sábado, 12 de março de 2016

Devaneios de uma juventude tardia

Se fosse menos jovem. Se fosse menos impulsiva. Se ao menos tivesse respirado um pouco mais fundo. Se não tivesse essa vontade enlouquecida de responder tudo. 

Se ao menos conseguisse silenciar seus ímpetos juvenis. Quando aceitou viver aquela jornada jamais poderia imaginar os próximos passos. Jamais pensaria que encontraria um abismo onde nunca pensou que pudesse surgir. 

Talvez tenham sido seus olhos. Ou a risada longa. Ou qualquer frase tola e cotidiana. O fato foi que seu coração parou por alguns segundos e já sabia. Infelizmente, já tinha certeza. Porém, não quis aceitar. É bem verdade que lutou com todas as forças para negar que aquilo estava acontecendo. Respirou fundo e tentou apagar das suas lembranças o sorriso infernal que estava grudado na alma. 

Entre as pitadas intensas de caos, buscava um ar que não vinha. Buscava focar nos próximos segundos de aventura. Procurava realizar aquilo que sempre esperou. Contudo, o destino, cruel e insano, misturou todas as emoções e confundiu sua cabeça de menina. E ali, entre os lobos, não havia escapatória. Não existia varanda, silêncio ou sinos. Nenhum florescer. Nenhuma sinfonia de consolo. Apenas a sua presença irritantemente encantadora.

Entre recordações e vislumbres do futuro, tenta se recuperar. Tenta entender realmente o que ocorreu. Busca com todas as forças apagar a candente sensação que queima o corpo em cada gole de vida. Desmancha certezas. Continua trilhando o caminho da sinceridade. Se agarra na solidão. Roga para o tempo que desfaça esse sentimento. Suplica ao Universo que queime, de uma só vez, cada milímetro de concupiscência que um dia foi destinada para aquela existência caótica que lhe foi apresentada. 

Até lá, aguarda. Até lá, vive a madrugada eterna. Até lá, sente o que precisa sentir. Até lá, sorri ao pensar nas turbulências, nas gargalhadas, nas feições distraídas, na canção, nos breves olhares, nas tardes de espera, nos pedidos insanos. Até lá, sabe, sem dúvida alguma, que as vontades são passageiras. Que é só ilusão. Que passa. Que sempre passa. 


terça-feira, 8 de março de 2016

Um Gancho...



Foi. Foi o silêncio que libertou seus passos. Não há dúvida alguma. 




Quando tudo é gritaria. Quando tudo é ventania. Seus ouvidos buscam um pouco de paz. Então vem a sensação de nostalgia. Se seu mundo era preenchido de cores e emoções, tudo se fez ruído. Se sem som poderia escutar melhor, agora nada faz mais sentido. 

Não que pudesse viver na mudez de seu cotidiano. Não. Isso já não é mais possível. Isso não se encaixa na balbúrdia que é seu coração. Porém, sempre há um porém quando se fala do silenciar da eternidade. Porém, se pudesse respirar novamente as tardes de aventura, o doce gosto de momentos eternos, os clamores e atitudes apaixonadas, iria sem pestanejar.

Ainda assim, sabe. Eram tantos rompantes que sua aura cansada não podia oferecer a atenção necessária. Eram muitas canções, eram muitas sensações e toneladas de juventude. Era (e ainda é) um nó na garganta. Uma dúvida. Um adeus constante. Uma súplica. Um pedido. Apenas mais um. E outro. Outra face. Outros beijos e sorrisos. Respira. Segurando as lágrimas. Tentando encontrar a lucidez. Tentando encontrar a calma ou uma solução. 



 Os planos. Recorda. Eram infinitos. Era muito para sua cabeça de menina. E ainda são. Por isso mesmo que não existem arrependimentos. Foi e já não é mais. Contudo, não pode negar a importância de sua presença. Essa que está grudada em sua alma. Essa que fincou bandeira em suas memórias. Essa que criou padrões inalcançáveis. 

 Talvez, se dissesse mais sim. Talvez, se não fugisse. Talvez, se respirasse fundo. Talvez se o mundo parasse por alguns segundos. Talvez. E o "se" é coberto de amargura. Porque é preciso se despedir. Porque não adianta o regresso. Porque é impossível recobrar o que já está enterrado. Porque dói só de pensar. Porque é mais fácil correr. Porque existem os próximos precipícios. Porque não é o suficiente para seus sonhos silenciosos. Porque é pouco. E é tudo. Porque não há razão lógica para retornar. Porque o que se finda acaba virando pó. 

Banhada pela recordação de seu cheiro. Coberta por esta tarde entediante. Escutando uma canção qualquer, que um dia embalou suas danças. Secando o pranto com fel. Abrindo bem os olhos para o futuro. Lembrando dos motivos do adeus. Deixando-se desapegar. Tentando. Sempre tentando.