ao submundo. Sem assumir uma postura degradante. Isso não é liberdade. Isso é descompostura. Desrespeito. Falta de sensatez. 
    O caminho é longo. Sempre sei disto. As horas se arrastam. As madrugadas solitárias e silenciosas também. É sempre assim. No auge da derrota, existem os que te derrubam ainda mais para o precipício. Reconheço os fracassos na minha existência. Enxergo eles perfeitamente. Mesmo que a lembrança seja vaga e incerta. Acontece que o perdão tem que ser verdadeiro. A concretude dos fatos mostram a sincera sentença. 
     Não abordo, aqui, certo acontecimento. Preciso ser mais clara do que nunca. Porque sou interpretada erroneamente. A culpa desabitou minha alma. A fúria guardada para outros momentos escorre entre os dias. Seria sempre assim. Afinal, ela se dissipará quando não ficar guardada. Por isso, escrevo. Sem pudor. Sem arrependimentos. 
   Gritem todos. Julguem. Dilacerem o resquício de bondade. Porém, não esperem o contrário. Pois, comemorarei a derradeira miséria. A última. A que consagrará a conquista. Deliro. Agora, tenho absoluta consciência. É um devaneio sem fim. 
     Depois, são chamas. Impurezas. Detalhes. Regressarei sim. Sem piedade. Viverei intensamente. Derramarei o último gole de vontade. Fincarei firmemente meu propósito. Irei possuir o mais desejado. Seguirei cada regra. Aguardando o declínio do passado. Amando cada minuto. Com a mais profunda paixão conhecida. Mesmo que de longe. Ainda assim. Buscado o ideal. Lealmente. Incessantemente. Até o meu último suspiro.