terça-feira, 25 de janeiro de 2022

Quando as belas palavras se acabaram



Há esta pequena chama que insiste em não apagar. O devaneio vai se desmanchando a cada despertar, mas tenta segurar ele com todas as forças que moram em seu corpo. Não há equivalência de entrega, não há som audível, não há um semblante de afeto. Não há nada para se segurar. 

Ao mesmo tempo, carrega consigo um pavor em desistir desta canção. Existe algo que habita em seu coração - e sofre com esta explicação tola, mas é a única que tem -, que parece se abrir em mil pedaços quando pensa em deixa para trás esta história insólita. O que há aqui que a prende tanto?

Quais são as armadilhas que a mente está criando para que não queira abandonar esta ficção tola e boba, que invade o seu diário com esta intensidade irritante? Se o seu sorriso agora é turvo na lembrança, que deixe ir de uma vez esta memória. Se já não sabe como reagiria em sua presença e não se abala com este pensamento, que desfrute desta liberdade que fora tão almejada no outrora. 

O problema em seguir é mais forte que o sentimento em si. A sua incapacidade em encarar suas emoções de frente e saber que jamais irá encontrá-la novamente é insana. Nunca mais poderá ter o deleite de sua companhia. Nunca mais saberá como é tê-la mirando para a sua face. Nunca mais escutará a sua voz, que faz a razão estremecer e todas as flores se abrirem para escutá-la. Não. 

E, ainda pior, nunca conseguirá alcançar o que deseja. A borboleta cintilante, em toda a sua magnitude, em seu castelo dourado, com seu parceiro de jornada, não desceria para o poço profundo, apenas para ver como ele está decorado. Não existe nela a vontade de pular para o seu horizonte ou de saber como é a sua companhia. 

Nunca houve, nunca haverá possibilidade alguma para elas duas. E não é de derrota que está falando, mas sobre a realidade palpável, sem meias palavras ou ilusões proferidas em jogos de cartas. Por mais que um milhão de pessoas se reunissem para lhe contar que o destino lhe reserva uma paixão desmedida, cheia de frutos e criatividade, ao seu lado, na alvorada mais bela de todas, ainda assim, não acreditaria outra vez. 

Porque nunca existiu correspondência, porque fora tão somente uma fantasia despudorada, em meio ao caos que a cercava e uma solidão estranha vinda do fim dos tempos da humanidade. No entanto, mesmo que toda a fábula contada pelo Universo fosse verdadeira, a outra não teria dentro de si a coragem necessária para romper a sua bolha de cristal. 

Ela, que vive em um mundo paralelo, estranho e coberto de venenos disfarçados de líquidos doces e sem fel, não sabe como viver de outra maneira que não a sua. Portanto, com ou sem desejo, com ou sem concupiscência, com ou sem amor, não há espaço para a fada estúpida em sua jornada. E toda esta sentença já está dada e não vai mudar.

Ainda assim, com todas as verdades esmagadas em sua face boba, segura esta melodia com toda força que pode. Gruda ela na alma. Finge que não a está esquecendo. Cantarola algumas partes e sofre mais pela perda deste sentimento, do que pela perda dela em si, pois nunca a teve. 

O que possuiu foram sonhos tão intensos e satisfatórios que a possibilidade da revoada virou um vício infernal. No agora, apenas deseja que a aceitação chegue, que recorde seu olhar de desprezo, que relembre toda a tragédia que foram os encontros e parta rumo ao novo. De uma vez. Logo, o mais rápido possível. 

 


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