terça-feira, 8 de março de 2022

Wie ein Schmetterling II


E se conseguisse rascunhar um texto que não fosse preenchido de lamentos? E se pudesse recobrar os sentidos e juntasse frases repletas de um significado no agora desvanecido? Caso fosse possível, falaria sobre seus olhos profundos, que pouco se movimentam, que são daqueles que observam atentamente. Por isso, ela parece sempre ver além, ver mais do que todo mundo. 

Poderia também contar sobre os detalhes de seu rosto, como aquela covinha que surge em um sorriso mais largo ou como possui dois tipos de sorriso, sendo que prefere aquele de lado, mais sarcástico. Talvez, também pudesse recordar sobre seu abraço. Quase foi atropelada pela sensação de ter seus braços a envolvendo. 

Com o coração acelerado, sentia o chão se abrir e o mundo girar, pois jamais encontrara nenhum abraço igual. Pois a borboleta é dona de uma qualidade singular que é a afetuosidade despretensiosa. Há nela um aspecto de sensibilidade única, que deixa os que a cercam encantados. Existir na mesma realidade que ela é uma experiência arrebatadora, que pode deixar flutuando os corações daqueles que por ela estão enamorados.

Ainda conseguiria listar inúmeros motivos para estar tão maravilhada pela dona de seu coração. Um deles sempre repete e é sobre sua voz. Isto porque são tantas tonalidades apaixonantes, que quase perdia os sentidos ao escutá-la. Quando a borboleta fala é como se todos os céus se iluminassem, todas as relvas fossem mais verdes, todas as canções se tornassem mais sonoras. 

Dona de sentenças intensas e conhecimentos incontáveis, a sua sagacidade é rara nos tempos de hoje. A velocidade de seus pensamentos, as suas respostas audaciosas e certeiras, os múltiplos caminhos discursivos… Ela sabe como conduzir cada diálogo, monólogo ou silêncio. É o que ela diz e como diz que arremata a atenção, até daqueles mais resistentes. 

Neste mar de elementos inebriantes, ela habita. Todavia, toda esta confissão não passa de um devaneio demasiadamente tolo. Sabe disso. Contudo, sentia que precisava, ao menos uma única vez, sair do precipício do desmazelo e evocar novamente em sua memória algumas das características tão impactantes de sua amada. Somente para depois acordar e reconhecer que nem “sua” ela é e nem nunca será. 

Mas, não terminará seu devaneio tristemente. Não. Encerrará a sua junção de palavras confusas dizendo o quão foi feliz de ter contemplado sua face, escutado sua voz, de ter sentido o seu abraço, de ter cometido atos apaixonados por ela e, mais ainda, da felicidade que foi ser preenchida pelas emoções mais bonitas de todas, porque foi por ela que os sinos tocaram e os pássaros entoaram suas melodias. Pois em sua presença o mundo inteiro parece mais alegre somente pelo fato dela existir. 

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