É frio cinzento. É poeira. É solidão. São as rusgas do passado. É
o véu da sinceridade. É o céu coberto de nuvens cintilantes. É tudo que foi e
já não mais é. São as promessas reveladas. Os cálices derramados.
Sentimentos corrosivos. Noites perdidas.
Abandono desleal. Máscaras que caem como a chuva deste amanhecer.
Depois tudo é
mais forte. Mais real. Mais singelo. Puro. Adocicado. Após a verdade apontada.
Após sentir na alma o baque do ressentimento alheio. Após o fim de mais um
ciclo.
Agora as chamas da certeza brotam no
coração petrificado. E este se amolece. Devagar. Enquanto chega a primavera.
Enquanto os olhares se encontram. E brilham. E cantam. E os pássaros somem. E
os sinos congelam. E os clamores cessam. Já é véspera de ventania desmedida. E a
aura ferve. Os mares se abrem. O incômodo se desfaz.
O silêncio perdoa. O veneno se esgota.
Sorrisos. Leves. Lindos. Belos. É júbilo sem fim. É um anoitecer sem mágoas. É
gargalhada longa. Findam-se as dores. Apaga as faces falsas. Renega os
amores fingidos. As palavras em vão. Os abraços traiçoeiros.
Sim. Há retorno. Existe salvação. As
correntezas da sorte aproximam-se. E já é hora de viver a paixão anunciada. É. Até o
fim. Da existência. É. Até que o horizonte se refaça. Até que as flores caiam novamente
no caminho. Até que as músicas voltem a tocar. Até que o sol se esconda.
Até.
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