O anoitecer chegava enquanto seu coração disparava.
Disfarçadamente fitava aquele rosto conhecido. Quando os olhos se encontravam a
respiração tornava-se ofegante. Como numa dança descompassada a mente girava e
a frase estava engasgada em sua garganta. Respirou, suspirou, pensou dez vezes.
Disse o que precisava e o silêncio invadiu a madrugada.
Depois vieram as aventuras. Mais e mais. A
chuva abençoava os passos cambaleantes. A lua respondia que sim, ainda que as
dúvidas existissem. Ébria, buscava compreender a princesa silenciosa. Jamais
vira antes olhos que ardessem tanto e fossem tão preenchidos de faíscas
pulsantes. Naquela aura candente mergulhou. Esqueceu as falhas do destino, as
incertezas, as palavras não ditas. Todas as suas ideologias agora faziam
sentido. Aquelas sobre a verdade, a intensidade, a vontade como ser supremo.
Mais um trago de sua violenta paixão. Mais
uma lança fincada em seu peito. Mais um pouco de loucura e o dia amanheceria.
Sim. E na sua voz pôde ouvir o som da despedida cruel, eterna, certeira. Então
veio o pranto, a tensão, a mais terrível sensação e o cessar da melodia insana.
Correu em direção do desejo e esperou pelo
melhor. Até que seus fios reluziram novamente. No fim da noite. Quando menos
esperava. As palavras estavam ali escritas. O mundo girou e tudo mudou mais uma
vez. Finalmente o ciclo angustiante se fechou. O outrora pareceu morrer junto
com o som de sua voz. Pois há silêncio sim, porém coberto de ações e sentenças perfeitas.
Agora o cinza escorreu de sua vida. Agora
a ventania encontrou-se. O pranto secou, as marcas do passado se apagaram e
tudo é recomeço, de um novo ciclo, de doses generosas de concupiscência, de
delírios infinitos, dos novos horizontes que surgem a cada pôr-do-sol e nascer
do dia.
Deita em seu olhar que devora todos os
segundos, esquece as regras sussurradas, deixa o vento, o tempo e o destino
incendiarem os caminhos que se cruzaram e aumenta volume da doce sinfonia
descoberta.
Nenhum comentário:
Postar um comentário