Suplício. Um pouco de martírio. Tédio. Por que não? A
noite é sempre mais longa quando falta fumaça para fazer com que as palavras
tenham sentido. Os olhos deveriam estar fechados, porém olha para faces do
passado e relembra de suas existências. Ainda existem? Respiram, não é? Parece
loucura, mas na rotina insana alguns rostos se dissolvem numa valsa tortuosa e
lancinante.
Engraçado. Parece que o efeito de pausa
preencheu essas vidas. São as mesmas palavras. Os mesmos semblantes. Os mesmos
lugares. Os mesmos discursos. Nada novo. Jamais. É a repetição das tradições
que encanta essa gente pacata e que provoca náusea e preguiça de continuar
enxergando naqueles seres passionais, impulsivos e ávidos por novidade.
Contudo, o próximo nascer do sol sempre
chega. Este levará, junto com o vento, as imagens mais recentes, não muito
distintas das do passado, para longe da memória. E lá, num abismo infinito,
permanecerão. Talvez seja exagero afirmar que coisa nenhuma tenha se modificado.
Talvez. Porém é quase impossível de acreditar que algo mudou.
A sinfonia se repete em seus ouvidos. Uma glória. Uma dádiva. O
corpo vibra nas notas certas. Depois vem a recordação de que suas palavras
também não passaram por grandes transformações. Ou passaram? Há um desejo maior
na objetividade da escrita. E de voar. E de pular os dias até que possa
encontrar novamente o prazer incomensurável da fumaça agora não permitida.
É necessária a brevidade. Uma pitada de
silêncio. Gotas generosas de paciência. Controle da respiração. Por fim, um
riso longo e farto, uma despedida e uma distância, coberta de educadas
desculpas ou de um não depois do sim.
Se houvesse um pedido esse seria a
mudança. A retirada das máscaras do cotidiano. Uma fuga inesperada. Um conjunto
de palavras nunca ouvidas. Uma imagem reveladora. Outras cores, olhares,
sorrisos, gestos, gostos.
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