domingo, 10 de julho de 2022

Saudade sufocante


Quer notícias sobre ela. No outrora, era tão preenchida de certezas. Agora, questiona-se a cada amanhecer se deveria apagá-la completamente da memória ou não. Resiste em seguir por novos caminhos e o seu subconsciente não ajuda. Em todas as noites, sonha com sua presença, seu olhar, seu abraço. Somente para depois despertar e ganhar um aperto na garganta.

Nada a faria mais feliz do que um contato qualquer, uma mensagem tola jogada ao vento, o som de sua voz em qualquer lugar que fosse. Tudo isto é tão bobo, mas impactante e impressionante, que já desistiu de compreender este sentimento faz tempo. Por que ela? Por que tão forte e inesquecível? São muitas perguntas que não possuem respostas.

Depois lembra: um oceano as separa. Não o físico, mas o que habita a alma da outra. Coberta de convicções, ela pensa morar em um castelo inabalável e sem dúvidas. Todavia, por baixo da carcaça de arrogância e da capa de sabedoria é que mora o seu segredo. Apenas depois de romper com as grades de seu esconderijo poderá encará-la de verdade.

Ainda assim, entra pela madrugada, rompendo o silêncio da noite gelada de suas novas terras, para falar de sua amada perdida no tempo e no espaço. Ela que petrificou seu coração, o estilhaçou e colocou em uma bandeja de prata para, logo depois, soprar para longe o pó que restou dele. 

Por que ela? Por que ainda permanece em sua recordação, em sua mente?

Não faz sentido e não importa. Mas, finaliza essa missiva torta de sentido, rogando para que o destino entregue qualquer notícia sua, qualquer minuto de sua fala, de sua voz, de sua imagem. A saudade tem dessas ciladas, quando nada mais importa, quando a dignidade se esvai, quando os pássaros gritam, pois acabar com a falta é o que interessa. 

quinta-feira, 7 de julho de 2022

Novos pés para o mesmo chão



Conta os dias. Celebra a possibilidade improvável de avistar a sua face novamente. Quantas manhãs e noites se farão até que possa respirar o mesmo ar que ela? Correu para conquistar esta dádiva, planejou cautelosamente e depois passou a temer o reencontro. É que esta trajetória é árdua e tem abandonado qualquer chance de mudar o ritmo da sonata que é a sua vida, justamente por isso.

Então, como será estar ao seu lado outra vez? As incertezas preenchem o coração e a mente para, em seguida, deixarem um rastro de esperança. Todavia, não cometerá o mesmo erro do outrora. Seguirá firmemente no campo do disfarce. Nem mesmo ela saberá que seus sonhos seguem preenchidos de sua presença e que seu nome está fincado na alma. Alma esta que escorre melancolia diante de sua frieza.

Mesmo assim, continua delirando com a recordação da sua voz, de seu sorriso, de seu jeito avassalador de entregar informações e de respirar. Relembra como seu olhar é profundo e cheio de complexidades. É um mistério o seu pensamento, porém ela parece desvendar o outro em segundos. Estar frente a frente com a borboleta é jamais saber quais serão os próximos passos dela, a sua próxima fala.

Talvez, esta seja a maior razão para o encantamento da fada: a dúvida, ao lado de um comportamento contraditório, preenchido de questões dúbias. Assim, deixa registrado que nunca a esqueceu, dificilmente irá apagar essa chama enquanto não obtiver o resultado desejado. E qual seria esse? Uma noite? Uma semana? Um recomeço? 

De certo, um beijo poderia ser o suficiente ou até mesmo uma amizade próxima. Não sabe e não quer saber a resolução deste conflito. Contudo, avisa que não moverá uma peça se quer quando estiver pisando na mesma terra. Deixará que ela escolha desta vez, que ela chegue perto e faça o que a sua vontade mandar. Ainda que saiba de todos os seus medos e de todas as cartas jogadas ao vento, em um ano de isolamento. 

Respira, sente-se outra no agora encantado. Cruzar o oceano a fez transformar suas convicções e percepções. Por isso, aguarda a outra, as suas ações e expressões. E já não se importa com o que diz o tarô. Se a borboleta não ressignificar seus atos e permanecer na mesma estação, saberá que tentou, com todas as forças e recursos, concretizar esta história que parece condenada ao fracasso. 

Porque acredita nelas, confia nos seus sentimentos e em suas intuições. Desta maneira, volta para o início de tudo e faz o que já está acostumada: espera. Até que chegue a derradeira data e tudo faça sentido mais uma vez.