quinta-feira, 4 de março de 2021

Quando a madrugada grita

 Quando a madrugada grita em seu silêncio. Quando os sinos não podem soar e a alvorada dos pássaros é interrompida. Quando o sorriso se apaga e resta somente desgosto. É ali, no derradeiro momento da perda do júbilo, que se deita em prantos eternos. Jamais poderia imaginar que escreveria cada palavra engasgada em seu diário de lamentações, com um aperto infinito, com desespero e sofreguidão. O seu destino estava colado junto ao seu. A noite era coberta por promessas impossíveis, por um resgate que jamais viria.

Não é bem isso, é? Em sua torre, nunca virá a salvação que tanta almeja. Pois não há resposta alguma em mares que desaguam nos pés, para depois secarem. É dentro de si que moram as soluções, as preces sussurradas, a certeza de que pertenceu. Em abismos inescapáveis, procura uma sentença menos dolorosa. Tenta retirar a lama que finca os pés no chão e a torna imóvel. Se ao menos soubesse cada frase proferida no passado, talvez, a paz fosse instalada.




Contudo, gira em círculos, seja em suas frases ou em sua caminhada. Novamente, está sem saída, sem retorno. Ao recordar do início, se dá conta de que o fim não seria outro. Não haveria como transformar as ações recorrentes do outrora. Pulou demais. Exigiu demasiadamente. Ultrapassou todas as barreiras que foram negadas, apenas para escutar mais um não a cada amanhecer. Seus olhos querem fechar, mas eles não cessam. Estão abertos, em movimento, e não deseja mais pensar no impossível.

Através de cada janela, vislumbra o mesmo céu, o mesmo sol. No entanto, as distâncias não diminuem. Não há escolha alguma que não a tão sonhada fuga desta sensação, deste sentimento inesgotável, da intensidade errônea que insiste em perseguir. Se o horizonte não resplandece como o esperado, tudo se incendeia e é somente caos. Se são negadas vontades, os pactos desabam e o tempo sufoca. É difícil de aceitar. É árduo prosseguir. Mas, é nesta emoção de derrota inabalável que comete juras inesquecíveis. E neste oceano de devaneios, mal toca na razão. Abandonou a sanidade, esta nunca foi sua. Assim como cada música que insistiu em escutar. 

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