quinta-feira, 7 de julho de 2022

Novos pés para o mesmo chão



Conta os dias. Celebra a possibilidade improvável de avistar a sua face novamente. Quantas manhãs e noites se farão até que possa respirar o mesmo ar que ela? Correu para conquistar esta dádiva, planejou cautelosamente e depois passou a temer o reencontro. É que esta trajetória é árdua e tem abandonado qualquer chance de mudar o ritmo da sonata que é a sua vida, justamente por isso.

Então, como será estar ao seu lado outra vez? As incertezas preenchem o coração e a mente para, em seguida, deixarem um rastro de esperança. Todavia, não cometerá o mesmo erro do outrora. Seguirá firmemente no campo do disfarce. Nem mesmo ela saberá que seus sonhos seguem preenchidos de sua presença e que seu nome está fincado na alma. Alma esta que escorre melancolia diante de sua frieza.

Mesmo assim, continua delirando com a recordação da sua voz, de seu sorriso, de seu jeito avassalador de entregar informações e de respirar. Relembra como seu olhar é profundo e cheio de complexidades. É um mistério o seu pensamento, porém ela parece desvendar o outro em segundos. Estar frente a frente com a borboleta é jamais saber quais serão os próximos passos dela, a sua próxima fala.

Talvez, esta seja a maior razão para o encantamento da fada: a dúvida, ao lado de um comportamento contraditório, preenchido de questões dúbias. Assim, deixa registrado que nunca a esqueceu, dificilmente irá apagar essa chama enquanto não obtiver o resultado desejado. E qual seria esse? Uma noite? Uma semana? Um recomeço? 

De certo, um beijo poderia ser o suficiente ou até mesmo uma amizade próxima. Não sabe e não quer saber a resolução deste conflito. Contudo, avisa que não moverá uma peça se quer quando estiver pisando na mesma terra. Deixará que ela escolha desta vez, que ela chegue perto e faça o que a sua vontade mandar. Ainda que saiba de todos os seus medos e de todas as cartas jogadas ao vento, em um ano de isolamento. 

Respira, sente-se outra no agora encantado. Cruzar o oceano a fez transformar suas convicções e percepções. Por isso, aguarda a outra, as suas ações e expressões. E já não se importa com o que diz o tarô. Se a borboleta não ressignificar seus atos e permanecer na mesma estação, saberá que tentou, com todas as forças e recursos, concretizar esta história que parece condenada ao fracasso. 

Porque acredita nelas, confia nos seus sentimentos e em suas intuições. Desta maneira, volta para o início de tudo e faz o que já está acostumada: espera. Até que chegue a derradeira data e tudo faça sentido mais uma vez. 

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