quarta-feira, 23 de março de 2022

Mais confusão e lamento



É chegada a hora novamente. Mais uma vez vem aquele momento no qual tentará compreender de onde vieram estes sentimentos tolos, que agora se transformaram em uma espécie de vazio lamacento, que deixa os dias cinzas e o coração apertado. Talvez, a pior sensação seja a do esquecimento ou da invisibilidade. É como se não tivessem existido na vida uma da outra. É como se os olhos não tivessem se encontrado, como se fosse um nada na sua jornada. Pior ainda é a confusão que criou para sua realidade. 

Tentando esquecê-la, procurou encontrar novas canções. Pensou até que havia encontrado uma possível melodia. Esta estaria perfeitamente ritmada, bem composta, tocada até o fim. No entanto, quando contempla a sua face somente vê a borboleta. Não consegue enxergar outra coisa no mundo e já está ficando completamente irritada com este fato. Que inferno de sentimento é este que mesmo os meses passando, não escutando mais sua voz, a sua visão fica turva com a mera menção de seu nome?

É exaustivo estar apaixonada por uma miragem, uma mentira, uma impossibilidade, uma ilusão. Porque é uma fábula insólita e nem pode mais confessar para amigues sobre o que está passando. Seria considerada insana se dissesse em voz alta que a sua amada continua sendo a mesma. Provavelmente, entrou em um estado de devaneio permanente e segue com estas emoções injustificáveis. Não é possível que uma fantasia tenha tomado conta de sua alma de forma tão arrebatadora.

E nem sabe o que escreve. Suas confissões estão cada vez mais confusas e mal elaboradas, assim como a sua mente e seus pensamentos. Atordoada, busca preencher os dias com todo tipo de atividade possível. Não há uma partícula de sua rotina que não tenha sido articulada para uma suposta distração. Entre os afazeres costumeiros, inseriu doses de entretenimento, de encontros, de saídas inesperadas, de aventuras. Nada disso surtiu efeito. 

Mesmo na distância, na indiferença, nos rumos distintos, ainda assim, é pela borboleta que nutre afeto profundo. Isto é algo extremamente risível, burro, insensato, é bem verdade. E, talvez, se ela soubesse de tudo isso, acharia a fada muito mais estranha do que já acha. Porque, por fim, cabe também dizer que do outro lado as perspectivas são as piores. E isso abala fortemente a alma em cada anoitecer. A sua amada a enxerga de modo torpe - ou, talvez, real?

Ela vê ali uma menina tola e esquisita, que confessou uma paixão sem sentido, numa tarde nublada de segunda-feira de dezembro. A maneira como seus olhos percorriam sua face era certeira. Não havia nada ali a não ser pena e um certo pânico. Depois, silêncio coberto de silêncio, silêncio contínuo que irá perdurar até o fim dos tempos. Todavia, tem convicção de que ela está certa. As suas ações possuem lógica, sentido, precisão.

O que ela faria a não ser se afastar da garota desprezível, que ela quer apenas distância? Para a outra, a sua presença é maçante e perturbadora, ao certo. Assim, é a única saída que pode selecionar, a fuga para a montanha mais alta, quilômetros de terra as separando e nenhuma palavra proferida entre as duas. Por isso, a desgraça da fada está completa. A sua vida está repleta de oportunidades novas, caminhos reluzentes e ela insiste em arrastar corrente e delirar por uma paixão desmedida desvanecida. 

Há quem deseje intensamente estar ao seu lado, mas sente pânico e foge loucamente. Corre incessantemente. Algumas vezes, corre literalmente. Derruba, assim, tudo o que vê pela frente, sente o vento passando pela face e até derrama lágrimas, de quando em quando. O que é então este sentimento? Uma confusão? Um atordoamento? Um engano? Uma fuga da realidade? Há de haver uma resposta concreta, que não aquela tão temida.

Não pode estar realmente enamorada por uma narrativa ficcional. Não pode estar com corpo e mente abalados por uma mulher quase desconhecida, que negou seus pedidos e não foi no presente. Já faz uma eternidade que não se encontram, que contou tudo e escutou como estava enganada e jamais a teria. Em cada madrugada, ganhou a certeza que no nascer do sol posterior, esqueceria totalmente deste amor descabido. No entanto, quer terminar esta confissão com toda honestidade que lhe habita.

Quer dizer que o cerne da questão pode estar aí, nesta palavra diluída em um parágrafo desconexo. Quando viu o seu rosto pela primeira vez nunca foi tão feliz e infeliz ao mesmo tempo. Soterrou esta primeira impressão e até a detestou por um tempo. Um mês exato, na verdade. Sim, a irritação faz parte deste enredo clichê. Um dos elementos mais importantes desta ficção mal concebida é que ela mexe com todas as suas emoções. A irritabilidade está ali também.

Em uma mescla de sensações e se segurando como conseguia para não deixar acontecer o pior possível, acabou se apaixonando. Acabou se deixando levar. Acabou destruindo qualquer chance de aproximação. Acabou com os seus momentos de alegria. Acabou com tudo. E está cansada de ser vendaval, de querer dar continuidade ao que não deve, ao que não pode. Está exausta de não conseguir arrancar esta história estilhaçada de dentro dela. 

Mas, quem sabe do futuro, não é mesmo? Talvez, no próximo alvorecer a esqueça de vez e conquiste a tão sonhada liberdade! 

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