quinta-feira, 26 de janeiro de 2023

01262023 - A troca

O céu resplandeceu. Era de luz que ela precisava. Com as árvores sedentas pelo próximo alvorecer, cravou sua luta constante para manter a sanidade. Depois, vieram os pássaros cantantes. Em sua janela, eles pediam que ela aguardasse o próximo pulo sem sofreguidão. Ainda insistindo em se manter naquela alvorada, viu sua vida ganhar tons cinzas ao se deparar com as suas derradeiras palavras.

Talvez, tenha sido realmente ingênua, como apontou a sua fiel guardiã. Tudo era esperado, porém jamais calculado. Como reinventar sua existência quando erros constantes insistem em se repetir? Quem era aquela mulher coberta de flores? Acabou assim todo o resgate que lhe parecia tão intenso? Foi ilusão então, não foi? Ou tudo é loucura em véspera de caos anunciado.

Não, não teme mais a solidão ou o abandono. Não, não pode mais se denominar fada, pois elas não existem e precisa ser mais do que uma fantasia. Se buscava tão fielmente uma imperatriz cintilante, coberta de fios dourados, distante e em um pedestal, agora, ela mesma se faz dona do seu destino e ocupa esta posição. Porque, no dia anterior, no dia daquele que fora embora repentinamente, jurou para o vento que jamais se entregaria aos devaneios conscientes de novo.

Eles somente estarão presentes em seu diário, que também precisa ser ressignificado. Em uma semana turbulenta, todas as contas chegaram e resolveu, assim, resetar toda a sua história. Ela será outra, mas sem perder quem realmente é. Ela será sua própria divindade, sua própria metáfora, sua própria canção. Porque precisa, porque é urgente, mas também porque foi expulsa de seu paraíso de cristal e já não consegue mais sofrer por ele.

Todo dia é dia de recomeçar. Por isso, se segura em seu lema, canta baixinho para as águas, deixa escorrer a cachoeira em sua face e recobra os sentidos. Aquele sonho foi somente uma pausa. A batalha recomeça, as conquistas se renovam e as vontades também. Fica então registrado, nesta carta decisiva, o adeus para seu amor do passado. 

Assim, se despede daquela memória, daquela praça, daquela primavera e de sua amada, que já foi impossível por tantas e tantas vezes, que só lhe restou declarar tamanha desistência. Todavia, o encontro não foi em vão. Ele ocorreu para que pudesse recordar como o tempo escorre, os sonhos se esvaem, mas ela fica, continua, segue e se reencontra. Acaba hoje a temporada da fada, que venha então a Imperatriz.

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