segunda-feira, 26 de abril de 2021

Quando o vento soprou a verdade em seus ouvidos

 Fuga, suspiros e, depois, o alívio. O poder da sua existência banha o coração petrificado e, em seguida, enxerga apenas uma luz reluzente e rubra, que percorre toda a alma. Aquele encontro anunciado foi véspera de júbilo desmedido e tudo que veio depois apenas existiu para confirmar a sua intuição. Então, era para ter se entregue velozmente, mas o temor foi mais forte. Talvez, as construções cuidadosas sejam mais profundas ou tudo que importa é o gosto do seu beijo. E é por isso que escreve com tanta transparência e doçura, porque foi arrebatada por este sentimento tão intenso, que a faz proferir sentenças clichês. Esta é a doce sina dos apaixonados.

Assim, roga para o destino que seja cauteloso com os próximos passos a serem seguidos. Implora para o Universo que o pulo seja leve e o pouso tranquilo. Já não pode mais suportar escárnios e desilusões. Mas, nada disso importa no presente. O que importa é o seu sorriso suave, que embala seus sonhos, a recordação de seu jeito sensível, mesclado com toques de sarcasmo, a sua persistência em alcançar a felicidade plena e seguir o rumo que desejar. Há um misto de resiliência com paixão, que guia os passos dela. Assim, sente-se contagiada por toda energia candente que ela emana e já sabe a noção completa do que é alegria, sem fazer nenhum esforço. 

Entre entregas, conquistas e confissões, cada muro foi sendo quebrado com cada toque suave de gentileza e ternura que habitam em sua pele. O céu se ilumina e o mundo inteiro parece cantar em uníssono quando a sua presença é anunciada. É justamente esta sensação que tem ao encontrar o seu olhar profundo, as suas ações complexas, as suas palavras sinceras, é como se tudo fosse festa e o futuro fosse promissor. Não adianta negar o impossível: deseja sentir, com toda a dedicação existente no Universo, completamente, cada momento ao seu lado. Não quer perder nenhum segundo de contentamento, jamais quer que sentimentos negativos tomem conta dos seus caminhos e destruam qualquer laço criado.

 


 

Contudo, tenta vislumbrar onde está guardado o último gole de sensatez. Talvez, o tenha jogado fora, naquela manhã melancólica e dolorosa. Depois daqueles tortuosos instantes de desespero, decidiu não mais segurar seus desejos e deixou que as vontades determinassem cada escolha. De certa maneira, optou pelo incerto e queimou as dúvidas. Em seguida, proferiu baixinho que já era sua e não havia mais retorno ou salvação. Era e não saberia como esconder mais as emoções transbordantes e que já estavam sufocadas pelas tolas negações afirmadas. Na sua fuga, pensou com nitidez que queria uma libertação de algo que não sabia responder ao certo o que era. No entanto, era deste arrebatamento, desta sede que nunca cessa, que tentou escapar.

É sempre impactante constatar este tipo de verdade, porém o vento soprou na direção certa e conseguiu avistar a melhor resposta para cada danação. Na verdade, deixou que os pássaros cantassem outra vez, deixou que os sinos ressoassem no peito e prometeu, agora gritando, que já não importavam as lamentações, as promessas do passado, o receio das juras derramadas. Não, o que realmente é possível é fechar os olhos, saltar em direção do reencontro e deixar que o resto apareça devagar. O sim apenas começou e resta, no exato momento, saber que o presente é saboroso. Então, que a canção toque no último volume e dance até não aguentar mais. Até o infinito. Sem sombras, sem rancores, sem pedidos demasiados, somente suspirando.

sexta-feira, 23 de abril de 2021

O deleite do encontro anunciado no outrora

 Era para ser desde o princípio. Naquela noite, sua voz invadiu seus pensamentos e seu coração. Entre um trago e outro, o olhar e o sorriso cativavam e houve uma espécie de certeza interna. Ao se encaminhar para ir embora, ainda olhou para trás, com o desejo de permanecer. Depois, veio todo o vendaval que continua tentando superar a cada dia. Existiu também o afastamento compulsório e a pausa para o que viria em seguida. Quando os gritos da madrugada cessaram e a liberdade, finalmente, chegou, decidiu como quis os próximos passos.

É difícil encontrar metáforas para o óbvio e sentenças diretas para o inexplicável. Quando, enfim, o reencontro aconteceu, de fato, as sensações eram tão mistas e as emoções estavam tão afloradas, que houve uma explosão de sentimentos. E tentou se segurar onde podia: nos afazeres cotidianos, no sarcasmo protetor, na fuga sem dimensão. A cada banho de realidade, mais certezas, menos abandono e mais coragem de olhar de frente e dizer sim para qualquer pergunta ou chance.






E foi porque disse sim, porque se despiu do medo e das dúvidas que enxergou seus olhos com mais nitidez. Outra vez, sua voz invadiu seu coração. Este órgão estilhaçado e um tanto amargurado, é bem verdade, pulsou cintilante, relembrando como é bater sem temor. Assim, soltou todas as cordas, os atravessamentos, as incertezas e correu para sua direção. Então, queria respirar cada respiro seu, sentir todos os seus toques e nunca mais soltar. Entre um suspiro e outro, havia o entardecer cósmico, o entendimento profundo, o dia que virou noite e foi dia outra vez.

E agora? Entre as milhares de possibilidades do destino, não seleciona nenhuma. Deixa que o sol bata na face e recorda de cada sensação. É sempre forte quando um beijo desequilibra os sentidos e reascende algo tão guardado. Quando é inesperado, é ainda mais doce. E doçura é o seu novo adjetivo preferido, porque a faz lembrar da canção mais melódica, suave e intensa que já escutou. Então, que ressoe em cada milímetro de sua pele e não cesse. Até que não possa mais, até o para sempre ou o nunca mais, até que os pássaros encontrem o caminho de volta. O até não importa. O hoje sim. 

segunda-feira, 5 de abril de 2021

Quando a fada escutou o vento

Lembro do seu olhar profundo e como seu rosto se tornou fixo em minha memória. Recordo de cada expressão quando nosso encontro aconteceu pela primeira vez. A surpresa fora tanta que as armaduras ruíram e fiquei perdida, neste encantamento revelador. Dali em diante, mirar o céu era como se estivesse ao seu lado. A sua voz embalava meus sonhos e as promessas eram profícuas. 

Não sei ao certo quando seu sorriso se desfez e nossos caminhos não mais se encontraram. Naquelas noites de outubro, deixamos que as dúvidas contaminassem nossos passos e a distância fosse cada vez mais intensa. Após o rompimento dos laços, cada lembrança era como fogo que ardia a pele. A cada minuto de abandono, o silêncio crescia e a certeza da despedida também. 

Contudo, fomos enganadas pelo destino, não foi? Quando tudo resetou e o Universo te trouxe de volta, as ações foram impossíveis. O mundo já era outro e seus braços não estavam mais presos aos meus. Mas, o retorno ocorreu. Ou tudo é confusão, confissão e poesia. Mas, já não importa. De alguma maneira, você permaneceu.

Hoje, os sinos tocaram novamente e foram por ti. Hoje, uma espécie de resgate foi possibilitado por um mago do destino, que se aproximou e soletrou as palavras que tanto desejei ouvir, lá, no outrora despedaçado. No entanto, não sei bem o que será de nós, do futuro ou do tempo. Tão pouco, se irei aguardar o final da resolução deste mistério. 




O que fica, aqui, é a absoluta convicção de que o antes foi acertado, que o seu sorriso foi sincero, que o som dos pássaros - naquele amanhecer insano - cantaram e eu já sabia que eu precisava daquele encontro. Ali, naquela cidade fria. Ali, sem querer partir jamais. Ali, onde pude enxergar um afeto tão sincero se construindo.

O resto é pó e toda uma estrada ainda para seguir.