Num passado não muito distante, a menina esperava uma
solução que parecia jamais vir. Em seus sonhos todos os sentimentos
deveriam ser únicos, fortemente entrelaçados, recíprocos.
Mudou o rumo das certezas para
provar um pouco das madrugadas insensatas. Um grito sufocava a alma. Buscava
ser o que não era e nunca seria. Pois não há resposta em beijos perdidos, em
urgências falsas, em encontros desperdiçados.
Seguiu pelo caminho vazio dos lábios
que se encontram sem motivo algum. Até que um dia encontrou o sorriso certo, o
cessar das dúvidas, o júbilo candente. Nas horas escorriam faíscas tempestuosas
de emoções inenarráveis.
Relutou, escondeu, tentou fugir. Seu
coração torturado sangrava pranto de um outrora nebuloso. E escolheu a princesa
para não sentir. Em seu confuso pensamento não passou a ideia de seguir
adiante, apenas queria saciar uma vontade de mudar, de esquecer melodias
enfraquecidas.
Não há como negar. Escreverá até
compreender como aquilo que um dia pareceu impossível tornou-se concreto, real,
forte. As emoções que tinham secado, junto com as lágrimas, galopearam seu
peito sem que ao menos pudesse esperar, pensar, raciocinar.
Agora tudo faz sentido outra vez.
Não precisa ser outra, se reinventar sem motivo. E pulou do abismo mais alto,
de olhos abertos, sem pestanejar.
Apagou os zunidos sussurrados dos
zumbis, esqueceu as regras recitadas pelos próximos, desmanchou as dúvidas e
continuou a caminhar.
A história passa em sua memória e já
sabe, tem toda certeza. Sem saber, a salvou do precipício das sentenças mal
acabadas, do cinza que cobria sua pele, dos goles ébrios de saudade, dos fins
de tarde cobertos de brumas, do caos. Trouxe de volta a sua ventania.
E já é hora de acordar, mas neste
sonho permanece, deixando que o destino se encarregue do resto.
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