sábado, 16 de abril de 2022

Os incontáveis segundos até o recomeço



Nenhuma luz se equipara a sua. Nenhuma face é tão resplandecente. Mas, precisa se convencer recorrentemente que irá apagá-la de sua lembrança e de seu coração. É atordoante pensar o quão é apaixonada por ela e como os meses distante não afetaram este sentimento estúpido. 

É bem verdade que tentou esquecê-la. Partindo em direção de possíveis novas canções, foi feliz nestes encontros. Em alguns deles, até chegou a cogitar que não se importaria mais com a borboleta inebriante. Todavia, o que constatou foi o contrário. Percebeu o quanto esta emoção é tão intensa que segue com as palpitações ao recordar de sua voz ou de sua face. 

Se ao menos seus olhos não fossem tão profundos e encantadores, poderia dizer que estava liberta desta paixão. Se ao menos seus lábios não fossem de aparência tão macia, fugiria correndo rumo ao novo horizonte. Contudo, somente pelo fato dela existir e possuir tamanhas qualidades fica ali, presa, pensando em como seria estar em seus braços de uma vez. 

No entanto, ainda existe esperança para a fada e ela conta os dias para que esteja tomada de tanta lonjura, que toda a fábula insólita pareça uma memória desvanecida. Os seus leais escudeiros juram que quando estiver conquistando a trajetória tão sonhada, nem ao menos lembrará da borboleta, do dia nublado, das folhas das árvores que batiam com o vento e do café que descia amargo. 

Não. A partir do outono, seguirá por caminhos tão desconhecidos e nunca antes explorados, que todas as tonturas, a falta de apetite e a ansiedade pelo encontro remoto serão, tranquilamente, uma passageira recordação risível. E aqueles que estão ao seu redor juram que encontrará tantos novos amores, que a aquela que a despreza tanto será finalmente esquecida. 

 Mas, no agora, no qual pertence ainda a sua torre colorida, sente-se consumida por sua ausência e pela impossibilidade de experienciar momentos ao seu lado. Desta maneira, sabe que alcançou o topo do abismo profundo, pois nem ao menos ousaria em desejar seus beijos ou um afeto romântico. No presente, apenas queria poder estar perto dela de algum jeito. 

Em seguida, recorda que as terras somente irão se distanciar mais e mais. Pelo menos, por enquanto. Aí, ela sorri de tristeza e respira fundo para que consiga finalizar esta escrita confusa. De certo, não possui a sua leitura fiel há tempos, porém deixa registrado o seu lamento, para que no futuro lembre o quão doloroso foi, mas que chegou ao seu final, enfim chegou. 

Porque somente poderia ser distinto este encerramento se revelasse as verdades que ficam guardadas e trancafiadas no fundo da sua alma. Seria necessário ter a coragem - ou, ao menos, interesse - em fazê-los emergirem. É bem provável que este não seja o caso. Mas, se ela consome as suas frases desajustadas, saberá quando o rumo da prosa se transformar. Esta é a única certeza que tem. 

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