sábado, 23 de junho de 2012

Fios vermelhos


 Foi cedo. O amanhã ainda não existia. Cumpriu todas as marcas dilaceradas que a vida propôs. Depois gritou e lançou-se ao vento. E cobriu os olhos cintilantes de pureza. E subiu ao revelador horizonte. Sorriu para o destino. Novo e suave. Delicado e sublime.
 Em sonhos carrega as aventuras possíveis. Em noites claras reconhece o pedido repudiado. Clamor e ardor em descompasso, porque no fim restam as impossíveis vontades. Desde que o primeiro raio de sol resplandeceu naquela face soube que o coração palpitava pelos errôneos caminhos. 
 E rasga-se por dentro para encontrar um pouco de sensatez em maiores passos. E enxerga outra vez ao seu lado a candente chama inevitável. Vê e paira no ar a incerteza. Olha para trás e titubeia. Afinal, o passado também foi iluminado por algumas flores no caminho. Algumas muitas que preencheram o insistente vazio.
   Não mais chora. Sabe o valor de um sentimento sem lógica e guarda para si a verdade. E vive do seu lado. Ri do seu lado. Pergunta algo e o ambiente é preenchido de uma luz inigualável. Toda aquela força, todos os fortes gestos, as palavras precisas e uma possível doçura escondida entre um e outro momento. 
   Findam-se em cada escrita as lamúrias e sofrimentos. Acabam-se todos. Pois é no espaço das palavras que a dor se dilui e retorna como uma nova aurora e um novo sentimento que virá. Sim, virá e restarão somente as gargalhadas infinitas.

sábado, 9 de junho de 2012

Para mais



 É no caos da madrugada que as serpentes flamejantes propõem o desvanecer relutante. São apenas chagas, exclama. São apenas palavras, gritam outros. Um pouco mais da gota impura de suor dos inoportunos e o amanhã jamais virá.
 O tilintar. O rejuvenescer. O correr para o abraço mais profundo e delicioso. E foi neste cálice, naquela torre, que saboreou uma conquista reveladora. Foi do pranto. Foi da música. Foi do sangue. Expeliu da alma a cristalina verdade e já não soube mais apagá-la com o fogo do inconsciente. O palpitar garantiu. O sorriso desmanchou. A lágrima correu. O ódio secou.
 O outro. Ser. A nova. Verdade. A cruel calamidade de pertencer ao agora resplandecente. São outras. São muitas. E as faces rondam sem querer saber qual será a próxima rodada. Elas imprimem sepulturas. Retornam das tumbas e arrastam para todos os cantos memórias. Sorvidas. Absorvidas. Condenadas. Possuídas. Difamadas. Recalcadas. Acidentadas. Alegradas. Comemoradas. Cantaroladas. Infinitas.
 Respira novamente. Sucumbe. Suspira. Respira. Sucumbe. Volta. Retorna. Regressa. Ilude. Secreta chama inapagável. Amarga doçura. Esplendor candente. Vacilos imprudentes. Cantos claros em véspera de suicídio. Alucinações em dias ensolarados. Noites suaves em tempos frios. Novos. Pequenos. Enormes olhares. Viu. Chegou. E viu. Espanto. Encanto. Sílabas. Sussurros. Sílabas. Repetições sim. Da eternidade. Expulsa em lábios que clamam para o novo dia. Para mais um dia de primavera.