domingo, 3 de outubro de 2021

Fim sem começo



Em seus sonhos, o horizonte se enche de cores e vislumbra o seu sorriso. De olhos abertos, na realidade do cotidiano, procura encontrar resistência para enxergar a insanidade de seus sentimentos. Esquecer esta história absurda é o melhor caminho para seguir. Contudo, não é possível controlar as emoções e as sente em toda a sua intensidade. Não deseja mais estar neste estado, no qual vazio e plenitude se combinam em uma explosão fatal que abala e aperta o coração.

Olhando para trás consegue recordar o momento da virada, o instante que a danação se fez e já não poderia regressar para o ponto inicial. Contudo, foi na solidão que este arrebatamento se construiu e é nele que precisa ser apagado. E é para ser feito sempre. Quando o sol se despedir, quando o dia amanhecer, quando mirar o seu sorriso e escutar a sua voz, precisa resistir. É necessário internalizar que isto é uma fábula insólita e um caos incendiado.

Talvez, a não correspondência seja, de fato, a solução mais apropriada para seu destino. Entre promessas e clamores performados no outrora, a não repetição de padrões foi uma meta a ser alcançada. Por isso, não deveria nem sequer ter começado a olhar para o seu objeto de desejo. Não. Fugir seria a solução certeira. Não ver, não sentir, não se deixar abalar. Todavia, foi impossível não notar a sua presença ou muito menos não se afogar em um fascínio genuíno, que aquecia a pele a cada semana.

Como uma pequena brincadeira, um gesto ou outro era percebido. Como em um sonho distante, jamais considerou que todos estes detalhes iriam se juntar e formar um enamoramento tão profundo. Era tão somente uma figura distante e admirável, que observava, de longe, em toda sua magnitude e elementos encantadores. Mas, a armadilha se formou e se viu tola, vivenciando devaneios insistentes e que se alongam em passar. Porque é isso, tão somente, um devaneio ilógico, um desatino.

Como prosseguir ilesa agora? Provavelmente, é impossível sair sem abalo algum, mas tem que continuar na caminhada rumo a alvorada sonhada e com poucos resquícios de dor. É inevitável que seja árdua a trajetória, porém, ao final, estará liberta desta fantasia desmedida, destas lamúrias insensatas. Por isso, respira e relembra que há mais uma semana para se iniciar e sempre é tempo de recomeçar. O reinício vem para que consiga vivenciar a sua presença sem que seja torturante, para que suspiros bobos não tomem conta de si.

Que venha, assim, o princípio do fim, de algo que jamais aconteceu.