domingo, 23 de outubro de 2022

Distâncias



Todos os seus sonhos são preenchidos por ela. Quando alguma madrugada regressará ao que sempre foi? Com o coração em brasa, procura respirar, mas o ar quase desaparece. Sem possibilidade de mudar o seu destino, aguarda o peso e a dor da distância se desfazerem. Tudo que sente é afogado em melancolia, incerteza e lamento.

Como poderia imaginar que sentiria um amor como esse, depois de tantos anos vagando e vivendo de paixões egoístas e efêmeras? Como poderia imaginar que em um mar de diferenças, acharia semelhanças profundas e uma conexão jamais vivenciada antes? Não há como não sentir um abalo intenso, quando os pés não tocam mais o mesmo chão e os olhares não mais se encontram.

Ela está tentando seguir e suplica ao destino, ao tempo e ao Universo que a ajudem a superar esse sentimento tolo e inexplicável, que a afogou em esperanças falsas, pois sentiu um júbilo tão único, singelo e desmedidamente verdadeiro, que chegou a acreditar que ele seria eterno. Foi um encontro de almas, que a atravessou e a fez mergulhar em um mundo paralelo feliz e apaixonante. 

Tudo agora parece um sonho longínquo, no qual era reconhecida por suas ações e, talvez, até mesmo admirada. No hoje, tudo soa como um devaneio inebriante, regado aos sons dos pássaros, dos patos e dos cisnes, da natureza pura, de verdades reveladas, de tarde cobertas de confissões dos dois lados, de um laço especial, abençoado pelo vento e pelas águas que as cercavam, enquanto as folhas caíam pelos ombros.

Todavia, não pode mais se prender na alegria do outrora. Precisa seguir, pois há uma distância enorme entre elas, física, mental e emocional. Não há correspondência e, mesmo que houvesse, existiriam tantos outros muros para serem derrubados, que prefere nem imaginar como seria se ela fosse verdadeiramente sua, de alguma maneira. 

Prefere mesmo buscar as próximas páginas e tentar viver outras histórias. Talvez, em algum dia iluminado, ela consiga ser feliz outra vez. Talvez, este nó na garganta, que não some de jeito algum, desapareça numa manhã abençoada. Talvez, não precise da névoa, dos lagos, das árvores, dos campos verdes, dos cafés saborosos ou, muito menos, dela. Há de existir alegria em algum canto que somente não achou ainda. 

O que ela não pode é se perder ou se deixar levar pela tristeza autodestrutiva, que abre um buraco em sua alma e a enlouquece na procura por preenchê-lo. Agora, é necessário achar a força que não tem, mas que, com certeza, está por aí, em alguma esquina, em algum horizonte, em algum raiar de sol. Ainda que nunca mais seja feliz como foi ao seu lado, precisa acreditar que será feliz de alguma maneira, em algum momento de sua vida. 

No entanto, o amor por ela permanecerá. Ainda que ressignificado ou com alguma dose de amargura, aqui ou ali. Permanecerá também a gratidão por esse encontro que a proporcionou tantas descobertas, tanto conforto, tantos sorrisos e sonhos concretizados. O sorriso dela foi a sua salvação por muitos meses, bem como as suas palavras, a sua voz e o seu olhar tão tão profundo. 

Mas, segue. Precisa continuar a caminhar, com a cabeça erguida, como ela lhe disse naquela tarde fria de setembro. Continuará nesta jornada misteriosa, mesmo que triste, mesmo que pense que já não tem mais forças para permanecer acordada, mesmo que o calor confunda suas ideias e a mágoa queira dominar seus pensamentos. Ela avistará o castelo em sua memória e tentará ser a mesma mulher que descobriu que poderia ser, quando a tinha por perto. 

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