
Nunca consegui realmente explicar essa angústia. Esse vazio. Então, novamente encontrei uma solução. A mais simples. A paixão temida foi o caminho. Não há dúvidas que com ela não consigo respirar. Raciocinar. Nem tenho a chance de pensar em mim. Agora, acordo lentamente. Desperto para uma nova realidade.
Mesmo que não seja tão simples. Preciso afastar-me para enxergar. Não dela. Mas de mim. São tantas voltas. Tantas incertezas. Um processo contínuo de erros. Uma sucessão de fracassos. E o medo. Esse é o pior. O medo tornou-se constante. Medo de falhar. De não ser boa no que faço. De perder o amor quase conquistado. Da traição. Do abandono. Um mar sem fim de aflições.
Ainda recordo a sombra do que fui. Bem distante. Transbordo de alegria. A minha alma continua aqui. Não partiu. Não há como me dividir. Pertenço-me. Portanto, basta estar comigo. E mais ninguém. Não deixo de gostar dos que me cercam. A estima por estes cresce. É notável. Porém, não posso mais enfrentar situações onde não interessa quem sou. O que fui. Para onde irei.
Se não existissem as falhas. Se o pecado não fosse tão doce. A madrugada tão deliciosa. As recordações acorrentam o peito que não mais respira. Fatos. Entrelaçados. Resto de noite. Chamas que inundam. Prazer despudorado. Queimem. Tragam o fogo mais ardente. Sepultem dogmas. Elevem os impropérios para o último nível. Recitem versos. Sussurrem. Gritem. Deixem o eterno purificar a verdade. Só ela habitará a vida. Inóspita, por enquanto.
E quando não puder mais. Quando as obrigações arrastarem e dilacerarem suas convicções, seus delírios, seu júbilo, renegue tudo. Imponha o que quer. Abrace o que é oferecido. Seja quem puder. As máscaras cairão. O sorriso surgirá. Cantos serão entoados. E acordará do sonho. Porque a realidade surgiu. Junto com todos os que te acordaram.
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