quinta-feira, 17 de novembro de 2016

Seco

Cobriu seus passos de melancolia. Emudeceu diante dos sinos. Incendiou os mares prometidos. Antes que pudesse respirar, a luz reascendeu. Entre o outrora e o presente, deixou-se soterrar por sentimentos. Deixou que uma fagulha de esperança reinasse outra vez em seu coração tolo. Esse que se inspira com um leve sorriso ou um olhar genuíno de paixão. Esse que sabe a hora de recomeçar uma história, mas que não conhece os limites para as emoções.


Estas tão fortes e intensas. Estas que devastam e salvam. Estas que são sinos, silêncio, luz, esmeralda ou oceano, porém que não podem mais florescer. Não escuta mais os pássaros. Talvez passou tempo demais dormindo. Talvez eles já estão desfalecidos nos pés dos antigos amores. Ou talvez seja mesmo uma pilha de palavras sem sentido, de bobagens engasgadas.

E por que disse? E por que fugiu, então? Por que decidiu tão fortemente deixar os sinos soarem tão repentinamente? Se estava segura em uma nova varanda não há sentido para escapar. Contudo não sabe. Não entende. É incompreensível demais. É tão turvo que desfaz a memória. É tão nebuloso que se perde nas bifurcações. É tão difícil que a garganta seca, os olhos se fecham e já não consegue escutar som algum.


Se de solidão e palavras foi feita. Se seus dias são de madrugada e fumaça. Se prefere o abandono. Se já conhece todos os próximos passos. Se não consegue enxergar solução. Realmente não há escapatória. Não há salvação. Existe apenas a repetição do ciclo, da escrita, dos gestos, das sensações. Existe apenas uma vontade enorme de passar por aquele caminho novamente. Existem apenas segredos sinceros, as horas que passam, a distância construída, a confissão revelada e o medo do próximo despertar.


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