terça-feira, 28 de julho de 2015

Rise



Amanheceu. Abriu os olhos para a realidade. Mais uma vez. No outrora os olhares se encontraram e fizeram música pela madrugada. O sol ardia na face. Suas mãos trêmulas procuravam algo firme para segurar. 


Numa tempestade de dúvidas e angústias não sentiu a ventania. Até que abriu as portas e janelas e chegou no topo da insanidade. 

Afinal, o que faz o coração disparar verdadeiramente? Em suas confusões, mergulha mais uma vez no doce sabor da fumaça assassina. E todos os zumbis despertam, emitindo o mesmo som, em uníssono, fazendo a alma vibrar. 

Se a solidão não foi feita para sua jornada, tão pouco foi feita para os falsos sorrisos. Numa tentativa e outra, acaba obtendo as mesmas certezas do passado.

Há apenas um único e derradeiro abismo. Aos que não sabem ou não desejam pular junto, que fiquem para trás, que se joguem de outro precipício.

 É cansativo demais. É atordoante demais. Quais os reais e concretos sentimentos dos seres da noite? Qual a decisão mais acertada quando querer o bem não é uma oferta suficiente?

As respostas de perguntas tolas permanecem aprisionadas na neblina do tempo. Já não é mais a mesma. A escrita não é mais a mesma. O tempo correu. Veloz. Os céus desabaram. Os sinos tocaram. O esmeralda se transformou em cinza. O silêncio virou grito. 

E agora tudo é novo. E agora são apenas reticências. Nesse turvo recomeço, se despede das sinfonias de desgosto. Fecha os olhos para a dor. Tranca ressentimentos. Abre-se para as cores, as descobertas, os sabores.

Não existem erros. No presente, há apenas doçura. E há a vontade de encerrar de uma vez qualquer vestígio de antigos acontecimentos. Se ao menos pudesse apagar toda e qualquer sutil lembrança. Se ao menos conseguisse se desfazer das pragas do cotidiano. Se ao menos fosse consumida pelo espírito de juventude que um dia possuiu. Se. 

Cada horizonte segue seu rumo. Em cada caminho a distância se refaz. Verdadeiro ou não. Nobre ou não. O que restam são cinzas e uma aura petrificada. 

E já não pode mais abrir as janelas e deixar que qualquer poeira adentre sua moradia. Já não pode mais amolecer com qualquer palavra. Já não pode mais acreditar em qualquer canção que toca sem parar. Já não há mais para onde olhar sem duvidar. Enche o peito de verdades e cospe para todos os cantos.

Não há final contente. Não há um último suspiro com seu nome. Não há silêncio que não se derrube. Não há verde que não se apague. Não há. E é para nunca mais. Para jamais parar de lembrar. Para respirar as sentenças. Abandonar medos ou tensões. E florescer. Recomeçar. Sempre recomeçar.


sexta-feira, 3 de julho de 2015

Ressuscitar

 Suplício. Um pouco de martírio. Tédio. Por que não? A noite é sempre mais longa quando falta fumaça para fazer com que as palavras tenham sentido. Os olhos deveriam estar fechados, porém olha para faces do passado e relembra de suas existências. Ainda existem? Respiram, não é? Parece loucura, mas na rotina insana alguns rostos se dissolvem numa valsa tortuosa e lancinante.

Engraçado. Parece que o efeito de pausa preencheu essas vidas. São as mesmas palavras. Os mesmos semblantes. Os mesmos lugares. Os mesmos discursos. Nada novo. Jamais. É a repetição das tradições que encanta essa gente pacata e que provoca náusea e preguiça de continuar enxergando naqueles seres passionais, impulsivos e ávidos por novidade.


Contudo, o próximo nascer do sol sempre chega. Este levará, junto com o vento, as imagens mais recentes, não muito distintas das do passado, para longe da memória. E lá, num abismo infinito, permanecerão. Talvez seja exagero afirmar que coisa nenhuma tenha se modificado. Talvez. Porém é quase impossível de acreditar que algo mudou. 



A sinfonia se repete em seus ouvidos. Uma glória. Uma dádiva. O corpo vibra nas notas certas. Depois vem a recordação de que suas palavras também não passaram por grandes transformações. Ou passaram? Há um desejo maior na objetividade da escrita. E de voar. E de pular os dias até que possa encontrar novamente o prazer incomensurável da fumaça agora não permitida.

É necessária a brevidade. Uma pitada de silêncio. Gotas generosas de paciência. Controle da respiração. Por fim, um riso longo e farto, uma despedida e uma distância, coberta de educadas desculpas ou de um não depois do sim. 

Se houvesse um pedido esse seria a mudança. A retirada das máscaras do cotidiano. Uma fuga inesperada. Um conjunto de palavras nunca ouvidas. Uma imagem reveladora. Outras cores, olhares, sorrisos, gestos, gostos.