terça-feira, 15 de março de 2022

Devaneio seleto florescido


Será que consegue realmente disfarçar? Será que a certeza de que esqueceu sua voz e seu semblante atravessou quilômetros e atingiu o objetivo derradeiro? Gostaria de soar sã e contar para o mundo todas as suas aventuras. Mas, não é esta a realidade. Ela se arrasta para dentro do vendaval, procurando aceitar as novas supostas cantigas e não tem alegria alguma nesta tarefa.

Todavia, talvez pudesse seguir um outro rumo na escrita. De quando em quando, se esforça para encontrar sentidos outros para continuar escrevendo. Significados que não sejam uma repetição sobre sua danação. Queria voltar para o princípio ou pelo menos que não fosse atingida por tamanho desprezo. Meses continuam a passar e nada de apagá-la de seu coração. 

Desta vez, não está segurando a fábula insólita nas mãos, na esperança por seu regresso. Não. Possui a certeza de que jamais voltará a encontrá-la, que nenhuma palavra em sua direção será proferida e que, ao certo, já nem lembra do seu nome. Todavia, seus sonhos estão condenando os seus passos. Neles, ela promete que seu retorno não tarda e que o sol irá reluzir como antes. Nada mais é apropriado quando retém um sentimento tão intenso sem motivo. 

Do outro lado é sempre igual. Silêncio para ela, adoração para todos outros. Então, segue na sua tortuosa trajetória, buscando esta realidade que seus companheiros de jornada tanto apontam. “Deleta a fantasia, anda por seu rumo, não olha para trás”, repetem em uníssono. Em meio aos devaneios, segura o coração descompassado e ele está prestes a saltar, alucinado, procurando um remédio menos amargo. 

O ser que inventou que para destruir um sentimento tolo é necessário entregar ele para outra dona estava tão insano quanto a fada. Ainda assim, atende aos pedidos do costume e procura as respostas necessárias em outros cantos. Por isso, roga que esta seja a tão esperada semana, na qual a borboleta voará para longe da memória e conseguirá ser plena na presença das prováveis pretendentes ao seu posto. 

Posto esse que só lhe foi seu em título, mas nunca em verdade. Todavia, pragueja aqueles que também cunharam as regras para as lógicas apropriadas para os enamorados. É realmente preciso que existam razões palpáveis para justificar suas emoções? Não sabe. Deitada, no silêncio, no entanto, compreende que a permanência desta paixão não faz sentido algum. Nunca fez. Mas, sente uma profunda exaustão e somente deseja não mais se importar. Assim como ela nunca se importou. Exatamente deste jeito. 

Quer trajar estas vestes frias, cheias de descaso e incoerência. Quer continuar prosseguindo ainda que seja impossível. Quer saber negar o caos, ao invés de se jogar nele, apenas porque a vontade é dominante. Quer muito, muita coisa, porém de si e não dela. Já não há para onde levar esta fanfic confusa e inconsequente. Contudo, deixa mais uma de suas confissões engasgadas: sabe muitos detalhes sobre ela e os guarda no fundo da lembrança, por alguma razão. 

E roga para que não pense que cometeria tamanho equívoco ao correr um risco tão desmedido e profundo, naquela tarde de janeiro - ou fora fevereiro? Algumas escolhas são realmente tolas, mas outras fogem do controle e não existe o que fazer, a não ser gargalhar do erro. Assim, se despediu do acerto e buscou disfarçar as suas ações. Depois, voltou para o mesmo desejo. 

Aquele que fala sobre como, se fosse possível, reconstruiria toda a narrativa para que conseguisse ganhar espaço ao seu lado. Talvez, de uma forma menos direta ou ganhando pistas dela pela estrada? Já nem sabe mais o que escreve, pois a madrugada é quase palpável, está logo ali, e o sono arrebatou a sua mente cansada. Mas, reconhece que se alongou demais e confessou demais também. 

Por isso, se despede, por hora, desta trama sem jeito. Esta mesma! Esta que se metera em uma noite de início de setembro, na solidão de sua torre colorida, após um olhar mal interpretado. Fugirá, então, até que venha em sua direção ou que finalmente a esqueça. 

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