domingo, 12 de janeiro de 2020

Pelos lírios que não entreguei

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Foi, foi um delírio em formato de canção. Você, que se dizia perfeita em meio às chamas, entoou seu último silêncio gélido. 

Mergulhada em sua frieza cintilante, buscava, desesperadamente, a superfície. Quando aconteceu o encerramento da primavera? Quando seus olhos se fecharam para os meus? Por que suas palavras cessaram e viraram cinzas frias no meio do oceano?

As suas águas banhavam o coração petrificado e tudo era júbilo em sintonia. As tardes eram purificadas com a lembrança de seu cheiro e sua respiração. Agora, arde a saudade atormentada. O passar das horas é funesto e sem melodia. Sufoca até o fim. Pálida, lânguida, em destroços pérfidos e melancolia. 

Ao menos se não tivesse fitado a sua face de menina sereia. Ou sua doçura certeira. Ou suavidade de seu cotidiano sereno. Seria mais. Seria tudo que poderia ser outra vez. Não mais prantos angustiados, caos amargurado ou fantasias estilhaçadas. Pois, a esperança de correr para seus braços, criou a tempestade que se instalou despudoradamente. 

Precisa partir. Precisa deixar. Precisa fugir antes que o frio consuma sua alma. Antes que não possa mais retornar para sua torre. Antes que se afogue em seus rios claros. Antes que seja somente perdição e não mais prazer. 

Vai-te.