domingo, 9 de outubro de 2022

Desaguando



De volta para a sua torre colorida. Sem cafés na companhia dos lagos, sem os caminhos da imperatriz dos girassóis, sem o castelo, sem as folhas que caem das árvores. Agora, tudo que resta é a realidade e tudo que virá depois dela. Como em um engasgo constante, procura sentir o mesmo que antes ao fitar as pessoas e os espaços. 

Mas somente sente um vazio profundo. O buraco gigantesco que sempre habitou seu coração está de volta, juntamente com a dificuldade de engolir. Como pode um lugar e uma canção salvarem uma alma tão desesperada? Como seguir adiante sem saber quando estará alegre novamente, quando verá o seu rosto suave e amigável? 

O que mais dói, na verdade, é saber que será esquecida, que a sua presença não fará falta, pois nunca fez diferença. Do outro lado, a fada sucumbe em devaneios, tontura e náusea. Sucumbe sem sua voz, sua presença, sua risada ensolarada. Ainda que a imperatriz dos girassóis nunca mais pense nela ou nem se importe com sua existência, a fada irá continuar guardando todo afeto do mundo em sua direção.

Porque nunca amou assim antes, de maneira tão genuína e altruísta. Porque o seu nome quer ficar grudado em sua pele e seu rosto na lembrança. Porque um dia ainda poderá abraçá-la outra vez, sentar do seu lado em frente ao rio de Marburg, que escorre em correnteza febril, e lá, nesse futuro utópico, será feliz novamente. 

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