quinta-feira, 29 de março de 2012

Bells

Constante perfuração cintilante de uma pele cansada. Habita mundos irreais. Capta sensações. Guarda rancor amargurado, muito mais de si do que de qualquer outro inverno. Sublima as lágrimas.

Estraçalha o coração, para que este congele e não mais pulse. Perpassa o orvalho incendiado nas chamas de um célebre ritmo. Perfume em flor desvanecida. Rastro de emoções irracionais. Descoberta. Recriada. Transformada para que cumpra sua função.

É chegada a quase perfeita aurora. Sonhos ultrapassados arrastam pés que flutuam com o vento fraco. O ar extraído de suas veias sufoca o silêncio inebriado de ilusões. De sentenças. De chagas candentes de purezas recalcadas. De marcas eternas que jamais se apagarão.

Porque viu nos seus próprios olhos a derrota de nunca poder alcançar o perfeito sorriso ensinado. E isto já é uma outra história. Não é mais a sua, muito menos de ninguém. A fantasia engole o real encantamento da separação das brilhantes ideias reconstruídas.

Cicatrizes putrificadas de um festejo amaldiçoado. Goza o pranto da memória alucinada. Recorre as incertezas fiéis e adoradas. Cobre a face e mostra a rubra lucidez disfarçada. Amarga cada gole do sopro gélido de escárnio. Ressuscita vontades. Almeja o infinito inalcançável.

Ata as pequenas mãos. Colori o círculo de espadas. Canta em sussurros para o jazigo da solidão criada. Agora saboreada. Existe em imensidão santificada. Entoa verbos inaudíveis. Suscita guerras refletidas na alma atordoada, enquanto os sinos tocam. Eles sempre hão de tocar.

sexta-feira, 9 de março de 2012

Esmeralda

Não se curvará perante a morte. Não engolirá palavras. A verdade é uma só, dentro de milhares de primas. Flutuantes. Inebriantes. E a próxima escrita enviará o fim da jornada. São dois lábios que se tocaram. É a promessa de comprometimento. É a negação de uma sentença. Um passado que desvaneceu com a renovação.
Sem esconder. Sem dizer meias verdades. Esta que é a mais buscada e jamais encontrada. A cruel revelação. As gargalhadas de uma tolice esperada. E quer gritar que sabe. Quer exclamar que o caminho é seu e se todos fizerem uma orquestra de risos, ainda assim permanecerá. Até que seja mais uma. Onde a porta bate e o silêncio se apaga quando vai embora.

Depois será apenas maldade. Partir antes que o veneno escorra e a última gota de amizade se decomponha. Fugir. Correr. Porque pensa tão diferente que não é aceita. Dizer. Tudo que pode para a outra dos fios dourados. Reclamar. Seu lugar jaz enquanto as fadas a abandonam. A luz se apaga sim. A sua. O verde esmeralda se torna cinza quando partem as pétalas daquela flor criada.

Em tudo. Fala de tudo. Explica para que não existam mais confusões. São dois caminhos. É a negação. O abandono. O retorno. A impunidade. Os risos. A correria. Nenhum suspiro. Ainda escuta a voz que anunciou o seu erro. São muitas. E mais pedidos que apertam seu coração. Aceitar ou não. A questão está aí. Posta. Cristalina. E se houver uma briga que venha logo. Que dilacere tudo ao redor. Mais que venha. Aberta. Sem cochichos falsos.

Sabe sim. O que há atrás das cortinas de todos os palcos. Viu. A rainha de sete espadas apontar tarefas de todos os dias. E as madrugadas sufocantes mostram a verdadeira impureza de seus passos. Quer lutar para não perder nada. Mas se em um é coroada, no outro é difamada, renegada, repudiada. A escolha parece óbvia para tantos, menos para ela. Quer e exige sua luz de volta. Nada pode apagá-la a não ser o presente corroendo em chamas a face outrora ruborizada.

Flamas. Chamas. Candentes. Em seu corpo petrificado, guarda agora qualquer som possível. Relendo suas tolas palavras ri de si. E espera o julgamento da mais nova fase incendiada.

quinta-feira, 1 de março de 2012

Cinza

 
 E segue outros rumos. As fronteiras escapam entre as névoas de um sonho inalcançável. Vem das pragas das promessas. Vem do júbilo incerto. Vem da alma profanando escárnios. Outrora a paz reinava sorrateira. Em vão o caos torna-se segregação. Partida. Repartida. Compartilhada. Imersa entre os véus das possíveis verdades. Corre em brumas silenciadas numa nova súplica restante.
  Sim. Fala das palavras jogadas ao vento sagrado. Corrompidas pelo falso significado. São nas chamas que encontra o repouso fiel. Em meio sujo e podre. Em neblina cinza. Em cores intensas. Em jardins cobertos de lama. Em nada. Repousado em cálida lança. Destrói o cálice. Perfura o indescritível. Secreto. Afinal o silêncio recompensa a alma. E a espera da derrota de uma batalha jamais iniciada.
  Raios. Noites. Luzes. Ensandecida por aquela madrugada. As coleções. As mínimas palavras. Que recortadas traziam um sentido inexistente. A verdade selada. Escondida. Trancafiada. Em seu peito o amor rima descompassado. Enquanto os olhos brilham pela falsa sentença. Guardado está. Aquele que sepulta as horas e desafia seus conhecimentos. Nunca alcançado. Nem mesmo por aquela que rondou os pensamentos. Entregadora da loucura. Da infidelidade. Da falta de cumplicidade. Entre lágrimas e risos conhecia a real trajetória de um segredo enterrado em si.
   A vontade. A necessidade de escapar do improvável. A distraída resolução engrandecida por tolos mascarados. Na verdade houve sim. A certeza cega atrapalha o cavalgar dos impulsos tardios. O amanhecer sem sorrisos delatava o erro recorrente. O regresso vinha apenas da falta de respostas. Depois o novo fascínio, que escapou enquanto olhava para o passado reconstruído. Agora nega.
  Agora sabe. Não há rumo nem destino que leve a revelação da secreta chave amaldiçoada. É somente na desesperada tentativa que se alcança a noite perdida. Por isso, será naquela imensidão que buscará o conforto conflitante. Que venham. Pois já é tarde para as horas voltarem. Já existiu a descoberta da falta. E o espaço resta. Sempre será. Um horizonte muito além do impossível.

*Para a luz que se apagou