domingo, 5 de agosto de 2012

Para se entregar

 Jurou pelo cálice sagrado amistoso. E piora porque sabe. Piora porque viu. Em olhos cravados de desilusão as confusões de arrancar do peito uma paixão. Qualquer que seja ela. E já grita para o mundo. E clama para que venham todos os trabalhos. Quer se apegar. A estes. Porque estes sim salvam, purificam, dignificam. Enquanto se joga em abismos eternos de dor.
 Porque a dor é a única companheira fiel. A solidão não é mais pura como no outrora perdido em flamas. Suas chamas candentes ascenderam a luz da sua alma de fada.  No caminho viu todos os seres bestiais, celestiais, neutros. Ainda assim. Com a luminosidade fraca, arrasta-se para uma nova tortura.
 O exagero compensa. Pois quando fecha os olhos a escuridão responde que jamais amou. Ou será que todas as juras silenciosas enganaram sua pálida face? Agora coberta em rubras mechas. Sem fim, retorno ou reparação. Apenas um nome jogado ao vento. E sabe que o olhar prende. E se prendeu aos olhares das deusas, ninfas, falsas princesas. E já sabe que o punhal finca na pele a mácula da despedida. 
 Sempre o adeus. Marcado e santificado. A complicação salva seu caminho. A canção é doce e distante. E o esmeralda dos seus olhos solucionaram as rimas para o último verso. Preenchido de verdade. A doçura escondida em força. A melancolia da outra. As palavras. Queimam. Ardem em seu peito. Rasgam princípios e sinceras sílabas de carinho.
  Não foi sempre assim. Ou foi? Sim, sempre. Coberta de enganos. De erros sepultados. Para que não venham flores. Aponta.  E segue rumo ao poço infinito. Escolhe. Escolheu e nunca negará. Os arrependimentos tardios afirmam e confirmam a relutância em voltar. E o passado chama. Pulsa. Para relembrar basta cerrar os olhos. Basta tocar em um beijo perdido dentro de uma noite coberta de neblinas. As chagas. Que viriam. E vieram. Não importam. Basta pouco para pular. Então, pule. Então, diga. Nunca esconda o que quer. Aprendeu.
 A princesa de fios dourados. Esta sim. Esta sabia usar as palavras. Na verdade, todas as músicas tocaram no mesmo ritmo. Pois não há sentenças e versos que não arranquem um sorriso. E se é para se entregar que seja logo. Pois a deusa ensinou. A vontade não impede. A vontade cresce e deixa apenas júbilo. E foi isto que restou desta deusa. E é preciso que entenda. Ensinou e passou. Depois... vieram tempestades ainda mais fortes. A ventania lançou sua sina. 
 A impossibilidade marcante de suas escolhas deixam rastros intensos de rancor, pranto, suspiros. Respira e não precisa mais dizer nada. Agora deixa a doçura de lado. Para viver o que a vida trouxer. É preciso abrir bem os olhos para não se lançar em precipícios desnecessários. E seu sorriso já bastou. Pois a luz entrou. Leve. Bem de leve. E não há nada que a faça escapar. Ilumine. Venha. Fique. Mais. Um pouco. Depois vai. Sempre. Vão. E guarda. Porque já se entregou. Ler e queimar. Sim, queimem todos. Toda a escrita berrada e não mais engasgada. E siga. Para qualquer outro horizonte que não o seu.

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