É um fim de festa em uma tarde cinzenta. É ver o dia
amanhecer como quem se apunhala eternamente. É um amargurar-se descontente. É
um ser de outrora correndo leve em tom magenta. É uma noite que corrói. Aquilo
que quase foi dito. Os sopros do silêncio maldito e a madrugada que insiste em
lembrar o esquecido. É um tormento que por si só destrói.
Se ao menos
pudesse tocar em seu rosto enrubescido. Se ao menos pudesse alcançar seu
pedestal. Se ao menos pudesse selar um último ou primeiro beijo com um punhal.
Contudo, sem fel, apenas um horizonte quase perdido. Assim, coberta de luzes e
lamentação, teme o mal da tentação. Entre o caos e a melancolia, se amedronta
noite e dia. Se deixa apodrecer na solidão. E num lamentar de sofreguidão,
finaliza seus pedidos.
É a velha rima sem
rimar. É a antiga canção disfarçada de outra. É a dor de um sorriso para
outrem. É acorrentar-se na imensidão de uma incerteza. Acabar-se. Delirando no
deleite de seu olhar, sentencia o esperar de mais um pôr-do-sol em sua
lembrança. Dilacera e deixa dilacerar. Perfura e deixa a razão abandonar.
Sentencia seu caminho. Cumpre o pacto com os ciclos do destino. Encharca-se de
veneno. Música, imagem, dor pura e lamento. Uma eterna memória feita em
sofrimento. Um despertar para uma nova alvorada.
Um apoquentar sem
relatar. Apenas mágoa das escolhas perdidas. Apenas passos tortuosos para o
mesmo inevitável abismo. Depois vem a quebra e o recomeço, sem mais procurar
encaixar, cambaleia até o renunciar de seu arrivismo, tonta ao recordar das
partidas. Depois, segue perdida em tropeços, gélida, desfalecendo ao
buscar o último suspiro apaixonado.
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