Não importa se jorra veneno de suas veias, pois este sai doce de sua boca. Já não interessa se a
aurora partiu em uma ventania inacabada. Terminaram-se as manhãs soterradas de
indecisão e sede. Já não há mais escapatória para o novo percurso.
Seus olhos brilham, enquanto a fumaça ascende. Seus lábios
se inclinam para entregar a sentença final. O corpo treme. Milhões de espasmos
se espalham pelo espaço. A alma translúcida conta toda a verdade escondida em
sua aura.
O peito arfante ressuscita o desejo preso na sua carne.
Inebriada pela candente concupiscência que se espalha pelo ar, jamais retorna
ao estado comum dos dias anteriores. As juras sussurradas alastram-se até o
infinito e deixa que o destino transforme a realidade.
Em delírios implora por mais. Sua voz é como uma lança. Uma
espada em chamas fincada em seu coração. A pulsação, a sensação, emoções
fluídas. Fervem. Sem mais respirar. Sem poder mais suportar, mas ainda sem
relutar. Ergue-se. Voa. Clama. Injúrias. Escutam os gritos. Gritam. Cálices cobertos de energia
rubra. Ardem. Mais e mais. Num giro.
Abrem os marejados corpos. Olhares se encontram. O céu se
apaga. A luz inalcançável da lua brilha e sua luminosidade jamais se finda,
muito menos aquela madrugada. Sentidos recordados em puros gestos. Agora suas
sílabas arrastadas ecoam em seus ouvidos. Agora a ventania escapa nas mãos de
um ser sem respostas. Agora é só canto singelo sem meias palavras. Agora a
escrita sangra para que saiam todos os versos inapropriados.
Paira sobre o paraíso. O celestial paraíso coberto de
nuvens. Chega e percebe que no topo brilha a cristalina maré que corre e finda
outra vez a tempestade. Perfume. Exala. O doce perfume trazido pelo florescente
amanhecer. Silêncio. Calam-se. Agora somente o tempo trará o reencontro daquelas
duas perdidas almas. Enquanto os sinos não tocam, enquanto a primavera não
chega, enquanto tudo é somente um sopro no meio da bruma cinza.
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