É véspera de júbilo. É o vento que volta a seguir seu curso. É o
sabor mais cobiçado e alcançado. É sorrir para o amanhecer na certeza dos
sonhos cobertos de flores. Os sinos tocaram. Não foi? Soaram forte. Como nunca
antes. E o coração palpitou intensamente. Outra vez, mais uma. Somente mais uma
eterna vez, que se repte junto com a certeza que arde incessantemente. Junto
com os mares que cobrem seu rosto. Junto ao vestido, ao giz e a mais doce
ilusão.
Regras criadas se perderam. Quebraram-se. Se queimaram. Todas.
Exultante. Mais uma vez consegue ergue-se para o futuro. Mais uma vez as
dúvidas se apagam, os céus se acedem, o destino se recria. Mais uma vez é dor
embalada em alegria. Mais uma vez os olhos se encontram. A alma se contamina de
festa. É a fumaça que cobre a escrita. O gosto inconfundível. O tempo que cessa
e a música que faz sentido novamente.
Renasce e o ciclo se refaz. Renasce e rasga as lamúrias. Renasce e
mergulha nas certezas. Reascende a chama. Entrega-se ao novo sentido da
madrugada. Aceita. Permanece. Reconhece seu vício. Admite de uma vez por todas que é o veneno que gosta de
beber. E de uma vez só. Sem derramar uma única gota. Minuto após minuto
suspira, lembra, gargalha. Volta a ser candente. Volta a fazer promessas.
E deixa que os sinos toquem, ainda que de longe. E deixa que os
pedaços estilhaçados de um coração de cristal se refaçam. Talvez nunca acorde.
Talvez permaneça nesse estado para sempre. Talvez. E sempre há o próximo passo.
E sempre o próximo suspiro. Ou o último. Aquele banhado pelo seu nome,
preenchido pela eternidade. Aquele que despeja a derradeira sentença. Aquele
que tem o único poder de finalizar o que o tempo e o destino não foram capazes de fazer.
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